16 de fevereiro de 2013


Terra, irás colher o trevo à sombra das latadas. O que será feito das casas, do cheiro das folhas, das madeiras à noite a ranger sob a cautelosa passada. Onde ficas e em qual das telhas vês o pretenso atingir do chão, o acordar, a erosão, os lanços de pedra à volta como as velhas moscas em confraria, de uma certa maneira. O horizonte eleva a gritaria ao céu das vilas despovoadas. O sentimento surge ao bater dos sinos na gélida manhã petrificada em imagem de peso. Branco é o gelo habitado a sós contigo ó condição. As ondas, agitadas neste campo de onde sigo as janelas plantadas dos passageiros aromas, assentam as suas tendas junto apenas por momentos, e os ossos, no centro da montanha, queixam-se ao primeiro rebento de um sol que não termina na pele.

Sustentabilidade. Para ilustrar o conceito recorro ao bem conhecido episódio do elefante que atravessa as calmas águas do lago saltitando graciosamente de nenúfar em nenúfar.

15 de fevereiro de 2013


Empreendedor.

Dirijo-me ao frigorífico, abro-o, olho lá para dentro e retiro um iogurte, já devidamente munido da colher apropriada, como-o.

“A sorte favorece os audazes” em dois actos.

1) Os audazes morrem na praia ponto. Por seu turno, enquanto os audazes falecem na praia, o personagem que exortara os mesmos foge, apressadamente, justificado, obviamente, à providencial maneira do recorrente artifício da pena utilizada em semelhante situação épica.

2) O personagem que exortara os audazes encontra-se, por fim, e depois de muito correr, ajoelhado perante a sorte a suplicar pela vida em vão e é trespassado, terminado às mãos do desfavor da sorte e da pena madrasta.

Um banco de madeira estendido
Corre o olhar perplexo
E aceso
Que aguarda a sua vez
Desfeito em considerações de entrada.

A duração responde por si e lavra o metal diverso nos rios tão calmos como o suceder das inércias (chega-me essa situação, obrigado monumento) descompassadas em parcelas do peso a simular ventanias chegadas a um opaco objecto. Resolve-me essa linguagem suspeita da palavra feita à medida da inclinação referida nas forjas a liquefazer os agitados punhos da (sua) preciosa qualidade.

14 de fevereiro de 2013


Cheguei de noite à cidade (como quem regressa).

Respirei todas as luzes
Até que o cintilar
Nos olhos
Ficou
Desse instante
Em miragem preenchido.

Sempre que te ouço.

Um dia soltámos palavras de pele.
Contigo fui pelas ruas
Enquanto sorrias ao chão silenciosa.

Vagueámos no lugar das calçadas
Sem dizer palavra
Como ilha silenciosa e sonâmbula.

Percorremos os caminhos todos.
Chegados ao cais de partida
Despedimo-nos num olhar mudo.

13 de fevereiro de 2013


A cidade
Ao acordar a manhã chama
O eclipse
Das sobrepostas entranhas
Que cai
No curto-circuito momento.

12 de fevereiro de 2013


Sim, tudo é efémero.
Um passado instante esvanecido em fumo.

A rara imagem
Da antiga festa do sangue
Regressa ao sol
Da estação propícia
No sangue atirado à terra
Manchada.

Ausente
Empalidece o olhar imóvel
E a multidão
Aguarda o linchamento.

São dias de festa.

11 de fevereiro de 2013


Sentado à lareira que adormece.
Observo os incandescentes restos de carvão
Em derrocada.
Afasto o pensamento
E o corpo aperta sem tomar atenção.

O alento obriga a luz que se vai extinguindo (enquanto divago, aqui onde me encontro) a revelar o que chega ao fim do caminho. Só fica o carvão.

Outrora sonhara
O momento igual nos olhos nascentes.
Desenhado em arabescos
Do sangue em fuga
Ao rumor vago
E doce
Das águas nos regatos
Calmos.

Aqui estou cristais passados.

À sombra da lareira adormecida
Permanece o negro
Na sombra de um outro dia aqui.

10 de fevereiro de 2013


As fontes da forma chegam um dia
Ao meio do caminho que encontra o dizer
Solto nas coisas em partes do pão.

Maços de papel dourado como o sol
Adormecido sem saber donde
Vem de noite tomar um ponto de vista
Em sonho adiantado ao sonho.

Liberto desmanda o porvir
Em férrea animação nos areais que carregam
De dentro a vontade
A que vamos chamar de vez quase tudo.

Tradição do silêncio embriagado.
Tecido em mascarada de uma ópera justa
Ao corpo do barro vermelho
Que torna aos trapézios estendidos abismos.

E as seculares fontes da dúvida
As quais nada levam das águas passadas.
Ao chegar o momento
Existiram somente para ali chegar.

Num instante o mundo todo é feito
Ao luar que sucede
Um passado em sintonia
Das rotas que vão tomar-se outra vez.

9 de fevereiro de 2013


Concluída a ascensão
E enfim proclamada a nova regra
Ficam por interditos os meios
Que galgaram os degraus transpostos.

São castigos, penitências
Imposições de um pedestal implantado
Que lança o véu da sua sombra
Ao espaço imaginado em liberdade.

8 de fevereiro de 2013


Fruto da imaginação fecham-se os quartos da lua
E ficam a ver gerações do mesmo
Rodado em juntas secções
Da concordante matéria cortada
Em tábuas instituídas de uma duvidosa qualidade.

7 de fevereiro de 2013


Perpassa no solo o extermínio civil da terra seca
Que toca o calor imóvel na pele
E afaga as feridas da estranha invisibilidade
Ao imaginar das pedras
E povoadas estrelas doutras vidas
Na funda espécie da impossível gramática
Que ao olhar de perto
Fere o corpo apenas por calor
E faz múltiplas as formas do silêncio pensado
Em corrida através da multidão
Só e arremessada em cegueira às vitrinas.
A noite funda o regresso
Ao convívio das mentes soletradas.
(Sonâmbulas, maquinais).
Chegado ao particular pensar de tal coisa
Não tarda o fechar do corpo
Estendido à noite que acorda esquecida da palavra.

Claro o mar que desafoga
Um país de fumo sem fogo
Legisla ao sabor de menos
O charco a seguir da cheia.

6 de fevereiro de 2013


Um fio de historicidade escapa do próprio contado a como imagem da falta comum na eternidade, as récitas da fuga, os abolidos momentos, as tábuas velhas, ecoam o fulgor do tempo inexistente, basta ver no instante o permanecer do absurdo … nesse tempo …

Cinto. A palavra.

Escorrida à força na garganta dos incautos.
Claro. Como as ondulações de superfície.
Ou o constrangimento usual das linguagens.

Lagos da razão
Nas ondas que te são tão
Luminosa ração.

5 de fevereiro de 2013


O acto, em pré preparação do mesmo, estende, observa e evita, por sumas da ração, a indicação do olhar induzido: manifesto sentido que não é do sentido, antes sentido, ao redor da prossecução da ideia.

E a noite sombra ao atravessar a imposta dor (tal paróquia dos segundos, providente entidade) que, por liras e saturnais, (tal sombra devida), faz outra miragem da via amorosa como os agitados caudais do rio ou o sonho da carne em vida que sorri num estranho dizer, labiríntico, literalmente.

E pois, já não se pensa o sedimento que fica escrito em palavra no fundo eco da passagem, a vertical do silêncio chama a providencial maneira da linguagem do silêncio entendido, obviamente, como a umbilical promessa da realização na terra de uma espécie da primordial caligrafia que, no segundo da ilusão, faz memória do que corre em representação natural da imagem marcada ao subterrâneo acontecer, um remanescente expandido em temporal qualidade, absurdo critério, no âmago da desfiguração.

Caixas empilhadas sobre as fundações do iogurte
Desaparece o inverno no cais das gargantas abertas
Corre do cimo um olhar de avelã que te verde
E, no meio do povoado, os ratos acumulam mistérios.

Por sinal a uma coberta de estrelas.

Já por lá passei, e não vi, decididamente, nada de novo a assinalar; as cores continuam cores, as palavras, ao que parece, continuam palavras, e as raízes, embora se não vejam, supõe-se que por lá estejam, invisíveis, por debaixo dos edifícios.

Falecia no que cimenta o desaparecer agora do tempo sentido ao esclarecer dos motivos passados. Causa do instante encerrado aqui. Pois. O sentido do que é sentido ganha sentido quando nos põe sentido.

(E guarde-se o silêncio das palavras não ditas).

Alegórica. Incolor. Do. Colapso.

O perfume da intempérie
Assiste a paisagem
Ao solo da colheita
Nas espécies combinadas.