16 de novembro de 2010

Algumas (breves) considerações da espécie.

Apresentava-se, tal causa, como uma remota memória do processo, inconveniente, inconsciente, selectiva, dirigia, (esse processo), como fora uma implantação deixada, algo de mais complexo do que simples prazer, (uma primeira configuração sugeriria que este (princípio do) prazer estaria estreitamente ligado à reprodução da espécie, como fora a cenoura da reprodução da espécie, nada disto é novo), pensou, assim, consideraria um outro tipo reprodução que não a da espécie e aqui começava a configurar-se um outro género de fim, que seria o mesmo, pensou de novo; “o tempo do sentido é reflexo do tempo sentido, o tempo do sentido é “egoísta”; assim sendo, procuraria as razões daquela “inconsciência” na “economia do processo”, perguntava-se, poderia o completo despertar de uma tal consciência económica do processo pôr em risco a continuidade da espécie? Sem dúvida disse-se, poderia fazer essa observação, por exemplo, no índice de natalidade dos ditos países mais desenvolvidos, noutra certa auto-regulação do “egoísmo”, e essa seria uma forma de chegar a tal complexidade do prazer pois tratar-se-ia, aí no “conforto”, de uma continuação do mesmo, prazer em conforto, poderia então definir esta “transição” como um sinal da progressiva consciencialização da causa final no processo? Sim, sem dúvida, numa primeira abordagem pelo menos, pensava, esta inconsciência da memória terá, com toda a certeza, um sentido mais fundo do que o que acima foi posto, convenhamos; o fim é; disse-se, e talvez esta tomada de consciência que transita de um a outro em transformação do mesmo não atinja, não possa atingir, o fundo “inconsciente” da memória que se busca, (pois como poderia o corpo fazer-se consciente na sua “totalidade” afinal, sendo que, consciência é, essencialmente, um fenómeno “parcial”), pensou, enfim, poderia então talvez falar de uma gradual tomada de consciência, “biológica”, digamos assim, do fim, ou da razão? Sim, com certeza, e assim sendo, uma completa tomada de consciência desse tipo seria o fim da espécie, uma espécie de vitória sobre a morte, paradoxal vitória de um certo instinto de sobrevivência que, ao triunfar sobre a morte, culminaria em morte, em fim.

De todas as maneiras que dirigisse apenas lhe surgia um mesmo grande sono, um mesmo fim, e diga-se, apenas considerava esses exercícios de eternidade como se fossem a forma do desvelar das naturezas possíveis, antes, um parto de luz que, esgotados os pontos de vista, apenas deixara a certeza de uma razão, de um fim pensou, era esta a não imagem do desvelar, clara e distinta, o considerar na partida de todas as revelações cromáticas, quer dizer, assentes os pés, avançaria seguro em todos os mistérios da cor considerou, tudo o que era sentido partia de uma falta e recobria-se a cada passada de uma inacabada composição fictícia, como fora a matriz de um modelo que infinitamente se revelasse em possibilidade do reencontro, um paradoxal funcionamento que sempre se regressava no seu lugar, no paradoxo; o modelo “desculpa-se” com um fim para sucessivamente se revelar em contratempo desse fim, e isto é importante; pensou, observara-o repetidamente, (suspensa chamada, continuar descontínuo, permanecer distinto), como fora o canto do apelo da reunião que perfura em potência na direcção de um fim enquanto em acto sempre torna a revelar-se em separação, em fim, digamos assim, numa produção descontínua, extensa, a cultura tinha encontrado grandes palavras para esse processo do paradoxo, ancestral carne que dita a intuição das fontes que jorram, a vida a cada instante, em sonho do reencontro, nesta terra dos corpos, a impressão funda, de um espaço aberto na carne, por revelada máscara, doce, ao encontrar-nos no segredo da noite, e os corpos apenas de luz, em silêncio.

Era a isso que chamava uma grande palavra, âmago, condição que chamava, tentava explicar-se, seria, esse “estado”, como que a condição de todos os estados, e o instante seria, então, como a “identidade de todos os estados”, (e que duraria esse instante apenas, pois a continuação desse “estado” dos estados é o fim), como fossem os corpos tomados fora numa única condição indistinta, pensou, existia uma direcção por querer, extensa, importava fazer uma entrada, ao apagar dessa distância suceder-se-ia o próprio desse sentir, dessa separação, toda a questão lhe fazia o sentido assim, janelas para fora do mundo, um ficar na face da semelhança, da distinção, como se dessa entrada se esgotassem as distâncias e apenas ficasse o “mistério” em face de si, respirou-se, suspendia-se a presença, ficava, assim, como o próprio da imagem, o mesmo da semelhança, era, o momento onde se tomam “corpos” na imobilidade e se faz luz nos mundos que assim se iluminam, todo o (verdadeiro) canto nasce desse estado “onírico” que decide a busca, apela, encontra, reconhece, um silêncio nessa face, grandes as palavras que lhe chegam, que lhe fazem por chegar.

Nunca se tratara de querer, apenas uma urgência, não havia uma escolha, antes, uma certa “fatalidade”, o estar “fora”, nessa face onde faz-se luz, é grande palavra, e o fazer-se nos olhos, num corpo, são instantes radicais do mundo que rejubila de transformação, afirmou, não haveria mais respostas nesse segundo, o abraço da semelhança apenas deixa o silêncio, concluiu.

Fez-se em linha desse lugar,
o maior dos movimentos da fuga,
pois quando no peito apenas fica,
o que é certeza e avança,
solta-se o acidental dizer,
em acto de acerto,
às circunvoluções dos mundos,
e nesse instante,
acorda o torpor dos tempos adormecidos,
pois quantas vezes,
da vertical direcção desse acto,
atinge-se o coração do movimento,
que inicia todas as revoluções elementares,
nas partes desse mundo,
e em direcção que alcança,
nessa fronteira,
estendida num instante,
as suspensas terras do sonho,
acordado, ao cimento das unidades breves.