28 de agosto de 2008

laminal
corte

o estado vazio esta palavra
que fala,

que é sempre,
e como fazer
surgir

na tela do junto instante

a
palavra
à palavra

(que não é ideia)

ou qual dizer como qual corpo deste,
ou disto, que faz se choque,
ou pensamento.

19 de agosto de 2008

Lamuerte#3

Sonda a morte ao que levanta se
na garganta o porquê do baixo canto
da vida e o amor murmurados,
hábito do dizer vazio, cruzado
traço te o que chega sincopado
mente um qualquer destino que nos cerra,
o contado prazo e a pintada ficção feita,
tua, digo, soberbo o rebentar silêncio o dia
o diz, a velha morte atento como no clarão azul -

pois lançado grito ou fácil por diante vocifera sabe,
como inteiro instante o teu mal surgir, agreste
em cada grito ou grande o morrer na voz que cai
tira te, à luz da morte e ao signo o clarão dela
que possa partir e deixar me, enfim, na junta
vida a morte assim que corre ou dizer, ou nem isso –

18 de agosto de 2008

An.

Logo

do
estado

corre
o erguer

que tolda o magnífico véu s,
os rasgados recortes ;

como :

afoito do grotesco a ressurgir em comédia,
ou anómala música da locação que escapa,
diz se, mais e regressa nunca aposto ou talvez,
como mil figuras ou toldado das canções,
que esgotam se aos olhos, do espanto que falece, diz.

12 de agosto de 2008

Baudrillard.

O simbólico é o que põe termo ao código da disjunção e aos termos separados.

É a utopia que põe termo aos tópicos da alma e do corpo, do homem e da natureza, do real e do não real, do nascimento e da morte.

Na operação simbólica, os dois termos perdem o seu principio da realidade.

Mas o principio de realidade não é mais do que o imaginário do outro termo. Na partição homem/natureza, a natureza (objectiva, material) é unicamente o imaginário do homem assim conceptualizado.

Na partição sexual masculino/feminino, distinção estrutural e arbitrária que funda o principio de “realidade” (e de repressão) sexual, a “mulher” assim definida nunca passará do imaginário do homem.

Cada termo da disjunção exclui o outro que se torna o seu imaginário.

Assim acontece com a vida e a morte no sistema em que nos encontramos : o preço que pagamos pela “realidade” da vida, para a viver como valor positivo, é o fantasma contínuo da morte. Para nós, vivos assim definidos, a morte é o nosso imaginário. Ora, todas as disjunções que fundam as diferentes estruturas do real (...) têm o seu arquétipo na disjunção fundamental da vida e da morte. Eis porque, seja qual for o campo de “realidade”, cada termo separado, para o qual o outro é o seu imaginário, é assediado por este como pela sua própria morte. (...)


Jean Baudrillard ; A troca simbólica e a morte ; ed.70

11 de agosto de 2008

O Aviador prevê a sua morte.

Sei que encontrarei o meu destino
Algures entre as nuvens no alto;
Eu não odeio a quem combato,
Aqueles que eu guardo eu não amo.
A minha terra é na margem do rio,
A minha gente é pobre na margem do rio.
Não há fim que lhes faça perda
Ou assim os venha alegrar.
Estadistas, multidões de ensurdecer,
Nem lei nem dever me fizeram bater ;
Um solitário impulso de delícia
Trouxe-me a este tumulto nas nuvens ;
Tudo considerei, tudo fiz consciente.
Os anos vindouros viam-se vãos de alento,
Vãos de alento eram os anos antigos ;

- em balanço com esta vida é esta morte -.


W.B.Yeats- “The Irish Airman Foresees his Death” - Tradução livre.

.quando no quarto branco ...

Quando no quarto branco da charité
acordei de manhã,
e ouvi cantar o melro
entendi muitas coisas.

Havia muito que a noite não temia
por saber que nada mais me faltaria
se eu próprio me faltava.

E nesse instante cheguei a alegrar-me
até com o canto dos melros
após a minha morte.

B.Brecht
Lamuerte#2

Quando a noite que chega não traz a morte que fica na mentira do dia
E vêm de nós então a bela face que assim rompe em desafio à manhã
Fica meu amor cedo nessa hora em que te venho para morrer em paz.

Completo, enfim...

6 de agosto de 2008

Horizons.

A alma
devassa
nos espasmos

o espanto

em euforia
do grito
dor

e

sustém
o tornar
morrer

o poder

não
querer

sonho
mordaz
no horizonte
da permanência

por

luar
de outrora

ou

estulta
matéria
dos sonhos.
(n)a impressão do dizer que retira
gera culpa o dizer a impressão
e esta é falta que retira intenção
da impressão, sistemática, que atira -

As máscaras revelam-se na face do silêncio
por invasões da contenção do deserto claro
e os confrontos alongam-se
premeditados
no fumo subtil do invasor dos caminhos.

Há uma certa vertigem contida,
um poderoso pulsar.
Palavras

Ténues

limpas

odoríferas

as palavras solenizam a ridícula obsessão que é o seu absurdo

esgotado.