17 de dezembro de 2008

A propósito de Borges e de uma "corrente" a guardar o acesso aos "Palácios da Cultura".

Hoje em dia, dir se ia, que (alguns) dos "guardiãos do segredo" atingiram um tal estado de "umbiguismo" que já não fazem a mínima ideia daquilo que estão a guardar, continuam a guardar, no entanto.

E o mais irónico no meio de toda esta "situação" insólita é que aqueles que ficam do lado de fora da "corrente", assim impedidos de entrar, são aqueles a quem se destinava o "Palácio" aquando da sua "construção" que, entretanto, cá fora, nas covas, vão tentando conversar com os "trogloditas" que, como se sabe e alguém disse, foram, afinal, os "construtores" dos ditos "palácios".

É caso para dizer, parafraseando um outro alguém, que " hoje em dia apenas os mortos detém o conhecimento (simbólico).

16 de dezembro de 2008

Urso e Sorriso.

Um dia, Sorriso encontra Urso e pergunta lhe se o seu nome não é “Kak”. Fica logo encolerizado o Urso e apresta se a bater em Sorriso que se esconde por detrás das suas costas e, aqui, aproveita para lhe inflamar o tosão.

Incapaz de extinguir o fogo Urso promete a Sorriso entregar lhe quatro encantamentos mágicos se ela o socorrer.

Desde então basta alguém munir se de alguns pelos do seu velo para nada ter a temer do Urso.

C.Levi-Strauss ; La pensée sauvage ( navajo)


Urso e Sorriso na Pós Modernidade.

Um dia Sorriso encontra Urso e pergunta lhe se o seu nome não é “Kak”. O Urso, que vinha dali profundamente impressionado a pensar na “famosa disjunção” que o Lobo lhe tinha ensinado e que é vulgarmente conhecida pelo nome do dito animal, ao ouvir o som emitido por Sorriso não pôde deixar de pensar que aquele som se adequava bastante bem ao que “via” naquele instante. Num sorriso olhou Sorriso e achou lhe grácia.

15 de dezembro de 2008

Verbo de colorir, selvagem.

Passo de corrido o canto e perto
tirado no desenrolar do mundo assim ;
como nos caminhos descalços, nus.

Em lato atingir desta hora, tardia,
a vontade ocorre em motivo de assomo,
num pensamento que basta se ; dois,
o rumor além da memória,
num satisfeito rebordo do sangue salpicado.

10 de dezembro de 2008

Tamat - o logaritmo.

Como técnica de colagem, entrecortada, a escolha, das operações, de depuração, do vómito num relato circunstancial, pneumática analogia que reservo, atento, num exercício que escutasse/recordasse o patinhar do arranque.

Os tambores, no início,
do respirar, o acto directo,
e certo, assunto de notas,
e encontros, musicados,
num aleatório da dissemelhança ;
num luxo das palavras.

E o durar numa inspiração de onda curta ao tomar do ar ou então o fazer isso que é auto, gerado, no relatar disto que chama se a palavra após palavra como

agregado, oculto, do sopro,
e do som, e na duração
do encontro, desta unidade,
e dos termos, numa mesma
laringe, de figura ; arquefacto
grotesco, mistificado, assente,
em proveito e risco, e no através,
do latejar, a congregação assim

posto, em nome de qualquer pretérito que extende e distende as paredes que buscassem uma aderência, ou um resquício, coincidente, sim, uma lente*.

E na arte, da produção,
de tal encontro, e nas palavras,
aderentes, desta passagem,
respiram se, logo, os encontros
a cada mais, que ligeiro
figurasse essas paredes,
como na parábola ; polido
numa travessa à espera da lua,
cheia, e continuado, a visto,
das traqueias absolvidas,
circuladas ; como num encontro,
que fora, afastado, enfim,
num respirar fundo, numa palavra.

Convenhamos então nas declarações do proceder como de um fundo, tirado, um desenho, deixado, aos restos, pelas paredes, aderidos, devagar, numa preparação, ou num salto dissoluto, que concede, e por vezes, como que num encontro que eleva, esquece e por fim nessa capacidade de entrar, de impregnar se.

9 de dezembro de 2008

Efeito. Composição.

Vêm da noite, detrás dos olhos,
traçado, em vigília, o sol, do ocidente,
chegado, neste encontro, oriente.

E tirado aos lados, em vazio,
faz se, antigo à vista, modulado,
feroz, num momento ocidental ;

- de novo o nascer antigo
ou verso estende se desta paisagem
como que num fim de verde

e límpidos os correm os ramos
e os rumos num véu plácido
da dança por cada dos aromas,

num mover, no cheiro, de instante
concordo, o oriente, do som
e da terra ; negro o cabelo da rosa.

Antes do sol da estepe sem nome o corre a origem de um conto,
de canto oriente, que chega, o sol negro, qual, num movimento.

24 de novembro de 2008

A.Artaud.

O que é a motilidade ?

É o poder de fazer se
si mesmo corpo
em função

de uma vontade
de rapacidade,
de bestialidade,
de brutalidade,
de força,
de contenção,
de dignidade,
de honra,
de desonestidade,
de arbitrário,
de intensidade,
de obscuridade,
de apagamento,
de reserva,
de abstenção
de contracção,
de privação,
de cupidez,
de afastamento,
de desinteresse
e de dor,

a qual
vêm da rotação vertical de um corpo desde sempre constituído e que num estado além não cessa de se endurecer e sobrecarregar pela opacidade da sua espessura e da sua massa.

O critério é o chumbo inerte da contracção plena de um puro estado de desapego, de desinteresse feroz
que permite nada sentir de qualquer ideia, sentimento, noção, percepção.

Antonin Artaud ; Textes écrits en 1947 ; Oeuvres.

21 de novembro de 2008

L. Wittgenstein.

Numa corrida, o touro é o herói de uma tragédia.
Primeiro é feito louco de dor. Conhece, de seguida, uma longa e terrível morte.
Um herói olha a morte de frente, a morte real, não simplesmente uma imagem da morte.

Agarrar se durante uma crise não quer dizer ser se capaz de desempenhar bem este papel de herói - como num teatro - quer dizer ; ser capaz de olhar a morte, ela mesma, nos olhos.

Pois o actor pode desempenhar uma quantidade de papéis mas no fim é preciso que morra, ele mesmo, enquanto homem.

20 de novembro de 2008

Plácido o dia a tempo
seco o sol quente,
outonal ;

de reposta memória numa coloração,
de domingo o próximo odor, atento
o desdobrar do alcance ao mundo assim,
como que nos caminhos descalços, nus

num vago alinhamento,
do correr adormecido,
que vê se em tempestade
... lá mais para a tarde.
Rumor na hora da cidade.

Após da noite o passar febril
e vêm gélido ao clamor do sol novo
o correr largado ao dia a continuar,
do sono, numa sua cegueira,
e a via larga a vida ao fervilhar
claro, e a esta hora do rumor.

Sempre a cidade acorda qual véu lançado numa intensa idade do feito,
aqui, num correr que atingida é da miragem mecânica e surda, sensual,
desfeita em dia da pele e das cores, dos expressos, do excesso da vida,
e dos corpos, do sangue a como num fugaz palpitante pôr plácido dos olhos,
solícitos, e feitos, a um ganho ou num arfar e forte o desta hora, que desperta,
como que num animal que se desse, solícito, afecto.

17 de novembro de 2008

O rio.

O reflexo fasto, a esbatida luz,
o crescendo aquático cintilar que voga,
o pré disposto tornar, desperto,
o tempo, apossado de insinuante abertura.

O corpo a ficar, o olhar perto.

Como numa aceleração da temperatura ao descalabro ou o mundo a quente numa transformação, solúvel.

10 de novembro de 2008

Águas de cinza,
ao longe, as curvas em colapso
frio, o reflexo da qualidade nocturna.

E o entrar, da prata,
um espelho, as facas,
as ondas do aquático, mar, baço.

Das linhas, distante, ocorrido,
é claro, o clarão das brumas,
das bermas à deriva.

Do rio, a substância,
em mover, musical,
fuga da solenidade, ligeira
numa sua imposição,
que navega o de correr,
e marcado, o grita,
dela, o riso à sua presença.

Da vida, do fazer se,
à sombra,
o navegar destes magníficos
apenas num tom, de prata,
escuro, baço, reflexo
estendido na noite,
como horizonte,
de um pensamento,
inútil, como de tal cantiga,
repetida, nesta noite, baça.

Numa demora, nem ausência,
na vida, clara imagem,
tomada, apenas tela,clareada.

23 de outubro de 2008

O grito, o não, a ligação,
o atirar do gesto, estudado
enfado, a encher o ar num
tal suspiro, belo feito.

como jogo, fogo de solução ;

ou mais represente se e dir-se-ia que põe se e continua
como prévio seduz tacto sugere de ignição inicial
espero feito tifo que (de) tal matéria estava
num passar de como que estilizada
que coloração, primeira.

21 de outubro de 2008

Marmóreas superfícies.

Alonga se o de terminado gesto
que corre num lateral esgar

- capta o sopro,
completo do som,
destacado em gotas,
de espuma nefasta -

incolor como cravado discorrer de traço agitado
reposto de descoberta corrente à escarpa do laço

por descobrir, e já feito, e porém –

14 de outubro de 2008

W.Benjamin - Sobre a pintura ou signo e marca.

A. O Signo

A esfera do signo abrange diferentes domínios que se caracterizam pelas diferentes significações que aí revestem a linha. Tais significações são : a linha da geometria, a linha da escrita, a linha gráfica e a linha do signo absoluto (a linha mágica enquanto tal, ou seja, independentemente do que esta representa).

a), b) As linhas da geometria e da escrita não serão aqui tomadas em consideração.

c) A linha gráfica.

A linha gráfica é determinada por oposição à superfície ; esta oposição não apresenta, aqui, apenas uma significação puramente visual, mas, também, uma significação metafísica. À linha gráfica está ligado, com efeito, o fundo sobre o qual esta aparece.

A linha gráfica caracteriza a superfície e determina-a ligando-se-lhe como seu fundo. Inversamente, não existe linha gráfica senão sobre um tal fundo por tal forma que, por exemplo, um desenho que recobrisse inteiramente o seu fundo cessaria de ser um desenho. O fundo vê, assim, assinalar se um lugar preciso, indispensável ao sentido do desenho, donde resulta que, na obra gráfica, duas linhas apenas podem determinar a sua relação mútua em relação ao seu fundo.

– um fenómeno que, de resto, põe claramente a diferença entre linha gráfica e linha geométrica.

A linha gráfica dá ao fundo a sua identidade. A identidade que apresenta o fundo de um desenho é totalmente diversa desta superfície de papel branco sobre a qual o desenho é traçado, e, segundo toda a verosimilhança, esta deveria mesmo ser excluída desta relação se quiséssemos concebe-la como um movimento de ondulações (eventualmente indiscerniveis a olho nu) de cor branca.

O desenho puro não altera a função do fundo na emergência do sentido gráfico quando o “economiza” em branco. É o que explica que a representação do céu e das nuvens num desenho possa, neste caso, revelar se perigoso, e servir por vezes de pedra de toque para julgar da pureza de seu estilo.

d) O signo absoluto. Para compreender o signo absoluto, quer dizer, a essência mitológica do signo, preciso seria já saber alguma coisa da esfera do signo, da qual se pôs a questão no início. Esta esfera, em tudo estado de causa, não é decerto um medium, mas representa uma ordem que, muito provavelmente, na hora actual nos fica totalmente desconhecida.

Entre a natureza do signo absoluto e o da marca absoluta a oposição é no entanto chocante. A esta oposição, de uma importância imensa no plano metafísico, será preciso primeiro procura-la.

O signo parece implicar muito claramente uma relação espacial e ligar se mais à pessoa. A marca (como iremos ver) parece apresentar uma significação mais temporal, excluindo todo o aspecto pessoal.

Os signos absolutos são, por exemplo, o signo de Cain , o signo aposto nas casas dos israelitas logo que a décima praga se abatia sobre o egipto, signo sem dúvida semelhante ao do qual se trata no “Ali baba e os quarenta ladrões”; com a prudência necessária, podemos conjecturar destes casos, que o signo absoluto possui uma significação antes de tudo espacial e pessoal.

B. A Marca.

a) A marca absoluta.

Tudo o que possamos descobrir sobre a natureza da marca absoluta, quer dizer, sobre a essência mítica da marca e na medida em que seja possível daí descobrir qualquer coisa, reveste se de uma enorme importância para a esfera inteira da marca por oposição à do signo.

A primeira diferença fundamental vêm de que o signo é aposto do exterior enquanto que a marca ressalta do interior. Isto indica que a esfera da marca é a de um medium.

Enquanto que o signo absoluto não surge ao primeiro olhar sobre o que vive, mas encontra se igualmente inscrito sobre objectos inanimados como edifícios e árvores, a marca aparece principalmente nos seres vivos, (os estigmas do cristo, o enrubescimento, talvez as marcas da lepra, as marcas do vinho).

Não existe oposição entre marca e marca absoluta pois a marca é sempre absoluta e não se assemelha a mais nada na sua manifestação.

É de facto marcante que a marca, como o exige a sua relação com o vivente, se encontre frequentemente associada à falta (enrubescimento) ou à inocência (os estigmas do cristo) ; e mesmo quando ela aparece sobre um objecto inanimado (o anel solar na peça de strindberg avent ), ela é frequentemente um recordar da falta.

Mas aparece então ao mesmo tempo que o signo (belshassar) e o carácter prodigioso do fenómeno repousa principalmente sobre a conjunção destas duas figuras, da qual unicamente deus pode ser o autor.

Na medida em que o laço entre a falta e a expiação abre uma relação mágica no tempo, esta magia temporal aparece essencialmente na marca no sentido em que a resistência do presente entre o passado e o futuro é suprimida e estes se religam magicamente para fundir junto sobre o pecador.
Mas o medium da marca não comporta unicamente esta significação temporal, têm também, por efeito, como o enrubescimento o mostra de uma forma particularmente perturbadora, o resolver a personalidade em certos elementos primordiais.

Isto traz nos ao laço que une a marca e a falta. O signo, por seu lado, distingue frequentemente a pessoa, e esta oposição entre signo e marca parece, também ela, fazer parte da ordem metafísica.

No que diz respeito à esfera da marca em geral (quer dizer o medium da marca em geral) tudo o que pode ser estabelecido a este propósito, no presente contexto, será tirado do exame da pintura. No entanto, como dissemos, tudo o que é verdadeiro da marca absoluta é de uma grande importância para o medium da marca em geral.

b) A pintura. A imagem pintada não têm fundo. E uma cor nunca se estende sobre uma outra, quanto muito aparece esta no medium daquela. E talvez mesmo isto seja impossível de estabelecer, por forma que, em certas pinturas, não saberíamos fundamentalmente dizer se tal cor pertence a uma camada profunda ou superficial.

Mas esta questão não têm verdadeiramente sentido. Não existe fundo em pintura e tão pouco existe linha gráfica. A mútua limitação das superfícies coloridas (composição) numa pintura de Rafael não repousa (repose) sobre a linha gráfica.
Este erro decorre em parte da exploração estética do facto puramente técnico de que os pintores, antes de pintar, compõem o seu quadro sob a forma de desenho.
A essência de uma tal composição não têm, no entanto, nada a ver a ver com a arte gráfica. Apenas na aguarela a linha e a cor se religam : aqui, os contornos traçados pela pena ficam visíveis e a cor aplica se de maneira transparente. O fundo, mesmo colorido, é conservado.

O medium da pintura pode ser designado como a marca no sentido estrito ; porque a pintura é um medium ela é uma tal marca conquanto que não conheça fundo nem linha gráfica.

O problema da obra pictórica apenas surge àquele que compreendeu a natureza da marca no sentido estrito, e que, por esta razão se espanta por encontrar na pintura uma composição que não pode, no entanto, relacionar a um elemento gráfico.

A existência de uma tal composição não é ilusória e não é por acaso ou desprezo que ao olhar um quadro de Rafael o espectador distingue na marca pintada configurações de homens, de árvores, de animais. Convencemo-nos disto logo que consideramos que se a pintura nada mais fosse que marca seria deste facto impossível nomeá-la.

Ora o verdadeiro problema da pintura deve ser encontrado no principio que põe que a obra pictórica é com certeza uma marca e que, inversamente, a marca no sentido estrito apenas se encontra na marca pictórica, e que esta, por outro lado, na medida em que é uma marca, apenas o é na própria pintura mas que por outro lado o quadro, sendo nomeado, se encontra relacionado a qualquer coisa que não ele, quer dizer, a qualquer coisa que não é da ordem da marca.

Esta relação a isto do qual o quadro é nomeado, a isto que transcende a marca, é a composição que o produz. Esta assinala a entrada de uma potência superior no medium da marca, de uma potência que, conservando a sua neutralidade, ou seja, sem dissolver a marca por meio do grafismo, encontra o seu lugar na marca sem a dissolver e precisamente porque esta é incomensuravelmente mais alta que aquela, mas não lhe é hostil : é lhe, pelo contrário, aparentada.

Esta potência é a palavra, que – invisível enquanto que tal e manifestando se unicamente na composição – se estabelece no medium da fala pictórica. A imagem pintada é nomeada da sua composição. Compreendemos imediatamente a partir daí que marca e composição são os elementos de toda a pintura que se pretende nomeável.

Uma pintura que não comportasse esta pretensão cessaria de ser uma pintura e oscilaria no medium da marca em geral que está para além de qualquer representação. As grandes épocas da pintura distinguem se pela composição e medium, pelo género de palavra e pelo género de marca no qual esta se estabelece.

Bem entendido não pode ser questão o combinar qualquer palavra e qualquer marca. Mas poderíamos, por exemplo, considerar que nas pinturas de um Rafael se trata antes de tudo do nome e nas obras dos pintores de hoje antes de tudo do juízo que penetrou a marca. Para o conhecimento da relação entre a pintura e a palavra, a composição - quer dizer a nominação - é determinante ; mas, de uma maneira geral, o lugar metafísico de uma escola ou de uma pintura deve ser determinado em função das diferente espécies de marca e de palavras que se manifestam, o que pressupõe pelo menos um certo avanço na arte de distinguir as diferentes espécies de marcas e de palavras – uma arte da qual não possuímos ainda os rudimentos.

c) A marca no espaço. A esfera da marca manifesta se também nas formas a três dimensões, igualmente ao signo, através de uma certa função da linha que apresenta, indubitavelmente, uma significação arquitectónica (e também, portanto, tridimensional).

Por esta única significação se ligam visivelmente tais marcas no espaço à esfera da marca – por qual maneira ficará a determinar por pesquisas precisas. Estas apresentam se principalmente sob a forma de túmulos ou memoriais, entre os quais unicamente as figuras que não receberam forma arquitectural ou plástica constituem naturalmente marcas no sentido próprio.


Walter Benjamin ; Sobre a pintura, ou : Signo e marca ; 1917. (Traduzido do Francês)

9 de outubro de 2008

.

sombras voláteis
no cair da maré, viva.

filamentos de ferocidade
que são do profundo mar
como as téticas hostes
(a)levantadas num rugir vago,

voraz,

ossadas ocas de cabo, desfeito,
ou de um regresso, talvez,
obviamente, novas palavras,
consumações, sedimentos, dias.

3 de outubro de 2008

Sentia no esgotado
o chegar do limiar
malévolo e insistia
como fronteiriço
às pálpebras
onde o olhar voga
de mente e capta
tudo isso num certo
passar que dez fita
como concatenação.

Por aí reverbera o movimento
como num esgar observado,
transitado em ténue ocorrência.

*

aura da hora do levante,
um ouro ouso de oriente.

25 de setembro de 2008

Do cintilar aberto erro o fio (a)lado à vista das angras ressequidas em denso palavreado que faz se carga, dos ecos, impresso, auto, fixo.

Faz envio o mais ou t®inta por linha de onda simples em destacado arco na nítida distância, rios de cores cruzadas, visitadas ao alcance da previsão e perto às longas latitudes.

Sincopar depois do desvario acomodado já o seu pertencer se sai traçado o solto caminho onde prouvera ser, como (n)um salto que busca os solos de conversão, ao fim do rio farto, do porquê, mas não mais.

Passa o sonho o que aspira se ao sol atento sem fazer ideia, até que a ideia chegue, tecto isso, antes, a um observar adquirido nesse instante, como sem cor.

címbalo impossível ;

é nisto que atenta a recordação que junta se como só fora fio,
de cá, de lá, feito ou como que imergido de sol, do sol toque,
como memória impressa, afecta, do instante soberbo, híbrido.

24 de setembro de 2008

Artaud - Fiz um sonho excessivo.

Eu era um tronco lamentavelmente cerrado entre o ferro do sangue e a chave da compressão que faz árvore, era, portanto, esta árvore de sangue jorrado da volta extrema da minha chave. – E avançava no imenso mim mesmo quando compreendi que não avançamos em si mas em parte nenhuma, e que o eu é esta ilusão criadora de insectos chamados eternidade, infinito, cosmos, universalidade. – E que todas estas ideias eram seres que me afligiam da sua obstinação em fazer se viver porque um dia me abandonei. – Pensar princípios em vez de pensar seres com seus corpos foi a fraqueza que deu à luz esta imbecil humanidade que do cume do seu espírito santo pensa as árvores pelo rebento em vez de as sofrer primeiro pelas torturas da raíz e da tortura da sua raíz compor, pó a pó, a terra que lhes dará de crescer. –

Veremos o que se sustentará melhor disto que criei ou disto que destrui.
Ficará destruído o que destruí, ficará criado o que criei ?
Pois é preciso que as coisas me peçam para ficar para que eu as aumente.


Antonin Artaud ; Textes et lettres écrits á Rodez en 1946 ; Oeuvres.

22 de setembro de 2008

Os Seres ...

... não saem
à luz do dia

e não têm outro poder
que não seja o jorrar
na subterrânea noite
onde fazem se

desde a eternidade,

e passam o seu tempo
e o tempo
a fazerem se
assim,

e nunca um
sequer se produziu.

É preciso esperar
que a mão do Homem
os tome e faça

pois só
o Homem,
inato e predestinado
têm
esta temível
e inefável
capacidade

de tirar o corpo do humano
à luz da natureza
e mergulhá-lo vivo
no clarão natural
onde o sol desposará,

por fim.

Antonin Artaud ; Textes écrits en 1948 ; Oeuvres.

16 de setembro de 2008

Memória do deserto.

Começara ao ali cair
o tempo a fazer se naquele estado
a caminho, e o olhar, no deserto.

(N)aquele prévio tempo como altura do dia e logo
é raio alto e só imenso o caminhar, e quanto pior,
que o melhor do que aproveita o deserto, ao deserto
é seu fim, feito e nesses dias, da memória, do rarefeito
ar, cerrado ; o claro olhar no ir do deserto é que cai fundo,

Estãncias dos de si mortos e no deserto as por completas
paixões como séries de passado que sempre traz o grito e
gaza a memória que enquanto corre é não mais do que a
miragem de um avanço, ou pé após pé, ou mesmo até ao
depois do deslizar da memória soberba ou os seus traços
incinerados, ou o sol no braseiro, do deserto.

Já não queima após este o levar por quanto tempo caído e
apenas o deixa, calcinado, o traço que fica dessa memória,
do deserto, e aquando das horas que ausenta o aval da hora
passa, da miragem, da cólera que dali corre e tudo fica ao
tempo faz se, nessa hora o deserto do silêncio, olhar aberto
por instante ; e tudo isto já não é mais que o valha, ou tudo
antes que passo, após passo como pode ser no deserto, nele
os olhos vistos a claro contado traço de, pois, do deserto.

- e é memória da memória a do deserto -

12 de setembro de 2008

Qual disto quer se falar
a não pensar e nisto
ilude, o atingir fundo,
a soprar a névoa,
que não deixa,

e antes,

(o que dir-se-ia)

o ri te qual que dá-te vida
e como questão,
e porque meio a soltar,
o punho desconforto,
ao forçado continuar,
e atento, o momento, que
força se o estado, esquece,
solta que sabe o lá, lá está,
livre na mão, isso, na mão.

E propriamente mantém se nos rodados instantes da zona,
ausente, ou até do que é chamado o cume que parece ;

que

ri,
da,
e,
logo
do
rodo
dá,
e dá de si,
do daqui,
de si

a (resposta).

por reverberado galanteio de solenidade
ou outras ondas soberbas tomadas de
ressonância e veste, magnética s termo,
o dizer, e logo fundo a livres pó s solene s
tendido plano que falta um dia, que dizer
e logo outro vácuo o instante e trabalha,
fundo de outras letras e lugares de pé, pois
seja o que diz, se, faça, que não -

e depois digo como que funcionar traçado e fito isso,
a ver outro apagar -

de facas
frio s

solene astral que fixo
e
mais nos não fique por que já os olhos cintilavam,

e é o que se quer, e o discorrer, e por aí a mais, e por aí a mais, ou que seja, logo se põe, digo, que ficar fico , o que por lá têm se, a metro, ou o que, por que havia a dizer, é ; assim a mais mas como que litrado de desconexão, assimilada ; e mais, e mais :

- li pi ri a di, do, da e fica di, s, tinto, cai –

(e para mais já basta assim, dir-se-ia. onde ?)

Já, mais por algo se pudesse contemporizar se disse
a solução a levantada e logo (a) estoira se em desmando,
rasgo que acerta se em diz, em trato da distância, como
palavreado da decomposição a dez rios de artes várias.

Uma adiantada locação tirada do desdiz se ali chega e são logo do s olhos as longas alturas, (como) pronta analógica s e posto é à solução e diz se, outra vez, o que te passa,
e fá-lo, limitado -

faz correr
ideia
que traz
ideia,
e só atenta,
e logo limita,
pois não ;
que :

ala cardume do alto raio da fila de cá que cá lá faria o fantástico comemorar, sita, tino, rio, em solução de água doce e linhas de produção lançada, como for estado, o que logo foge - (a)

liqualitratrodesidenamais

o

– al.to.de.ta.vi.º


- que leva as roucas soluções de análise, à astálise, onde ficaria, assim, como que não mais ligado em estratos de.
at. (ª) mn s

ou seja ;

em rasgado li,
num longo li,
em trode,
ou safio

ou que seja o que tarda no olhar que quer se e nos olhos que batem,

que
mais
e
mais,

que pois,
que sim,
que não,

que são ?

28 de agosto de 2008

laminal
corte

o estado vazio esta palavra
que fala,

que é sempre,
e como fazer
surgir

na tela do junto instante

a
palavra
à palavra

(que não é ideia)

ou qual dizer como qual corpo deste,
ou disto, que faz se choque,
ou pensamento.

19 de agosto de 2008

Lamuerte#3

Sonda a morte ao que levanta se
na garganta o porquê do baixo canto
da vida e o amor murmurados,
hábito do dizer vazio, cruzado
traço te o que chega sincopado
mente um qualquer destino que nos cerra,
o contado prazo e a pintada ficção feita,
tua, digo, soberbo o rebentar silêncio o dia
o diz, a velha morte atento como no clarão azul -

pois lançado grito ou fácil por diante vocifera sabe,
como inteiro instante o teu mal surgir, agreste
em cada grito ou grande o morrer na voz que cai
tira te, à luz da morte e ao signo o clarão dela
que possa partir e deixar me, enfim, na junta
vida a morte assim que corre ou dizer, ou nem isso –

18 de agosto de 2008

An.

Logo

do
estado

corre
o erguer

que tolda o magnífico véu s,
os rasgados recortes ;

como :

afoito do grotesco a ressurgir em comédia,
ou anómala música da locação que escapa,
diz se, mais e regressa nunca aposto ou talvez,
como mil figuras ou toldado das canções,
que esgotam se aos olhos, do espanto que falece, diz.

12 de agosto de 2008

Baudrillard.

O simbólico é o que põe termo ao código da disjunção e aos termos separados.

É a utopia que põe termo aos tópicos da alma e do corpo, do homem e da natureza, do real e do não real, do nascimento e da morte.

Na operação simbólica, os dois termos perdem o seu principio da realidade.

Mas o principio de realidade não é mais do que o imaginário do outro termo. Na partição homem/natureza, a natureza (objectiva, material) é unicamente o imaginário do homem assim conceptualizado.

Na partição sexual masculino/feminino, distinção estrutural e arbitrária que funda o principio de “realidade” (e de repressão) sexual, a “mulher” assim definida nunca passará do imaginário do homem.

Cada termo da disjunção exclui o outro que se torna o seu imaginário.

Assim acontece com a vida e a morte no sistema em que nos encontramos : o preço que pagamos pela “realidade” da vida, para a viver como valor positivo, é o fantasma contínuo da morte. Para nós, vivos assim definidos, a morte é o nosso imaginário. Ora, todas as disjunções que fundam as diferentes estruturas do real (...) têm o seu arquétipo na disjunção fundamental da vida e da morte. Eis porque, seja qual for o campo de “realidade”, cada termo separado, para o qual o outro é o seu imaginário, é assediado por este como pela sua própria morte. (...)


Jean Baudrillard ; A troca simbólica e a morte ; ed.70

11 de agosto de 2008

O Aviador prevê a sua morte.

Sei que encontrarei o meu destino
Algures entre as nuvens no alto;
Eu não odeio a quem combato,
Aqueles que eu guardo eu não amo.
A minha terra é na margem do rio,
A minha gente é pobre na margem do rio.
Não há fim que lhes faça perda
Ou assim os venha alegrar.
Estadistas, multidões de ensurdecer,
Nem lei nem dever me fizeram bater ;
Um solitário impulso de delícia
Trouxe-me a este tumulto nas nuvens ;
Tudo considerei, tudo fiz consciente.
Os anos vindouros viam-se vãos de alento,
Vãos de alento eram os anos antigos ;

- em balanço com esta vida é esta morte -.


W.B.Yeats- “The Irish Airman Foresees his Death” - Tradução livre.

.quando no quarto branco ...

Quando no quarto branco da charité
acordei de manhã,
e ouvi cantar o melro
entendi muitas coisas.

Havia muito que a noite não temia
por saber que nada mais me faltaria
se eu próprio me faltava.

E nesse instante cheguei a alegrar-me
até com o canto dos melros
após a minha morte.

B.Brecht
Lamuerte#2

Quando a noite que chega não traz a morte que fica na mentira do dia
E vêm de nós então a bela face que assim rompe em desafio à manhã
Fica meu amor cedo nessa hora em que te venho para morrer em paz.

Completo, enfim...

6 de agosto de 2008

Horizons.

A alma
devassa
nos espasmos

o espanto

em euforia
do grito
dor

e

sustém
o tornar
morrer

o poder

não
querer

sonho
mordaz
no horizonte
da permanência

por

luar
de outrora

ou

estulta
matéria
dos sonhos.
(n)a impressão do dizer que retira
gera culpa o dizer a impressão
e esta é falta que retira intenção
da impressão, sistemática, que atira -

As máscaras revelam-se na face do silêncio
por invasões da contenção do deserto claro
e os confrontos alongam-se
premeditados
no fumo subtil do invasor dos caminhos.

Há uma certa vertigem contida,
um poderoso pulsar.
Palavras

Ténues

limpas

odoríferas

as palavras solenizam a ridícula obsessão que é o seu absurdo

esgotado.

31 de julho de 2008

Tutuguri - O Rito do Sol Negro.

Em baixo

por baixo da inclinação amarga
e cruelmente desesperada do coração
abre se o círculo das seis cruzes

três em baixo
encrustados na terra mãe

desencrustados do abraço imundo
da mãe que baba se.

A terra do carbono negro
é a única locação húmida
nesta fenda escarpada.

O rito é o novo que o sol passa por sete pontos antes de eclodir no orifício da terra.

E existem seis homens,
um por cada sol,
e um sétimo homem
que é o sol completamente
crú,

vestido de negro e carne vermelha.

Este sétimo homem
é um cavalo,

um cavalo guiado por um homem.

E é o cavalo
o sol,

não o homem.

Sobre o rasgar dum tambor
e de uma longa fraudulenta música

estranha

os seis homens
que deitados estavam
girados a terra rasa

jorram sucessivamente como girassóis,
não propriamente sóis
mas solos giratórios

dos lótus de água,

e a cada jorrar
corresponde o gongo cada vez mais sombrio
e reentrado
do tambor

até que de repente vê se chegar a galope
de vertiginosa velocidade

o último sol,

o primeiro homem,

cavalo negro
com homem completamente nu

e virgem
sobre si

que tendo saltado avançam seguindo meandros circulares

e o cavalo de carne em sangue

atira se

a voltear sem parar
ao cume do (seu) rochedo

até que os seis homens terminem de marcar

(completamente)

as seis cruzes.

O Tom maior do Rito
é
precisamente

A Abolição Da Cruz.

E tendo terminado de girar

enxertam
as cruzes da terra

e o homem nu
a cavalo

arvora
imenso ferro

a cavalo

que temperou na incisão do (seu) sangue.


Antonin Artaud ; Pour en finir avec le jugement de dieu ; 1948 ; Oeuvres.

29 de julho de 2008

O tempo
tarde
à deriva

passa

convés
das perpetradas
cores

e a noite

em cascata
de viés
fica

no ressalto

dia
grafo,

escala

corte s
nó s
polido s
da s
gravosa s
garra s

da distância,

soturna s
trova s

de cisão.

28 de julho de 2008

A quem...


A posição de uma atitude religiosa que resultaria da clara consciência e que excluiria senão a forma extática da religião pelo menos a sua forma mística difere profundamente das tentativas de fusão que preocupam espíritos preocupados com atribuir à fraqueza posições religiosas dadas no mundo presente.

Aqueles que no mundo religioso se assustam com a discordância de sentimentos, que procuram o vínculo das diferentes disciplinas e querem resolutamente negar o que opõe ao prelado romano o sanyasin, ou ao pastor kirkegaardiano o sufi, acabam por emascular – de ambos os lados – o que já procede de um compromisso da ordem intima com a (ordem) das coisas.

O espírito mais afastado da virilidade necessária para unir a violência e a consciência é o da “síntese”.

O cuidado em fazer a soma do que revelaram possibilidades religiosas separadas e de fazer, do conteúdo que lhes é comum, o principio de uma vida humana elevada à universalidade parece inatacável apesar dos seus resultados sem sabor, mas, para quem a vida humana é uma experiência a levar o mais longe possível, a soma universal é, necessariamente, a da sensibilidade religiosa no tempo.

A síntese é o mais claramente isto que revela a necessidade de ligar decididamente este mundo ao que a sensibilidade religiosa é na sua soma universal no tempo.

Esta clara revelação da decadência de todo o mundo religioso vivo (acusado nestas formas sintéticas que abandonam os limites estritos de uma tradição) não era dado na medida em que as manifestações arcaicas do sentimento religioso nos apareciam independentemente da sua significação, como nos hieróglifos dos quais só a decifração formal foi possível ; mas se esta significação é dada e se, em particular, a conduta do sacrifício, a menos clara mas a mais divina e a mais comum, cessa de nos estar fechada, a totalidade da experiência humana é nos devolvida.

E se nos elevamos pessoalmente aos mais altos graus da consciência clara, já não está mais em nós a coisa subjugada mas o soberano do qual a presença no mundo, dos pés à cabeça, da animalidade à ciência e do utensílio arcaico ao non-sense da poesia, é o da universalidade humana.

Soberania designa o movimento de violência livre e interiormente lancinante que anima a totalidade, resolve se em lágrimas, em êxtase e em eclosões de riso e revela o impossível no riso no êxtase ou nas lágrimas.

Mas o impossível assim revelado não é mais uma posição deslizante, é a soberana consciência de si, que, precisamente, não se desvia mais de si.


A quem a vida humana
é uma experiência a levar
o mais longe possível ...

Não quis exprimir o meu pensamento
mas ajudar-te a resgatar da indistinção
o que pensas de ti mesmo ...

Não diferes de mim mais do que
a tua perna direita da esquerda,
mas o que nos une é
O sono da razão – que produz monstros.

Georges Bataille ; "Théorie de la Religion".

24 de julho de 2008

Buraco sem palavras.

A tristeza biliosa do vazio
do buraco onde não há nada
não sopra o nada
não há nada

e à volta do buraco
no ponto onde as palavras retiram se

buraco sem palavras

sílaba sem sons.

Antonin Artaud

18 de julho de 2008

Eco tempo

Condição que soa toque estranho
Um eco que põe se o tom
Disposto o marcar
Do corpo que jorra
O continuar que consiste
O atingir do termo
Que toma fio a frase
Que digo sonoro
Mais
Que repito digo
Sonoro :
Aparece –


Ecos múltiplos.


Longa instância
Única espécie de satisfação aos olhos lançados
Deslizar perene
Rápida sucessão de longas linhas
Pontos assolados
Ligação
Dispersão
Outro estendido evento
Estância adequada
Animal intuição
Solícita
Que faz se fundo
Sereno

Já se ouvem ecos
O fim dos ciclos
Vozes ecoam histórias

Eras.

17 de julho de 2008

Paliçada ocidental.

Como
pronto
mergulho
do astro
ressequido

o

de. siderato

instante
da solução
fugaz

magnética

- por termos –

elástica

represa
utilidade
do desgaste
ideal

ou

ensinamento
do edificar
as latentes
origens

eco lógica s

como
mesmo
ideal

ou

lixo bestial
por potestade
livresca
do corolário

ou

atenção
mundana
no render
o conforto

que vagem

(como idade
do agem)

à paliçada
que põe se
como
lógica
do acampamento

ou

(d)a acção
escorreita

de. feita

aleita
afeita
estreita
atreita
e é feita

efeito
num hábito
corrosivo

desse qualquer adiante
não tão assim distante.

16 de julho de 2008

Um sonho dentro de um sonho.

Toma este beijo na fronte !
E no partir de ti agora
Este muito deixa me confessar
Que não estás errado tu que julgas
Que os meus dias foram sonho ;
Porém, se a esperança voou longe
Numa noite ou um dia
Numa visão, ou nenhuma,
Será então menos passada ?

Tudo o que se vê ou parece
Apenas é um sonho dentro de um sonho.

Fico no âmago do troar
A costa atormentada pelas vagas
E seguro na minha mão
grãos da areia dourada –
Quão poucos ! E no entanto como rastejam
por entre os meus dedos às profundezas
enquanto gemo – Enquanto gemo !
Oh Deus ! Não posso eu toma-los
com agarrar mais firme ?
Oh Deus ! Não poderei eu salvar
Um da onda impiedosa ?

Será tudo o que vemos ou parece
apenas um sonho dentro de um sonho.


Edgar Allan Poe “ A dream within a dream” – Tradução livre.

15 de julho de 2008

Exaurido.

às palavras
o rompante
do fantástico
combinar

qual
g. ritmo

que faz
sentir
se
na voz
e no gesto

(ou não)

diz se
e sorri
como grito
perante
o balancear

outro

riscos
como
vacuidade

“viva”

sonorizada
do discurso
polido
em agências
ao atraso

de vir
desintegrado
por cinzas
coloquiais
e fogo de.
soma

elemento s
do jogo
senso
idade

da fatuidade
também
como
pré. tensa
satisfação
expressa
do trajar
avesso

Índico

que plasma
si
mesmo
outro

dois
esgotado
termo s

da condição

da guerra
civil mente
disposta
como
certo
simples
abrir

crono
célere

ao passar
se
daqui
a
distante
tal
mundana
crónica
do sismo
só ;

dos mundos
em guerra.

*

E aos olhos a dizer que sim,
Que lhos disse e que (a)sim.

14 de julho de 2008

(...)


Pude dizer que o mundo animal é o da imanência e do imediato ; é que este mundo, que nos está fechado, está o na medida em que não podemos discernir nele um poder de se transcender. Uma tal verdade é negativa e não podemos sem dúvida estabelecê-la absolutamente. Podemos imaginar no animal um embrião deste poder mas não podemos discerni-lo claramente. Se o estudo destas disposições embrionárias pode ser feito ele não se liberta das perspectivas que anulam o olhar da animalidade imanente que permanece inevitável para nós. É nos limites do humano somente que aparece a transcendência das coisas em relação à consciência (ou da consciência em relação às coisas). A transcendência, com efeito, nada é se for embrionária, se esta não é constituída como o são os sólidos, quer dizer, imutavelmente em certas condições dadas. De facto, somos incapazes de fundar nos sobre coagulações instáveis e devemos limitar nos a observar a animalidade, de fora, sob o dia da ausência de transcendência. Inevitavelmente, perante os nossos olhos, o animal está no mundo como a água na água.

O animal têm diversas condutas segundo as diversas situações. Estas condutas são os pontos de partida de distinções possíveis, mas a distinção pediria a transcendência do objecto que se tornou distinto. A diversidade das condutas animais não estabelece distinção consciente entre as diversas situações. Os animais que não comem um semelhante da mesma espécie não têm tão pouco o poder de o reconhecer como tal, se bem que, uma nova situação onde a conduta normal não seja desencadeada, possa ser suficiente para levantar um obstáculo sem que haja mesmo consciência de o ter levantado. Não podemos dizer de um lobo que come outro que viola a lei pretendendo que, vulgarmente, os lobos não se comem entre eles. Ele não viola esta lei, simplesmente encontrou-se em circunstâncias onde esta já não está mais de face. Existe, apesar disto, para o lobo, continuidade do mundo e dele mesmo. Defronte dele produzem-se aparições apelativas ou angustiantes ; outras aparições não respondem nem a indivíduos da mesma espécie, nem a alimentos, nem a nada de apelativo ou repugnante, consequentemente, isto do qual se trata não têm sentido, ou têm no como signo de outra coisa. Nada vêm romper uma continuidade onde o próprio medo nada anuncia que possa ser distinguido antes de ser morto. Mesmo a luta de rivalidade é ainda uma convulsão onde as inevitáveis respostas aos estímulos soltam sombras inconsistentes. Se o animal que deitou por terra o seu rival não toma a morte do outro como o faz um homem ostentando a conduta do triunfo é porque o seu rival não tinha rompido uma continuidade que a sua morte não restabelece. Esta continuidade não tinha sido posta em causa, mas, a identidade do desejo de dois seres opô-los-á em combate mortal. A apatia que traduz o olhar do animal após o combate é o signo de uma existência essencialmente igual ao mundo onde esta se move como a água no seio das águas.

(...)

Georges Bataille ; “Théorie de la Religion".

11 de julho de 2008

Hamlet. V.I . 10 ;60.


(...)


(Após o funesto afogamento de Ofélia enquanto colhia flores junto ao rio entram dois palhaços que iniciam a produção da sua (de Ofélia) sepultura.)


Enter the clowns


First Clown. Is she to be buried in Christian burial when she willfully seeks her own salvation ?
Second Clown. I tell thee she is. Therefore make her grave straight. The crowner hath sat on her, and finds it Christian Burial.
First Clown. How can that be, unless she drowned herself in her own defence ?
Second clown. Why, ‘tis found so.
First Clown. It must be se offendendo. It cannot be else. For here lies the point : if I drown myself wittingly, it argues an act, and an act hath three branches – it is to act, to do, and to perform. Argal, she drowned herself wittingly.
Second Clown. Nay, but hear you, Goodman Delver.
First Clown. Give me leave. Here lies the water – good. Here stands the man – good. If the man go to this water and drown himself, it is, will he nill he, he goes, mark you that. But if the water come to him and drown him, he drowns not himself. Argal, he that is not guilty of his own death shortens not his own life.
Second Clown. But is this law ?
First Clown. Ay, marry, is’t – crowner’s quest law.
Second Clown. Will you ha’ the truth on’t ? If this had not been a gentle woman, she should have been buried out o’Christian burial.
First Clown. Why, there thou sayst. And the more pity the great folk should have countenance in this world to drown or hang themselves more than their evenChristian. Come, my spade. There is no ancient gentlemen but gardeners, ditchers, and grave makers. They hold up Adam’s profession.
Second Clown. Was he a gentleman ?
First Clown. ‘A was the first that ever bore arms.
Second Clown. Why, he had none.
First Clown. What, art a heathen ? How dost thou understand the Scripture ? The Scripture says Adam digged. Could he dig without arms ? I’ll put another question to thee. If thou answerest me not to the purpose, confess thyself –
Second Clown. Go to !
First Clown. What is he that builds stronger than either the mason, the shipwright, or the carpenter ?
Second Clown. The gallows-maker, for that frame outlives a thousand tenants.
First Clown. I like thy wit well, in good faith. The gallows does well. But how does it well ? It does well to those that do ill. Now thou dost ill to say the gallows is built stronger than the church. Argal, the gallows may do well to thee. To’t again, come.
Second Clown. Who builds stronger than a mason, a shipwright, or a carpenter ?
First Clown. Ay, tell me that, and unyoke.
Second Clown. Marry, now I can tell.
First Clown. To’t.
Second Clown. Mass, I cannot tell.
First Clown. Cudgel thy brains no more about it, for your dull ass will not mend his pace with beating. And when you are asked this question next, say ‘a gravemaker’. The houses he makes lasts till Doomsday. Go, get thee in, and fetch me a stoup of liquor.

Exit Second Clown.

(sings)

In youth when I did love, did love,
Methought it was very sweet
To contract – O – the time for – a – my behove,
O, methought there – a – was nothing – a – meet.

(…)

Hamlet - Shakespeare.

8 de julho de 2008

O fundamento de um pensamento é o pensamento de um outro, o pensamento é o tijolo cimentado num muro. É um simulacro de pensamento se, no regresso que faz sobre si mesmo, o ser que pensa vê um tijolo livre e não o preço que lhe custa esta aparência de liberdade:

Ele não vê os terrenos vagos e os amontoamentos de detritos aos quais uma vaidade (sombreada) o abandona com o seu tijolo.

O trabalho do pedreiro que alinha é o mais necessário. Assim, os tijolos vizinhos, num livro, não devem ser menos visíveis que o novo tijolo, que é o livro. O que é proposto ao leitor, com efeito, não pode ser um elemento mas o conjunto onde ele se insere: é toda a articulação e edifício humanos, que não pode ser somente um amontoado de ruínas mas consciência de si.

Num sentido, a reunião ilimitada é impossível. É precisa coragem e obstinação para não perder o fôlego. Tudo se empenha a largar a presa, que é o movimento aberto e impessoal do pensamento, para a sombra da opinião isolada. Bem entendido, a opinião isolada é também o meio mais rápido para revelar o que a articulação é profundamente; o impossível. Mas esta apenas têm este sentido profundo na condição de não ser consciente.

Esta impotência define um cume da possibilidade ou, pelo menos, a consciência da impossibilidade abre a consciência a tudo o que lhe é possível reflectir. Neste lugar de semelhança, onde a violência castiga ao limite do que escapa à coesão, aquele que reflecte na coesão apercebe-se de que não é mais doravante lugar para si. (...)

G.Bataille. "Theorie de la Religion."

O tesouro perdido.

O Tesouro perdido no fundo do mar és tu

(e seria idiota enviar megulhadores)

Os tesouros no fundo do mar são feitos para sonhar
e não é preciso tocá-los
e isto quer dizer
que ninguém te pode atingir
mas que sem te atingir podemos fazer-nos lua,
extrair o mar, e fitar-te.

O sopro no bordo das estacas como uma máscara
és outra vez tu,
e isto diz a tua eterna virtualidade
no plano daquilo a que chamamos

... este mundo.

(carta de Artaud a Breton)

7 de julho de 2008

Artaud - O corpo humano.

O teatro é a liberdade

a liberdade a liberdade
a liberdade
sem tríade.

A inteligência é um idiota.
O génio é um idiota.
O espírito é um idiota.
A ciência não é,

ela não entra no saber,
o saber não entra na consciência,
a consciência não entra na existência,
a existência não entra no corpo.

Portanto, onde não haja coisa que sinta se como ser
( e, ao diabo, o ser é o finito )
não há senão corpo.

E porque não ser e um corpo ?
Mas se é ainda mais finito que o finito !

O teatro era uma estranha mecânica naturalista que foi instaurada para fazer calar tudo o que se imagina ser, porque isso não existe.

Passos de corpo em corpo, nem sílaba nem palavra, o gesto, atitude, som, grito, suspiro, insuflação profunda que inspira ao homem o esquecimento, esquecimento do que quer que seja que pudesse ser à volta do corpo simples.

O corpo humano.

Mas quem disse que era um ser e que existia ?
Vive.
Isto não lhe chega ?

Ganharei o nada antes de ti, deus,
dizia o corpo ao espírito, porque vivo.

E o que é um corpo ?
Chamamos corpo a tudo o que é feito sobre o modelo do homem,
que é um corpo.

E que jamais disse ou acreditou que este corpo era o finito, era o finito,
cessou já de viver,
de avançar,
até onde irá,
não de certeza na eternidade mas no tempo ilimitado.

E isto que nunca o disse.
E isto quem nunca disse até onde iria ?
Ninguém.
Até agora ninguém. O corpo humano nunca está acabado.

É ele que fala,
ele que bate,
que marcha,
que vive.

Onde está o espírito,
(se) nunca visto,
excepto para o vos fazer crer,
a vós, os corpos ?

Ele está defronte dos corpos,
à sua volta,
como uma besta,
uma doença.

É assim que o corpo é um estado ilimitado que necessita que o preservemos.
Que preservemos o seu infinito.

E o teatro foi feito para isto,
para pôr o corpo em estado de acção
activo
eficaz
efectivo

Para devolver ao corpo o seu registo
orgânico inteiro
no dinamismo e na harmonia
e para não fazer esquecer ao corpo
que é dinamite em actividade.

Isto sabe se num mundo em que o corpo humano ainda só serve:
... para comer
para dormir,
chiar,
fornicar.

Quando o corpo humano se completou no coito disse tudo pois o coito da sexualidade apenas foi feito para fazer esquecer ao corpo pelo erotismo de um orgasmo que é uma bomba.
Um torpedo enamorado

perante o qual a bomba atómica de Bikini não têm mais, e não é mais, que a ciência e a consistência
de um velho talismã regressado.

O verdadeiro teatro data de antes de Ésquilo
e em Ésquilo ele já está encrustado,
morto numa realidade que se diz fabulosa,
onde todo o idiota da história,
ciência, rito, inteligência,
espírito, família,
sociedade,
deus, génese, natividade,
está entalado, ali, em pleno hymen, a sua membrana dita bárbara pronta a ser copulada por toda a horda da humanidade.

Máquina de força eréctil de fogo,
o corpo primeiro nada conhece,
nem família, nem sociedade,
não pai, nem mãe,
nem génese assombrada
pelos esbirros das instituições
das entidades ...
ele nada conhece.
Ele erege punhos,
pés,
a língua,
os dentes.
É um baralhar
de esqueletos bárbaros
sem fim nem começo,
um pavoroso estilhaçar ardente,
e isto, é o teatro da crueldade,
que lhe importam as paixões contadas,
que importa o amor a quem tem a morte nos dentes,
a morte nos dentes.

É um teatro sem espectadores e sem cenas, unicamente com actores.
Actores que não têm frio nos olhos.
Quando tiver encontrado dez ou quinze,
então
inaugurarei
o teatro da crueldade.



Artaud, Antonin; (Le corps humain); textes écrits en 1947 ; Oeuvres

3 de julho de 2008

A Turbina.

Logo
a rodo s
o arremeter musical
liberto
de estado
antes
a qualquer regresso

marca lugar imponente

como queda ao invés digital
o iniciar laminado
do movimento que passa

fora

junta (se) qual raia aglutinante
propagada pelo caminho da natureza inversa
ao como das cores contadas
que chama
do assédio que atinge ali ao instalar
do fim a suspensão
como num leito pontual que recorta
os novos movimentos
cegos deste que desliza

o alinhar do s panorama s

o que é como entra® o mover
o estender
as circunvoluções do poder

postas
como mecânica natural da piedade celeste que deixa se
de tudo
numa toda intenção
ou num outro natural ponto que deve

(ser)

enterrado
vivo
engelhado
e carcomido

(ancestral casca vazia)

e depois de novo um mover que toma se daí
desta cólera que dá se
do estupor em termos
sentido de nada
um movimento simples.

30 de junho de 2008

Pudendo. dali sair por entretecido soslaio ao revir do acontecer o rasto resplandecente que fica do que é guardado à assolada matéria do pormenor redundante.


Lique. Fé.

- assim tão ali proclamado s

Vizir.

- daqui ao escarcéu do ídolo

Cofia.

- expectante que proclama se

Arqui.

- liga diz se em tri

Rigoletto.

- e sim, munido de palavras, ilha, mas também o digo, barco.



Uma temporada passara naquela ocasião e depois do tanto repetir o desejo deixa se atencioso o que nesse dia fere o corpo do enlace duvidoso, deparara se o toque do desgaste ou os aluviões do silêncio feito.



Languescente de vária composição ou um grado doutro de ribeiro.


Ribeira de. brava.

- mais do que apresenta se é isto o que se pensa de imediato –

Madre de. um reconocer lento.

- e atente se bem ao que diz se como que num rompante de solfejo e adiante, e porque não pois que logo o que custa é, tão solícito e tão até que ponto –

Tudo isto n.uma estela agreste.

- ou ainda mais o que doravante transita como numa pose fechada, ou como quem caracteriza o que pudera, ou até que sim –

Rosto alvitre.

- e à chegada às palavras continuam as palavras e mais o que dá se a entender de tudo isto -

Rosto cravado.

- como espigão da terra tomado em distender do sopro no momento ausente ou por aí -

Ou um atavio inquieto.

- como cego atiramento do soberbo reagir ou o pulsar por quê, e porque não -

Uma percorrida cisão.

- isto ao ponto do atingir termo pior ou que seja, ou do mais que seja, como tempo pesado na produção do instante esvaziado ou assim estendido, como que numa tela de cores ao vazio, num processo de híbrido integral -

Cadências.

- manta de retalhos diversos caídos pelo alvorecer nas cercanias cilindradas, gastas assim de um limpo, cendrado, batimento -

Solfejo misto. signo espalhado.

- depois o batimento, o holocausto, um espalhamento único que toma o fazer cardíaco por relato de circunstância fácil, alçado, que têm se do outeiro só ou (n)um admirável mundo velho de circunstância maquinal, a significar inverso duplo que é tanto tema de condição ao espalhar, rio ou desmembrar a ti, depois, ao outro, vale ou cravado na rocha como fora civilidade do instante, descartado, que tanto promete nos essa escolha, que faz se –

De solfejo.

- acima já não solve o exemplo da natureza estrita e isto, revisto, ou seja o que diz se nisto, nem assim se provê de tanto, ou, portanto, encanto o não querer saber -


Soliloq. Como imensa festa do que é feito um pensamento ou mundo óbvio é o que diz se assim, antes, assino o verbo assim, e o assim é como se toma a besta versátil do largo reparo, como surgir o fácil do fazer entre o soliquoquio.


O sol antes do revirar
o silêncio
visto de recanto

vigora.

24 de junho de 2008

Voga ponto esta marca que deixa aberto o caminho ao som do magma borbulhar ; é baixo o canto da viscosidade, o soletrado torpor que fica, tirado, no pensamento.

como que mundo que passa
que não dá se do passar do mundo

Como fixar da cólera ainda assim não faz se, diria, que um outro só deixa deste mover o sair, ao sabor impossível que insinua se e, já só fixo como o constatar se por vezes no tédio faz se, por vezes, o que perfila, qual miragem ao caminho árido e daí a marcação, que vêm, daí, ao longínquo pormenor.

que tira se do vazio
ilustre
e o lazer
fica
tirado ao encima
dos sítios na fantástica vizinhança

Os ecos ficam destes encontros ligeiros e soltam se do disforme fascínio logo que o som desce, leve, junto a soar um certo verde, a favor, como numa apologia do esmagamento infame.

diz se mais do que importa
e já não antes
que quando se chega
começa se então o fazer

e que isso sabe se

noção murmurada da distante espacialidade tirada do que diz se, o cruzar as linhas de choque, ao desenrolar que desmarca se, em falas de sulcos alinhados, matérias de logo fazer.

que põe
dispõe
luta livre de sedimentos
alinhados
frios

de fazer essa redundância
esse rasto de fazer.

21 de junho de 2008

Palavra de sol cita.

O sol
cita de cor
a magnânima
palavra
a preceito

de comércio
outro

livre

a rios
de consenso
geral.

Traçado

Traço
sangue
marcado
solo
jorra
torrente
ao lugar
ressalto
corpo
em maré.

Pont.

Meio
ponte,
entre
margens
aquieto
esquece

e,

(n) noite,
alcinada,
busca
do. sítio
indizível.

16 de junho de 2008

Exaustivo discorrer.

Faz se
mover
até surgir
algo
que surja
e tome
como
rudimento
rodado
que
procura
no correr
o que
sem saber
o extasia
e poderá
gerar-se
na imagem
que procura
abrir
de porta
que efectiva
tema
linha
cor
discorrer
aqui
que têm cor
e discorre
a pergunta
que discorre
até
discorrer

e digo aqui,
já,
não
que discorre
antes
corrido
que corre
e assim
passa

do que discorre
ao que corre
ou à pergunta
pelo que corre
aqui
discorrido

digo
como diz
correcção
que discorre
em antecipação
da correria,
o que,
obviamente,
tem
tema
prévio
discorrer,
que diz corre r,
corre,
que corre
como
interrogação

E é e diz corrido
e é diz corrido
e discorrido
e diz se correr
e diz-se o que corre
de. cor,
que não corre.

mas

corre
coral
não so.
mente
corre

e aqui
têm se
o mesmo
que marca
veículo
do que quer
que nos dá condição
do
diz correr,
verbo
correr
que é
cor
que dá conta
corrida
na marcação
d.um que corre
assinado
do. que corre,
corre-se

o que deixa a pergunta do discorrer assim e como dizer o diz correr assim ou quem começa e deixa se e gela o pensar dos defuntos corpos que vão se em fogos do sopro informe, lentas leves linhas ondas que esguiam, passam se (n)um invisível fluído.


Faz leve o beijo.
A Luva que inflama.
repete :
corte faz grito.

fulgo ante si p(r)a
revir o entre tecer,

desfazer
que dá-se
e não

foi
num alcance

o poder
fazer

trato
ºk
por fim

abre ;

passa os passares do grito
que traz (n) vão incólume

e fica tido
t®ifo
no esquisso do falar.

12 de junho de 2008

A Artaud - Variações a propósito de um tema (de lewis carrol)

Não se trata aqui de uma tradução mas sim de uma adaptação - variação a propósito do tema - de um poema donde o meu pensamento se regulou para se juntar ao autor em espírito e assim se viu, a si mesmo e por si mesmo, não propriamente no seio deste poema mas no da poesia.

Lewis Carrol viu o seu eu como num espelho mas não chegou na realidade a crer neste eu , e quis, então, viajar no espelho afim de destruir o espectro do eu além de si mesmo, antes de o destruir no seu próprio corpo, pois era ao mesmo tempo em si mesmo que expurgava o duplo deste eu.

Há neste poema um estado determinativo dos estados - por onde passa a palavra – que é matéria antes de florir no pensamento e operações de alquimia salivar, se assim o podemos dizer, e que todo o poeta, do fundo da sua garganta faz subir à palavra - (música, frase, variação do tempo interior) - antes de regurgitar matéria para o leitor.

Prova-o esta estranha comparação marcada perante um trecho de caça grossa epicurista que, para melhor apurar o seu paladar, retém um bocado por seis que degusta, e o poeta, (sonhando um ar melódico supremo), afim de aumentar a degustação interna lança se assim sobre os seus limites.

Este poema onde uma frase musical tipo parece diluir-se golpe a golpe em fumos é o poema de um insensato que um dia entrou no ser e acabou por abandoná-lo, é o esforço de todos os insensatos em ser e em se deter a uma realidade ela mesma fugidia e condenada e à qual não se detém senão em função da sua própria perversidade.

Degustamos minuciosamente o pensamento e a linguagem mas durante este tempo a nossa alma foge-nos e ela era esta realidade, ela mesma, perante a qual nos julgámos marcados. E o nosso eu celeste, o anjo de cabelo ruço de Carrol, lutava sobre a terra com seu espectro traiçoeiramente mutificado em demónio.

Pois Lewis Carrol é na realidade um espírito de cólera da reivindicação e do furor. Uma espécie de emissor nascido da percepção e da linguagem e se isto não se pode crer ao lê-lo é porque ninguém teve jamais a ideia de espreitar com ele por trás do espelho interno onde o seu espírito, contraído e em sofrimento, não se pôde impedir de passar.

O epicurista que Lewis Carrol acusa deste pecado de perversidade consigo mesmo é ele mesmo, e o movimento irado a que toda a sua obra apela é contra o eu e as condições ordinárias do eu, ou seja, à noção temporal do nosso eu.

Fatigado e em sofrimento por qual pecado passou a vida a executar variações sobre este tema, mas, ler a obra de um poeta, é, antes de tudo, ler de viés. Pois toda a obra escrita é um espelho onde o texto escrito se funda perante o não escrito.

E o não escrito de Lewis Carrol é uma profunda, sábia, vertiginosa insatisfação.

As coisas, Lewis Carrol, não são de facto tudo o que são. E podemos sonhar sobre este tema e executar variações que sempre a ideia do eu perverso nos retorna como uma desafiadora regurgitação, quando encontraremos nós, enfim, este não eu onde nos vimos tais que nós mesmos, enfim, e puros, quer dizer, virgens, no fundo do espelho eterno.

O ar sonhado toda a vida por Lewis Carrol é o do seu eu melódico supremo, palavra certa do serafim soterrado por trás dos fantasmas assustadores das coisas e que um dia nos regressará,... mas quando ? Através de quais músicas, de que ar, num mundo que não têm mais o eixo de um ar eterno a dizer se, nem uma música imaterial e sobrenatural a repetir se.

*

Não amo a gazela rara
e não gosto de comer os pratos caros
pois os altos preços aproveitam
aos especuladores dos pobres lábios
e não quero ao fazer isto
mutar-me em açambarcador.

Pois vejo vir a mim com olho embolsado e negro
o meu filho à hora da saída da escola,
que tendo se batido contra quem e quê,
e não sabendo bem dizer porquê,
tenho a impressão de me ver
em batalha perante o meu espelho
contra o meu próprio desespero.

Mas quando vêm para melhor me conhecer
lançar-me-á fora o irritável senhor,
e,
assim que me ponho a tingir o cabelo
é que SUA GRAÇA intratável nota mudança
e a espécie admira.

E ela me ama enfim, estava seguro de que a minha tinta
de azul aviltado ou verde lodaçento
deixaria espesso traço visível a metade sobre os meus olhos
de um potente ruivo que me distingue melhor.

Antonin Artaud - Variations à propos d’un théme (d’aprés Lewis Carrol) ; 1943.

9 de junho de 2008

Olhos negros.

Tu, és a profundidade de todos os cumes.

F.Nietzsche.



Obscuro norte desce em torrente s que toma da matéria
a condição, gélida, total e indivisa
que insinua a escura face em momento que estranha-se,
alinha e é quando assinala o sitio
originário, à afecção do marcar,
irromper da presença junta
como eterna tirania que fica no aconchego da elevação.

Local que foge
e permanece em presença móvel do estupor,
que toma o afecto em paradoxo
e o agarrar do movimento que é a ela,
aos olhos
que suspeita-se a toda possibilidade
de ser,
de estar
e estaca-se perante o que busca,
que nota o espanto,
o tão grande apelo, excuso
difuso do corpo magno,
inquieto
na carne que devassa se em pergunta
pelos olhos
da inquietação, que transcende se desse sentido
e por vezes julga o sentir,
como esclarecimento na luz,
negra,
que surge,
como se do coração tratara.

Pusesse ao sabor o sentimento indizível
que furta se a deixar o que acirra,
em marcação da carne,
carne aposta a carne
que faz se espanto,
onde não há cintilação,
cume que marque em desejo
a silenciosa presença que agarra
do fundo,
profuso umbilical cordão negro
suspeitado.

Imenso sentido que deixa estar da insinuação invisivel,
contempla angústia que move
e dos profundos olhos irrompe num instante
que se tem, fora de qualquer espaço,
invade os campos aos olhos que questionam,
sua inatingível face
que engana, precipita
em furtivo permanecer que excede de dentro do olhar,
busca os seus olhos
que tudo precedem em atavio inquieto,
negro
gelo que conforta,
dilacera o olhar marcado,
híbrido,
move o que olha ao abismo,
fende e deixa condição
de dor,
urgência.

Inevitável escolha que funda se
do desvelo nocturno, cobre em verdade
e fere o sol do desejo no caminho
que surge ao dia dos regatos festivos,
como estrela da manhã que substitui se em acção,
doce
ao sabor furtivo dos olhos negros.

Como imagem acertada do desejo
na arte dos cumes cintilados,
dão se o fazer de ilusão
por tépida languidez do que é determinado,
como mesmo, que faz se artifício da luz
e desponta nas manhãs
que dão se ao acto,
da cidade, o prazer híbrido,
húmido
êxtase fugaz
por civilidade que deixa memória
nos olhos cheios, da ausência que fica.

O sentido de tudo isto que passa
faz se ao olhar que não têm certeza,
frenesim que não deixa
descanso a antes dos olhos.

Ilude no mesmo em desacerto que revela
e deixa na manhã,
nervo que transforma em sentido agitado
o regresso aos olhos do absurdo, que é fora
do alcance e força o revelar,
no atirar da manhã
que reflecte a verdade aos olhos que passam
além do olhar negro, impregnado,
que toma todo corpo
e toda a carne fora do espaço posto
por ti, ao surgir que faz se alinhado
no olhar que já não vê,
que apreende o misto da surpresa,
estranho teu olhar ausente,
que dá termos, ao olhar e já não olha ao instante
e deixa no passar, do olhar que toma
a informar a forma fugaz,
externa,
ampla,

Como mesma imagem que preenche
e fita o esclarecer paralelo,
passa de um movimento
que cala fundo na cor do favor,
dos olhos que internam
e já não são olhar,
a ti.

Este frio que revela
inatingível o faz, não olhar
agora que divides te, e cobre,
deixa se em preencher corte que liga
e desliza dos olhos insinuados,
que trazem olhar feito, às vias inversas
e o gelo na ausência dos olhos,
que revela, em ser e é isto que passa
e não és, o que jorra extenso, ilusão
ao abrir à imagem que são olhos,
e dá se, da ausência que toma,
que é, não isto ou aquilo antes tu.

4 de junho de 2008

Estar.

Intende
o custo
cego
esgota
(n) mover
e marca,
tira,
caótico
prevalece
e é bem
ritual
da coisa
e
digo
como
o saber
o que
é
este,
e que
isso
sabe-se
ao iniciar
a distância
que não

faz-se
rodar
faz se
a rodar,
o que é
algo
que
vai
sabendo
se
e não
o que faz
se,
ali,
por ali
cair -
ou
atingir
e diz
sinais
que
não
importa
continuar
até
que
surja
o
que
toma
daí,
e

pode
dizer-se
início,
fim,
enfim,
e faz se
o
que pode ser
assim,
que faz
se
e
não diz
se
chegar
a lado
algum
e ma(i)s
o continuar
se
ou não,
o que
é possível,
e é isto
que
é como
custo
do fazer

o continuar
que dispõe-se
de contrário

que é
ficar
das imagens,

as imagens
de estar
ou
com
palavras
de estar,
o que
põe-se
pensamento
de estar,
não
estar,
que liga
e faz
roda
estar
à pergunta
para si
que
responde
se
ou não,
para si,
no silêncio,
que contrai,
o forçar
continuar
a roda
ao esquecer
o custo
do rodar
sacrifício
que
faz
se
consciente
no ritual,
e
que isto
digo,
dizia,
sim,
não
o pensar
efeito
mas
forçar
o aparecer
efeito
diz
e
está
como
conhecer
ou
saber
ser
e sabe
que
ouve
se
sempre
alucina
da
sobre
presa
selvagem,
solo
que é
esta
intenção
que

assim
inicia
o fazer
(se)
o
sentido,
que
diz
aqui
que
se
busca
(n)o
continuar
ao
aparecer
e nada
aparece
e
isso
é
cor
que
têm
ou
então
explode
nada
e talvez
seja
isso
(como)
local
continuar,
que fere
e desfila
dos olhos
o movimento
rápido,
tenso
da intenção
de dizer,
que
não é
dizer
antes
mover
que
quer
quase
e aparece
por vezes,
o deslocar
em superfície
abordada,
a fazer
curto
silêncio
no caos
que é
este
que
tomo
o quase
fim
que deixa
por fim,
no
estar
resolve®
que força
nada
que
traz
silêncio
ao reunir
do caos
representado
da revelia
soberba,
que é
boa
palavra
soberba,
e
já se dizia
ou diria
alguém,
que fico
aqui
ali,
não
tenho
perder
disse,
sente
e que sente
o que
atira,
ali,
não
mais
que diz
e rebenta
faz,
agora,
refere
a tensão
disso
tudo
e
do
que é
e
devia
ser.

e a atenção disso tudo.

o que deve ser suposto,
ou sobreposto
e diz se assim.
... conto o assim.

2 de junho de 2008

A múmia entranhada.

(Artaud.)

Totem à porta, olho morto
regressado neste cadáver,
este cadáver esfolado que lava
o horrível silêncio do teu corpo.

O ouro que sobe, o veemente
silêncio deitado sobre o teu corpo,
a árvore que carregas ainda,
e este morto que marcha em frente.

Vê como rodopiam os fusos
nas fibras do coração escarlate
e este grande coração onde o céu eclode
enquanto o ouro te imerge os ossos -

É duro campo de fundo o panorama
que se revela enquanto marchas
e a eternidade ultrapassa-te
pois não podes perder o ponto.


Invocação à múmia


Estas narinas de pele e osso
por onde começam as trevas
do absoluto, a pintura dos lábios
que cerras como uma cortina.

E este ouro que te brilha em sonho
e a vida que te despoja dos ossos,
e as flores deste olhar falso
junto por onde regressas à luz

Múmia, e estas mãos de fuso
para te revolver as entranhas,
estas mãos onde a sombra lamentável
toma a figura de um pássaro.

Tudo isto de onde se orna a morte
em estupor dum rito aleatório,
este borbulhar de sombras, e o ouro
onde nadam as tuas entranhas negras.

É por aí que te torno,
pela estrada calcinada das veias,
e o teu ouro é como a minha pena
e o pior é o mais sob testemunho.


Antonin Artaud - « La momie attachée et autre textes autour du Surrealisme ».

26 de maio de 2008

“ ... e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra ... desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro. “

Gn. 11;4;7.


Quanto a Babel tenho dúvidas. Quanto às interpretações usuais do episódio, quero dizer.
Lembro me de um dia ter lido, algures, uma referência que abordava o episódio de forma mais ou menos misteriosa, como se fora uma espécie de segredo bem guardado por algumas confrarias de sábios eruditos, ou que, seriam, estes sábios eruditos, pelo menos relutantes no tecer de qualquer tipo de comentário ou consideração em relação ao dito episódio.

A “explicação” do episódio, a sua significação diria, não se encontrará propriamente, suponho, nas conclusões racionais de queda, dispersão e confusão das línguas como consequência de um projecto quimérico de produção de linguagem objecto - muito embora estas conclusões não deixem de ser “verdadeiras” e legítimas - mas sim, como qualquer mito aliás, numa marcação “psicológica” caracterizada, neste caso, por um efeito que teria surgido no autor em circunstâncias nas quais se dedicaria a produções, progressões, ou projecções a partir da, ou na, linguagem. Este efeito, que suponho bem conhecido por quem quer que se dedique à criação de linguagens artificiais a partir da manipulação de nomes será, assim, ou uma estação fragmentada no percurso de acesso a esse objecto idealizado ou, então, o atingir do próprio objecto perseguido no dito processo.

Claro que este é um ponto de vista individual, limitado, e, portanto, “verdadeiro”.

As conclusões racionais que referi e que geralmente se tiram do episódio de Babel apontam, geralmente, para um momento de passagem, como um efeito ou consequência que teria transportado o Homem a um novo enquadramento, a uma nova organização, e Babel seria, neste sentido, o “símbolo” de um qualquer radical livre que teria gerado o primordial salto quântico religioso, ou cultural, que culminaria nos mitológicos impérios do bronze ; ou seja, a passagem de uma rede social assente no sangue e no parentesco, do tipo tribal, a uma outra do território económico, das suas relações de poder e do estado imperial..

Após Babel nada seria como antes.

Este salto, poderia pensá-lo como consequência do encher das condições estruturais do neolítico e consequente surgir do tédio neolítico, ou da possibilidade daí resultante. O pôr da possibilidade de mais nas longas noites do tédio neolítico reflectido.
.
E falam, estas interpretações que referi, talvez, da tentativa de construção da primeira linguagem artificial, talvez, a escrita, talvez, a astronomia, talvez, o conceito de tempo maquinal, talvez, até, a própria noção de indivíduo, talvez.

Do que se fala com toda a certeza, digo eu, é da “invenção” do trabalho organizado em função de um “nome”, de uma “obra”, de um imperador ou de um deus; de um “ideal” ou noção de infinito. Da civilização diria.

A partir desta “obra”, ou “forma”, a linguagem é já a do território económico e da organização social do estado, ou dos estados, mais propriamente, pois uma das mais usuais (interpretações) fala-nos da confusão que se seguiu à intervenção divina como de uma fragmentação desta linguagem criada em múltiplas outras linguagens técnicas, artificiais, resultantes da divisão do trabalho e da sua organização com vista à prossecução da “obra”. Um nascer das várias confrarias de artífices que teriam estado empenhados na obra, herméticas entre si, e cada uma delas apoiada na sua própria linguagem objecto.

E mais, do irromper de uma casta sacerdotal guardiã da linguagem do tempo maquinal, da burocracia. Como se a noção de infinito se tomasse aqui e se pusesse como ponto de vista da estrutura.

E este ponto de vista especular que surge, assinala, talvez, o próprio nascimento do Mito enquanto notação de um trajecto (psicografia), por um lado, e fundamento (cultural) da estrutura por outro. O Mito, que foi o trajecto percorrido desde a anterior organização social até esta nova é, agora, no acto de ser notado na linguagem, invertido no seu sentido que passa a ser a conservação da nova estrutura e dos privilégios linguísticos das suas emergentes castas. Esta nova organização toma-o - o Mito – nesta notação que lhe inverte o sentido e coloca-o como mecanismo de condicionamento e controle mental da matéria humana. A “cultura”.

Este mecanismo especular que têm, talvez, a sua origem e contrapartida mais remota nas fogueiras da deusa do neolítico vêm, aqui, ao tomar-se espelho, dar-se à luz do desejo, assumir a linguagem do “deve ser” civilizado – que virá a culminar, alguns milénios à frente na bem actual estrutura da má consciência - e a tornar-se, assim, o garante (oculto) maquinal de uma representação festiva que têm, como fundamento e objectivo, o conservar de um ilusão.

Ilusão esta que é a imagem do estado, da lei artificial.

Após tudo isto chego, finalmente, ao tema a que me propunha de início, e torno a perguntar-me : quanto a Babel ?

Parafraseando Bachelard diria que : a imagem é o sujeito, em nós, do verbo imaginar e que esta prestar se á aos exercícios de imaginação aos quais estaremos mais predispostos, ou seja, sobre os resquícios formais com maior capacidade de se perdurarem, ou intrometerem, na consciência e, assim, sofrerem a acção explosiva, ou desintegradora, do imaginário.

Como se a intrusão do verbo (imaginar) no campo exclusivo do nome (Babel) viesse a gerar o paradoxo, a queda e a confusão. Talvez daqui a renitência dos sábios eruditos em comentar a significação do episódio bíblico, ou seja ; não será sem custo que um desses eruditos se propõe atingir Babel e o minimizar desse efeito de desencadeamento, ou de confusão, passará, talvez, pelo anonimato em relação à passagem a Babel. O produto dali, bem, o produto dali será o culminar da linguagem conceptual, os sistemas, a ciência, as linguagens formais.

E talvez este culminar formal e consequente confusão se tenha antes à “sombra de Babel”, como fora, “este nome”, exemplo transfinito ou protótipo transfinito e, aqui, a confusão estaria não em Babel, mas, antes, no momento imediatamente anterior a Babel ou seja, no limbo de Babel. A confusão seria, aqui, como que preâmbulo de Babel : o “sítio” onde as linguagens seriam efectivamente confundidas - ou co fu (n) di da s - e onde apenas ficaria a própria “matéria” a impressionar e seria, neste caso, ao transpor este “limite” entre os “dois” estados - antes de Babel e Babel - que estaria a explosão do objecto em miríades de objectos.

A falar verdadeiramente será até outra coisa, “bem pior”, mas enfim, (n)aquele momento em que a “matéria” adquire a abertura total à impressão e porque ainda não atingiu Babel, e ainda é sujeita a impressões de resquícios formais que vogam nesse limbo, nesse momento é uma “matéria” ainda e completamente vulnerável.

“Pensava às vezes que estava prestes a falar, mas o silêncio continuou ... “ H.Bloom.

Bom, sem dúvida que Babel é uma imagem forte e o seu quase culminar formal em linguagem caótica, em fusão das linguagens num momento, em confusão – “confusão” esta, aliás, profusamente notada e “enquadrada” pela cabala askhenazi – é, por fim, dissolução desta e irromper, da “confusão”, em esclarecimento que é ausência de linguagem.

“ Depois de cavalgar três dias e três noites chegou ao lugar, mas decidiu que não era sítio onde pudesse chegar.”
H.Bloom.

E claro que aqui já não se “fala” da vulgar confusio.


“Os espíritos falam todos entre si uma linguagem sensual, não precisam de outra linguagem, porque a sua linguagem é a linguagem da natureza.”
J.Böhme.

Em verdade em verdade sorrio,
a plasticidade absoluta é ninguém.

23 de maio de 2008

Revolta contra a poesia.

Nunca escrevemos senão com sentido na incarnação da alma mas ela já estava feita, e por nós próprios, quando entrámos na poesia.

O poeta que escreve dirige-se ao verbo e o verbo às suas leis.
Está no inconsciente do poeta crer automaticamente nestas leis. Ele crê-se livre e não o é.

Há qualquer coisa à volta da sua cabeça, à volta das orelhas do seu pensamento. Algo germina na sua nuca onde ele já estava quando começou. Ele é o filho das suas obras, talvez, mas as suas obras não são dele pois o que era dele próprio na sua poesia não foi ele que o apresentou mas antes este inconsciente produtor da vida que o designou para seu poeta e que ele não havia designado, ele, que nunca foi regulado para ele.

Não quero ser o poeta do meu poeta, (deste eu que me quis escolher poeta), mas antes em rebelião contra o meu e o seu. E recordo-me da rebelião antiga contra as formas que vinham sobre mim.

É pela revolta contra o eu e o seja que me desembaracei de todas as maléficas incarnações do verbo que apenas foram para o homem um compromisso de cobardia e ilusão e não sei que fornicação abjecta entre a cobardia e a ilusão. Não quero um verbo vindo de não sei qual libido astral que foi toda consciente nas formações do meu desejo em mim.

Há nas formas do verbo humano não sei que operação de rapacidade, (qual auto devorar de rapacidade), onde o poeta, limitando-se ao objecto, se vê devorado por este objecto.
Um crime pesa sobre o verbo feito carne e o crime é o de o ter admitido. A libido é um pensamento de animais e são todos estes animais que um dia se emudeceram em homens.

O verbo produzido pelos homens é a ideia de um invertido esvanecido pelos reflexos animais das coisas, e que, pelo martírio do tempo e das coisas, esqueceu que o inventámos.
O invertido é aquele que come o seu eu e quer que o seu eu o alimente. Procura em si sua mãe e quer possui-la para ele. O crime primitivo do incesto é o inimigo da poesia e o assassino da sua imaculada poesia.

Não quero comer o meu poema mas quero dar o meu coração ao poema e o que quer que seja o meu coração ao poema, o meu coração é o que não é meu. Dar o seu ao seu poema é arriscar também ser violado por ele. E se sou virgem para o meu poema ele deve continuar virgem para mim.

Eu sou este poeta esquecido que se viu um dia cair na matéria e a matéria não me comerá, a mim.

Não quero estes reflexos envelhecidos consequência de um antigo incesto vindo de uma ignorância animal da lei virgem da vida. O eu e o seu são estados catastróficos do ser onde o vivente se deixa aprisionar pelas formas que percebe dele. Amar o seu eu (mim) é amar um morto e a lei da virgem é o infinito. O produtor inconsciente de nós próprios é aquele antigo copulador que se entregou às mais baixas magias e que extraiu uma magia da infâmia que consiste em misturar se a si próprio sobre si próprio, sem fim, até fazer sair um verbo do cadáver. A libido é a definição deste desejo de cadáver e o homem em queda é um criminoso invertido.

Eu sou este primitivo descontente do horror inexpiável das coisas. Não quero reproduzir-me nas coisas mas quero antes que as coisas se produzam por mim. Não quero uma ideia de mim no meu poema e não quero rever-me, a mim.

O meu coração é esta rosa eterna vinda da força mágica da inicial cruz. Aquele que se pôs na cruz nele mesmo e por ele mesmo não regressou, nunca, sobre ele mesmo. Nunca, pois este ele próprio pelo qual se sacrificou Ele próprio, também este ele o deu à vida após tê-lo forçado em si próprio a tornar-se ser de sua própria vida.

Apenas quero ser este poeta a nunca que se sacrificou na Cabala de si mesmo à concepção imaculada das coisas.

Antonin Artaud 1945

17 de maio de 2008

O romper dos vasos.


O vento cala
a morte
irrompe
tónica
belo
jardim terrestre
vazio
regresso
frio
lentas
proposições
notas
de colisões.

Basta !
Basta uma vez
assim
como
grave desvio do padrão
liquefacção
regresso
frio
impressão que não deixa,
como fundo que se põe
cais posto
preâmbulo
do que é ficar o silêncio
perto
junto
que suspende se
antecipa
revela
como pôr
que precipita
abalroa
inflige
infri(n)ge
revela de intenção
engano
belo
fugidio
lamento.

Isto
obviamente
é desintegração do objecto
momento após
pôr
do paradoxo
isso
há que olhá-lo
frente.
é
cintilação
aos olhos
que estranham-se
suspendem-se
o rito (s)
do segredo
que cinde
fende
que põe espelho
o funcionar
paradoxo
quase
como grito
que se põe
por
paradoxal
uso de intenção
do paradoxo
introduz
pela criação
do campo oculto
da linguagem
o contexto
um
contexto
e este grito importa
não
toma ®
aqui
cont®a
põe
porque se têm
múltiplo
que preenche
o campo
como
esclarecer
da significação
e não ter
campo

(nada de dialécticas)

antes
campo
fenda que abre o campo

speculum

à explosão
múltipla
cidade
que o põe
o campo
múltiplo
isto é dissolução do campo

do pathos

e isto é
actualização
do modo categórico
possibilidade de B.
mais
uma
vez
antes
preâmbulo
de B.
sua significação
à partida
seu pôr
de condição
talvez,
algo
como
praevisão
de B.
diferente
porque prévia
como adivinhar
e não ser
tomado
em B.
o talvez lá ficar
lá ficado
a B.

14 de maio de 2008

Memória da linguagem.

Uma noite que se tira e em que se buscam as palavras a uma corda que cimente a impressão, impressão cimentada, esta, que é tema aos olhos que cintilam, aleatórios, como (n)um excesso contraído que busca se e penso, o que faz se por sair, da linguagem, como alcance que não vê e apenas força se em alcançar de tema, que pensa-se, o acto da linguagem, o que quer dizer que força-se o atingir o interior do processo donde se faz – fazer - o acto da linguagem.

E porque não se pensa aqui talvez por isso seja que se diz se que não se têm aqui, na linguagem, que antes, exacta se e constata-se, marca-se, destas imposições que lhe contraem o movimento, sempre novas, entraves ao seu sempre continuado continuar ; talvez por isso.

Buscam se assim o s tema s da linguagem nas palavras que brotam, assim, que fazem se por dizer se como num frémito, caótico, que segue o ritmo, cego, ou como fora válvula de lei suicida que deixa a soar o caos o que é como busca do corpo e do corpo que são estas letras e estes signos e as suas palavras que irrompem, para de novo explodir, em ausência de sentido, de memória, em tema que é afinal, já o disse, o que se busca, o que se quer neste sentido.

E vão se fazendo as palavras deste querer que é corpo virtual e na sua palavra marca-se o processo em movimento e este ciclo, original da ordem que investe-se, apega-se, apaga-se à memória e irrompe esta forma das palavras, que surge, estatuto anterior, precedência. fim, causa.

É como trabalho de exaustão que destila e perfaz se no processo e faz se vazio a reconstituir-se, (d)o que faz se (nada) e, solucionado desse (nada) entra se no processo que limita, capta, contém uma gota na cidade do pensamento o que é como o reconhecer dessa impressão prévia de algo, algo como livro das palavras, das letras, que se põe, fundo irreal da dança externa das palavras, das letras.

E poder se ia dizer que algo faz por desfilar as formas as palavras e as letras e que este algo é como um outro, ou como um sonho, ou não, de vigília, que assiste ao desfilar e perfilar das formas e que estas têm, agora, uma facilidade fugaz e como que dom de por si se ordenarem numa série fácil.

E entre sente-se o desvio na palavra daqui que é tomada como réplica do que se busca, e isto, é como suspensão da impressão que remete, refere, na “própria” suspensão, como memória da impressão do tema que quer o tomar-se na palavra, que capta o eco da manifestação paradoxal da diferença, da palavra desfasada, formalizada, figurada, que apenas soa como eco, mais ou menos, desviado.

Poder-se-ia, talvez, chamar a isto a angústia da assimetria, ou (a)sintonia sentida, da palavra.

E o querer é este excesso que surge destacado daqui como fundamento, lógico, de qualquer operação sistemática, e a memória, que se apaga, é a da violência e do uso que dela é feito a favor de um estado, de “coisas”.

É uma maneira oriental no ocidente.

Desvio-me, talvez, do assunto, e, ou, talvez não, o que é certo é que “isto” que é a violência, antes, a captação da violência, é como que o “retomar” ou o “reiniciar” de um processo, ou de um ritual, que surge, repetido, do que está por detrás da película “nauseabunda” dos sistemas das palavras e que são como série s que alinham se pelo funcionar em si, e este funcionar em si será, talvez, o de “um” acto aleatório que culmina e marca, tempo, como fundamento de regra, inferente, como “fundamento regrado” de toda a inferência.

E este processo é, talvez, como inversão da regra que nos regressa ao coração da violência, do acto da violência, que nos põe as regras da conservação do poder da palavra, (n)as palavras, sistemáticas, assim alinhadas como padrão da violência, do desvio a contar.

A violência, ou a sua captação como acto, é real.

12 de maio de 2008

A Lua feita as estrias do som por canto grita o abismo s ditos sóis de um tomar vão que desponta o soletrar do trespasse, os espelhos inesgotáveis, os código s tidos da ostentação por cruzada maquinaria, rudimento. que diz cidade o socorrer, a festa ; e não se trata aqui do solfejo do caos nem do sol que traz-se espalhado ao alcance do impacto, da diatribe ou das longas manhãs das fontes ou das facções, dos rebentos em assimetria de desgaste virulento, ou da fútil, cravada, intenção.

9 de maio de 2008

" Quanto menos a renúncia e as restrições são biológica e socialmente necessárias tanto mais os homens precisam de ser transformados em instrumentos de uma política repressiva que os desvia de possibilidades sociais em que teriam pensado por conta própria. Talvez seja hoje menos irresponsável pintar uma utopia fundamentada do que dizermos como utopia as condições e possibilidades que já há muito se tornaram possibilidades realizáveis."

H.Marcuse.

24 de abril de 2008

Variação em W.

Um pode apreender um jogo de linguagem que o outro não pode e é nisto que tem de consistir, de facto, o daltonismo de todos os géneros. Pois, se o daltónico pudesse apreender todos os jogos de linguagem das pessoas normais porque haveria ele de ser excluído de certas profissões" ?

Wittgenstein – “anotações sobre as cores”


Sem dúvida que w. era um homem de afirmações, de afirmações da genialidade daltónica. w. trata a falta por tu e a falta deste é a de ilusões.

Sente-se, ensaia-se, interage-se, circunstancia-se - somos produzidos nos jogos de linguagem que nos funcionam – vive-se, invoca-se a dor, o prazer, repete-se, determina-se e refere-se, replica-se, atribuí-se em função de. Por vezes interrogamo-nos sobre o agente que sempre escapa e depois calamos – por fim, como que retomamos o jogo num outro nível - e o gigante move-se ... move. E sem dúvida que mesmo assumindo uma atitude céptica em relação a estes momentos da descontinuidade qualificada parece que não podemos deixar de os produzir, como se foram recordações, sempre renovadas, da tragédia que nos projecta em planos de jogos, causais.

Como terminais que não acedem ao todo do sistema, limitados, normais. -

O daltónico de w., porém, vê, ou não vê, como os normais, apresenta-se normal aos normais, furta-se, no entanto, sistematicamente, ao agir conforme ao procedimento normal do sistema, aparentemente o seu sentido é diferente (ou até inverso) ao do sistema, ou seja, à sua conservação, do. sistema.

Dir-se-ia que falta ao daltónico de w. o “saber” da acção que os normais “possuem”.

A ironia daltónica de w. roça a amargura do cinismo sem lhe tocar pois que o sistema toma a normalidade como garante de exclusão da anomalia daltónica e a falta do daltónico é a da impressão do (s) jogo (s) sistemático (s), que, aqui, não conseguem imprimir as linguagens, causais, dos seus jogos normais.

Ao daltónico de w. falta-o a falta dos normais e é essa a sua impressão, o próprio sistema de funcionamento sistemático, normal.

O daltónico de w. é mais que o sistema e é por isso que não pode desempenhar todas as profissões. É que o seu sentido de. acção é objectivo, visa, sempre, a transformação e actualização do sistema o que, por si, é fundamento e principio de actualização do funcionamento do mesmo, é principio objectivo de. acção (n)o sistema.

Sim, bem sei - diria o daltónico objectivo - que vocês jogam assim, eu não, faço por não jogar assim.

O que surge daqui é como uma translúcida impressão que dispõe os planos dos jogos, que, sempre, referem. É como retroprojecção do fantasma que se imprime em fogo, em puro movimento.

O objecto do daltónico de w. é o próprio sistema e o seu sentido é o da ultrapassagem ao mesmo, o encher-lhe as medidas ... a matriz do género daltónico é “anterior”; actualiza-se, sempre ...


“A religião, enquanto loucura, é uma loucura que provém da irreligiosidade.”

Wittgenstein.