7 de janeiro de 2011

O (imóvel) tornar veloz do olhar tolhe o silêncio e passa como atrito da borracha no asfalto húmido como qualquer coisa que chegasse em continuado suspenso da limiar tensão na brecha dos encantos mudados em qualquer coisa - de novo - da colorida maneira em que se põe e se diz e se chega a um quase choque das abertas paisagens duma indicada escolha que aterra aos lados do silêncio das chamadas “vãs” do sentido.
Chega-te os dias plácido como o verão.
Sim no labiríntico sonho
E prenhe como fora a multidão cega
Perfilada antes de qualquer.
Como a “necessária” condução do possível ponto.
Em linhas de perfuração
Dos frágeis cuidados do som ténue.
Lapida-se depois. Seco como os ramos que caem.
Inatingíveis como o tempo que passa.
Tão longe.
Seguira nos próximos momentos o percorrer das calçadas vazias.
Cheias. Como chegasse.

1 de janeiro de 2011

Sonho em elipse.
Um rumo ao acaso.
E os lagos em lugar da rosa.

26 de dezembro de 2010

No dia seguinte estava cinzento como fora um rescaldo, um abandono, ou os que perdem-se, os que procuram ainda, enfim, as raras aves nunca poisam, apenas pairam e vão circulando como que para dissipar a névoa de uma qualquer presença nas pontes perdidas do tempo onde estará, é uma interrogação que fica, o universo é como amálgama de detritos voláteis embutidos na superfície dos corpos revirados a apodrecer em cada dia, luzes na luz do dia seguinte, e nós, que apenas queria ficar i-móvel.

24 de dezembro de 2010

Impassível, dizia o olhar, im-passível. No lugar perdido, (como esse), ergue-se o tempo às altas torres, aos castelos abandonados – e o vento tomava-te os cabelos que diziam (o) olhar (do) que passa - como sempre, levou consigo o (ruidoso) silêncio da noite.
O pontilhar da bruma no fundo.
Uma antiga voz que chama.
Qualquer coisa.
Levanta-se o corpo e fica por detrás dos olhos.
Uma imagem, (quase sempre começa numa imagem). Voz muda - os sincopados corpos a deixar à noite o som todo e a afundar, no seu silêncio, um subir das entranhas na luz difusa. Era essa a imagem muda da voz que corre em qualquer coisa, num espaço do mundo, das palavras, depois retira.

23 de dezembro de 2010

Espera-me a canção nos olhos que fogem.
Envolta em cada palavra rompe ao grito dessa luz sem fim.
(São pedaços dessa imagem).
E olhas-te então como qualquer coisa.
Chega-te. Vês. Na sombra. Os pedaços do teu desejo.
Últimas ondas.
Os fios de um enigma.
O espaço em passo terrível
como que chega
em sobressalto ao ventre
dos metais em festa.
Singular como as coisas, assim.

22 de dezembro de 2010

Ao Espelho.

Fica perante o espelho e vê a sua própria cegueira. As franjas dos seus olhos estão pesadas, como esculpidas no aço. A sua pupila é cinzenta como a névoa suspensa da ideia universal. E o espelho no qual observa está completamente cego, vê a sua própria cegueira. Fica perante o espelho e olha tão claramente, com tanta acuidade, não pode, no entanto, transgredir do olhar a sua própria cegueira – ela está tão longe, ilimitada!

Moshe Nadir ; “Anthologie de la poésie yiddish” – Gallimard - (trad. livre).