23 de março de 2009

O real - uma abordagem.

Haverá um gerir* da realidade ou mesmo até uma orquestração desta pela escrita , dali um sentido tomado para o exercício da mesma que não será, todavia, como estoutro que inatenta a solução, transformação e relocação da mesma realidade ; escrita neste sentido. Assim sendo, o “sentido predicado” das palavras escritas neste sentido seria o encontrar-se fora do campo da escrita, no tal local impossível das “palavras”. E isto, claro, seria uma questão de sentido, da escrita, ou sentido escrito.

Como excessiva chave,
antigo, uníssono suspiro
do sol em batido azul ;
ou numa urgência da palavra
escrita, poder se ia dizer.

* o que se pretenderia não será gerir pois, bem vistas as coisas, tratar-se-ia de gerir o quê neste deserto, exactamente.

13 de março de 2009

“ ... não dissera Platão que nunca publicaria nada sobre os princípios supremos ? ... O que eram estas agrapha dogmata ? A única possibilidade de as identificar é apenas uma lição “Sobre o Bem” que Platão deu a um público desiludido que veio para ouvir falar de felicidade e onde em vez disso se tratou de matemática, geometria e astronomia ... a ela assistiram Aristóteles e outros membros da Academia que tiraram as suas notas ... “

F.E.Peters ; Termos Filosóficos Gregos – Gulbenkian.


Pergunto me se a razão pela qual Platão teria esta atitude de pudor em relação à notação dos “princípios supremos” não seria similar à que é atribuída a grandes vultos da literatura como Kafka, Sade* e outros que teriam, estes, manifestado o desejo de que a sua obra lhes não sobrevivesse ?

Dir-se-ia, dada a proliferação estatística deste tipo de casos, que o tal raciocínio da fogueira surgiria naturalmente ao pensamento de um grande pensador, ou escritor, num certo estádio de desenvolvimento e eu, pessoalmente, creio tratar se de um “raciocínio” perfeitamente plausível, neste mesmo sentido, o atribuir se a um grande escritor, ou pensador, este tipo de pudor, desejo, ou intenção pelo menos.

E digo isto pois suponho que no decorrer desse processo dinâmico** a tal “própria verdade” desses princípios” tomar se á*** como representação instantânea**** das operações da regra do jogo assim produzido na imagem, que “terá”, desse único instante aleatório de “fundo” o seu “valor substante” e ilusório como que por passe de mágica, assim, desmistificado.

Isto, obviamente, deixará aberto o campo do efeito, da inscrição tomada aqui/ali no campo como modelo congelado na figura, como dado adquirido, espalhado, neste campo que se fecha, ridículo.

Daqui talvez o tal pudor***** referido por força das circunstâncias das operações debitadas dos referidos senhores. O poder ? Não se sabe. Quem sabe ?

Claro que esta história assim tomada, quero dizer, o “atingir” desta história e dita como foi dito poderá tomar se como uma das tais “figuras dinâmicas” em jogo e, como tal, matéria de história contada, do que diz se, e cuja “notação”, já se sabe, é a da “violência” – olha, e não é que afinal digo mesmo.


*diga se a propósito destes dois, kafka e sade, que fará até tanto mais sentido - tomadas as devidas nuances de contexto e “matriz” - o seu sentido radical da fogueira podendo, obviamente, este seu desejo ser tomado de um ponto de vista “humanista” ou não embora que por razões não tanto assim diversas.

**dos/nos próprios processos físicos do pensamento e da escrita e sua notação por meio e fim das figuras assim num momento “descritas” ; em suma.

***na imagem desse instante “sacrificado”.

**** ”... a apreensão imediata e simultânea destes dois movimentos incompatíveis é qualquer coisa de irracional, é impossível ao pensamento discursivo concebê-los ao mesmo tempo.”

V.Jankélévitch – ( prefácio a “A tragédia da Cultura” de G. Simmel)

*****Ainda acerca do pudor de Platão diria que Aristóteles na história acima descrita não partilharia totalmente do sentimento do seu mestre ; que Hegel advertiria para os perigos da dialéctica às cegas, neste sentido ; que Joyce – e que ousadia a de Joyce e da sua arquitectura processual****** - não teria quaisquer pruridos desta espécie embora isto não seja provavelmente assim e que Freud “deveria” ostentar um sinal luminoso de advertência******* em cada parte da sua obra o que, com toda a certeza, teria um efeito contrário ao pretendido, até pelas “razões” acima “expostas”.

******O próprio diabo ! Como diria Italo Calvino.

*******Talvez um sincretismo do género : Tudo é eros/tudo é vaidade.

11 de março de 2009

Ilha.

Rasgos de tempo
tecido em pó
de rasto imóvel
no fundo castelo
da propagada torre
à perdida hora
crepuscular
- só isso –
fumo, desenhado
de horizonte em fuga.

Recomeçara
ao passar a vigia
novamente
as linhas de ronda
à sombra do recinto
aceso, grito
volátil, festivo
numa passagem
de atreitos
às penínsulas desamarradas.

10 de março de 2009

Metalúrgica ressonância.

Da carne a solo
em dúctil remissão
da terra firme
os tambores
ruidosos lagos
em fúria na manhã
combustível
dos fogos deserdados,
tropéis em cinza
da manhã persa
às enseadas em vista
de horizonte
num gesto líquido
as barcas dos homens
alicerçados de feitos
em glosa de guerra,
restante sal reflexo
nas batidas superfícies
do ferro em chama
como aço de marca
extinta liga incandescente
afusa corda à vista
em sangue e azul,
das rodas e marés,
aos montes numa palavra
da questão que gera
a condição do fogo
aprisionado em câmara
impressa de virtus,
no conceder imagem
da melancólica razão
que assiste ao entrar
a distante curva do sol
em linha de cruz,
numa linhagem balanceada.

6 de março de 2009

Como fatalidade do sonho
em tudo ilegível imagem
da impressão funda
nas palavras a tropel ;
em expressão de trabalho,
ou exercício de urgência,
em ordem ao caminho que seja.

O batimento ocorre
é por mais sentir
destes e nestes tempos
duma dor talvez,
mundo fora instante
fica neste olhar
sequer que lembrava,
ilha em sol, reflexos
vidros entre olhar
no fundo azul
do lugar estranho,
que digo, o teu* som do silêncio ;

diz se :

nada mais vale,
em tanto tempo,
sem tempo,
chegue um dia,
o sair, o chegar.

5 de março de 2009

O rio, claro.

Linhas, curvas,
as correntes num sopro
através do rio, ruivo,
alaranjado perfil da maré
na caída cinza, ao longe
dum fogo pálido.

O recomeço do crepúsculo,
as fontes em passagem.
O antimónio gasto.

por passado em vista – concorda -
ponto posto o reconhecer - distendido –
num (eis)* castro culto – aposto -
numa (novamente)** ontologia agrária.

Plástica forja encima
como massa do rudimento
da fóssil permuta
numa proverbial maré dos calamares.

*quando diz se eis diz se o surgir de condição.
**e novamente diz se da cena.