30 de novembro de 2018


Segredos inteiros
De prata pouco-a-pouco
Sugeridas castas
Por inaudíveis palavras adiantam
A cor envolta
Aos recatados tecidos

29 de novembro de 2018


como sabe e não soa
forçosamente depende do arranjo
e pela primeira das razões
assegura as palavras
num segundo compasso
que esclarece
um certo uso do utensílio

28 de novembro de 2018


nota defronte
aos alinhados panoramas
da memória
escritos qual espelho
se desdobra
uma distância nos mesmos
meios de sempre

27 de novembro de 2018


O suceder de cada intenção
Envolta a natureza dos corpos
Num subterfúgio maquinal
Que qual calor num dia de multidão
Chega nem sempre a quem deseja
Suplantar nas mãos prostradas
Uma qualquer dor imaginada

26 de novembro de 2018


Entre a primeira vez
Que chegara
E um dia era o final
E acaso recomeçava
Como se da memória
Caísse e assim
De nada aqui chegasse

24 de novembro de 2018


Suporta-me o estar aqui que tenho de fazer

na hora do reflexo
aceso a todas as portas
por entre as esvaziadas linhas
do silêncio nas palavras
estende-se a cada instante
um incessante rodopio
que carece de uma qual maneira
de estar em silêncio
e faz-se olhar distante
sob a luz mais depressa
derrama numa cor ao minuto
seguinte vem pousar
lentamente em ponto de vista
e assim que se distrai
da memorável confusão
enlaça na posição
aquela prestação de sentido
que qual ideal de pertença
depois recordação
deixa do entrevisto gesto
as imagens numa voz
e assim devagar chega ao ritmo
da construção do tempo

23 de novembro de 2018


Do vagabundear da pastorícia às geniais lavouras como por exemplo das últimas das primeiras verdades

Num dia indecifrável
de rara aparência
e por ser longo o contar horas
doravante (se) adivinhava
uma certa dupla condição
que decorria em causa do lugar
e ficaria provado desde sempre
que o circular das atmosferas
numa linha imaginária
divide a totalidade das coisas
e metaforiza por debaixo
da pele as sugeridas palavras
da parte de cada um
que antigamente esquecidas
(essas mesmas palavras)
carecem hoje da exposição
do mesmo a um tempo
atrasado que deriva ao nascer
das estrelas uma luminosidade
sombria mas sempre nascente

22 de novembro de 2018


Esse
qualquer coisa que fica
num perfume de frase ou palavra
em sonora sugestão
de raiz convoca a um tempo
aquela atenção
súbita ilumina de exclamação
o bom sentido
que porventura daí se tire

21 de novembro de 2018


Num dia de assimetria
Uma espécie de cor se maravilha
Num enredo de palavras
Cobre a cada qual
Em colorida gestação de apelo
Monótonas cadências
De algumas promessas de leite

20 de novembro de 2018


O concertado movimento
das falas
que lhe assistem
na cinzenta manhã carregada

Dos húmidos recantos as descidas escadarias passavam como se pela primeira vez consigo o invisível da posição se acertasse naquelas límpidas e articulada breves que em contraponto se faziam ressoar de tão desejado efeito

doutro acontecia
por vezes em silêncio
o eco se fazia o eco
das palavras em desempenho
e apreço de uma
qualquer ideia escrita
clamava
o arremesso das coisas
em peso e pausa
qual substância dos ditames

E o fogo da posição escrita qual natural herdeiro da conversação mais ou menos íntima mais ou menos privada percorria a quase totalidade das camadas misteriosas a saber

das regras dos mosteiros
da constante alusão dos pátios interiores
dos palacianos bastidores das ágoras cuidadosamente trabalhadas em laminados de enredo
dos palcos das ditas simbolizadas na sensata e verdade universal
e do redor das fogueiras ao anoitecer distante

Entretanto

Dos elevados cumes
Descia uma luz
Sensata iluminava
Fazia todo o seu bem

Cumpre no entanto aqui notar que no jogo da posição escrita quem perde o nariz não conta e que o perder do nariz no exercício da posição escrita é como que uma universalizada visibilidade que diluída ao recatado da regra ali irrompe o oculto da mesma em polichinelos garrafais

Como na parábola
do rei nu
aquando ao mais pueril
dos rastilhos
se desperta de inocência
o tácito coração da regra
paira suspenso
sem sequer chegar a dizer
de qual fundamento
é o seu parecer bem

E este casual da regra é a alma do segredo nas entrelinhas da palavra escrita e ainda dizer que embora seja o peso que formalmente instaura o aparecer da posição os invisíveis materiais desta produção são e desde sempre os da leveza por muito que esta afirmação possa parecer paradoxal que o é pois este está no cerne de tudo e do qual e ao qual sempre se regressa como se costuma dizer o que o torna incontornável habitante da excelente leveza nas entranhas da posição

Livrai-nos pois
do interior silêncio
do ruidoso exterior
ambos se tomam
bem vistas as coisas
do ponto
de vista do mesmo

Dito isto caberia à poesia o papel do menino nesta história que

desferida junto
à raiz dos frontispícios
levanta o agora
rumor por meio
das mortificadas posteridades
que alimentam estas
as suas diluídas causas criadoras
aqui e ali estendidas
nos velhos cantos
dos novos contendores

qual prestação de serviço que integra o mais recatado da regra em silêncio e assim se faz investido de si por meio da boa via por assim dizer que como que destila.

19 de novembro de 2018


o que intende é
pois um prazer
que rebate o carmesim
dos encantados tornesóis
e ainda mais alerta
ao visual contacto
nos corpos habitual presença
estende-se
numa outra maneira
de ver as coisas
que qual consideração do motivo
a cada instante passa
e perpassa nas imagens
todas elas pertencidas
a uma linha superfície
de curva infinita
mas que nunca se encontra
nunca se fecha

17 de novembro de 2018


a infinita partição
de si por assim dizer
em contratempo
figura o limite
mas sem sinal aparente

16 de novembro de 2018


do positivo instante
diz-se por sinal exclusivamente
uma certa forma de contemplação
que desdobra o movimento
nas superfícies
de uma linha imaginária

15 de novembro de 2018


está tudo ligado
no imenso memorial
das línguas
da terra queimada
qual incandescente miragem
que sai da penumbra
num meio de escrever
a tudo chega
nas amontoadas
eras dessa palavra
que ao inverso se retoma
em inicial do movimento

14 de novembro de 2018


uma estátua
de incauta cor
torna dos campos
e envolve o vazio
numa espécie de palavra
que nome edificado fica
e a morte chega
qual soberano igual
a tudo reconduz
num esquecimento

13 de novembro de 2018


Noutro lugar
E numa outra ocasião
O estar de cada parte
Nos humidificados estratos
Mais ao cair da noite
Quase em sinal de ventania
De cada forte e alguma
De caída cinza de prazer
Em mirabolante cortesia
Como que tece
O isso díspar de sentido
Que destoa no ornamento
O limiar daquela ocasião
Que chega qual luz versátil
A uma ocasião de rubor
E acrescenta aos outros dias
Aquilo que mais sucede
Por entre as linhas de tais
Sorrisos a mais
Mas que a todos pertencem

12 de novembro de 2018


o trabalho da memória
é a causa das coisas
desperta das pedras
uma ausência de comoção
que lapida sombras
iluminadas de sombra

10 de novembro de 2018


dizer outra coisa
por quaisquer palavras
de ausencia
num dia de repente
o olhar retira
consigo a resposta
que coberta
de razao se esquece

9 de novembro de 2018


uma terrosa
cor de castanho defronte
aos porosos torrões
da terra em volta
e algumas letras animam
de valor a expressão
dos comovidos socalcoa
do tempo antigo que
como que parado grita

8 de novembro de 2018


das formigas

por carreiros abertos
na fronteira dos filamentos
em meio ao primordial
arvoredo lentamente rumam
ao fel mais além
das enigmáticas correntes

7 de novembro de 2018


a primitiva palavra
do silencioso arbítrio
cendrada de espanto
faz-se suspensa
num reflexo de sombra

6 de novembro de 2018


de cintura fina
vestida de primavera

cai no feno
a flor envolta
ao dia
das mil carícias

5 de novembro de 2018


a esta espiral imagem
pertence uma cor cinzenta
que se esfuma no reflexo
de uma lenta lentidão
entra junto ao vazio
e agora espera por meio
que a receba e assista
ao divagar das palavras
adormecidas na sombra
ficam curiosas suspensas

3 de novembro de 2018


vazia de longe o inaudível
clamor de limiar desvanecido
em primado da razão no sensível
corpo conforma ao costume
de cada palavra aquela
parte em silêncio que continua
o cego vazio que a chama

2 de novembro de 2018


por detrás do espelho
diz-se do fruto ao instante
que caído na imaginação
sopra da sombra
aquela cor de engano
que aos gritos se interroga