29 de dezembro de 2018


um dizer de fundo
que em superfície pertence
a uma certa insinuação
das coisas leves
contra faz o que dissera
em que se diz
e introduz como que contente

28 de dezembro de 2018


dizia que o que o faz
não será só seu mas mantém-se
como que disseminado
numa fruta a falar do tempo
que afinal acompanha
de um calafrio o quê se pudesse assim
metaforizar devagarinho
pertenceria marca
depressa ao que se quer dizer
pois chama demasiado
mas passa depois numa sensação
de contente aqui fruta
que ressoa no ar em fundo de calor

27 de dezembro de 2018


de noite acima sentido
supunha uma figura
em calorosa sucessão
que qual diluída fronteira
de pedra cor
por ter mais sugeria
que de dentro partia
e desfeita ao que nos liga
será no seu lugar
a correspondente vibração
daquilo que
numa sombra cega se recebe

26 de dezembro de 2018


entrecruzados no peito
flutuavam dedos inscritos
sem rasto nas imagens
e como que numa expressão
de devaneio os demos
à vista de todos
largados por respirar
naquela parte que nos liga
a um outro adormecido
desperto de nada sentir
no mundo que não seja
o respirar que se sente

22 de dezembro de 2018


por agora posto
o que em cor se cai
não chega
ao ser que se sente
mas mais ou menos ressoa
duplamente sonoro
e reveste-se
como que suspenso
e assim baixa em condição
nessa mesma terra

21 de dezembro de 2018


do qual destino
em miseração de cuidado
sempre se levanta
o altíssimo tingir de um rubor
vermelho
que qual lembrança
do ir mais além
de nota de cada gesto
aquilo que de certo se concebe

20 de dezembro de 2018


esqueceu-me o pensamento
em termos de presente
como se encadeasse
a chamada da caligrafia
nas desapossadas sílabas
que entusiasmadas o diziam

19 de dezembro de 2018


recolhido à satisfação
de uma aparência
o de terminado gesto passava
ao de leve
como se algo de condimentado
nos tocasse
em expectativa de valor
e assim dissesse que
mostrar-se-ia acompanhado de presença

18 de dezembro de 2018


falta de sentido
a circunstância do gesto
que sente-se
no pão
em movimento
de uma singular narrativa

17 de dezembro de 2018


avista-se
do alto da ladeira
(n)uma cor sombria ao longe
na estrada os dias e os tambores
em silêncio agitados
recortam no tempo a morte
que nos leva
em sibilante missiva

15 de dezembro de 2018


Esotérica da familiarização do objecto: o processo de familiarização do objecto não é mais do que o sedimentado 'hábito' ancestral de sacrifício do outro que, qual necessária e justaposta alienação (do) 'universal' no objecto, (co) infirma, estatui, especifica-se numa particularizada 'qualidade' exclusiva, no 'totem.

14 de dezembro de 2018


ambientes fechados
de memoráveis escarpas sombrias
agora agora o ocorre
e como que preenchido
de luz
em presença
coloca defronte ao contorno
da carne
uma solução de equivalência
e olhar dali parte
e o se partir do instante
a voz aproxima
em acerto de estar a terra

13 de dezembro de 2018


a cada recomeço
abre-se
dobra-se
de surpresa já não vê
e num momento
surge de perto
como que metonímico

12 de dezembro de 2018


Esotérica social do número: a verdade em partes de (um) todo e a (sua) consequente replicação no mesmo, isto sim, qual intraduzível construção nominal, familiarização do objecto, é uma visão social do número.

11 de dezembro de 2018


diz-se do peso
que diversamente não passa
marcado da sucessão
e como que chega numa sede
dessa qual experiência
os seus reflectidos momentos
cai no dia a dia
qual flamejante cometa
e quando tudo acabar
começaria uma nova era de grito
que subia num arpejo
animal a que chegaste
como que tremendo de curiosidade

10 de dezembro de 2018


Esotérica do nome: o nome (primeira lição dos antigos egípcios) é (qual marca de uma adjectivada substância que se cobre enquanto tal) propriedade. Este facto, patenteado no livro dos mesmos, e só por si, reservou, desde esses tempos, um futuro auspicioso ao pronome possessivo.

7 de dezembro de 2018


Esotérica da ilusão: o ciclo da ilusão é constituído por outros tantos inconfessáveis que detalhados numa certa invisibilidade agente torna e retorna mas nem supõe antes desconcerta num invariavelmente que vem a preencher o lugar de (em) inominável comoção.

6 de dezembro de 2018


o parecer
da distância consente
numa qualquer ausência da palavra
ganha ao saber vulgar
por assim dizer
um não se lembra
nem disso faz questão
porventura se assimilasse
a esse mesmo parecer
de cada imagem vertigem
consigo traria como que um
odor a ramificação
marcado
e a cada nova distância
desse olhar se marca
no bem contado
de cada alinhada palavra

5 de dezembro de 2018


O isso que sim
no turvo dos trabalhos
como que identifica
a manifestação dos espelhos
numa espécie
de hesitante correlato
mas que acaba por perder
na posição do combate

4 de dezembro de 2018


na dobra do anunciado prazer
sombrio esvanece a toda uma outra distância
o recomeçar do rumor levantado cedo
que industria em cada silente momento aquela atenção
a isso que se diz e dessa parte o hesita
no mesmo lugar permanece
e agora vazio veste o hábito da fundação
nos desconhecidos esquecidos
ideais relatos de uma qualquer coisa quente
e não (!) basta do horizonte
mas apenas aquando do céu não estiver nublado

3 de dezembro de 2018


Espera na terra
De ninguém um correr filigrana
Tensa o resultado em detalhe
E refresca de origem
Os ecos mananciais ecos
Chegados da melhor maneira
Na possível marca todos
Os dias mas imediatamente não

30 de novembro de 2018


Segredos inteiros
De prata pouco-a-pouco
Sugeridas castas
Por inaudíveis palavras adiantam
A cor envolta
Aos recatados tecidos

29 de novembro de 2018


como sabe e não soa
forçosamente depende do arranjo
e pela primeira das razões
assegura as palavras
num segundo compasso
que esclarece
um certo uso do utensílio

28 de novembro de 2018


nota defronte
aos alinhados panoramas
da memória
escritos qual espelho
se desdobra
uma distância nos mesmos
meios de sempre

27 de novembro de 2018


O suceder de cada intenção
Envolta a natureza dos corpos
Num subterfúgio maquinal
Que qual calor num dia de multidão
Chega nem sempre a quem deseja
Suplantar nas mãos prostradas
Uma qualquer dor imaginada

26 de novembro de 2018


Entre a primeira vez
Que chegara
E um dia era o final
E acaso recomeçava
Como se da memória
Caísse e assim
De nada aqui chegasse

24 de novembro de 2018


Suporta-me o estar aqui que tenho de fazer

na hora do reflexo
aceso a todas as portas
por entre as esvaziadas linhas
do silêncio nas palavras
estende-se a cada instante
um incessante rodopio
que carece de uma qual maneira
de estar em silêncio
e faz-se olhar distante
sob a luz mais depressa
derrama numa cor ao minuto
seguinte vem pousar
lentamente em ponto de vista
e assim que se distrai
da memorável confusão
enlaça na posição
aquela prestação de sentido
que qual ideal de pertença
depois recordação
deixa do entrevisto gesto
as imagens numa voz
e assim devagar chega ao ritmo
da construção do tempo

23 de novembro de 2018


Do vagabundear da pastorícia às geniais lavouras como por exemplo das últimas das primeiras verdades

Num dia indecifrável
de rara aparência
e por ser longo o contar horas
doravante (se) adivinhava
uma certa dupla condição
que decorria em causa do lugar
e ficaria provado desde sempre
que o circular das atmosferas
numa linha imaginária
divide a totalidade das coisas
e metaforiza por debaixo
da pele as sugeridas palavras
da parte de cada um
que antigamente esquecidas
(essas mesmas palavras)
carecem hoje da exposição
do mesmo a um tempo
atrasado que deriva ao nascer
das estrelas uma luminosidade
sombria mas sempre nascente

22 de novembro de 2018


Esse
qualquer coisa que fica
num perfume de frase ou palavra
em sonora sugestão
de raiz convoca a um tempo
aquela atenção
súbita ilumina de exclamação
o bom sentido
que porventura daí se tire

21 de novembro de 2018


Num dia de assimetria
Uma espécie de cor se maravilha
Num enredo de palavras
Cobre a cada qual
Em colorida gestação de apelo
Monótonas cadências
De algumas promessas de leite

20 de novembro de 2018


O concertado movimento
das falas
que lhe assistem
na cinzenta manhã carregada

Dos húmidos recantos as descidas escadarias passavam como se pela primeira vez consigo o invisível da posição se acertasse naquelas límpidas e articulada breves que em contraponto se faziam ressoar de tão desejado efeito

doutro acontecia
por vezes em silêncio
o eco se fazia o eco
das palavras em desempenho
e apreço de uma
qualquer ideia escrita
clamava
o arremesso das coisas
em peso e pausa
qual substância dos ditames

E o fogo da posição escrita qual natural herdeiro da conversação mais ou menos íntima mais ou menos privada percorria a quase totalidade das camadas misteriosas a saber

das regras dos mosteiros
da constante alusão dos pátios interiores
dos palacianos bastidores das ágoras cuidadosamente trabalhadas em laminados de enredo
dos palcos das ditas simbolizadas na sensata e verdade universal
e do redor das fogueiras ao anoitecer distante

Entretanto

Dos elevados cumes
Descia uma luz
Sensata iluminava
Fazia todo o seu bem

Cumpre no entanto aqui notar que no jogo da posição escrita quem perde o nariz não conta e que o perder do nariz no exercício da posição escrita é como que uma universalizada visibilidade que diluída ao recatado da regra ali irrompe o oculto da mesma em polichinelos garrafais

Como na parábola
do rei nu
aquando ao mais pueril
dos rastilhos
se desperta de inocência
o tácito coração da regra
paira suspenso
sem sequer chegar a dizer
de qual fundamento
é o seu parecer bem

E este casual da regra é a alma do segredo nas entrelinhas da palavra escrita e ainda dizer que embora seja o peso que formalmente instaura o aparecer da posição os invisíveis materiais desta produção são e desde sempre os da leveza por muito que esta afirmação possa parecer paradoxal que o é pois este está no cerne de tudo e do qual e ao qual sempre se regressa como se costuma dizer o que o torna incontornável habitante da excelente leveza nas entranhas da posição

Livrai-nos pois
do interior silêncio
do ruidoso exterior
ambos se tomam
bem vistas as coisas
do ponto
de vista do mesmo

Dito isto caberia à poesia o papel do menino nesta história que

desferida junto
à raiz dos frontispícios
levanta o agora
rumor por meio
das mortificadas posteridades
que alimentam estas
as suas diluídas causas criadoras
aqui e ali estendidas
nos velhos cantos
dos novos contendores

qual prestação de serviço que integra o mais recatado da regra em silêncio e assim se faz investido de si por meio da boa via por assim dizer que como que destila.

19 de novembro de 2018


o que intende é
pois um prazer
que rebate o carmesim
dos encantados tornesóis
e ainda mais alerta
ao visual contacto
nos corpos habitual presença
estende-se
numa outra maneira
de ver as coisas
que qual consideração do motivo
a cada instante passa
e perpassa nas imagens
todas elas pertencidas
a uma linha superfície
de curva infinita
mas que nunca se encontra
nunca se fecha

17 de novembro de 2018


a infinita partição
de si por assim dizer
em contratempo
figura o limite
mas sem sinal aparente

16 de novembro de 2018


do positivo instante
diz-se por sinal exclusivamente
uma certa forma de contemplação
que desdobra o movimento
nas superfícies
de uma linha imaginária

15 de novembro de 2018


está tudo ligado
no imenso memorial
das línguas
da terra queimada
qual incandescente miragem
que sai da penumbra
num meio de escrever
a tudo chega
nas amontoadas
eras dessa palavra
que ao inverso se retoma
em inicial do movimento

14 de novembro de 2018


uma estátua
de incauta cor
torna dos campos
e envolve o vazio
numa espécie de palavra
que nome edificado fica
e a morte chega
qual soberano igual
a tudo reconduz
num esquecimento

13 de novembro de 2018


Noutro lugar
E numa outra ocasião
O estar de cada parte
Nos humidificados estratos
Mais ao cair da noite
Quase em sinal de ventania
De cada forte e alguma
De caída cinza de prazer
Em mirabolante cortesia
Como que tece
O isso díspar de sentido
Que destoa no ornamento
O limiar daquela ocasião
Que chega qual luz versátil
A uma ocasião de rubor
E acrescenta aos outros dias
Aquilo que mais sucede
Por entre as linhas de tais
Sorrisos a mais
Mas que a todos pertencem

12 de novembro de 2018


o trabalho da memória
é a causa das coisas
desperta das pedras
uma ausência de comoção
que lapida sombras
iluminadas de sombra

10 de novembro de 2018


dizer outra coisa
por quaisquer palavras
de ausencia
num dia de repente
o olhar retira
consigo a resposta
que coberta
de razao se esquece

9 de novembro de 2018


uma terrosa
cor de castanho defronte
aos porosos torrões
da terra em volta
e algumas letras animam
de valor a expressão
dos comovidos socalcoa
do tempo antigo que
como que parado grita

8 de novembro de 2018


das formigas

por carreiros abertos
na fronteira dos filamentos
em meio ao primordial
arvoredo lentamente rumam
ao fel mais além
das enigmáticas correntes

7 de novembro de 2018


a primitiva palavra
do silencioso arbítrio
cendrada de espanto
faz-se suspensa
num reflexo de sombra

6 de novembro de 2018


de cintura fina
vestida de primavera

cai no feno
a flor envolta
ao dia
das mil carícias

5 de novembro de 2018


a esta espiral imagem
pertence uma cor cinzenta
que se esfuma no reflexo
de uma lenta lentidão
entra junto ao vazio
e agora espera por meio
que a receba e assista
ao divagar das palavras
adormecidas na sombra
ficam curiosas suspensas

3 de novembro de 2018


vazia de longe o inaudível
clamor de limiar desvanecido
em primado da razão no sensível
corpo conforma ao costume
de cada palavra aquela
parte em silêncio que continua
o cego vazio que a chama

2 de novembro de 2018


por detrás do espelho
diz-se do fruto ao instante
que caído na imaginação
sopra da sombra
aquela cor de engano
que aos gritos se interroga

31 de outubro de 2018


e ao descer a rosa
o colo da seda floresce
na terra um apelo
descobre em abandonado movimento
as suas pétalas
que esplendor
veste ao declive da festa

30 de outubro de 2018


por volta do entardecer
por detrás da montanha
ao longe uma presença
como que desperta na carne
os consumidos artefactos
ostentados ascendem
em numinosas tonalidades

29 de outubro de 2018


dizer em volta
que dali se contara a espessura
do caudal
em conjugada regra
de todos
dizer devagar
que doutrora mais
se deixando o dizer das dissipadas
cadências de somenos
chegaria a dizer-lhe
ainda que
de correia à cintura
seguisse em bela figura

27 de outubro de 2018


do gesto representado
o pormenor da posição discreta
as mais diversas tradições do ritmo e da indumentária
momento de lazer este seguido de uma pausa
e celebra nesses quais ornamentos
o nascente vislumbre do radiante celeste

e de cada simetria encontrada
o raro e absolutamente descabido em papel velado

26 de outubro de 2018


e dessa rarefeita circunstância
das altitudes (agora cobertas de humidade
e neblina qual espécie
de metáfora da vegetação cerrada)
paira junto
às margens do rio
a qualquer momento naquela
brumosa e silenciosa cadência
das misteriosas colorações

25 de outubro de 2018


Concertinas Tamboris
junto ao bizarro anoitecer dos interstícios lentamente verbos
de vacuidade insinuados
dizem do perdido sentido ao fulgor do primeiro instante mas apresentam-se aqui e ali
numa cor de papel antigo que não pensado porém conta

O indivíduo
Ao chegar na terra
Bate os pés empoeirados
No asfalto ainda quente
Pois ao final da tarde
Qualquer imagem convém
Distraidamente passeia
O inventário dos transeuntes
Considerados estes
No sentido poente
Relativo ao ponto de partida

De perto o olhar de uma mulher mentalmente o precipita ao factício acontecimento de uma chuva miudinha
cinzentas cinzas estas que refere em condição de indivíduo:

Incomoda
Por vezes esta maneira
De estar
Plantado na terra
Dos homens
E das mulheres também
Que são belas

Sem que disso se dê verdadeiramente conta quase ao passar das em volta ruelas o final da tarde em situação quase inanimada
e acaba por exclamar que debaixo da bassa luz de um candeeiro consigo:

De passar estas vielas
Que tantas são e o aroma
Das tais agora chega
E recomenda um apetite

Sugestionado desses ditos e requintados sentiu-se dos aromas como que condicionado ao bater do estômago em condição de falta
e o agora chamava
e o assim transportou àquelas sugestões nasais que lhe vinham:

Carne alentejana
De porco ao anoitecer
Hora do vazio
E o ventre já qualquer coisinha
Comia - cheirou consigo

E foi-se adentro de si dos concorridos letreiros daquelas esquinas apelavam enchidos de cozedura junto ao jorrar do vinho e da batata abundantemente cortados em sumarentos bolbos
que sentiu-se em deglutição de tais apuradas delicias estas que podem enlouquecer o mais paciente dos indivíduos:

Musa pausa aqui
De novo neste prato
E dispensa-me
O bom proveito
De saciar em prazer
O sabor desta hora

Depois do acontecer indolentemente breve do lugar enganador chega o indivíduo àquela perspetiva de conjunto de quem disfruta apaziguadas paisagens:

De repouso
E mais uma nota
De som se faz
Uma matéria ainda
Não totalmente
Digerida destas figuras
E destas carnes

Em esotérica consideração
Da uma individual digestão

Esta aprendizagem da matéria como um todo e não apenas nas suas modalidades que não são mais do que outras tantas posições morais ou sensoriais do reflexo dos aparelhos naturalmente adquiridos
prolonga-se necessariamente em estado caótico
e desta ou daquela maneira atravessa as mais diversas camadas da disposição do movimento em processo de figuração da carne e dos ossos
tornados inertes das determinadas do momento
o que significa um certo ao redor do fundamento
daquilo que captado e recolhido se apresenta por qualquer forma de um vácuo e que
pese o paradoxo
daí atinge as metafísicas formas da imobilidade.

24 de outubro de 2018


demais diverso
frenesim cegamente
avesso flutua
perdizer das alturas
amanhecer pluviosas
manhãs de romaria

23 de outubro de 2018


horas estas a que leite
jorra os seus apetecidos mananciais
de delícia aos habitantes
das terras que desjejuam sentados
nas mesas quais iluminuras
de simplicidade e bonomia
aquela natureza agora desperta

22 de outubro de 2018


cedo

ainda ligeiramente adormecida
dado o extremo matinal da hora
a manhã pouco a pouco estende
os seus róseos dedos num cálido
calor daquela luz que vivifica
e preenche a terra de aconchego

20 de outubro de 2018


por fim tudo acaba
naquela sobrenatural imagem
das tessituras investidas
mundaneidades passadas
em alimento e vegetação

19 de outubro de 2018


esotérica da linguagem: fica entre a memória daquilo que se ouviu e o agora que se vê

na plácida visão
dos lagos em melancolia
azul tonalidade
acerca das violetas
cai derramada de calmaria
consigo mesma

18 de outubro de 2018


passara o tempo demorado
em cada sombra de subir estas encostas
depressa me cansaria de dizer
o mesmo em volta aos acolhidos sorrisos

17 de outubro de 2018


De passagem qualquer
do lado da mesma terra mas não
como se fosse um outro
em caloroso momento das coisas com vontade
das coisas invoca
desperta um horizonte
ao plástico pormenor
daquela imagem que não se diz

16 de outubro de 2018


Breve considerando de escrita

Daqui se retiram os considerandos da expressão que em si encerra aquelas pequeníssimas partículas do que se quer sentido ou notado
Daquilo que se quer e pretende notado da copiosa expressão e da lentidão avassaladora da mesma.

A expressão copiosa tem o senão de produzir uma quantidade quase insuportável de lixo e é difícil escolher nessas circunstâncias
pois conquanto em si cada palavra encerre as sementes da verdade
essa abundância das palavras tem o inconveniente de poder tornar o trabalho de decantação demasiado exaustivo
ou mesmo inútil se a esse mesmo trabalho se não se conceder uma certa e devida atenção mais morosa por assim dizer
Ou seja a expressão copiosa corre o risco maior de extenuar ou exaurir aquele estado de intuição que se quer vigilante durante todo o longo processo de decantação das palavras
por muito paradoxal que possa parecer este raciocínio aqui aplicado a um conceito já de si tão volátil como o da intuição das palavras a notar.

Dito isto considerar-se-ia que a expressão lenta tem a vantagem da prudência por assim dizer
consideração essa que não seria de todo apressada diga-se
mas por muito que este tipo de expressão lenta e quase acabada elucide por vezes de uma satisfação imediata
padece no seu âmago do pecado original da reflexão
e pode portanto e por vezes
toldar ou mesmo paralisar o trabalho de composição de sentido
como quando tarda o reconhecimento daquela ansiada e misteriosa expressão de equilíbrio
que completa digamos assim
e a disposta matéria seja por falta de discernimento ou mesmo cansaço é então cortada fora de tempo e de lugar
e assim torna os trabalhados resquícios em matéria mais ou menos desconsiderada ou mesmo irrelevante diga-se
Em matéria demasiado pesada ou mesmo demasiado leve por assim dizer.

É portanto a lapidação o momento crucial do sentido da ligação neste sentido das palavras sejam elas lentas ou apressadas o que implica que qualquer decisão precipitada ou mesmo atrasada corre o risco de deitar a perder todo um trabalho de produção das mesmas digamos assim.

No entanto quando uma linha chega de imediato se reconhece e isso é espontaneidade ou aquele encontrado equilíbrio que dissecado a meio da musical seleção e nesses momentos se toma de uma certa magia que encostada ao tom e nessa mesma nota daí se prolonga de memória ao coração encantados ambos mas isso já seriam outras cantigas.

Diga-se por fim que embora o ser musical não baste para chegar ao fundo abissal do abismo que corta aos abundantes cumes vivificadores da palavra encantada preza-se no entanto e é bom reconhecer que a cada sucessão de palavras se executam alguns automatismos de primeira e de segunda extracção por assim dizer.

15 de outubro de 2018


espelhado da recordação
das águas invisível assinatura
um corpo assentado
nas pedras ao fim da noite
espera mas sem qualquer imagem

13 de outubro de 2018


usualmente verso
o quanto possível assim considerado
mas não manifestamente

reverso plenamente

12 de outubro de 2018


Breve discurso de evocação das antigas ideias

Gostaria hoje de retomar aquelas ideias das quais já nem sequer nos lembramos dos nomes e de como se apresentavam num qualquer dia em silêncio de si naquela disposição que no entanto revelava ao inverso o funcionamento do seu fim pois no fundo o corte é que conta e dessa condição como que juntava a uma certa utilidade das coisas uma outra coisa maquinal na consciência por dizer assim:

Da instituída língua do bairro
de Alexandria a velha excita-me ainda a pele
a recordação das grutas celebradas
outrora aos recônditos das mais altas torres
as cabeças centrais chegavam
e entoavam os seus noctívagos salmos
até ao amanhecer à sombra das palavras com palavras
naquela antiga ciência dos finais
do nome e do lugar comum e das primícias da terra
preenchiam em boa disposição
alguns fragmentos de vegetação nos multiformes
critérios da excelente partilha.

fez-se então silêncio na sala durante cerca de trinta segundos ao fim dos quais a assistência irrompeu num sincero e prolongado aplauso que o orador agradeceu
cumprimentou então à esquerda e à direita e foi inversamente cumprimentado e retirou-se assim dignificado enquanto se fazia ouvir um tímido porém entusiástico bravo!

11 de outubro de 2018


Breve nota sobre o gosto requintado.

Aquilo a que se chama, ou costuma chamar, ‘um gosto requintado’, não é, bem vistas as coisas, mais do que uma certa predisposição, ou apetência, para um certo tipo de combustão lenta, para uma degustação demorada digamos assim. Assim sendo, e uma vez que, como se costuma dizer, é a idade que apura ou requinta o gosto - a não ser que se nasça com ele, o que é muito raro, e dificilmente demonstrável - poderia uma maior ou menor velocidade de combustão, ou mais precisamente o apreço que a esta fosse conferido, servir de critério, em determinadas circunstâncias obviamente, para aferir da antiguidade qualitativa, e não só, das diversas formações culturais, com tudo o que esta noção poderá ter de subjectivo ou nem tanto.

10 de outubro de 2018


o vento e a chuva vestiram
bocados de cor trouxeram
verso a verso ao laranjal

De alguma coisa
se diz que destina a educação
no tempo as quantidades de observação
numa memória de tinta
e preciosas distantes
gemas de significado bem
estendido ao pormenor das hipóteses
todas numa atenção elevam
ao aleatório da disposição as estranhas
passadas de sombra
e luz assimiladas aquelas
e por meio de alguns magnéticos exercícios de invocação das palavras
repetem nas melodias de sempre
as rochosas fontes
e o canto em vertical apelo

9 de outubro de 2018


casual da reconfortante imagem predisposta de alguns momentos

apetece qualquer coisa melhor
ao fim da tarde e só por cordial e comovido
numa interior palavra
o objecto significado em respiração
tende a um outro
que recolhido nessa esquecida carne recorda

8 de outubro de 2018


estar de fora não
quer dizer algo de frio dentro
algo se dissimule ao caloroso
pormenor num gesto hesitante
as ultrapassadas palavras
na voz de uma discursiva medida

6 de outubro de 2018


Inspiração

De plácido rosto
Cheio de nada num relance
Das fontes
O polido das pedras
Sobe em curva sinuosa

4 de outubro de 2018


em visceral composição
daquilo que quanto mais nas palavras
não será tempo de reconhecer

em suspenso contratempo
dos pés e das mãos numa voz de manhã
as indistintas linhas
da mesma canção numa simples palavra

3 de outubro de 2018


atrasado
ao nascer do dia
correu de manhã
algumas arestas nas palavras
que dali chamavam

Mergulhado na placidez
De uma sombra de entranhas
Seria preciso calar
E ouvir ditar a voz
Numa língua que perdura
Em vestígios de terra
Respira para fora do lugar
Sedento de se ver
Além da imitação dos dias

2 de outubro de 2018


não tornaria pois
da palavra qualquer mudança
em presença
daquela caligráfica representação

1 de outubro de 2018


e era portanto caro
o motivo da coloração daquelas formas
e daqueles volumes
que traçados ficam num simples
plano de geométricas
tendências de som configuradas

29 de setembro de 2018


e do meio da processão
de dentro algum interpretado
aspecto desse mesmo
assim se fazia digamos

cor da cor a noite
e como não compreender
esta imagem
mas na segunda pessoa

28 de setembro de 2018


do fundo daquela imagem
como que divergia o caminho na carne
atrasada ao só linear
da sucessão das palavras numa direcção contrária

27 de setembro de 2018


mas não duvidara
tampouco daquela significação
profunda
nem conhecia daí qualquer inexistência
dessas mesmas
ou quaisquer outras palavras

26 de setembro de 2018


e delimita de passagem
a demorada paisagem dos anos
nas dissipadas partes
daquela interior penumbra
figuras semanais
de alguns aromas de maravilha
ao final da tarde

25 de setembro de 2018


os atentos panoramas
dos propensos solos de intempérie
perfumam os dias
por meio de alguns depurados momentos

24 de setembro de 2018


passeio de sugestão
e o acaso em medida se quer
e se sente
ou por exemplo entre si
numa linha e outras compostas daquelas
formas casuais das pálpebras
que ficam escritas na diagonal inclinação
daquela passagem
entre o ritual das mãos e o hábito
das coisas invisível reflexo
de um certo e qual movimento musical
que respira ao instante

22 de setembro de 2018


de costume igual
na palavra de cada dia
um passo imóvel
em véu de comédia
como que fenece entretanto

21 de setembro de 2018


passa de tarde
um qual reflexo
dessas mesmas
nocturnas chuvas
ao longe chegam
numa cinza cor
de perto caída
no salto sentido
das tantas palavras
por dizer ficam

20 de setembro de 2018


um outro dia
de prosaica leveza e amenas
palavras de terra
ausenta-se em quartos de luz
o cerebral dos jardins
não tanto assim
imaginados do lado nascente
mas entre a noite e a manhã

19 de setembro de 2018


e a reminiscência de tarde
percorre entretanto os compassados
processos do lugar
em simultâneo daquilo que passa
enquanto aparente
e no entanto permanece o mesmo

18 de setembro de 2018


e desce em gesto ideal
da sombra
e por meio de alguns sincopados
golpes cinzela
aquela memória animal da primeira nuvem
num movimento
que por vezes se esquece

17 de setembro de 2018


e particularmente dali
se fazem aquelas notas que perduram
em algumas linhas
das palavras enquanto quais
de seu nome aqui
o voluptuosos motivo nos figura
colorir de um outro
e deriva
mas como que rarefeito e contínuo
por assim dizer

15 de setembro de 2018


uma certa palavra
em apoteose destacada
arvora de satisfação
o edificado no cimento
daquela disposição
mais própria do sentido plástico
que desvela num estado de passagem
a vaga forma
de um laborioso aspecto

14 de setembro de 2018


da base da pedra
em vigília do semelhante caminho
clama de perto
o enlace agora exausto
repousa respiração nas fontes
da linguagem satisfeito
valor de uma terra imaginada

13 de setembro de 2018


uma insinuada linha
em crescendo de contraversamento
não por princípio
natural ao longe aparece
por sobre os edifícios do lugar comum
qual névoa nunca vista
fronteira mas não de imediato

12 de setembro de 2018


e desliza em transparência
como se não houvera
de cada dentro assim percorrido
um olhar que acaso desvanece

11 de setembro de 2018


e alguns restos de sentido
ficam na parede
estranhamente espelhados
numa pergunta por fim

10 de setembro de 2018


escorre da palavra
uma qual espuma de evidente
falta em volta
clama mas no entanto passa

8 de setembro de 2018


a palavra de atenção
coloca em maior evidência
o duplamente tecido
do perdido gesto
mas apenas um instante

7 de setembro de 2018


(?) e acaso seu pensa
que por meio de alguma
coisa ficaria das palavras
o desabitado murmúrio
de uma térrea cadência
mas sombreada porém

6 de setembro de 2018


de seu uso a
depurada palavra
pulsa outro sentido
sonoro apelo este
uma sinuosa linha
distende a grafia
quando se esquece

5 de setembro de 2018


algo entre dois
permanece imagem
nas palavras

4 de setembro de 2018


algumas considerações (qualitativas) de uma mente interior

pelo menos pensou
mas não porque não fosse nada
antes porque não poderia deixar de pensar alguma coisa
como se disse
pois caso contrário
não faria ideia na sua mente interior
como peixe na água com coisas
e não pensaria qualquer presença de fora de noite
ou de dia de perto defronte
e isso era certo e evidentemente

3 de setembro de 2018


Estação de noite uma imagem mítica

Um tambor com sentido dos intervalos
por norma faz toda a diferença
pois desvela da leitura dos momentos
uma certa impressão de linguagem
que plasticamente ainda a tempo da palavra
imanifesta as tensões de uma outra presença
esta porém omissa e pragmática

duvida de qualquer
e desse qualquer
decorre outra coisa
da qual divagar
sem sentido sem nexo
chega a mover-se
ao som sentido
da palavra do costume
no entanto
menos credível
de toda a vontade
e não menos
do que a vontade possível

e esta imagética da posição da palavra é como que a prova cabal do inverso das utopias da forma ou da melopeia da chamada de atenção numa natureza súbita por assim dizer

1 de setembro de 2018


Da respiração da imagem silenciosamente

O sedimentado caos
em providencial valor de aceitação da palavra
vigília da distância
o sentido facial da vivência
e chega numa frase feita
ao frente a frente da parte escondida.

E então outro acontece
compasso interior da espuma
primordial num verso
e plasme-se (!)
da simetria noção das partidas
e das chegadas de si
qual colossal da memória
mas do outro lado
sulca ao de leve na terra
e acaba por tocar
o predisposto meio da palavra
escolhida por assim dizer.

30 de agosto de 2018


Algo se configura dos silábicos ritmos num precipitado e jovial das artes festivas ou minuciosamente e mais convencional do exercício das nocturnas que é qual receptáculo das imprecisas ou seja do acto propriamente dito

em que ele
argumento da presença
num cenário de tu
limite do discurso dele
avança por entre a multidão das memórias perdidas
até que dele a ideia chega
no distanciado respirar de um eu escandalosamente
causa de estar num outro
e diz que regurgitou na excepção dessa terceira pessoa
entretanto ausentada
aquela parte a minha e a tua em narrativas
de valor e lamenta de seguida por meio de algumas metáforas
do lugar nos celebrados ossos
uma certa e determinada sensação de epiderme
em função vital da ligeira palavra
ou seja forma de pensar
o qualitativo solo da percepção
num ponto de vista
lateral o que bem vistas as coisas é usual
nas artérias comunicantes
e mergulha directamente no silêncio dos sóis contemplativos
primeiro e do natural madrugar dos dedos
depois imbuído do caloroso
vislumbre que clama de combustão naquela densa posição
de ser forma singular no suposto corpo
e desse mesmo suposto segue ao canto das veias
feito miraculoso espelho
onde por norma o silêncio é melhor
e o ribombar só de si causa uma certa imprecisão
no equilíbrio mas apenas durante cerca de trinta minutos
de vendaval caído aquele em silêncio
da sucessiva chamada ao ventre dessa palavra

29 de agosto de 2018


Do face a face em caractere

Uma outra maneira
de não estar muitas e muitas
mais linhas traçadas em aparente acaso
da aparição
da contemporânea palavra
um não sei quê das orquídeas
algumas oitavas acima de consciência animal
e subterrânea
toma-se desses mesmos
fragmentos de espanto nas cadências
de uma voz altercada
e de lado e de fora se faz dentro e silenciosa

28 de agosto de 2018


linha acidental da palavra
agora chama musical adormece os sentidos no afectivo suceder daquilo que se queria
significaria
da alegoria
o breve encanto dos perfumes raros
e o da flor esvaida
no mesmo
de tanto tempo
no tempo
acaba por ficar
ao pensamento seguinte
que é melhor
que é elementar
e ecoa tautológico
como que num sussurro
de quem ora baixinho
em silêncio
a silábica compulsão das palavras elevadas
à profundíssima altura
do indizível
das auroras das romãs
do trigo e do azeite
do pão de cada dia
do vinho da reunião
da rosa e dos seus espinhos
da correspondente gota de um sangue vivificador
e metaforicamente corpúsculo
de barro
de manhã
do fundo
do raciocínio
chega circunstanciado na estação dos tecidos

27 de agosto de 2018


ao sair do lugar
desliza ao centro da posição
da sua mais ínfima carne
e dá que pensar
numa aparente facilidade

25 de agosto de 2018


não se pensava o que é próprio das ideias

casa silenciosa
o abissal da carne
a passo de modo
cortês
sabor de qualidade insisto
serpenteava
parecer-me-ia
por entre os corpos
ao redor
em volta
da noite
quando da sombra
de repente
supra o impassível
e encontra
nesse local
o coração do vazio
e aí permanece

24 de agosto de 2018


nunca é tarde
e na pele uma cheiro
rodopia de musicalidade
e enlace na voz
as mundanas imagens
daquelas demais ternuras

véu entre muitos
no chão da palavra escrita
estendido
traça o tempo
por meio do tempo inxistente

como dizer assim
daquilo ao primeiro instante
segue adiante
num sincopado silabar
linha fica
que escapa ao fundo da parede

do natural das partes mas em contratempo

em volta dos tecidos
um segundo deixa ficar
a tensão muscular
de seu fim significado
mas ainda distante da forma

23 de agosto de 2018


esotérica das ideias depois desenhadas ao fundo dos ossos num instante desaparecem

não de momento não mas seria
levado a cabo pois tinha de fazer melhor na sua carne
interior mas e aí pelo menos
mais dia fechado menos dia nas coisas
mais naquela imagem da carne em tentação mas sem nada de novo
mas de valor sem nada
mas antes queria brincar com as pedras

22 de agosto de 2018


esotérica do pensamento do mundo: faltam palavras para dizer

mesmo cor de castanho
tensiona de paradoxo
o parecer do sedimento
na curvatura da carne
não tanto por palavras
mas fragmaentos
mas antes irreconhecíveis

analogia do funcionamento da mão num movimento furtivo

o que de bom
se diz
ao de leve
e da noite
e de perto
de qual apelo
numa mesma volta
ressoa
de som
e de caminho
de a de

21 de agosto de 2018


esotérica da extensão mágica: a palavra é como que uma extensão mágica do resto do corpo por assim dizer isso ou uma outra maneira de dizer as coisas

de maneira desce
em lábil canto à vibração
localizada
no sentido segundo residual
da faixa do grito
cintilantemente
das pedras ressaltou de matéria nas palavras
mas ainda se sente o sabor

enigma quanto

nessa noite sucumbiam dedos por entre os veios da madeira e as azuis formas de uma suava envolvida carícia

nada do que importa
alguma vez chegou a ser dito
em nenhuma palavra
de historicidade e falta comum

basta ver que nesse tempo
e isto não deixa de surpreender
o silêncio das palavras
supunha-se chegaria no mistério
das elevadas notas
de dentro e de perto
à impossível raiz das gramáticas
através da noite quais partes
sem saber de sonho adiantadas
em sintonia de uma nova regra
(de um outro espaço)
em derrocada se extinguiam
e só ficava o sangue
nos descompassados ecos da linguagem
feita à medida do lugar
na pele por aromas interpretados
da convulsão dos antigos
escritos nasceram
aquelas negras sílabas
qual mais valia da exultação
da palavra que fica das letras
a descodificar de beleza
o eu pormenor da vogal acentuada
num esquecido segundo
ao redor dos olhos mas não
dos lábios como é mais usual
e que pois refere e (se) refere

20 de agosto de 2018


chegar nunca
será dessa dor
das outras vidas
tu antes de partir
de madrugada

o que conta na expressão é a descrição clara e precisa da intuição elementar pois as intuições elementares do pensamento são as intuições elementares da linguagem

linha

por momentos vacila
mas depois não seria assim que caminhavam
as máscaras
a iluminar a inicial da primavera
numa voz (eram poucas as palavras)
da paragem das horas
e os céus caiam em luminosidades terríveis

18 de agosto de 2018


esotérica das ideias: clarões de coincidência, de semelhança

Na fábula o consumar do acto está sempre suspenso de uma última palavra de réplica, como se desta lhe chegasse o motivo do desenlace, e daí se sublimasse, numa exterioridade sentida por assim dizer

Elea nunca se entre olham
para não se revelarem
e o campo vai-se povoando
dos seus gritos e murmúrios
e quando por fim tudo acaba
cobrem-se emudecidos
de reprodução e lamento

17 de agosto de 2018


esotérica da palavra: o dizer pela máscara, ou pela palavra, aquilo que não deve ser dito, é como que a estratégica expressão do eufemismo na fala, ou na escrita.

por sucessivas camadas
do ar da palavra
distende a respiração
num tu e eu evasivo
a sincopar as letras
- distraído -
do ponto de vista
das pneumáticas analogias

da hesitação

algo eu de não estar
em cada pedaço de uma despedaçada nuvem
e outro ao passar do tempo
sublinha em algumas linhas
de diferença
o hesitantemente agora chegar da rosa de olhar perdido
desce
aos joviais labirintos
das soberbas ofegantes metonímias
de origem
numa alterada respiração de amarelo carnal

16 de agosto de 2018


esotérica do objecto: o objecto deixa uma impressão de opacidade e o meio pelo qual o objecto é observado aumenta-lhe a opacidade

lapso

em língua de corpo
é noção de cansaço
perpassa o preliminar
da súbita altercação

sintagma de cansaço

outro de tangente e nocturnas imagens
da passagem do tempo escorre em lábios naturais
palavras de espelho e sangue
e em segredo (se) vai ficando como num sonho

15 de agosto de 2018


esotérica da atenção: uma não atenção de atenção

o olhar (reflexivo)
suspenso nos dedos
de uma nova pintura
mais garrida talvez
se costumasse
aliás de cada palavra

demora a dizer
numa língua de noite
um verso de página lenta
(não) tarda das palavras
a sombra o envolve
de impassível sentido

14 de agosto de 2018


esotérica do segredo: suspenso na face do único instante

cada qual consigo
se faça ideia
ao som da plavra
- por meio
de algumas incisões
de terra -
no sossego das coisas

em ansioso rubor
chama ao despertar
e de margem se veste
a voz adormecida

11 de agosto de 2018


esotérica da discrição : o detalhe de cada situação elaborado de sono

no ponto de equilíbrio

jorra em prateado reflexo a palavra
de perto sobrevoa lugar nenhum
e levanta o olhar enquanto se pensava
e faz aparecer o ocultamento da parte conhecida
por meio da correspondente dissertação

nada mais alentai da noite!

uma folha desce
a traço de outonal melancolia
naquela imagem
de quem chega ao caroço
das coisas e não volta
nas mesmas palavras de sempre

esotérica da irradiação silábica : basta um pequeno nó e as palavras sucedem-se como chap´wus ou origamis

10 de agosto de 2018


Breve monólogo do órgão de si espelhado por meio da palavra

por sinal um dizer
agradável sabes qual respirar das bocas
do nariz dilatado ao limiar do acontecer
em percurso indicador
táctil no caso
prossegue assim sabes
ou então como quem diz que é assim

esotérica daquilo que aparece : eles não se entre olham para não se revelarem

9 de agosto de 2018


brilha no telhado
um pardal intermitente
e alado se faz
ninguém
de estar num segundo

Do crepúsculo

por entre as ruínas
daquela reflectida imagem
crepuscular
e quase de noite
pulsam restos de fogo e de calor
que rodopiam verdadeiramente

8 de agosto de 2018


esotérica da opacidade: o dizer vive de ser dito e cada palavra é máscara de uma outra palavra

De madrugada

incolor silêncio de filigrana
antiga lei sussurra de orvalho
a manhã num esquecido vapor
sobe a causa do aborrecimento
por meio de uma voz cantada

7 de agosto de 2018


se tens de chegar a tudo isso
pelo menos que seja para sempre

retrato do tempo em partes de tempo

algumas linhas
de citadino recorte
contrastam primeiro
o movimento dos transeuntes
que chegam
depois aquelas nuvens passam
povoadas da sugestão
dos outros momentos possíveis

4 de agosto de 2018


ao circular cedinho de manhã
como que se fazia um parecer de terra queimada
e seca de pormenor
e alegoria e os seus veios chamar-se-ão
doravante o caído fruto
daquele pensamento que se situa entre a disposição
e a origem da palavra torre e de memória

Uma mão

de distante valor
em volta marca de espelho
os ajustados corpos
das palavras produção
de metais de sentido
entranha e corta, outra vez…

3 de agosto de 2018


acorda o dia
em trinados de passeio
e comovido sentido
nas imagens dos violinos
pungentes crescendos
de despertos dedilhados
em cadências de azul
porém de uma melancolia ligeira

2 de agosto de 2018


Uma lágrima sustenta
o escorrer interior
da face no seu caminho
e desconhecida se deixa
olhar que houvera
dos silenciosos suspensos
dias de nós sussurrados

31 de julho de 2018


de tal ideia

corre entre os dedos
da densa bruma
um não caminho de não estar
e não fica em volta
ao dissipado limiar
e de (se) sentir outra vez aproxima
um mais de dor
ao fundo das palavras

30 de julho de 2018


Do frio na carne ou hibernação

Portanto caro considerar
Do natural sentido assimilado
Em composição dos dedos tolhidos
Entretanto de inverno
Ao interior do lugar que se fecha.

28 de julho de 2018


Do discursivo

soa assim
mas claro dessa questão
de imagem pausa
e empalidece aquilo da palavra
sombra uma
e todas as outras vezes
de tal meio
nos deixa em silêncio de novo

27 de julho de 2018


Defronte a uma casa uma janela

Antes sombra de imagem
a palavra eu sobre mim por nascer
se faz nota dos mesmos emudecidos retratos
deste mundo em surdina dizias
por qual pergunta neste dia nos precede
adormecidos da própria voz
habitam fotogramas
desvelados de maçã sem saber porquê

26 de julho de 2018


O passar do tempo tem qualquer coisa de flutuantemente estético ou moral por assim dizer

Ao nascer do sol
da tua boca lembrava
o azul e as mãos
e na terra de seu nome
emudecida defronte
a noite passava
do gesto em silêncio

25 de julho de 2018


Não fazer sentido
qualquer dia de manhã
por caídas cadências
de gelo lhe chamava
o meio das pálpebras
lentamente sobe
dizer dos restos da sombra

23 de julho de 2018


Na parede
Em casa de luz
Intensa
Ao assalto da visão
Dos antigos portais
E dos pátios aliás abertos
De tarde
E nos jardins
Estremece a sombra
E agora me lembro
De estar

18 de julho de 2018


Por dizer flor
Dessa certeza deixai-me
O fazer a mais
Num papel de escrita
E fruta
Por assim dizer

Sei da minha vista sem perder do prurido
Na voz configurado de calor a dizer alguma coisa
Ou simplesmente a afectar uma mudança
De lugar daqueles tempos daquela boa nova de repente
A aparecer na casa de baixo junto ao corredor ao fundo da escada
Em individuais tapeçarias de concupisciência
E natural despojamento daquelas semânticas mais elaboradas

Essa foi justamente uma boa conversa de positivismo
De areia e era de manhã nessa ocasião
Saboreava uma pêra de polpa e circunstância repartido
Ao recanto da manhã em comoção lembrar-te-ia
Dizias que parece que foi ontem daquelas duvidosas lembranças
Nuns dias mais depressa e noutros mais devagar
De facto ou de barco ao fundo a passagem
Dos navios vogava o lugar dos oceanos de qualquer maneira
Não se fazia dentro e fora a um tempo
Mas soltava-se e de novo e se fazia dentro e depois
Fora e nos fazia tocar a paisagem de subentendido e meditação
Como se do sumo e da laranja se adjectivassem
As demais partículas mas não como se ficasse arrebatado
Ou demorado em prudência ou ainda de cada objecto povoado

Não balança pendular
outra vez
que balança devagarinho
qual pêndulo
que devagarinho balança

17 de julho de 2018


Atravessa chamada indiferente.

Imperturbável se nem desse conta que cego e surdo se deixava estranhar das atenções violetas e qual escolha ao dizer não da longínqua proximidade ou da recordação mas desse qual gesto em escutada palavra como se (se) perdesse em despudor de sorriso.

Passa a explicar

Aproximas-te me em fogo
E a intimidade (que se faz) despudorada
De cintura vestiu-se
Em cigarro de olhar vigilante
E brilhou de encanto
A cada eufemismo de origem

- de oculto e promessa
passa muito bem natural
de apelo e em volta da vivência
se veste por displicentes
notas e mais palavras
para quê curiosas
dessa mesma paisagem
fundam de sentimento
as monumentais seduções
poderia abençoar
as futuras visões outra vez
tranquilo na poesia
lembra-lhe como que extático -

13 de julho de 2018


As ‘figuras’ são como que complexos de sugestão em aglutinadora função de uma dada qualidade que acompanha os mesmos de um tom para cada tema a saber piedoso colérico descontraído ou sedutor por exemplo e sucedem-se estes como que numa calendarizada roda em função

Dos mesmos gestos
Dos mesmos trejeitos
De uma mesma ideia
Do apetecível momento
Das doces alegorias

Naquela voz se cuidasse
De si nas mais diversas situações
Por meio
De uma certa identidade
Recorre e vai ficando
E se faz nuvem
E mais assim que portanto caro

7 de julho de 2018


Lamenta sem não mas sem chegar

E permanece portanto
Aquela ordem natural das coisas
Que por assim dizer chama de agitação
E hesitantemente aquieta
De uma pertença que não mas sem perder de vista -
Flui-te em favor nas janelas e nas paredes
De um valor antigo e ao despertar
Traz-nos a distância
Aqui tão perto numa ideia de significado
Que ascende e finalmente
Regressa em cada sugerido principio

6 de julho de 2018


A ligeiríssima expressão
De qualquer coisa demora
Num qual escrito
À razão das palavras lhe sobe
Em saber de uma repartida chama
A que não chamaria lugar
Nem de repente

5 de julho de 2018


Lugar que toca
E foge – um repente frio -
A cada passo chega
Em sucessivo dizer das faces como tu
Que ficas no mesmo
De quem não vê cintilar sinais
De carne acesa
Nos campos raros da palavra –

Desfaz-se em gesto o silêncio
Dos invisíveis dedos das inteiras horas
Num relance às cintiladas águas
De pensar fugia a razão das coisas reencontrava

4 de julho de 2018


Fundamentalmente
Entre o silabar e o silêncio
Pausa a palavra
O acontecer da voz

Acontece-me de cada vez
Ao meio das mãos
Espera num entreolhar
E respira por fazer sentido

Um outro da terra
Ao sentir do dano azul
Semblante
Assim que nos chega do lugar

5 de junho de 2018


O instante acontecer do i
Indefine e suspende
Qualquer sugestão de contorno
Conforme à inabalável matéria

5 de março de 2018


esotérica da singularidade : o único critério possível de originalidade é a própria originalidade - qual simultânea presença de todos os aspectos na fonte de todos os aspectos

esotérica da esmeralda : a ordem celeste é mais ou menos o arquétipo da ordem social estabelecida

28 de fevereiro de 2018


esotérica da referência : a via do esclarecimento é a via do paradoxo embora de todo o não seja

27 de fevereiro de 2018


esotérica caucasiana : a via da metáfora é a via da garganta - não tanto assim silenciosa

esotérica do caminho : tomámos o mesmo caminho - não é uma coincidência ?

26 de fevereiro de 2018


esotérica da vontade: a coisa mais perturbadora durante o sono é a vontade de

3 de janeiro de 2018


Outras partículas em detalhado gesto rumo ao interior do ritual – ou partículas em gesto apenas.

Qual visão das vastas impressões do sono ao despertar uma detalhada espécie de vapor ascende e toma-se daquelas liberdades que assentam na vivificada matéria que adiante pousada em mimética pausa a rotação e numa circunstância por esclarecer recorda

Num dia de estremunhado
E esquecido fragor
Cessara em salto aos dias de antanho
E demais coisas ditas
Que propriamente acima
Procura nas desconcertantes cortinas.

Ahem - pigarreou – o aproximar das calendas aconteceu aqui!

Enquanto resfolegava daquilo interrogou se lhe parecera o nariz de um carmesim descarnado da composição sugerida daquelas grandes razões que lhe assistem e cogitou num processo de conjunto o previsível daquilo que invariavelmente ascende em nota ligeira e displicente considerou

O grado acento
Ao lado do vazio
No branco chão

Que de pálido rosto em cuidado e lentamente aproximara ao lento de si num ligeiramente pontilhado de terra e reluzente metal que

Qual reflexo de cinza
Polida do rasto
Denso em cada mão
Pairou de novo
Naquela cor de chuva

E naquele aquele tempo
Junto ao deslumbrado momento

Pareceu ganhar como que um corpo castanho de seco a traço que fica em fundição de palavras

Na melodia do mesmo
Ritual do costume
Que perplexo o marca
Na boca que espreita

E devagar de volta ao instante ali ressoou do fundo o olhar naquelas palavras que como que narradas pela voz de um outro demandam a tal ponto as eloquências que súbitas se levantam a renascer das cinzas.

Nas ondas do sorriso
Se diz chegada a hora que pertence
A cada um
Do substancial encanto
Soma de outrora
Que povoa os objetos de encantamento

(Dilúvios todos eles)

Que nesse caso de ocasião emerge em rubor de novo em palavra se faz nas coisas em condição de mesmo em acto imagem de fundo ocorre então naquela condição distante

Pois uma vez belo pomar
Soava de embalar
E do canto ao despertar
Se retirava então devagar

E de uma ideia de apelo se fez reflexo em figura se pertence a multidão de olhar porquê nos fragmentos de ninguém

Pois dessa ideia ao erradicar de qualquer outra ideia importa da ocasião o espanto ao primeiro olhar que ao pensamento cega de tão perto.

E de um passo retira
A elementar rotação
Daquela volta antiga
Em presença do som

Que percute.