28 de janeiro de 2009

Momento de apor as palavras
o sincopar que lhes mantivesse o brilho
separado ao cair na vigília.

Raias do som – nelas -
o a feito silêncio aos bocados
em ânimo num plano diurno.

E não se trata deste ou daquele dos tecidos que dizia – ígneos - do “pensar” as palavras deixadas em devaneio das formas, como som “encorpado”.

Mais que isso é pó do deserto. Subtil aferir adentro os antigos decompostos.

27 de janeiro de 2009

( ... ) o facto de que a oposição negativa se transformou em oposição positiva faz bem aparecer o problema (...) . Na medida em que estão ligados à realidade dada, o pensamento e o comportamento exprimem uma falsa consciência, contribuem para manter uma ordem de factos que é falsa. E esta falsa consciência é expressa num aparelho técnico preponderante que, por seu turno, o renova.

Vivemos e morremos sob o signo da racionalidade e da produção. Sabemos que o aniquilamento é o tributo do progresso assim como a morte é o tributo da vida, sabemos que a destruição e o trabalho são necessários à partida para obter a satisfação e a alegria, sabemos que os negócios devem prosperar, sabemos que visar outras escolhas é Utopia. Esta ideologia é a do aparelho social estabelecido ; para poder continuar a funcionar ele precisa desta ideologia, ela faz parte da sua racionalidade.

No entanto o aparelho põe em cheque o seu projecto se o seu projecto é criar o acontecimento de uma existência humana numa natureza humanizada. E se tal é o seu propósito, a sua racionalidade não é mais que suspeita.

Ao mesmo tempo ela é mais lógica pois que desde o início o negativo está no positivo, o inumano na humanização, a escravatura na libertação. Esta dinâmica não é a do espírito, é a da realidade. Uma realidade para a constituição da qual o espírito científico desempenha um grande papel ao associar a razão teórica à razão práctica. (...)

H. Marcuse ; L’Homme Unidimensionnel.

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O labirinto.

Dizia se de reflexo as pontes de afecção ao assalto da sua memória.
E novamente grotesco numa provocação que o faltava.
O pois que seria numa processão lacónica.

De música acima ora abaixo o mesmo instante em vice versa.
Num compromisso agora falado a respeito do mármore.
Em comunidade de heróis.
Num valor da terra :

Numa ávido em combustão do retiro.
Aos carreiros em circuito de água doce.
Outra esférica espera enzima em solução.
Atirado aos montes num perfeito andariar.

E só, que numa sonolência por feita de alocução, ouvistes ?

Conclusão expressa do pó espalhado em penumbra.
Sóis que dissesse se ancorado em prazer.
Que duvidoso era as sombras de um crepúsculo repentino.

O Lugar dos sangréis.
Os ouropéis em languescência trajada.

Estranhado ao corropio do sangue era o aluir num raio.
Quilómetros por redor aos alertas da lua baixa.
As semânticas em luminosidade.
Branca como a cal quê.

- na parede –

Em conjunto à mirra.
Ao plástico contratado.
E num balcão afoito.
Junto a si.

De cabeça, lastro, e fundo.
Num “provir” das marés silenciadas.

19 de janeiro de 2009

(...) perguntaremos sem dúvida porquê não existe metafísica senão apenas na e pela nihilização.

Qual fatalidade quis que o próprio instante, por uma intuição no sítio da espera, se revelasse, necessariamente, como cessação de qualquer coisa e suspensão da plenitude ?

A tomada de consciência metafísica dos princípios, sendo consciência do facto dos princípios, é, forçosamente, consciência da sua gratuitidade de fundo e da sua supressibilidade.

Por exemplo : o principio de identidade é necessário, mas o principio do principio de identidade é um facto, um dado arbitrário ; a necessidade é necessária, mas a necessidade da necessidade é um facto, e este facto da necessidade necessária é contingente ! A questão é agora de saber como faremos (...)

(...) O instante intuitivo é com certeza qualquer coisa mais do que o minuto de embaraço ou de aporia que se segue ao ictus emocional ; a instantaneidade (...)


Vladimir Jankélévtich ; La Philosophie Premiére.

14 de janeiro de 2009

Não existe tecido.

A consciência não vêm da trama
antes do coador a golpes de canhão parietal
e numa instante e constante magia à qual o ser por essência não pode participar ;
e quanto ao corpo, sou eu que o faço por blocos inteiros.

Vejo bocados,
exausto os,
sopro os,
coloco os com a mão,
destruo os com o sopro e a mão
e com a mão e o sopro, talho.

Atiro uma perna e “repítrua”
Jamais faço molécula
antes, objecto feito.

Que são os seres, animáculos e não objectos, que inventaram o espírito porque se lhes assemelhava.

Textes écrits en 1947 ; Oeuvres.
Rápido, acto, o tirar outra coisa
é quando diz se deste pensar
e do seu pensar de aorta escorrida
num fundo de humidade, encerrado,
entre terra e água, exalante, a toda
largura num rasgo - do movimento -
como identidade esfíngica.

Fuga por mínimo numa interrupção
de corrente inscrita da história
e das formas, dos rios, suturados
em matéria deste crivo e numa pedra
riscada, rugosa, das lutas a tempo
numa imposição recorrente.

12 de janeiro de 2009

L.Wittgenstein.

“ Um milagre é por assim dizer um “gesto” de Deus. Como um homem que tranquilamente sentado faz de repente um gesto espectacular. Deus deixa o mundo seguir pacificamente a sua via e de repente acompanha as palavras de um santo com um gesto simbólico, um gesto da natureza. Exemplo seria que após um santo ter falado as árvores à sua volta se inclinariam como por reverência. – Dito isto, será que creio que tal coisa se produza ? Não. A única coisa que me faria crer no milagre assim compreendido seria que eu fosse “impressionado” por um acontecimento que se produziria desta forma particular. De tal forma que diria, por exemplo : “Seria impossível ver estas árvores sem ter o sentimento de que respondem às palavras deste santo.” Como diria : “ É impossível ver a face deste cão sem ver também que está alerta e segue atentamente tudo o que faz o seu mestre.” E imagino facilmente que a simples récita das “palavras” da vida de um santo pudessem levar qualquer um a crer igualmente na história das árvores que se inclinam, embora, eu, não seja impressionável dessa maneira.

L.Wittgenstein.

6 de janeiro de 2009

... corta o peso da travessia suspensa
em calamidade na terra desenvolta,
de caída cor no cimento, rodado
em qual momento duma mesma fuga
o espaço de música e letra, espalhada
num tal gesto de unidade, véu perfeito.
“ (...) Em suma, indo directamente ao assunto, parece me ridículo dizer se que fora do céu está o nada, que o céu está em si próprio localizado por acidente e é lugar por acidente, idest com respeito ás suas partes.

E seja como for que se interprete o seu “por acidente”, não se pode fugir a que se faça de um, dois ; porque sempre é uma coisa o continente e outra o conteúdo, e tanto assim é, que para ele próprio o continente é incorpóreo e o conteúdo é corpo, e o continente é imóvel, o conteúdo móvel ; o continente matemático, o conteúdo físico.

Ora, seja essa superfície o que se quiser nunca me cansarei de perguntar : o que é que está para além dela ? Se se responde que está o nada, então direi ser o vácuo, o inane, e um tal vácuo, um tal inane que não têm limite nem qualquer termo ulterior, tendo, porém, limite e fim no lado de cá. É mais difícil imaginar isto que pensar ser o universo infinito e imenso, porque não podemos fugir ao vácuo se queremos admitir o universo finito. (...) “

Giordano Bruno ; Acerca do infinito, do universo e dos mundos ; Gulbenkian.

2 de janeiro de 2009

Modal do sal.

Um dia, a ave, ao novamente descender no mar infernal em mergulho necessário de sobrevivência cruza se à linha de água - como que numa cintilação - com o peixe que, vindo do seu tédio de curso, no mesmo instante arriscara um salto de ascensão possível ao céu.

Cruzaram se, então, ali, à linha de água, e daquele momento trocado algo aconteceu que ecoou numa certa comunicação, de uma certa impossibilidade ; e diz se, pelos tempos, que os ecos, a terra, chegaram e ali se fizeram como o sal das possíveis ficções, da terra, do peixe e da ave, da sua impossibilidade.

Os peixes, dizia se em tempos, não são sal da terra mas são com certeza ouvintes pacientes, seja ; os peixes no mar, as aves no céu, os outros animais na terra e o homem em circuito de audiência fechada numa festa das canas e do recolher figurado, plástico numa gargalh(i)ada contígua.

e dali assobiou o nome ;
- que no principio era o verbo, dizia se ;

e que não era insensato
que num dia composto de paradoxo ... e depois o vento, dali.