31 de julho de 2008

Tutuguri - O Rito do Sol Negro.

Em baixo

por baixo da inclinação amarga
e cruelmente desesperada do coração
abre se o círculo das seis cruzes

três em baixo
encrustados na terra mãe

desencrustados do abraço imundo
da mãe que baba se.

A terra do carbono negro
é a única locação húmida
nesta fenda escarpada.

O rito é o novo que o sol passa por sete pontos antes de eclodir no orifício da terra.

E existem seis homens,
um por cada sol,
e um sétimo homem
que é o sol completamente
crú,

vestido de negro e carne vermelha.

Este sétimo homem
é um cavalo,

um cavalo guiado por um homem.

E é o cavalo
o sol,

não o homem.

Sobre o rasgar dum tambor
e de uma longa fraudulenta música

estranha

os seis homens
que deitados estavam
girados a terra rasa

jorram sucessivamente como girassóis,
não propriamente sóis
mas solos giratórios

dos lótus de água,

e a cada jorrar
corresponde o gongo cada vez mais sombrio
e reentrado
do tambor

até que de repente vê se chegar a galope
de vertiginosa velocidade

o último sol,

o primeiro homem,

cavalo negro
com homem completamente nu

e virgem
sobre si

que tendo saltado avançam seguindo meandros circulares

e o cavalo de carne em sangue

atira se

a voltear sem parar
ao cume do (seu) rochedo

até que os seis homens terminem de marcar

(completamente)

as seis cruzes.

O Tom maior do Rito
é
precisamente

A Abolição Da Cruz.

E tendo terminado de girar

enxertam
as cruzes da terra

e o homem nu
a cavalo

arvora
imenso ferro

a cavalo

que temperou na incisão do (seu) sangue.


Antonin Artaud ; Pour en finir avec le jugement de dieu ; 1948 ; Oeuvres.

29 de julho de 2008

O tempo
tarde
à deriva

passa

convés
das perpetradas
cores

e a noite

em cascata
de viés
fica

no ressalto

dia
grafo,

escala

corte s
nó s
polido s
da s
gravosa s
garra s

da distância,

soturna s
trova s

de cisão.

28 de julho de 2008

A quem...


A posição de uma atitude religiosa que resultaria da clara consciência e que excluiria senão a forma extática da religião pelo menos a sua forma mística difere profundamente das tentativas de fusão que preocupam espíritos preocupados com atribuir à fraqueza posições religiosas dadas no mundo presente.

Aqueles que no mundo religioso se assustam com a discordância de sentimentos, que procuram o vínculo das diferentes disciplinas e querem resolutamente negar o que opõe ao prelado romano o sanyasin, ou ao pastor kirkegaardiano o sufi, acabam por emascular – de ambos os lados – o que já procede de um compromisso da ordem intima com a (ordem) das coisas.

O espírito mais afastado da virilidade necessária para unir a violência e a consciência é o da “síntese”.

O cuidado em fazer a soma do que revelaram possibilidades religiosas separadas e de fazer, do conteúdo que lhes é comum, o principio de uma vida humana elevada à universalidade parece inatacável apesar dos seus resultados sem sabor, mas, para quem a vida humana é uma experiência a levar o mais longe possível, a soma universal é, necessariamente, a da sensibilidade religiosa no tempo.

A síntese é o mais claramente isto que revela a necessidade de ligar decididamente este mundo ao que a sensibilidade religiosa é na sua soma universal no tempo.

Esta clara revelação da decadência de todo o mundo religioso vivo (acusado nestas formas sintéticas que abandonam os limites estritos de uma tradição) não era dado na medida em que as manifestações arcaicas do sentimento religioso nos apareciam independentemente da sua significação, como nos hieróglifos dos quais só a decifração formal foi possível ; mas se esta significação é dada e se, em particular, a conduta do sacrifício, a menos clara mas a mais divina e a mais comum, cessa de nos estar fechada, a totalidade da experiência humana é nos devolvida.

E se nos elevamos pessoalmente aos mais altos graus da consciência clara, já não está mais em nós a coisa subjugada mas o soberano do qual a presença no mundo, dos pés à cabeça, da animalidade à ciência e do utensílio arcaico ao non-sense da poesia, é o da universalidade humana.

Soberania designa o movimento de violência livre e interiormente lancinante que anima a totalidade, resolve se em lágrimas, em êxtase e em eclosões de riso e revela o impossível no riso no êxtase ou nas lágrimas.

Mas o impossível assim revelado não é mais uma posição deslizante, é a soberana consciência de si, que, precisamente, não se desvia mais de si.


A quem a vida humana
é uma experiência a levar
o mais longe possível ...

Não quis exprimir o meu pensamento
mas ajudar-te a resgatar da indistinção
o que pensas de ti mesmo ...

Não diferes de mim mais do que
a tua perna direita da esquerda,
mas o que nos une é
O sono da razão – que produz monstros.

Georges Bataille ; "Théorie de la Religion".

24 de julho de 2008

Buraco sem palavras.

A tristeza biliosa do vazio
do buraco onde não há nada
não sopra o nada
não há nada

e à volta do buraco
no ponto onde as palavras retiram se

buraco sem palavras

sílaba sem sons.

Antonin Artaud

18 de julho de 2008

Eco tempo

Condição que soa toque estranho
Um eco que põe se o tom
Disposto o marcar
Do corpo que jorra
O continuar que consiste
O atingir do termo
Que toma fio a frase
Que digo sonoro
Mais
Que repito digo
Sonoro :
Aparece –


Ecos múltiplos.


Longa instância
Única espécie de satisfação aos olhos lançados
Deslizar perene
Rápida sucessão de longas linhas
Pontos assolados
Ligação
Dispersão
Outro estendido evento
Estância adequada
Animal intuição
Solícita
Que faz se fundo
Sereno

Já se ouvem ecos
O fim dos ciclos
Vozes ecoam histórias

Eras.

17 de julho de 2008

Paliçada ocidental.

Como
pronto
mergulho
do astro
ressequido

o

de. siderato

instante
da solução
fugaz

magnética

- por termos –

elástica

represa
utilidade
do desgaste
ideal

ou

ensinamento
do edificar
as latentes
origens

eco lógica s

como
mesmo
ideal

ou

lixo bestial
por potestade
livresca
do corolário

ou

atenção
mundana
no render
o conforto

que vagem

(como idade
do agem)

à paliçada
que põe se
como
lógica
do acampamento

ou

(d)a acção
escorreita

de. feita

aleita
afeita
estreita
atreita
e é feita

efeito
num hábito
corrosivo

desse qualquer adiante
não tão assim distante.

16 de julho de 2008

Um sonho dentro de um sonho.

Toma este beijo na fronte !
E no partir de ti agora
Este muito deixa me confessar
Que não estás errado tu que julgas
Que os meus dias foram sonho ;
Porém, se a esperança voou longe
Numa noite ou um dia
Numa visão, ou nenhuma,
Será então menos passada ?

Tudo o que se vê ou parece
Apenas é um sonho dentro de um sonho.

Fico no âmago do troar
A costa atormentada pelas vagas
E seguro na minha mão
grãos da areia dourada –
Quão poucos ! E no entanto como rastejam
por entre os meus dedos às profundezas
enquanto gemo – Enquanto gemo !
Oh Deus ! Não posso eu toma-los
com agarrar mais firme ?
Oh Deus ! Não poderei eu salvar
Um da onda impiedosa ?

Será tudo o que vemos ou parece
apenas um sonho dentro de um sonho.


Edgar Allan Poe “ A dream within a dream” – Tradução livre.

15 de julho de 2008

Exaurido.

às palavras
o rompante
do fantástico
combinar

qual
g. ritmo

que faz
sentir
se
na voz
e no gesto

(ou não)

diz se
e sorri
como grito
perante
o balancear

outro

riscos
como
vacuidade

“viva”

sonorizada
do discurso
polido
em agências
ao atraso

de vir
desintegrado
por cinzas
coloquiais
e fogo de.
soma

elemento s
do jogo
senso
idade

da fatuidade
também
como
pré. tensa
satisfação
expressa
do trajar
avesso

Índico

que plasma
si
mesmo
outro

dois
esgotado
termo s

da condição

da guerra
civil mente
disposta
como
certo
simples
abrir

crono
célere

ao passar
se
daqui
a
distante
tal
mundana
crónica
do sismo
só ;

dos mundos
em guerra.

*

E aos olhos a dizer que sim,
Que lhos disse e que (a)sim.

14 de julho de 2008

(...)


Pude dizer que o mundo animal é o da imanência e do imediato ; é que este mundo, que nos está fechado, está o na medida em que não podemos discernir nele um poder de se transcender. Uma tal verdade é negativa e não podemos sem dúvida estabelecê-la absolutamente. Podemos imaginar no animal um embrião deste poder mas não podemos discerni-lo claramente. Se o estudo destas disposições embrionárias pode ser feito ele não se liberta das perspectivas que anulam o olhar da animalidade imanente que permanece inevitável para nós. É nos limites do humano somente que aparece a transcendência das coisas em relação à consciência (ou da consciência em relação às coisas). A transcendência, com efeito, nada é se for embrionária, se esta não é constituída como o são os sólidos, quer dizer, imutavelmente em certas condições dadas. De facto, somos incapazes de fundar nos sobre coagulações instáveis e devemos limitar nos a observar a animalidade, de fora, sob o dia da ausência de transcendência. Inevitavelmente, perante os nossos olhos, o animal está no mundo como a água na água.

O animal têm diversas condutas segundo as diversas situações. Estas condutas são os pontos de partida de distinções possíveis, mas a distinção pediria a transcendência do objecto que se tornou distinto. A diversidade das condutas animais não estabelece distinção consciente entre as diversas situações. Os animais que não comem um semelhante da mesma espécie não têm tão pouco o poder de o reconhecer como tal, se bem que, uma nova situação onde a conduta normal não seja desencadeada, possa ser suficiente para levantar um obstáculo sem que haja mesmo consciência de o ter levantado. Não podemos dizer de um lobo que come outro que viola a lei pretendendo que, vulgarmente, os lobos não se comem entre eles. Ele não viola esta lei, simplesmente encontrou-se em circunstâncias onde esta já não está mais de face. Existe, apesar disto, para o lobo, continuidade do mundo e dele mesmo. Defronte dele produzem-se aparições apelativas ou angustiantes ; outras aparições não respondem nem a indivíduos da mesma espécie, nem a alimentos, nem a nada de apelativo ou repugnante, consequentemente, isto do qual se trata não têm sentido, ou têm no como signo de outra coisa. Nada vêm romper uma continuidade onde o próprio medo nada anuncia que possa ser distinguido antes de ser morto. Mesmo a luta de rivalidade é ainda uma convulsão onde as inevitáveis respostas aos estímulos soltam sombras inconsistentes. Se o animal que deitou por terra o seu rival não toma a morte do outro como o faz um homem ostentando a conduta do triunfo é porque o seu rival não tinha rompido uma continuidade que a sua morte não restabelece. Esta continuidade não tinha sido posta em causa, mas, a identidade do desejo de dois seres opô-los-á em combate mortal. A apatia que traduz o olhar do animal após o combate é o signo de uma existência essencialmente igual ao mundo onde esta se move como a água no seio das águas.

(...)

Georges Bataille ; “Théorie de la Religion".

11 de julho de 2008

Hamlet. V.I . 10 ;60.


(...)


(Após o funesto afogamento de Ofélia enquanto colhia flores junto ao rio entram dois palhaços que iniciam a produção da sua (de Ofélia) sepultura.)


Enter the clowns


First Clown. Is she to be buried in Christian burial when she willfully seeks her own salvation ?
Second Clown. I tell thee she is. Therefore make her grave straight. The crowner hath sat on her, and finds it Christian Burial.
First Clown. How can that be, unless she drowned herself in her own defence ?
Second clown. Why, ‘tis found so.
First Clown. It must be se offendendo. It cannot be else. For here lies the point : if I drown myself wittingly, it argues an act, and an act hath three branches – it is to act, to do, and to perform. Argal, she drowned herself wittingly.
Second Clown. Nay, but hear you, Goodman Delver.
First Clown. Give me leave. Here lies the water – good. Here stands the man – good. If the man go to this water and drown himself, it is, will he nill he, he goes, mark you that. But if the water come to him and drown him, he drowns not himself. Argal, he that is not guilty of his own death shortens not his own life.
Second Clown. But is this law ?
First Clown. Ay, marry, is’t – crowner’s quest law.
Second Clown. Will you ha’ the truth on’t ? If this had not been a gentle woman, she should have been buried out o’Christian burial.
First Clown. Why, there thou sayst. And the more pity the great folk should have countenance in this world to drown or hang themselves more than their evenChristian. Come, my spade. There is no ancient gentlemen but gardeners, ditchers, and grave makers. They hold up Adam’s profession.
Second Clown. Was he a gentleman ?
First Clown. ‘A was the first that ever bore arms.
Second Clown. Why, he had none.
First Clown. What, art a heathen ? How dost thou understand the Scripture ? The Scripture says Adam digged. Could he dig without arms ? I’ll put another question to thee. If thou answerest me not to the purpose, confess thyself –
Second Clown. Go to !
First Clown. What is he that builds stronger than either the mason, the shipwright, or the carpenter ?
Second Clown. The gallows-maker, for that frame outlives a thousand tenants.
First Clown. I like thy wit well, in good faith. The gallows does well. But how does it well ? It does well to those that do ill. Now thou dost ill to say the gallows is built stronger than the church. Argal, the gallows may do well to thee. To’t again, come.
Second Clown. Who builds stronger than a mason, a shipwright, or a carpenter ?
First Clown. Ay, tell me that, and unyoke.
Second Clown. Marry, now I can tell.
First Clown. To’t.
Second Clown. Mass, I cannot tell.
First Clown. Cudgel thy brains no more about it, for your dull ass will not mend his pace with beating. And when you are asked this question next, say ‘a gravemaker’. The houses he makes lasts till Doomsday. Go, get thee in, and fetch me a stoup of liquor.

Exit Second Clown.

(sings)

In youth when I did love, did love,
Methought it was very sweet
To contract – O – the time for – a – my behove,
O, methought there – a – was nothing – a – meet.

(…)

Hamlet - Shakespeare.

8 de julho de 2008

O fundamento de um pensamento é o pensamento de um outro, o pensamento é o tijolo cimentado num muro. É um simulacro de pensamento se, no regresso que faz sobre si mesmo, o ser que pensa vê um tijolo livre e não o preço que lhe custa esta aparência de liberdade:

Ele não vê os terrenos vagos e os amontoamentos de detritos aos quais uma vaidade (sombreada) o abandona com o seu tijolo.

O trabalho do pedreiro que alinha é o mais necessário. Assim, os tijolos vizinhos, num livro, não devem ser menos visíveis que o novo tijolo, que é o livro. O que é proposto ao leitor, com efeito, não pode ser um elemento mas o conjunto onde ele se insere: é toda a articulação e edifício humanos, que não pode ser somente um amontoado de ruínas mas consciência de si.

Num sentido, a reunião ilimitada é impossível. É precisa coragem e obstinação para não perder o fôlego. Tudo se empenha a largar a presa, que é o movimento aberto e impessoal do pensamento, para a sombra da opinião isolada. Bem entendido, a opinião isolada é também o meio mais rápido para revelar o que a articulação é profundamente; o impossível. Mas esta apenas têm este sentido profundo na condição de não ser consciente.

Esta impotência define um cume da possibilidade ou, pelo menos, a consciência da impossibilidade abre a consciência a tudo o que lhe é possível reflectir. Neste lugar de semelhança, onde a violência castiga ao limite do que escapa à coesão, aquele que reflecte na coesão apercebe-se de que não é mais doravante lugar para si. (...)

G.Bataille. "Theorie de la Religion."

O tesouro perdido.

O Tesouro perdido no fundo do mar és tu

(e seria idiota enviar megulhadores)

Os tesouros no fundo do mar são feitos para sonhar
e não é preciso tocá-los
e isto quer dizer
que ninguém te pode atingir
mas que sem te atingir podemos fazer-nos lua,
extrair o mar, e fitar-te.

O sopro no bordo das estacas como uma máscara
és outra vez tu,
e isto diz a tua eterna virtualidade
no plano daquilo a que chamamos

... este mundo.

(carta de Artaud a Breton)

7 de julho de 2008

Artaud - O corpo humano.

O teatro é a liberdade

a liberdade a liberdade
a liberdade
sem tríade.

A inteligência é um idiota.
O génio é um idiota.
O espírito é um idiota.
A ciência não é,

ela não entra no saber,
o saber não entra na consciência,
a consciência não entra na existência,
a existência não entra no corpo.

Portanto, onde não haja coisa que sinta se como ser
( e, ao diabo, o ser é o finito )
não há senão corpo.

E porque não ser e um corpo ?
Mas se é ainda mais finito que o finito !

O teatro era uma estranha mecânica naturalista que foi instaurada para fazer calar tudo o que se imagina ser, porque isso não existe.

Passos de corpo em corpo, nem sílaba nem palavra, o gesto, atitude, som, grito, suspiro, insuflação profunda que inspira ao homem o esquecimento, esquecimento do que quer que seja que pudesse ser à volta do corpo simples.

O corpo humano.

Mas quem disse que era um ser e que existia ?
Vive.
Isto não lhe chega ?

Ganharei o nada antes de ti, deus,
dizia o corpo ao espírito, porque vivo.

E o que é um corpo ?
Chamamos corpo a tudo o que é feito sobre o modelo do homem,
que é um corpo.

E que jamais disse ou acreditou que este corpo era o finito, era o finito,
cessou já de viver,
de avançar,
até onde irá,
não de certeza na eternidade mas no tempo ilimitado.

E isto que nunca o disse.
E isto quem nunca disse até onde iria ?
Ninguém.
Até agora ninguém. O corpo humano nunca está acabado.

É ele que fala,
ele que bate,
que marcha,
que vive.

Onde está o espírito,
(se) nunca visto,
excepto para o vos fazer crer,
a vós, os corpos ?

Ele está defronte dos corpos,
à sua volta,
como uma besta,
uma doença.

É assim que o corpo é um estado ilimitado que necessita que o preservemos.
Que preservemos o seu infinito.

E o teatro foi feito para isto,
para pôr o corpo em estado de acção
activo
eficaz
efectivo

Para devolver ao corpo o seu registo
orgânico inteiro
no dinamismo e na harmonia
e para não fazer esquecer ao corpo
que é dinamite em actividade.

Isto sabe se num mundo em que o corpo humano ainda só serve:
... para comer
para dormir,
chiar,
fornicar.

Quando o corpo humano se completou no coito disse tudo pois o coito da sexualidade apenas foi feito para fazer esquecer ao corpo pelo erotismo de um orgasmo que é uma bomba.
Um torpedo enamorado

perante o qual a bomba atómica de Bikini não têm mais, e não é mais, que a ciência e a consistência
de um velho talismã regressado.

O verdadeiro teatro data de antes de Ésquilo
e em Ésquilo ele já está encrustado,
morto numa realidade que se diz fabulosa,
onde todo o idiota da história,
ciência, rito, inteligência,
espírito, família,
sociedade,
deus, génese, natividade,
está entalado, ali, em pleno hymen, a sua membrana dita bárbara pronta a ser copulada por toda a horda da humanidade.

Máquina de força eréctil de fogo,
o corpo primeiro nada conhece,
nem família, nem sociedade,
não pai, nem mãe,
nem génese assombrada
pelos esbirros das instituições
das entidades ...
ele nada conhece.
Ele erege punhos,
pés,
a língua,
os dentes.
É um baralhar
de esqueletos bárbaros
sem fim nem começo,
um pavoroso estilhaçar ardente,
e isto, é o teatro da crueldade,
que lhe importam as paixões contadas,
que importa o amor a quem tem a morte nos dentes,
a morte nos dentes.

É um teatro sem espectadores e sem cenas, unicamente com actores.
Actores que não têm frio nos olhos.
Quando tiver encontrado dez ou quinze,
então
inaugurarei
o teatro da crueldade.



Artaud, Antonin; (Le corps humain); textes écrits en 1947 ; Oeuvres

3 de julho de 2008

A Turbina.

Logo
a rodo s
o arremeter musical
liberto
de estado
antes
a qualquer regresso

marca lugar imponente

como queda ao invés digital
o iniciar laminado
do movimento que passa

fora

junta (se) qual raia aglutinante
propagada pelo caminho da natureza inversa
ao como das cores contadas
que chama
do assédio que atinge ali ao instalar
do fim a suspensão
como num leito pontual que recorta
os novos movimentos
cegos deste que desliza

o alinhar do s panorama s

o que é como entra® o mover
o estender
as circunvoluções do poder

postas
como mecânica natural da piedade celeste que deixa se
de tudo
numa toda intenção
ou num outro natural ponto que deve

(ser)

enterrado
vivo
engelhado
e carcomido

(ancestral casca vazia)

e depois de novo um mover que toma se daí
desta cólera que dá se
do estupor em termos
sentido de nada
um movimento simples.