22 de abril de 2010

Cruzara no ventre,
em sinal de atenção,
a palavra impressa,
que tarda em segurar
se na face
como fora o levantar
do véu num instante
apenas, que tomasse,
o peito em excesso,
à beira do desfalecer,

e a maior violência,
é imposição do silêncio,
ao olhar do que vê,
(qual dupla cicatriz no peito),
a palavra que vai tecendo,
os perdidos gestos,
na escolha além do silêncio.

(e é por isso que não pode ser mais que um instante, este olhar, depois esqueçamos,
continuemos)

21 de abril de 2010

Faca e dentes,
um relógio de atenção,
os bandos da saliva
em desagrado
e a morte
em corte ao pormenor
que carrega no olhar
as direcções da curvatura
por pose (digna)
que estabeleça o acordo
em ó de quem
de direito
(em nome familiar),
assiste
aos ânimos do vazio
na promessa
do activo
e dos restos de efeito
em apoteose
da salivar partilha.
Hoje estava cinzento
e já não lembro o sol
que esconde-se nestes dias
em que faz-se a terra vista
no fundo que liga em voz
os dísticos da terra antiga
por clamor do tempo fundo
e suspenso como as palavras
ditas, espoliadas chuvas,
em quais campos levantara
a voz que sucede dos fundos
fios e sulcos da terra amarela.

O olhar em baixo,
em apelo da sementeira,
na terra espoliada
dos fios do sangue fundo.
Passam vultos sem direcção ao fim do dia silencioso.

Desponta o sol,
o copo num gesto,
passados corpos,
torneados ao caminho.

Avanço nesta chegada e cai-me o sonho, passa-me a impressão dos dias corridos.

Faz quente agora,
(corresponde),
levanto o copo,
em gesto de saudação,
e num transporte,
(bate agora o sol de frente),
cerra-se o olhar em semblante
que a vida carrega, afinal.

Mas basta disso. Passam como vultos. Coligidos (ou seja lá o que for) das sombras chegadas numa manifestação arcaica. Lembrava-me, enquanto languescia o copo em convexas atenções da mais aterrada e conveniente insolação das voltas que passam, (desaterradas talvez), quais foram as facécias do que manifesta-se em nada e cruza atreitos ao caminho dourado, como fora a calefacção dos mistérios do dia, ou à maneira dos requintes disso.

Manifestam-se outros anos,
olvidam-se os outros paladares,
e sustenta a razão que passa,
por entre os vultos que chegam.

20 de abril de 2010

Visceralmente irreconhecível o rito suspende e penetra as ideias no vazio. Progride em centrifugação e atira (qual sombra isolada) o que persiste em amálgamas desligadas voltas num (livre) trabalho de esquecimento, numa expulsão do “peso do mundo”.

Observa ;
faltam as palavras,
no correr aberto,
do mar assim,
em peso vazio,
da roda em abertura,
(música, palavra),
que vê o que não pode,
e pensa o que não quer,
no longo percurso,
que tem de sair,
por violência sonora,
indiferente,
e espalhado em desafio,
ao apreender a soma,
das palavras libertas,
no fazer acto,
e consequente sentir,
dos investidos espaços,
ao fazer silêncio,
do cair da luz,
no tomar das entranhas.

Um esquecimento frio.
O olhar aberto.
Nos rostos vazios.
Das linhas transversais.
No fim do porquê. Aligeiro isso.

fugaz a pele,
procura o sol,
no farol circular,
por sobre a encosta,
da bela face,
e o brilho,
do aroma cálido,
cantaria, por montes
e vales, a busca
dos dias sentido
na hora do manancial
da luz que agarra
os decaídos golpes
das suspensas vidas,
(uma morna inquietude),
em lampejo adiante,
nos braços,
dos pátios da desolação.

No passar a colocação do braço precipitara (líquida) a ligeira observação do acenar dos sentidos num mar da rocha que escorre em prelúdio das superfícies banhadas como fora a forçar o encosto (encoste se porventura)

languidamente,
a fragrância carnal,
fazia isto,
como sem saber,
nem porquê, rojo.
O cabelo. O ar cuidado projecto. A pose em compressão. O belo gesto vazio. Largo. A alta voz. Num mágico apelo. Das caídas pálpebras. E os olhos em fugaz enleio da promessa.
Planaltos, escarpas, fundo rosário de entrega.

Sublevado esgar,
desnudado,
acordar nos leitos,
das rosas, os rios,
da literal raia,
que faz-se pelas manhãs,
no esvoaçar da paixão,
liquefeito em excitação,
aos fundos,
duma qualquer gruta solene.

O estar que arde,
na brisa da tarde.

E o vapor na face do vento.

19 de abril de 2010

Sennin Poem by Kahuhaku.

The red and green king fishers
flash between the orchids and clover,
One bird casts its gleam to another

Green vines hang through the high forest,
They weave a whole roof to the mountain,
The lone man sits with shut speech,
He purrs and pats the clear strings.
He throws his heart up through the sky,
He bights through the flower and brings up a fine fountain.
The red-pine-tree god look at him and wonders.
He rides through the purple smoke to visit the sennin,
He takes “Floating Hill” by the sleeve,
He claps his hands on the back of the great white sennin.

But you, you dam’d crowd of gnats,
Can you even tell the age of a turtle ?

E. Pound – “Cathay”.

12 de abril de 2010

Traço o corpo o corpo,
o fogo era mais tarde,
e o tempo,
de tempo a tempo,
correra como espada
as palavras que evitam
se as bocas
dos pássaros verdes
da “sobrevivência”, diz se ;

ainda sinto o sabor desses mundos,
sopra um instante e fere a queima das palavras,
quanto mais livre os céus abertos,
mais longe os pântanos desta terra cinzenta.
O ir longe,
a notável composição das feras,
os animais, o acaso,
todas as cores,
o raio que parta todas as manhãs do lamento,
todas as silenciosas manhãs.

O que salta aos olhos destas palavras fixas,
depois das lembranças,
(entre o vazio e a multidão do movimento daquele lugar),
é uma respiração funda.

...

Em que dias.
Que manhãs.
Quais fins de tarde.
Quais noites em que.

Num dia instante o real de todas as histórias ao anoitecer chega, fica.
Hoje não quero saber. Hoje. Dos passos que assentam nas pedras da rua (como se nem existissem) e continuamente gravitam as maquinais imagens pelas quais insistem o investir do ruído que invade-me a geometria hoje não quero dizer nem ouvir desses momentos. Afinal para que quero eu a geometria. Afinal para que não quero eu a geometria. E o ruído que a invade. E os fabricantes dessas imagens.

Talvez um radical regresso ao cavernoso silêncio da linguagem.

11 de abril de 2010

Hostiae.

Aproximara (estranho) as eiras do refúgio. Ares vermelhos. O sangue em espalhada sementeira. Os escudos ao fundo da terra, em delírio. De fora tudo ameaça, já cresce o rumor da labareda.

Os sons e as danças,
o calor no trigo espalhado,
as vozes e a partilha,
da crescente recordação,
das águas do dia,
em momentos de eleição,
ao rubro, os beijos
em altares da noite.

O sangue da terra queimada. A refeição das últimas hostes estranhas. Os corpos como invisíveis assinaturas do medo rasgam na noite o céu em motivo da festa.

Deitados os corpos,
nas terras da eira,
sempre a noite,
no fogo da lembrança,
apaga os aterros,
do sanguinário fundo,
onde juntam-se em calor,
os eleitos motivos,
das espigas queimadas,
em espirais do fumo,
que sobe e revela,
nos gestos mudos,
o fim da noite em surdina.

Os corpos na terra queimada à espera que chegue o dia.
Dos nubilados cumes,
em cego fascínio,
o olhar vem,
por magnéticos movimentos,
do cerrado principio,
aos dias sonâmbulos,
das cinzas pelas encostas,
onde encerrado o fogo,
do vulcão ateado,
fica o olhar preso,
aos dilacerados restos,
da dor e do prazer,
por sulcos nos caminhos,
das histórias antigas,
do escorrer espesso,
estranhamente distanciado,
em sobrevoo do reconhecer,
a escorrida memória,
dos espessos sulcos traçados,
no decorrido sangue,
da carne ancestral da violência,
em sentida solução,
da condição cega,
dum poder histórico,
numa história mal contada,
(devolvida espelhada),
das imagens do horror,
em sal feito aos pedaços,
de maquinaria corrente,
por refinada história,
das histórias contadas,
aos berços adormecidos,
na espera dum maquinal,
conforto que esquece,
acima aos olhos soltos,
sem nada esquecidos,
numa última parede,
afinal dos olhos sanguíneos,
e já destes sinal absurdo,
no fundo posto revela,
os lados a um seu eixo,
sua mentira em decisão,
da rota tornada termos,
mínimo à matéria,
a sua ínfima pergunta,
por fim.

10 de abril de 2010

De ser a estar.

a dúvida que cresce,
e teima em não sair,
que nasce do interesse,
da semelhança.

Nas letras é um desafio, passa, como num momento de abertura à mais alta razão que vence o corpo estranho pois no olhar que é espelho uma tal (distinta) semelhança nota-se nas palavras escritas ... bom, é todo um suporte delas, marca do seu uso, aquele jogo da dissimulação que suporta (em sinais da inadvertência, por vezes) como que técnicas agarradas aos corpos em movimento a ... simplesmente.

Como no prenúncio da tragédia.
O evidente nas palavras é a vergonha, o impudor das palavras grandes. A violência.

Os sinais duma semelhante distinção,
marcam-se do corpo em transformação,
e numa inconsiderada evidência,
dos corpos em abertura espelhada,
(movimento exterior da tragédia)
chegam numa direcção, vinda do coração,
que é como a mais simples manifestação
do uso em intenção da providência.

São letras que cuidam-se no uso dos suportes em tensão dos corpos desligados. Enquanto existe, a dúvida, é “sinal” de evidência - nas palavras e fora delas – quando não, não.
Ácidos, lânguidos, situados.

O favor convexo,
da jovial representação,
no aluir ribombar,
dos plátanos e artérias,
em ocasião erigida,
da exemplar manhã,
numa lápide ascética,
dos ídolos em locação,
pelas grutas e altares,
sobranceiros,
aos planaltos da pastorícia,
num elenco de repente,
aos ligados voos, ecos
dos sangues em vão
e a rosa, e o gasto
observar, cândido
amanhecer, rocambolesco.
Oscila entre a manhã e a tarde.

Trago doutra dimensão,
a fenda do tempo aberto,
em fuga como demanda perfeita,
(do altissonante delírio),
que comanda a líquida matéria,
e traz-se assim, guardado,
na semente dum deserto bêbedo.

Chamado o tecer desta figura nas sílabas dos corpos cegos - repete a minha voz - onde paira o coração e os dias no âmago dentre o sonho .... longas são as noites, por vezes.
Observações em tempo de crise.

Um escrevia, outro lia,
na passagem,
era como se mortos,
os abertos olhos,
do sentido exterior,
estendido estertor,
dos graves incinerados,
artefactos funcionais,
num transferido cambiante ;

fossem acerto de ensaio intuído que implodisse em marca (e isso vai-se aprendendo)
do único baque a mais a tempo de efeito dessa tanta impressão, afinal.
Outro dia sustente as palavras,
o jogo de olhar interior,
insurgido em cardume e lenha,
(suporte acaso que tomara),
do branco fundo à espera de linha,
tomara, (como em estado absoluto),
o já corpo em sustentação dos acasos;
como utopia sobre a folha branca,
que chegara das fragmentadas palavras
numa tal combinação das quantas
em linha do perfazer molecular primeiro,

cão porém,
carne som,

subentendido nesta linha carece, (e a coisa acontece), em repente irradiado corpo de som que sustenta, inteiro, a folha, a frase; são corpos da latitude, toda uma produção do som que requer uma intensa penetração da palavra, sim, uma certa desintegração das quantas como de mínimo a mínimo o que, no fim de tudo, como que toma-se “especial veículo”, sustenta :

as multidões d’azevio,
os alumínios roucos.
Passara num relâmpago,
(os olhos perdidos),
poderia dizer
que não há razão
mas existe,
em todos os instantes,
em toda a razão recomposta,
chegam dias e havia a fazer,
não custa e apenas quer-se,
porque a vida é assim,
perdido o olhar do rio,
em tantos nomes e voltas,
creio, não me sai, antes ...
Chuva. Rápido corcel a ti chega marcas do rubor nos lábios.
Frios. A cinza em canto ao longe. O pó na estrada liba todos os teus tormentos.
Enquanto penso. Enquanto penso.
Não quero saber das memórias destas escritas.
Sobre o campo o rosto sinto ao encontro um dia escuro.
E o que fica na chuva acorda os sentidos. Afagam. As sombras no teu regaço.
Das últimas tentações em vida mais que condição de não ter.
Como um sono. Enxurradas do dia. Amargo da distância.
Por fim no dia a desconhecer. Fugaz. A única música que tomara tal entrada.
Rios da luz que jorram cintilar gritado ao longe.
Aguardo. O Correr das águas solta os impropérios da luta. Tão longe. Tão perto.

*

Canto os saltos,
em pleno assento da cor,
aos gritos da bruma,
na matéria mais que nova,
e rápido o trovão,
na vida e o peito,
- por mim não guardava tantas palavras -
das abertas espumas,
ficam gotas,
que partem mais da maré vazia e fica o sal, o corpo.

8 de abril de 2010

Anónimo

Som de voz desperto,
o destacado risco,
da trama fina,
num salto extenso.

Os híbridos redondéis ressoam reactivas espécies das palavras como por interna sequência daquela sucessão de gestos,
ondulação (cheia)
tomada em apoteose,
aposta classe
edificada do cimento,
lançado ponto de aplicação.
nos rasgos do caos frio,
por lâminas dum retardo insolente,
as vidas, num volteio de cima,
recortes, cume do sol,
os cimos do permanecer,
(lânguido, arvorado, desfeito),
acto duma satisfação,
- entre o estar que sobe e o correr de aspiração táctil -
no odor da cor viva,
em sabor da terra,
e desfeito em plástica,
disposição do contorno
(acertos de efeito)
em estado de distanciamento próprio da razão disforme.

Outras marés do sentido se objectivasse uma afinação do corpo.
A razão do desenlace em geração (ao largo) mineral das alas densas.

Ao fim da floresta,
no caminho em verde,
os estados em passagem,
onde a forma é vaga,
e o aspecto abrasivo,
laboriosamente aspergido,
como num desgaste.

7 de abril de 2010

Um diálogo cultural, algures.

- Ah. A Cultura. O requinte da palavra, a elegância do gesto. Sempre a sinto quase como se fora um natural “afrodisíaco”, percebes, um estar que sabe e sobe em destacada dignidade da imagem, uma elevação dos retiros, as bucólicas efígies da terra ancestral, nossa, todo um mundo das partilhas, dos afectos, dos ensinamentos, da história.
- Costumo pensá-la como um rosto na multidão, uma reconhecida expressão.
- (Rápido olhar em volta, escarninho) – Nasceste na terra, suponho.
- Ora, deixa lá isso, não tens que te sentir assim.
Fonte antiga.

Na base da rocha cerrara-se o animal aos gritos e sinais da vigia. Sobre a nascente caíra a sombra de um poder velho.

o coração persiste,
a mais alta fonte,
no dia selvagem,
caminha sombras,
ramadas da noite,
faz-se ao artifício
da lama e segue,
em silêncio,
ao nascer do dia,
o cair das águas,
(olhos em volta do silêncio),
a semelhança presente,
no antigo lugar,
do apelo entre as rochas,
as ligas fendidas,
da cega memória
dos aterrados dias,
funda ausência,
por muitas eras,

(estilhaços por toda a carne)

e no cego momento
da luz tão perto,
erguido dessa lama,
ao repente da força,
o correr do enlace,
aos lagos torrenciais,
nas paredes de cristal,
a encerrada imagem,
golpe da vida,
em clamor mais fundo,
jorra-lhe a fúria,
no corpo incendiado,
e na margem, exausto,
repousa o peito,
um instante junto,
que fica a respiração,
na funda imagem
dos poços e fontes.

Bocados da carne atirados em valor – cães - tomados por constelações aos cimos da terra antiga. Descansa o seu corpo na imagem, carne e lama, a violência rasgada, assim.

6 de abril de 2010

“... ele fez de si mesmo um mundo inteiro. Porque, como a metafísica reflectida ensina que “homo intelligendo fit omnia”, assim esta metafísica fantasiada demonstra que “homo non intelligendo fit omnia”, e talvez isto seja dito com mais verdade do que aquilo, porque o homem ao entender, abre a sua mente e compreende essas coisas mas, ao não entender, ele faz de si essas coisas e, ao transformar-se nelas, vem a sê-lo...”

G. Vico ; Ciência Nova – Gulbenkian.
Conhece a tua solidão.

A minha mão de glória brinca sobre os fios da virgem
A noite é uma lira melodiosa
A minha música queima a sombra das árvores mortais
A minha música queima de acordo com a água
Trago a minha chama ao coração do gelo
Cristal silencioso da minha solidão
Liberta a minha sombra o meu reflexo morria com as folhagens
Estou só
Junto a um mar de leite onde nadam peixes fraternos
O meu sangue perpétuo conhece a sua profundeza

Para amar é preciso ser dois
O amor é uma grande solidão
Estrela de mar a mulher é água meditativa

Prisioneiro dos lugares das planícies múltiplas
Fugi em mim o mundo
Belo espaço restaurado grandeza, natureza
O mundo lugar comum
Lugar humano
Cada um seu centro íntimo igual a um ou outro
Do semelhante ao mesmo vamos e vimos
Tal como em nós mesmos em fim da demanda
A verdade banha-nos todos nus na nossa nudez radiante
Mil vezes mais só de olhar-se nos olhos
E de reencontrar-se no fundo do poço
Poços de ciência intima

Sou tão vasto de estar só
Crer-me-ia múltiplo

Mulher o teu corpo é uma lua rubra
A tua noite um gelado branco
O teu corpo de todos os dias é uma manhã
Mas tu és todas as chuvas do mar
E por isso te amo
Amando a noite.

Stanislas Rodanski – Anthologie de la poésie française du XX siécle – (tradução livre)
Grito que agarra
se numa porém
sólida tendência
em reflexo tornado
insone e conforme
ao tropel das manifestações ;
ou então espalhado em dia,
como balde de rotunda.
Ô têmpora

acordas de fogo,
num dia chegara,
aos arrancados pedaços,
das vidas em volta,
e uma luz segura,
por toda a terra,
estende o assentar,
dos olhos regresso,
sequer o fogo,
e tal pensar, adeus.

*
Desfalecera em tal terra,
as costas na terra,
desabrigado aos trovões
da luz, as passagens,
das erigidas autoridades em campo.

5 de abril de 2010

No principio era apenas fogo,
rasgava o céu um troar das feras,
curtos movimentos,
o mais circular leve indício.

A observação do calor fora o corpo em anunciações da primavera, técnicas, rodas, expulsões num alongar dos tecidos, a fundo ... o sangue activo.

Numa expansão (do corpo) em espanto a regra das mais notáveis contradições idas, fases e leituras de horizonte, aberto, numa posição.
“ Uma distinção filosófica emerge gradualmente à consciência : não há um momento determinado na história antes do qual ela não é reconhecida e depois do qual surge como algo perfeitamente claro (...) Scoto distingue entre conceber confusamente e conceber o confuso, e como qualquer conceito obscuro inclui necessariamente algo mais do que o seu objecto próprio, naquilo que é obscuramente concebido, há sempre uma concepção de algo confuso ...”

C.S. Peirce (sobre Leibniz/Scoto e a “distinção”) ; Semiótica –Ed. Perspectiva.
Os olhos de intensidade
uníssona circulam
raios do sangue
imaculado solfejo
de todas as manifestações
afim do fazer canto
e acesos murmúrios
no aparente da progressão
da fluída sombra
que persiste o esquecimento.

O aberto mar roda do percurso espalhado em soma nas palavras do acto investido a sentir espaços cair da luz.