29 de dezembro de 2009

A marca dos lábios,
encanto liba tormento,
e nada diz, sei,
que pensa não saber,
as memórias escritas
do rosto que sente
o encontro a um dia
escuro e tão perto,
longe fica na chuva
e acorda sentidos,
sombras no regaço
das últimas tentações,
condição de não ter,
o amargo distante
por fim no dia fugaz
tomara do impropério,
ficar os assentos
em cor na matéria
mais que nova, via,
não guarda das palavras,
aberto ainda a pairar
d’outono e os navios
a passar não fica
mais sangue e cor
de oceano, espuma
a maré vazia,
fico o sal, nuvens
da borrasca, lado
a lado ao corpo
esse olhar lembrara
fundo ao dia, chega
o instante, (quem te)
imagem oscila
entre a manhã
e a tarde afasta
desde toca, chamado
estas figuras, e tu,
corpos cegos, repete
essa voz quando
a vida consente,
o teu, por vezes,
sombras qualquer fim
da manhã logo
é frio, aceso e cala,
ruínas de cada faz
a sombra, líquido,
traço do corpo
a corpo enquanto
conquista, a liberdade
e o carrega, no peito
em fogo, a tarde
não estava tempo
(ou era eu),
correra o sangue
a protesto das palavras,
na boca o sabor
dos mundos fazia,
nada o é, ouve,
por vez sopra
do rumor, sente,
o instante fere
à queima, das palavras,
no mais livre
outros céus, abertos
cimos da terra,
a liberdade ao longe,
e os pântanos do dia
em perto é feito
o acaso, a noite,
canto ao fim do dia,
mais se liga,
mais avança, basta.

Como o fazer lacónico ao grande alvorecer da guarda sombras ao amanhecer, véus, o tecer das sílabas, de composição de dentro, o nome, as línguas, o fogo, os cantos da voz, o grito aceso, outra vez o dia, alto. de que é feita a matéria (?) quando voltas à terra.

Do mais ocaso até vindo em rápida sucessão, do qualquer fim.

27 de dezembro de 2009

O gesto num minuto
sentira a presença
ao cair aberto chama
de olhar a fundo,
e não pensa em voz
a soar sobre a folha
por restos da matéria
a cada palavra,
mais próximo, termos
que faz e toma
do que é simples
a ritmos dum verbo
que a forma é dizer,
rios dum prazer,
que corre o petrificado
momento, e não pensar,
corrido, manifesto ponto
cedo a noite cai
numa fisionomia, fechada,
não tanto a chuva
mas passos na pedra
em récitas do som
perto, a raiada promessa
vão, lentamente, desfolhar
livros na noite em voz
soltas as sensações
da luz ida, nomes
e palavras ao acaso
não fica mais,
desse encanto, os corpos
e os dias assim,
maneiras da profusão
lançada, mantos
na curvatura da pele
e as ondas a desvanecer
a música quase perto,
o silêncio em terra firme,
tecido desse rumor
a passo imóvel,
por todos, mundos e luas
mais vivo as ondas
leve, a vista agitada,
as folhas caídas,
nas margens da espera,
onde as tantas palavras
queira a manhã
não tarde a mais cantos
do manifesto e palavras
loucas, rastos
do mal tirado à sombra
em qualquer lugar,
nu, raios e a cor
dessas terras pisadas,
o ar das noites, corre
e toma de mais o canto
que alcança, braços
do rubor, a face da pele,
a saber das mãos
em parecer do som
nas palavras, do fulgor
em cada sítios ao acaso,
o gesto elegante,
como cordas a soluçar
as curvaturas da lava,
as lavras da terra,
e o principio de tudo.

13 de novembro de 2009

Abelardoimóvelavidamentesretalhadoassim.*
Cainadoridamaneiraotrabalhoeconventaodia.
Elaboradoaosgritosemcomendassólidasecruz.
Quemvilapródigacorrentempressaslavraodiz.

*diz-se que marx “embirrava” o “assim místico” d’hegel (creio que o acharia “preguiçoso”, ou “enganoso”, veja-se lá), eu, por mim, que não sou dado ao uso do vernacular, escrito pelo menos, digamos que me estou um pouco “nas tintas”.

12 de novembro de 2009

(Sem mais de momento ...)

O trabalhador e o utensílio.

Duma maneira geral, o mundo das coisas é sentido como uma “queda”. Gera a alienação daquele que o criou. É um principio fundamental : subordinar não é unicamente modificar o elemento subordinado mas ser – propriamente – modificado. O utensílio muda ao mesmo tempo a natureza e o homem : sujeita a natureza ao homem que o fabrica e utiliza mas liga o homem à natureza sujeita. A natureza torna-se propriedade do homem mas cessa de lhe ser imanente. É sua na condição de lhe estar fechada. Se ele coloca o mundo sob o seu poder é na medida em que esquece que é ele – propriamente – o mundo : nega o mundo mas é ele mesmo que é negado. Tudo o que está em meu poder anuncia que reduzi o que me é semelhante a não mais existir para o seu próprio fim mas para uma finalidade que lhe é estranha. A finalidade de uma charrua é estranha à realidade que a constitui e com mais razão ainda, a finalidade de um grão de cevada ou de um bezerro. Se eu comesse a cevada ou o bezerro de uma forma animal estes seriam igualmente desviados do seu próprio fim mas seriam subitamente destruídos como cevada e como bezerro. Não seriam, a cevada e o bezerro, em qualquer momento, as “coisas” que são desde o princípio. O grão de centeio é unidade de produção agrícola e o “boi” é uma cabeça da manada, e aquele que cultiva o centeio é um lavrador e aquele que cria o boi é um criador de gado. Ora, no momento em que cultiva, a finalidade do lavrador não é, realmente, a sua própria finalidade ; no momento em que cria, a finalidade do criador de gado não é, realmente, a sua própria finalidade. O produto agrícola, a manada, são “coisas”, e o lavrador ou o criador de gado, no momento em que trabalham, são também coisas. Tudo isto é estranho à imensidão imanente onde não existem separação nem limites. Na medida em que é imensidão imanente, em que é ser, em que é “do” mundo, o homem é um estranho a si mesmo. O lavrador não é um homem : é a charrua daquele que come o pão. No limite, o acto daquele que come é já o trabalho dos campos ao qual fornece a energia.

Georges Bataille – Théorie de la Religion.

Este “culminar” do esboço “Batailliano” do tema do útil utensílio faz me lembrar, não sei porquê, a história do malandro do caím e do pobre do abel que, segundo li recentemente numa curta história de contracapa que não conhecia, continuaria, por tudo quanto é lado a sua cantoria. Não me espanta, no entanto, pois é sabido, desde tempos imemoriais, que quanto mais decomposto – ou descomposto conforme a “sensibilidade” semi-o-lógica de cada um – o nome mais assobia, melodia.
Por vez o acaso deixa-me assim tão perto, boquiaberto, e do que sinto eu sempre aceito não, que neste acaso libertasse, e é verdade que sinto, e permanece neste instante,
em que o acaso mal que fizera soubesse, deste acaso.

(Pois entendo a distância. O nem saber. Sempre entendi o silêncio.)

No coração do respeito por vez o acaso deixa-me assim na face um sabor ferido.

(O jogo não é deste meu acaso).

E não considero razões, também não cego, não digo.

Nunca me tinha a certeza chegado e o que sinto é forte, assim o disse, e o resto, que passa ao acaso e agride é como punhal que rasgasse ...

(mas o meu corpo é forte - decerto porque é deste acaso, este acaso perplexo.)

Sincero (em respeito) sempre ao mundo (que solicitado) o disse em vez do acaso a sós e deixa-me assim, mudo ; e é tudo - respeito, amizade, um bem querer e carinho e terno e tudo numa palavra mais - que disse.

Não considero, repito, e em silêncio retiro.

Por vez o acaso deixa-me assim ... obrigado, não por vontade, ou orgulho, nem por nada deste mundo ... apenas porque o que disse, assim sinto.

10 de novembro de 2009

Dos termos, efeitos.

Dos termos diria* – mais ou menos como o houvera feito um genial humorista ou então sugeriria, estou convencido, Peirce – que são como os efeitos da manipulação dos interruptores. Ou seja : quando postos p’ra cima far-se-ia luz e um, quando trocados p’ra baixo então escuro e zero. Ou vice versa conforme a polarização dos ditos interruptores. Ou tudo e nada, num instante, ou como se queira, instantaneamente. É que no fundo, no fundo seria sempre o “mesmo”. Aqui estar. E seria, talvez, no desenvolver de um tal semelhante “raciocínio” que um certo hipotético e famoso matemático diria que um é – igual ou semelhante ou o mesmo que - zero. Não sei. Mas, e quanto ao “meio” ? Bom, o “meio” seria, neste caso, o próprio interruptor, digo eu. Obviamente que “falta”, nesta “história”, qualquer “coisa” que discerne, paradoxalmente, mas isso, isto, seria uma outra “história”, paradoxal.

*Como olhara, embevecido, o funcionamento de um quadro eléctrico.

30 de outubro de 2009

“As corporações são o materialismo da burocracia e a burocracia é o espiritualismo das corporações. A corporação é a burocracia da sociedade civil ; a burocracia é a corporação do Estado. Assim, opõe se na realidade, como “sociedade civil do Estado” ao “Estado da sociedade civil”, isto é, as corporações. Onde a “burocracia” for o novo principio, o interesse genérico do Estado começa a converter se num interesse “à parte” e, por conseguinte, num interesse “real” que luta contra as corporações do mesmo modo que toda a consequência luta contra a existência dos seus pressupostos. Por outro lado, quando desperta a vida real do Estado e a sociedade civil se liberta das corporações levada por um instinto natural próprio, a burocracia tenta restabelecê-las, pois se se dissolve o “Estado da sociedade civil” cai igualmente a “sociedade civil do Estado”. O espiritualismo desaparece com o seu contrário, o materialismo. A consequência luta pela existência dos seus pressupostos quando um novo principio luta não contra a existência mas sim contra o principio dessa existência. Logo, quando é atacado o espírito da corporação, também o é o espírito da burocracia ; e se esta combatia anteriormente a existência das corporações a fim de efectivar a sua própria existência, procura agora salvaguardar tenazmente a existência das corporações para salvar o espírito corporativo, o seu próprio espírito.”

K. Marx ; Crítica da Filosofia do Direito de Hegel – Presença.
T. – uma comoção da imagem.

Precipitara se
a temperatura em frémito,
insinua a jovem noite,
ainda uma brisa
por dentro das casas
as atenções do dia
desvaneceram em frenesim.

E corro em visita dos sinais.

As cursivas - imagem
dum contraponto
a sincopar dos momentos
em panorâmica vista
na volta do apreender,
que não seja um dia,
outro e a vida
a cada instante, velo
do movimento,
olhares, engalanados
sons do sincopar
a maquinal-regra
de um mural citadino.

Não se ocupara do conformar do planalto o olhar de uma figura sem forma.

Os poços negros, passagens
(ao) suspenso coração da imagem,
lapidam em contraponto o corpo,
ficado nessa noite em fazer dia,

Na escolha diz alocar as resistências em acto que importa.

Da queda em dispersões,
as saídas chegado,
o silêncio das palavras,
seus intervalos matriciais,

E o instante é logo que o fogo começa e deixa se como considerar a entrada, o descanso, e o engano elege se frente aos olhos em rendição e tudo, como as últimas disposições da consciência, em salto, o por fim dum distender - copiosamente - arvorado às multidões do rumor, novamente o vazio.

Profundo dos olhos e os ossos
silenciosos fundos da terra
em contraponto às chamadas
do vale a um cimo destas encostas,

fogueiras do calor e da terra e a noite
em esguios socalcos estendidos
sobe este percurso abaixo a encosta
e o faz correr a face funda,

como para lá dos olhos em sonho
a uma moldura sobre as manhãs
em mais real dos ocidentais exilados
instante em comoção das imagens.

A funda mente e perdida
por detrás dos abismos
passava a realidade
que agarra me o murmurar
(o olhar sente)
os esquecidos segredos
a que chamam sonho,
(no sítio onde pára a poesia).

E o dizer apela o dizer do rumor em lugar dos ossos separados, vale-imagem
de todos dias,
correra muros,
a saudade,
os olhos baixo.

E nesta ideia escrita das figuras em pedra a fundos véu só continua a vista junto (?) que faz o rio à volta.

Por fim o coração atira me
como pode o chegar
ou não esta escolha “antiga”,
este olhar das encostas
de novo em partida, outro lugar.

E não mais, tira se o perfazer das palavras qual desmagnética “figura escrita, sem, ou quais, véus que tomaram se em mar assim.

28 de setembro de 2009

Visual digressão em genitivo.

Deixado após fundo,
o sedimento é que fica,
nos ecos desse apelo,
que passa ao fim,
dum natural regresso,
à vertical fugaz,
da primeira leitura,
qual talismã da reposição,
nos olhos silenciosos,
espaços da caçada,
a providencial maneira,
da silenciosa linguagem,
nas coras do acolher,
a organizada imagem,
dum esquecimento,
em representação,
da potência acto,
do motivo depois,
da caçada estendido,
em umbilical promessa,
da realização da terra,
na primordial caligrafia,
da realizada memória,
da incineração, a flecha.

A oculta chama,
dos olhares em festa,
na extinta direcção,
d’outrora a fluência,
paira qual estranhar,
natural da representação,
o imperativo acerto,
tempo, qual remanescer,
dos ilustres instantes,
expandido, denso, critério.

14 de setembro de 2009

Em Setembro.

O corpo excedente,
a parcial temperatura,
dos compostos conjuntos,
impresso expressos,
estados em físico
sinal, do rito muscular.

O reflexo. Ora em qual reconfiguração dos aspectos tirado o reduz, suspenso, as com notações encerradas o faz os libertos automatismos, o move.

Oscilante e insulado,
o pensamento à escrita,
à ideia, matéria das ondulações,
a muscular abertura,
duma certa aceleração no vazio,

circunscrito,

daqui a local,
e sem daqui deixar,
a local liga,
do iniciar rápido,
espelho disso,
em escrita depois,

duplamente.

Depois, o devolver das polarizações em desmagnético carrossel ou réstea de atenção descuidada fizesse se linha, sulco.

Que por vez lavrava o rudimental alimento.
Os concertados crús rios da pele.
Em totais olhos d’ horizonte alheio e denso.
O tender e motivado em calcinação das cores, a luz.
Obviamente mais acima, árido, a ponte, o céu.

Regórgitos em distensão da memória de um alinhamento intuitivo, primitivo e descritivo, das quantitativas – musculares - técnicas, antes mostras, das palavras do momento. A locução significa, o descritivo sabor entanto entrar a noite funda, talvez excesso, aceleração.

Disperso de nuvem,
a tempo e o vento,
as luas em tonalidade,
e sabor do sal.

O ba®co na areia,
antes do sol pôr se,
o cair d’imagem,
no colorir instante.

Em tom do mar,
e sugestão de vento,
as cútis dum dia gasto,
o disperso horizonte.

3 de setembro de 2009

(entre agosto e(m) setembro)

Reinstalação, em modo (hipotético porém) o esquece, as superfícies adentro, o coincide acerta, característica das cores, da terra ;

por falas e ritos,
dos outeiros e montes,
a madeira e os ossos,
nos braços e palavras,
dos crescendos sinais,
esvanece e distendem,
os ecos do frenesim,

dera,
reflexo,
dos olhos
vaso
ilíquidos,
entardecer,
imposição
das dispersões,
onírica,
oscilantes,
rasgo
dos olhos
castanho,
fundo,
estendido, (numa inclinação de* plano ascendente), ilusão, destemperado ar da vida ágil, podengo, estender das clarificações, dos órgãos, vinte mil guardados elementos da conjugação, noventas, subventas mais longas linhas conversos lanços duma escorreita, (porém vivo e deliquescente), deslocamento das introduções disjuntivas, o após da vária civilização, das línguas.

Alto e baixo
atendido
- altar -
mais ágil
- da tensão -
simples.

Disse o frio,
dígitos do paradoxo,
em fluí duma conversação,
a mostra em recanto,
oscular dizia,
o demais grito,
em espécie do parecer,
as letras do mesmo,
mesmos dum sedimento,
a firma em situação,
o atira sólidos,
da colisão fasto,
olhar, história, marca,
em grotesco o suporia,
o figurado, vazio.

E em si, levas de somenos
rosam se a curvatura da carne
- em distributiva - do mesmo olhar
a casa justa, inflado ao fim
dos tempos, numa consignação corpórea,
extenso e despassado, acto figurado,
em conserto dos alongamentos.

...

E no recomeço,
o extenso dos solos,
nas locações cristalinas,
das curvas em colapso,
e altitude em deriva,
de solene e substancia,
logo a conta firme,
o som duma maneira,
em vias de fundo,
a romper esgotado,
o campo a alta voz,
em sinais de resto, .
e junto as amenidades,
no dizer as palavras,
em passagens apostas,
comportas da decantação
simples, num dois três
em teoria, e não tanto
da escolha, antes
imediato, acto
da lapidação ;

os silvos na montanha,
o ribombar do dilúvio.

Os fragmentos, dum antes irreconhecíveis, fases do acto, combinatório. O sol seco e ávido, resfolegar das cinzas, vermelho, gasto do batimento símil. O som, de nota
- ascendente/descendente – estáticas.

*não do.

19 de agosto de 2009

Agosto adentro.

(primeiro momento em expansão circular, abrangente.)

O templo,
de veste em cinza,
silencioso abrir,
crú d’espanto,
repassado em calipso,
(o coração certa mente)
- contraz –
os longos levantes,
a menos, as hierarquias
das palavras, suas cadeias,
as peças, as suas várias “unidades”.

E chamado aventro das edificações, das matérias, o ciclo.

A fausto arauto
em mor de quanto
e qual
- condensada –
altercação
dos simples,
numa “não leitura”,
novamente..

Contínua.

Que dito se insinuasse
a espaço aberto
um tal andarilho,
incansavelmente,
as determinações pura e simples,
as derivas crescendo,
as arestas os soltem,
os rumores duma oriental
fáceis actos sem fim
constituído, esse,
em linha de contra
corre, a nota,
tirado em espaçamentos
se impusera o tempo
dantes fora quais
princípio d’tal imposto,
não digital,
depois das contagens,
por ligação difere,
adentro outrora,
o dizia celas de infinito,
as rodas de oriente em chama.

O constitui quaisquer percursos – descolocado - estender dos quantos/quando audíveis único olhar desse o diluir dos desgastes, dialécticos, o “portanto” da posição extática.

Numa,
- pressístilizado -
potencial
auto
cora
são
gera
entrar ditado
das mecânicas em queda,
livre, as suspensas,
desenfreadas automações,
o demasiado veloz.

E depois, refiz ante o perfilar dos ensaios, ou seja, numa construção dos relógios.

Edificantes, considerar discreto estar de fundo, por assim dizer, as progressões, o meio actual, o campo das cores, a multiplicação, logo, as vacuidades, de ausência em ausência, numa estatística estratificação, a um cada um, conforme, ao panteão duma cantiga, dum coro.

do branco as cores,
as cores do branco,

numa utilidade,
quase perfeito,
o seja, rodado
defeito, fosse.

Vazam cintilante
o acerto ir da súmula
aos extremos do garrotar,
consequente altar da permanência,
onde adormece o destacado levante,
(por virtual composto, em descompasso),
lugarejo de tecto vazio,
trajecto ao peito, junto, xaz.

27 de julho de 2009

Em Julho assim.

Impresso de fala corrente
em maneira aplicada
voga da captação
na vanguarda das antenas
possível desencadear
dum simultâneo manifesto
acerto em vão das sombras
linhas edificadas
ondulações de água
abundante em perspectiva.

O fogo tomado,
em lama apartado,
nas águas amenas,
do rasto traçado.

Veloz só sombra
o mais cada vez diria
quase emissão colocadas
pontes conturbadas
dos dias ribombar apenas
avançam sinal dum parecer
estatutário contado com
doam de manifesto
num voluptuoso segundo.

...

Curva o parecer,
adentro avental,
passados os corpos,
das cútis vigias,
mostras da satisfação,
as subidas e descidas,
pernas da tensão,
no dedilhar os cabelos,
ritmo de afagar,
a pele em mostra,
das cintilante mente,
onduladas espessas
espumas caíssem quase
o silêncio da fria morada,
em perfil do mármore,
os suspensos campos adentro,
o corre esta citação, ocular
das onduladas superfícies,
na terra inexistente.*

Os sabores da rarefeita
situação histórica
das transparências
continuar nocturnos
rastos o dia sonoro
estria radiofonia
distender representado
esvaído duma cada festa
grito e terno e só
quando sabre em liga
tal não esteja depois
o esvanecer das faces.

Distendidos termos
dessas mesmas figuras
no papel silenciado
regresso a todos
dum dia redundante

E por quem ficara
qual fossem chamadas
entregas duma certa
decorrência das vias
o mais irrompe.

Ora vento a sopro
da partição em rajada
tensa o estender
imediato, as séries,
o baixo grito.

Pressentir da fortuita pele, os olhos e distribuições, logo a procura, efectiva, uma antes data, os tais três instantes da sucessão fixa. E mais longe o divago agora longamente a síncope em rotas duma abertura vã, todos do anoitecer, agregado às portas só do vento e mal o sol desapareça, o deixar natural a luz, nos berços da lua ou qualquer surja o distender aluído, desta vez lugar, os apenas braços duma cor, e depois das manhãs, válidas, no consequente avanço.

* que disse se "como o meu totem".

17 de julho de 2009

Operação do recombinar os específicos dados da impossibilidade, os ritmos do desacerto.

Chegara o gesto em escrita do (resto) sentido “cego” original sabor da simultânea coincidência deste, agora, suspensa cor.

Não à face,
em face deste,
em não acção,
no acto desta.

Sustenida nota
distensa, corda
duma (tal) específica
operação fundamental
diz lançados,
calendarizados
afectos em modificação.

Regórgitos dum
a verso antigo
e sempre novo
este mesmo
em transição
da lucidez
chegado a si
num tempo
constado
em tal hístória
das eras,
ao nascer,
já era, antes ;

as antigas notas
em sinal da cor
dos planaltos
encrustados
ri actos
de uma civilização
em fundamento
da figura.

Vista cega, voga local, da estepe (um) sinal, (em) contracto local.

Temas
duma noção,
dos “actos”,
das continuadas
notas idas em parte
encadear dos estratos
(por camadas parciais).

14 de julho de 2009

Notei uma coisa ...

... bizarra, anormal,
estranha,
que ninguém quis
nem quer reconhecer
pois existem palavras de ordem,
de intransponíveis barreiras,
e formas de essenciais interditos :
somos uma vida de marionetas,
e aqueles que nos guiam e detém os fios do sujo despeito consideram antes de tudo e digo Antes de tudo o inveterado amor próprio dum cada um
que fez por que nada no mundo este um cada um não quisesse
não crer se livre,
e confessar, e reconhecer honesta e sinceramente que o não é.
Somos um mundo de autómatos sem consciência nem liberdades,
somos inconscientes orgânicos grafados sobre corpos, somos corpos grafados sobre nada,
uma espécie de nada sem medida e sem bordo e que não têm meio ou eixo, onde seria este eixo no nada, e o que seria o meio do nada (e de quê seria nada o meio) ? e como formaria o nada centro quando não existe invariável meio,
quando o invariável meio é uma fraude
que desarticula a realidade.


Antonin Artaud ; Autour de la séance au vieux-colombier ; 1947 ; Oeuvres.

5 de julho de 2009

Sopra os campos,
a verde em passo,
e de areia baixo,
no expandido instante,
que parte aos olhos,
de horizonte adentro,
e numa ocasião,
do corpo assente,
em "linhas" do silêncio.

Os caídos de acaso
em corrente,
o rumor erigido,
numa vez saudade.

30 de junho de 2009

Longamente a vida infuso
dizer da pretensa fala
aos colocados da terra não pertencida.

A dar se assim
constituídos reflexos
sítios do propício
potentado em circulares
travessas do fundo
porão sólidos
portos de aterro
às curvas corrido
lado á vista
dos castelos em dicção.

E Dize. como as sombras do verde incautos actos das fontes líquidas e as novas lavas do visto se tomaria – o clâmago – centrifugar das colocações - em súbtil – todas as manhãs da proverbial renascença.

E Célere. Como as sumas em retirada numa matéria do quê. Ou o verde imaginado em brios e rios de porte acima. As mais larvas desrazão circular torso instado em caladas do riso numa só linha do – pensamento – líquido.

Crivos da sombra,
e partos de rasto,
como os quadros
duma imagem gasto,
em corpos da vista,
entre tida passagem,
no tempo dos tempos,
como as salinas notas
dum toque fresco, claro.

Entre o corpo ...

... e o corpo não há nada,
nada excepto eu.

Não é um estado,
não é objecto,
espírito,
nem um facto,
menos ainda o vazio de um ser,
absolutamente nada de um espírito,
nem do espírito,
não é um corpo,
é o intransponível eu,
um não eu,
eu não tenho.

Não tenho eu,
mas apenas há eu e ninguém,
não há reencontro possível com o outro,
o que sou e sem diferenciação,
nem opinião possível,
é a intrusão absoluta do meu corpo,
por todo o lado.

Antonin Artaud

24 de junho de 2009

Em processo de nasalado hermético,
ausente a cor numa insuflação profunda,
argumenta tensão outra vez pálido o caos,
numa dupla impresso em função d’atingir.

Pálido recanto a fim
fora o fugaz vento
oclusivo retiro
ao desatento campo,

em juízo duma fundação,
num simultâneo sinal de fundo,
em permanente fluxo,
às laevas duma fugaz ideia.

(ou vaso em transposição.)

Corrido aos ganhos do suspeito assunto,
as passagens às portas de uma coloração,
aberto estado líquido ao canto ás da manhã,
no frio azul, primeiros lápis das altas acções,

a ponto de cima numa derivação cálida,
o efeito, como aos lagos duma imagem
se ausentasse em causa duma transformação
aos sinais da manhã nos campos cadavéricos,

e onde a forma ausente em contra fundo abre
ao sinal dum resto atribuído em vertigem,
as ondas, tirado em mar disforme o escape,
como o tomado vazio em lápide aspersão fria,

que gritasse, aos sussurros da cor um campo
a tomar se em saída, e como se dessa arte
uma proporção tratara de estar, ocorre
em permanecer, ficado em fundação da cor.
No âmago da cena.

Sopro exausto,
e golpe a quente,
opresso o desafecto,
iniciar tal história,
em regra corpórea,
das longas avenidas,
aos umbrais perfilados.

Outra vez na passagem morrera,
como executado às próprias mãos,
no sítio retiro das palavras,
em próprio receber da morte.

Bátegas dum pulsar fundo,
uma oração por ninguém.

A vida num dia passa,
segundo assenta,
instante e estratosfera,
ás portas da razão,
deste e daquele lado,
a impressa carne,
afecto sempre,
em conta que custa,
e numa impressão final,
como fora num cume literal.

Das antigas costas,
os náufragos depostos,
no lapidar afecto,
em explodir dos corolários.

Como remoto após
do peito numa atenção
dos ritmos e notas
duma corrida, assolados.

20 de junho de 2009

Seu triunfo.

Fiz a vontade ao dragão até que chegaste
Pois pensara o amor casual
Improviso ou um jogo combinado
Que começara logo dera sinal:
Eram actos melhores os que davam asas ao minuto
E música celestial se dera lhe chama;
E então ficaste entre os anéis do dragão,
Fiz troça, sendo louco, mas tu dominas te o
E quebraste a corrente e libertaste os meus tornozelos,
(São Jorge ou Perseu pagão)
E agora olhamos perplexos o mar,
E uma estranha ave milagrosa grita nos.

Her Triumph – W.B.Yeats

5 de junho de 2009

A tal maneira,
nesta hora fortuita,
em regra da questão
aos laços do momento,
em tubular fundo,
o som solene,
em rosto por vez aberto ;

a luz quando por fim na calma do grito tomasse em vez,
o porquanto fica do lamento de novo o percorre,
e impusera lhe essa condição entanto num paradoxo,
que passasse na passagem, raro impresso, aí, num a um, em festa do silêncio azul ;

o reveste numa confirmação pretensa o vazio liquidado,
as glórias caiam se ao convém das aleluias qual devoz/voraz delíscios líquidos de ser marmóreos,

os ventos e ventos,
da desregrada al’goria,
atilado nome em via,
da incondição do que seja,

falta a voz desse azul,
num segundo a preencher,
dessa cor e mais adentro,
o particular destas notas,

gnotas,
aéreas,
árias,
em agoria.

1 de junho de 2009

Do movimento.

“Como a atribuição do significado da ideia realizada a uma qualquer existência empírica não é mais do que uma alegoria é evidente que essas existências cumpriram o seu papel a partir do momento em que se transformaram numa determinada incorporação de um elemento vital da ideia. É por isto que o universal aparece sempre como algo determinado, como um particular, assim como o individual nunca atinge uma verdadeira universalidade.”

K. Marx ; Crítica da Filosofia do Direito de Hegel - Presença.

26 de maio de 2009

Espécie de madeira viva.

Em tal gesto fora,
possesso a raio que sabe lá,
atira portas do alto lá,
um alto lá outra vez e hesita,
os alto raios altos e raios
dias de lá da terra, de dia
dor, o rebento vivo,
som contínuo isto ;

que se lembro
o credo, via
se não via
e ora bem pensava,
naquela desenvoltura,
como agido e não porém.

Copo duma colheita,
em romã lábil sincopar,
os tímbalos dum som sortido,
que exacerbo em combustão,

a
solos
ágil
vão
de
caro
líquido,
árido mais feito ;

como ao surgir por surgir numa entoação, de tarde o desfazer, poros de acesso lunar,
salsa feito e grave, gnóbil, num asservo solúvel - era ressentira o óbvio do acaso que faz se advento, acto mais que recado, ou outra nação voláctil.

Ávida de concepção
aspergida, matriz,
as partes dum seu poder,
na desenvolta, coloração duvidosa,

algas lama,
em colo da terra,
por basso de sulva,
e rosa manifesto,
outra forma que diz,
outra não, forte
imagem, pálida
num condimento agrário,
em glória das máquinas a granel,
a arte numa vaporização longa.

De ágil papel e lama,
sol de avalancha,
numa falésia perto,
e frias ondas,
nas pedras gastas
das lacrimas ansiosas,
- deliquescentes -
lápis escaladas ;
cascatas dum precipitado
mais que simples até,

que porto
razão
limpa
e móvel
gesto
o acerto
em arrebento de literasam - como o invado os vens aos véus, disse, os arrojados canto mar, nas voltas da terra junto, como o ajo e tenaz rasto, um doutro assalto e levemente. O rumor apago o dia - em factuação – de base e numa sórdida vista fusa, simples de cor, lançada em fenómeno, como páginas duma cavalgadura solícita.

19 de maio de 2009

Cor adio.

Acre e terno
adio o sedimento,
os fogos e razões
no rasto a pele acesa.

A fundos muro,
e caído o campo,
cheio da irreflectida
luz, máscaras
do mármore diurno,
memória de todos dias,
vago prémio, contracto
a ter prelúdio da cera ;

cor
da prata
e véus
verde
outro
entanto
em deriva

o jogo das palavras numa vez,
. – o percorre -
assentar do riso, dizia,
charcos duma incondição ;

ecos dia,
credo mesmo,
ao planto grito,
e fica o sabor,
de acre a passo,
em peito olhares ;

decerto que tão cedo,
os todos olhos passam,
fica tanto e não chega,
dizer outra passada, nisso.

13 de maio de 2009

No, no, no ! Come, let’s away to prison.
We’two alone will sing like birds I’the cage ;
When thou dost ask me blessing I’ll kneel down
And ask of thee forgivness ; so we’ll live,
And pray, and sing, and tell old tales, and laugh
At gilded butterflies, and hear poor rogues
Talk of court news ; and we’ll talk with them too –
Who loses and who wins, who’s in, who’s out –
And take upon’s the mystery of things
As if we were God’s spies ; and we’ll wear out
In a walled prison, pacts and sects of great ones
That ebb and flow by the moon.

W. Shakespeare ; King Lear.
... que mudara a música,
das pedras calçadas,
descontente e rápido,
como refazera se à vista,
em revista da história.

A fora em recinto de fundação,
nada fosse – o condimento -
a solos dum olhar púctil,
enfim, um espalhamento solúvel,
porventura, noutros tempos,
dir-se-ia, houvera uma perseverança ;

e a perseverança de um homem,
é a perseverança de um homem,
no seu sacrifício, dizia se ;

as entranhas do lar,
carolar as lágrimas,
os corpos de pé ;

como :

espasso da transpiração na pele,
o perfume a visto, agido esquece,
teu corpo o qual saber me ia,
a quente em azul excesso.

Diz se que seja, efeito,
em nó glácido mas não mais,
ponto e vírgula ; pois,
numa lacuna tenha se,
a cintilação que soltasse,
as linhas de expressão,
dum qualquer sentir.

(dos cumes e das marés)

E por sobre o qual as vezes corre se mais e então é um sarilho, quero dizer ; que cada qual discerne e cada qual, numa atenção não tratasse a prédica, antes, abjecto e glóssil, mas não vamos por aí -

pois a tarde já vai longa,
e lá onde ela estiver,
que nessas tarde o seja,
ou seja ; das palavras
vezes que por diz se,
outras não, como investir
numa ultra levemente tinto,
ao lado, em, e tudo isso
como fora ao som das esferas,

em lá menor.

Ah ! - as grátilas ondas assoberbadas em constância viva !

5 de maio de 2009

Em lado a fundo,
ao peito arrancado,
nas marcas da pele,
um tal fitar vago.

Ora se o toque
se fizesse distante
era dessas artes
suspenso o pensar,

- e o toque é que perdura -

Por vezes, disse ;
as vezes são mais que as vezes
e relatam se como numa operação inscrita
qual fosse insisto o verde
em característica indistinta da paixão,
ou então, lançadas linhas de efeito
ao terminar das palavras
que apenas são depois e rasgam se,
os densos sólidos do convém localizado,
atirado, numa indicação do caminho,
ou correr um mar, as esquecidas pontes,
rios e ritmos a tomar se enquanto passo ;

como certa arrogância,
em fazer de instância,
que qual particular mente
esta vida e toda a morte
fica numa fugaz sensação,
do desperdício que passa,
em causa duma geração,
e do nome em repouso,
assestado aqui numa função
do voluptuoso motivo,
em cercanias da contagem
que assim nos figure a jogo,
o fogo, necessário ou colorido,
em sérios saltos para lá das monções.

A um oriental estado de arte,
um outro em lugar do céu azul,
na deriva da estepe, sem plano,
como que refeito e contínuo.

27 de abril de 2009

Uma desatenção em azul.

- como necessário alongamento de hipérbole ou se os jogos distraíssem se dos seus créditos.

Deste em azul escrito
fora imposto num divergir
o peso das palavras
feito dessa honra negra,
a vário trabalho,
ritmo de lente aplicado,
em espécie de mistura esguia,
efectuasse o visível,
traçado tudo isto,
que modo o regresso,
em causa dum divergir,
dessa qualidade efeito,
um balbuciar se motivo,

já diria como ;

as pluviosidades asseveram se,
amálgama em rotação,
num tempero de igual,
forja que ensaiasse,
uma sua colocação despojada,

e como que seria fugaz,
as rodas ainda em qual,
era ir dali ponto,
mas mais que escorreito,
atento ao uso diz se,
a esquecer ponto,
morto dessa espiral
ente em terra reservada,
tal devastada de novo,

esvaído em regresso,
valor esse que correr
é um nosso conforto
e numa imposição,
passa das palavras
em colorir numa medida
de passo marcado,

caído o languescer,
entardecer estado a fim,
sol soltos em termo azul,
a sair já de laranja pálido,
pincelada violeta presença,
propriamente tirada,
questão num continuado,

rodadas as vias,
dos olhos chistes,
ditos cantos,
aos lábios deixados,
na boca vermelha,

dos altos que passa faz se,
num transtorno dessa estada,
em presenças de letras,
violetas, formas se processasse
a história daquela aplicação
num único tempo intermédio ;

antes o tempo,
desse tempo,
como ao tempo,
dum espanto,
na tua imagem,

dizem tal vaso iluso,
voos à garganta disse,
qual escrito nada é ponto,
expandido em abraço,
tal que segue dizem
de passo em espanto,

olhar como a sós frio,
o mais delicado pensar,
destacado imaginar
que tivesse se assim estranho
e nos olhos do seu mundo
em posto olhar dos dias,
mesmo alterados,
sinais em compassos,
sucessivos nesta passada,

como após súbito
dentre se desse sentir,
o dedilhar que absolve,
ígneos traçar expressá-lo,
semelhante a cânticos de ilusão,
como se das suas partes
caídas o produzido afecto
das piedosas condescências,
aguardados como devem,
ir e vir em tonalidade,
a fugir se o seu peso põe,
que destrói completos
do movimento tirado,
em concentração volátil,

desafecto que transita,
vista assente e só que
percorre se de atenção
descuidada, cumulada
logo em estendido dizer
cor desses traçados,
descuidados e destensos,
golpes de cruzador,

como glosas em pretérito,
volátil pena de arrecado,
simples como fora todas,
concessão da qual surgisse,
um insensato em razão,
despojado a seu tempo,
alheio como só pedra,
imposto e desfeitas
linhas de ventre
estante a maré lasciva,
em permanência dos solos,

em palácios algures seja,
o azul que fica fora,
dessa hora a seu lado,
um despojado atirar se,
em corpo que concede,
ter se a causa
desse levante em azul,
violeta pois,
por se atinge a pele,
às portas que chega,
desnudada e sua,
devora repastos,
e a qual se alimenta,
e sem chegar ;

como num vazio.

20 de abril de 2009

Hora.

Lágrima assentasse
os olhos no correr sombras
em cercos de gotas assim,
frios, recantos
ao cair leve das órbitas,
os ossos num agarrar se fácil,
por fim, o deixar por fim.

Como pedras em contraste,
a corpuscular tonalidade,
cresce numa passada,
como as horas dos corpos
do dia ou da noite
tomassem se os breves minutos,
indistintos e pontilhados,
como estrelas das estrelas
num dizer das rodas - a noite
em dança fugaz dos corpos.

Refere esta hora a terreiro
em perfil da cinza, os realizados
intactos de uma luz velha,
corpos e rastos da luz velha,
estilhaçados dia ao chegar,
no contraste estendido,
a saudade desse lamento,
um crepuscular passo em linha,
como em linha pulverizado.

13 de abril de 2009

P.Bourdieu.

“Na medida em que produz uma cultura (habitus) que não é mais do que a interiorização do arbitrário cultural, a educação familiar ou escolar tem como efeito o mascarar cada vez mais completamente, por impressão do arbitrário, o arbitrário da impressão. (...) A consciência obscura do arbitrário do deslumbramento assombra a experiência do prazer estético : a história do gosto, individual ou colectivo, basta para desmentir a convicção de que objectos tão complexos como as obras de cultura sábia, produzidas segundo leis de construção que se elaboraram no decurso de uma história relativamente autónoma, sejam capazes de suscitar, por virtude própria, preferências culturais. “

P. Bourdieau ; L’amour de l’art.

Abre dum contacto a fonte deste matinal sólido corpuscular como sinuosa onda insigne em mescla de cor e matéria ao vislumbre da terra em crepitante* gorgulhar de ebulição. Como arte da solução mestra ao bater da memória em tropel do mundo à deriva e visões do vazio como células de gerações parentais em combustível da plástica sanguinolência. Que na razão do sangue entranhado ao condizer da queda assola se em rompantes como que por rotas de uma lentidão devastadora ; como fora um soluço um clarear deflagrado.

livro
tanto
arremeto
balanceado
a funda
grelha
das alternas
linhas
em sinal
dum calorífico
diverso
mente
a clarear
em coloração
de atitude
fugaz

como espiral dum excesso em saturação tornado, expulso ao repor de uma proporção, tirado em súmula laminar à vista, após letra de fundo numa disposição desta estanque.

7 de abril de 2009

Como...

Posto à partida fora
romper dois em campo
como rota dolorosa
do suspenso interlúdio
numa imposição, escolha
ao esclarecer da matéria
frio, desfeito rasto a fundo
pulsar como câmara de acto
a tirar se carga, perto de o dizer,
num salto, aspergir do excesso,
lívido, risco do sentir, os tectos
duma emoção sublime, algo
belo numa extensa palavra
em discorrer, o médio acto,
como processo de marca
qualquer, interna sequência
de gesto a preencher campo
em tal modulação, tomado
a fundo, estrato cimentar
do sangue em contorno
arvorado e laminar das vidas
em aspiração táctil, levemente,
a latejar da terra, as categorias
várias, em longa disposição
de acerto como estado efeito
de distanciamento próprio
ou se doutras marés
se objectivasse o sentido,
numa afinação do corpo,
ou que o valha, numa distante
geração em profusão na pele.

Como - a forma de tudo isto é vaga allas se desvanecesse.

23 de março de 2009

O real - uma abordagem.

Haverá um gerir* da realidade ou mesmo até uma orquestração desta pela escrita , dali um sentido tomado para o exercício da mesma que não será, todavia, como estoutro que inatenta a solução, transformação e relocação da mesma realidade ; escrita neste sentido. Assim sendo, o “sentido predicado” das palavras escritas neste sentido seria o encontrar-se fora do campo da escrita, no tal local impossível das “palavras”. E isto, claro, seria uma questão de sentido, da escrita, ou sentido escrito.

Como excessiva chave,
antigo, uníssono suspiro
do sol em batido azul ;
ou numa urgência da palavra
escrita, poder se ia dizer.

* o que se pretenderia não será gerir pois, bem vistas as coisas, tratar-se-ia de gerir o quê neste deserto, exactamente.

13 de março de 2009

“ ... não dissera Platão que nunca publicaria nada sobre os princípios supremos ? ... O que eram estas agrapha dogmata ? A única possibilidade de as identificar é apenas uma lição “Sobre o Bem” que Platão deu a um público desiludido que veio para ouvir falar de felicidade e onde em vez disso se tratou de matemática, geometria e astronomia ... a ela assistiram Aristóteles e outros membros da Academia que tiraram as suas notas ... “

F.E.Peters ; Termos Filosóficos Gregos – Gulbenkian.


Pergunto me se a razão pela qual Platão teria esta atitude de pudor em relação à notação dos “princípios supremos” não seria similar à que é atribuída a grandes vultos da literatura como Kafka, Sade* e outros que teriam, estes, manifestado o desejo de que a sua obra lhes não sobrevivesse ?

Dir-se-ia, dada a proliferação estatística deste tipo de casos, que o tal raciocínio da fogueira surgiria naturalmente ao pensamento de um grande pensador, ou escritor, num certo estádio de desenvolvimento e eu, pessoalmente, creio tratar se de um “raciocínio” perfeitamente plausível, neste mesmo sentido, o atribuir se a um grande escritor, ou pensador, este tipo de pudor, desejo, ou intenção pelo menos.

E digo isto pois suponho que no decorrer desse processo dinâmico** a tal “própria verdade” desses princípios” tomar se á*** como representação instantânea**** das operações da regra do jogo assim produzido na imagem, que “terá”, desse único instante aleatório de “fundo” o seu “valor substante” e ilusório como que por passe de mágica, assim, desmistificado.

Isto, obviamente, deixará aberto o campo do efeito, da inscrição tomada aqui/ali no campo como modelo congelado na figura, como dado adquirido, espalhado, neste campo que se fecha, ridículo.

Daqui talvez o tal pudor***** referido por força das circunstâncias das operações debitadas dos referidos senhores. O poder ? Não se sabe. Quem sabe ?

Claro que esta história assim tomada, quero dizer, o “atingir” desta história e dita como foi dito poderá tomar se como uma das tais “figuras dinâmicas” em jogo e, como tal, matéria de história contada, do que diz se, e cuja “notação”, já se sabe, é a da “violência” – olha, e não é que afinal digo mesmo.


*diga se a propósito destes dois, kafka e sade, que fará até tanto mais sentido - tomadas as devidas nuances de contexto e “matriz” - o seu sentido radical da fogueira podendo, obviamente, este seu desejo ser tomado de um ponto de vista “humanista” ou não embora que por razões não tanto assim diversas.

**dos/nos próprios processos físicos do pensamento e da escrita e sua notação por meio e fim das figuras assim num momento “descritas” ; em suma.

***na imagem desse instante “sacrificado”.

**** ”... a apreensão imediata e simultânea destes dois movimentos incompatíveis é qualquer coisa de irracional, é impossível ao pensamento discursivo concebê-los ao mesmo tempo.”

V.Jankélévitch – ( prefácio a “A tragédia da Cultura” de G. Simmel)

*****Ainda acerca do pudor de Platão diria que Aristóteles na história acima descrita não partilharia totalmente do sentimento do seu mestre ; que Hegel advertiria para os perigos da dialéctica às cegas, neste sentido ; que Joyce – e que ousadia a de Joyce e da sua arquitectura processual****** - não teria quaisquer pruridos desta espécie embora isto não seja provavelmente assim e que Freud “deveria” ostentar um sinal luminoso de advertência******* em cada parte da sua obra o que, com toda a certeza, teria um efeito contrário ao pretendido, até pelas “razões” acima “expostas”.

******O próprio diabo ! Como diria Italo Calvino.

*******Talvez um sincretismo do género : Tudo é eros/tudo é vaidade.

11 de março de 2009

Ilha.

Rasgos de tempo
tecido em pó
de rasto imóvel
no fundo castelo
da propagada torre
à perdida hora
crepuscular
- só isso –
fumo, desenhado
de horizonte em fuga.

Recomeçara
ao passar a vigia
novamente
as linhas de ronda
à sombra do recinto
aceso, grito
volátil, festivo
numa passagem
de atreitos
às penínsulas desamarradas.

10 de março de 2009

Metalúrgica ressonância.

Da carne a solo
em dúctil remissão
da terra firme
os tambores
ruidosos lagos
em fúria na manhã
combustível
dos fogos deserdados,
tropéis em cinza
da manhã persa
às enseadas em vista
de horizonte
num gesto líquido
as barcas dos homens
alicerçados de feitos
em glosa de guerra,
restante sal reflexo
nas batidas superfícies
do ferro em chama
como aço de marca
extinta liga incandescente
afusa corda à vista
em sangue e azul,
das rodas e marés,
aos montes numa palavra
da questão que gera
a condição do fogo
aprisionado em câmara
impressa de virtus,
no conceder imagem
da melancólica razão
que assiste ao entrar
a distante curva do sol
em linha de cruz,
numa linhagem balanceada.

6 de março de 2009

Como fatalidade do sonho
em tudo ilegível imagem
da impressão funda
nas palavras a tropel ;
em expressão de trabalho,
ou exercício de urgência,
em ordem ao caminho que seja.

O batimento ocorre
é por mais sentir
destes e nestes tempos
duma dor talvez,
mundo fora instante
fica neste olhar
sequer que lembrava,
ilha em sol, reflexos
vidros entre olhar
no fundo azul
do lugar estranho,
que digo, o teu* som do silêncio ;

diz se :

nada mais vale,
em tanto tempo,
sem tempo,
chegue um dia,
o sair, o chegar.

5 de março de 2009

O rio, claro.

Linhas, curvas,
as correntes num sopro
através do rio, ruivo,
alaranjado perfil da maré
na caída cinza, ao longe
dum fogo pálido.

O recomeço do crepúsculo,
as fontes em passagem.
O antimónio gasto.

por passado em vista – concorda -
ponto posto o reconhecer - distendido –
num (eis)* castro culto – aposto -
numa (novamente)** ontologia agrária.

Plástica forja encima
como massa do rudimento
da fóssil permuta
numa proverbial maré dos calamares.

*quando diz se eis diz se o surgir de condição.
**e novamente diz se da cena.

26 de fevereiro de 2009

“Existem na Melanésia relações entre as noções de mana e de tabu ; vimos que um certo número de coisas com mana eram tabu ; mas apenas eram tabu coisas com mana.”

M.Mauss ; Teoria geral da Magia

O que distingue é a ignição, seja ; enquanto um é objecto – combustível - feito em qualquer determinação e esta é a sua determinação, o outro, que também é objecto neste sentido, mais ostenta o mecanismo do próprio desencadear do processo de produção/combustão - nesta especificação.


técnica local de fluxo
numa tomada em espécie
de género grotesco.

Dicção antiga
de acerto ou não
sangue a tropel
por cima/baixo
num desdém
rente a figura
citada (u) fora
do rio em sátiro
de escasso via
outro rápido
desenlace agrário
numa maré cíntila.

Como curioso. Esmagamento. Em corrida.
Largado espasmo. Voraz numa conversação.
Colidida. Que lembro. Aterro.
O transposto de fórmula como as escarpas das Irlandas –
verdes – bandeiras do fogo.
De qualquer. Colocado. Em calada por fim.
Numa locução adversa. De nome.
E em fonte de ligamento cozido.
Assado. E posto isto.
Que digo :

lugarejo
de clara
laeva
certa
marga

assignada
do adverso
alonguecer.

Como em alocação do acontecimento.
A vários deserto em suma. Sítios.
De quantico bravo. Ontem.
Que quiser se as vezes sinta se em processão devota.
E desempatio. Como processava o lamento em queda.
´
Numa previsão. Fácil. Alegra –
simples - deste (leste ?) em agendo à vista de cabo.
Como encima numa situação assustadora.

Em lago logo à vista
numa notação
ou não num ficar justo

a ideia.

Que porquanto falta
sem cor na conjugação
mais houvera palavras
que tirasse o rumor
a mais azulados
asfaltos num lapidar
da pudência cálida
caída conversação
da gélida noite
já dita manhã
no lânguido anoitecer
dos ramos em resto
de gorja em recanto

assente.

25 de fevereiro de 2009

Fora o sangue - Nunca mais olhasse o deserto. Por fim.

Desregrado em vista. De Bloco.
É numa obstipação táctil. Restante em locação.
Que degusta. Os tóneis de cada vez em linha a tirar se tarde.

Na reserva vento. Os mesmos tecidos de acaso.
Escritos. A convénio revelar numa atenção.
Destacada. Por força de impacto.
Como indigente contorno. Esquisso.
Em parte. Num processo de redesenho.
E por blocos de violência num sortilégio.
De salto. Que mais pudesse em função de absurdo.

Agir numa vitalidade das ramas.
Citas. De qualquer ventre. A Cor local.
Em Locais. De avista. Nesta extensão.
Que fosse a falar suscitaria. Outro.

Ficado a pó. Do deserto. Em tela. Fundo.
Largo. Num aspergir em libações da luz.

18 de fevereiro de 2009

Quem escreve nas palavras, o seu sentido nelas, nunca chegará à palavra. E nunca é uma palavra, até ver. E um poderia jogar qualquer jogo desses de cada vez das palavras com mais ou menos esforço, mais ou menos desgaste. E ninguém joga o jogo que joga todos os jogos de palavras e obviamente neste ponto pôr-se-ia inclusivamente em sentido o ser tornado como a qualquer aquiescência do tipo molecular, ou pelo menos poderia fomentá-lo, nesse sentido, e isso, eu, não quero.

12 de fevereiro de 2009

A tempo norma de língua.

- recantada -

De fundição
a tal num ocorrido
dar se o calor
numa lânguida ocasião
do tépido toque.

Em rota de colisão da sombra.
Por alterada espuma escorreita.

9 de fevereiro de 2009

Índice musical.

Será que se poderia avaliar do grau socializado/socializante da música em função da maior ou menor preponderância do ritmo ou da melodia - do peso ou da leveza – na composição ?

Obviamente que, neste sentido, a “pura melodia” seria “anómica” e o “puro ritmo” (bloco) de cimento local.

Isto, obviamente, não se tratasse aqui de música.

Verdadeiramente ...

... apenas existem macacos para satisfazer se da imitação dos gestos de um outro no seu próprio corpo e dos seus pensamentos na sua própria cabeça e para dizer que os pensaram enquanto que são eles que pelo próprio facto são cortados do pensamento.

Antonin Artaud ; Suppôts et Suppliciations (1947) – Oeuvres.
Corpo.

Visceral ; imperativo o movimento expulso ao olhar do fazer após como emergente elocução, urgente imagem de nada.

visceral
obtuso
nada
a
náusea
do vazio
feito
acre
líquido
negro
o
fel
fundo
à garganta
do
tomado
peito
a fundo,
como certa memória demais revelada, presente.

Chamada ao coração visceral (n)um movimento (que é movimento) ou passagem que ascende a uma desfeita transformação, com paixão.

A processada matéria pulsa como que num adquirir primordial o corpo a saber ; e quão mais forte o coração do trato expande se a matéria mão em contorno local o corpo e os nomes do movimento visceral em produzir excedente num processo de extensão em dedos fluídos que chegam por ondas de posse aos pés, braços, sexo e nariz num despertar dos tecidos inundados de esclarecido cardíaco, como espécie de fluído vivificante que tomasse posse dos fragmentados territórios cardíacos.

O discurso do som fácil surge após o fixar do território como busca da “parte” perdida, desejada, num estado de excitação visceral que purifica se numa rítmica cardíaca da propagação em elementos. Como órgãos em ritual de posse que dir-se-ia num exercício de abraço, de coordenação, de contenção, da razão que é o desligar (cortar) no instante perplexo, antes, no momento digestivo da luz e onde, porém, algo se perde.

E para fora disso tudo diria os alternos termos, o corpo corrente, entre contado e função.

Concede se então num último laço da ilusão, em, que, como, que, se retira o corpo hipotecado numa função, disto, que se queria para começar.

5 de fevereiro de 2009

Dos termos em linha.

Qual, natural
apelo - que toca e foge -
o lamento, (n)uma outra nudez
por mesma maquinaria
duma reacção – conjuntiva -
nas soterradas partes ;

do que pensa ser,
que deve ser ;

como :

Numa analogia do funcionamento celular
(i)conomato às portas do arremeter
- sincopado, e abrupto –
ou contrato das cultivadas danças
num subterfúgio do apagar
à terra da mão manifesta.

Oculto convém selado à representação
como imposto da violência por voz
- assente e espessa – à vista do nu, abjurado nó.

Ou ressentir no mundo ; o que é como rápido movimento furtivo que toma se por indicação adversa no sítio que de bom se impera em contraversão do ardil, em diz soar.

E como falo isso de cor
e tornado a fere, e vêm
das tecidas noites,
o vale em festa,
à volta das fogueiras,
a ressoar num refazer da cor
das tendas e dos tapetes
de cinza das partes
num apelo genérico,
ou de intenção – estepíficamente - genérica.

Escolhido à vista do mundo,
tirado numa mesma volta
- por regulado, interlúdio, intempestivo -
em tecto de chispas
dos separados dum corpo
caído em processão do lamento.

Adiante o laminar furtivo som deste cortado que sinto à rápida passagem da face do marte cheio num murmúrio animal de arremeter a pé gasto o cimento das fundações da fuga ;
E numa rápida sucessão do deslocamento
- o inverso – disto e de novo dali acelerado
a uma solução deste fogo o tornar de aquecimento
global nesta casca gasta e ressequida do calor
à temperatura de passagem ; termos que volatem se
como num demais expandido e esplêndido o coração
a gasto baque da bruma como sôfrega entidade
- surda/enraivecido íman numa anunciação - sólida –
das falas em convexo

escarpo
cálido
o cabelo

das pedras fendidas a um só gesto
em riste, a mão, oposta
paixão do novo irromper
num súbito desalinho
rasgado das fontes novas, acto
alto, como a nossa figura limpa
numa actualizada “ideia”.

De basso (a)dentro – os sólidos - magnetos
acelerados numa combustão espontânea
e por descargas de inversão contra lançadas num salto,
o efeito, em campo de instante confuso
- desmagnetizado - num momento sorrido
da recordação liberta em curto circuito
sistemático duma paixão corrida

a fundo

aos olhos do marte cheio,
assim, desalinhado e nu.

Agido à figura abre a pós da parede
e refracta numa linha de vento
o traçado sorriso – desconfuso –
engrandecido a tropel das manifestações

que vêm ;

largos, louco a trejeito que diz se a matéria, cega e nua, que vai se o arremeter do ano, os possíveis impérios da pedra desmoronada ; antes fasto, único, duplo gesto – o movimento – que daqui fende em novo instante, o acto do qual se adianta.

28 de janeiro de 2009

Momento de apor as palavras
o sincopar que lhes mantivesse o brilho
separado ao cair na vigília.

Raias do som – nelas -
o a feito silêncio aos bocados
em ânimo num plano diurno.

E não se trata deste ou daquele dos tecidos que dizia – ígneos - do “pensar” as palavras deixadas em devaneio das formas, como som “encorpado”.

Mais que isso é pó do deserto. Subtil aferir adentro os antigos decompostos.

27 de janeiro de 2009

( ... ) o facto de que a oposição negativa se transformou em oposição positiva faz bem aparecer o problema (...) . Na medida em que estão ligados à realidade dada, o pensamento e o comportamento exprimem uma falsa consciência, contribuem para manter uma ordem de factos que é falsa. E esta falsa consciência é expressa num aparelho técnico preponderante que, por seu turno, o renova.

Vivemos e morremos sob o signo da racionalidade e da produção. Sabemos que o aniquilamento é o tributo do progresso assim como a morte é o tributo da vida, sabemos que a destruição e o trabalho são necessários à partida para obter a satisfação e a alegria, sabemos que os negócios devem prosperar, sabemos que visar outras escolhas é Utopia. Esta ideologia é a do aparelho social estabelecido ; para poder continuar a funcionar ele precisa desta ideologia, ela faz parte da sua racionalidade.

No entanto o aparelho põe em cheque o seu projecto se o seu projecto é criar o acontecimento de uma existência humana numa natureza humanizada. E se tal é o seu propósito, a sua racionalidade não é mais que suspeita.

Ao mesmo tempo ela é mais lógica pois que desde o início o negativo está no positivo, o inumano na humanização, a escravatura na libertação. Esta dinâmica não é a do espírito, é a da realidade. Uma realidade para a constituição da qual o espírito científico desempenha um grande papel ao associar a razão teórica à razão práctica. (...)

H. Marcuse ; L’Homme Unidimensionnel.

.

O labirinto.

Dizia se de reflexo as pontes de afecção ao assalto da sua memória.
E novamente grotesco numa provocação que o faltava.
O pois que seria numa processão lacónica.

De música acima ora abaixo o mesmo instante em vice versa.
Num compromisso agora falado a respeito do mármore.
Em comunidade de heróis.
Num valor da terra :

Numa ávido em combustão do retiro.
Aos carreiros em circuito de água doce.
Outra esférica espera enzima em solução.
Atirado aos montes num perfeito andariar.

E só, que numa sonolência por feita de alocução, ouvistes ?

Conclusão expressa do pó espalhado em penumbra.
Sóis que dissesse se ancorado em prazer.
Que duvidoso era as sombras de um crepúsculo repentino.

O Lugar dos sangréis.
Os ouropéis em languescência trajada.

Estranhado ao corropio do sangue era o aluir num raio.
Quilómetros por redor aos alertas da lua baixa.
As semânticas em luminosidade.
Branca como a cal quê.

- na parede –

Em conjunto à mirra.
Ao plástico contratado.
E num balcão afoito.
Junto a si.

De cabeça, lastro, e fundo.
Num “provir” das marés silenciadas.

19 de janeiro de 2009

(...) perguntaremos sem dúvida porquê não existe metafísica senão apenas na e pela nihilização.

Qual fatalidade quis que o próprio instante, por uma intuição no sítio da espera, se revelasse, necessariamente, como cessação de qualquer coisa e suspensão da plenitude ?

A tomada de consciência metafísica dos princípios, sendo consciência do facto dos princípios, é, forçosamente, consciência da sua gratuitidade de fundo e da sua supressibilidade.

Por exemplo : o principio de identidade é necessário, mas o principio do principio de identidade é um facto, um dado arbitrário ; a necessidade é necessária, mas a necessidade da necessidade é um facto, e este facto da necessidade necessária é contingente ! A questão é agora de saber como faremos (...)

(...) O instante intuitivo é com certeza qualquer coisa mais do que o minuto de embaraço ou de aporia que se segue ao ictus emocional ; a instantaneidade (...)


Vladimir Jankélévtich ; La Philosophie Premiére.

14 de janeiro de 2009

Não existe tecido.

A consciência não vêm da trama
antes do coador a golpes de canhão parietal
e numa instante e constante magia à qual o ser por essência não pode participar ;
e quanto ao corpo, sou eu que o faço por blocos inteiros.

Vejo bocados,
exausto os,
sopro os,
coloco os com a mão,
destruo os com o sopro e a mão
e com a mão e o sopro, talho.

Atiro uma perna e “repítrua”
Jamais faço molécula
antes, objecto feito.

Que são os seres, animáculos e não objectos, que inventaram o espírito porque se lhes assemelhava.

Textes écrits en 1947 ; Oeuvres.
Rápido, acto, o tirar outra coisa
é quando diz se deste pensar
e do seu pensar de aorta escorrida
num fundo de humidade, encerrado,
entre terra e água, exalante, a toda
largura num rasgo - do movimento -
como identidade esfíngica.

Fuga por mínimo numa interrupção
de corrente inscrita da história
e das formas, dos rios, suturados
em matéria deste crivo e numa pedra
riscada, rugosa, das lutas a tempo
numa imposição recorrente.

12 de janeiro de 2009

L.Wittgenstein.

“ Um milagre é por assim dizer um “gesto” de Deus. Como um homem que tranquilamente sentado faz de repente um gesto espectacular. Deus deixa o mundo seguir pacificamente a sua via e de repente acompanha as palavras de um santo com um gesto simbólico, um gesto da natureza. Exemplo seria que após um santo ter falado as árvores à sua volta se inclinariam como por reverência. – Dito isto, será que creio que tal coisa se produza ? Não. A única coisa que me faria crer no milagre assim compreendido seria que eu fosse “impressionado” por um acontecimento que se produziria desta forma particular. De tal forma que diria, por exemplo : “Seria impossível ver estas árvores sem ter o sentimento de que respondem às palavras deste santo.” Como diria : “ É impossível ver a face deste cão sem ver também que está alerta e segue atentamente tudo o que faz o seu mestre.” E imagino facilmente que a simples récita das “palavras” da vida de um santo pudessem levar qualquer um a crer igualmente na história das árvores que se inclinam, embora, eu, não seja impressionável dessa maneira.

L.Wittgenstein.

6 de janeiro de 2009

... corta o peso da travessia suspensa
em calamidade na terra desenvolta,
de caída cor no cimento, rodado
em qual momento duma mesma fuga
o espaço de música e letra, espalhada
num tal gesto de unidade, véu perfeito.
“ (...) Em suma, indo directamente ao assunto, parece me ridículo dizer se que fora do céu está o nada, que o céu está em si próprio localizado por acidente e é lugar por acidente, idest com respeito ás suas partes.

E seja como for que se interprete o seu “por acidente”, não se pode fugir a que se faça de um, dois ; porque sempre é uma coisa o continente e outra o conteúdo, e tanto assim é, que para ele próprio o continente é incorpóreo e o conteúdo é corpo, e o continente é imóvel, o conteúdo móvel ; o continente matemático, o conteúdo físico.

Ora, seja essa superfície o que se quiser nunca me cansarei de perguntar : o que é que está para além dela ? Se se responde que está o nada, então direi ser o vácuo, o inane, e um tal vácuo, um tal inane que não têm limite nem qualquer termo ulterior, tendo, porém, limite e fim no lado de cá. É mais difícil imaginar isto que pensar ser o universo infinito e imenso, porque não podemos fugir ao vácuo se queremos admitir o universo finito. (...) “

Giordano Bruno ; Acerca do infinito, do universo e dos mundos ; Gulbenkian.

2 de janeiro de 2009

Modal do sal.

Um dia, a ave, ao novamente descender no mar infernal em mergulho necessário de sobrevivência cruza se à linha de água - como que numa cintilação - com o peixe que, vindo do seu tédio de curso, no mesmo instante arriscara um salto de ascensão possível ao céu.

Cruzaram se, então, ali, à linha de água, e daquele momento trocado algo aconteceu que ecoou numa certa comunicação, de uma certa impossibilidade ; e diz se, pelos tempos, que os ecos, a terra, chegaram e ali se fizeram como o sal das possíveis ficções, da terra, do peixe e da ave, da sua impossibilidade.

Os peixes, dizia se em tempos, não são sal da terra mas são com certeza ouvintes pacientes, seja ; os peixes no mar, as aves no céu, os outros animais na terra e o homem em circuito de audiência fechada numa festa das canas e do recolher figurado, plástico numa gargalh(i)ada contígua.

e dali assobiou o nome ;
- que no principio era o verbo, dizia se ;

e que não era insensato
que num dia composto de paradoxo ... e depois o vento, dali.