6 de novembro de 2018


de cintura fina
vestida de primavera

cai no feno
a flor envolta
ao dia
das mil carícias

5 de novembro de 2018


a esta espiral imagem
pertence uma cor cinzenta
que se esfuma no reflexo
de uma lenta lentidão
entra junto ao vazio
e agora espera por meio
que a receba e assista
ao divagar das palavras
adormecidas na sombra
ficam curiosas suspensas

3 de novembro de 2018


vazia de longe o inaudível
clamor de limiar desvanecido
em primado da razão no sensível
corpo conforma ao costume
de cada palavra aquela
parte em silêncio que continua
o cego vazio que a chama

2 de novembro de 2018


por detrás do espelho
diz-se do fruto ao instante
que caído na imaginação
sopra da sombra
aquela cor de engano
que aos gritos se interroga

31 de outubro de 2018


e ao descer a rosa
o colo da seda floresce
na terra um apelo
descobre em abandonado movimento
as suas pétalas
que esplendor
veste ao declive da festa

30 de outubro de 2018


por volta do entardecer
por detrás da montanha
ao longe uma presença
como que desperta na carne
os consumidos artefactos
ostentados ascendem
em numinosas tonalidades

29 de outubro de 2018


dizer em volta
que dali se contara a espessura
do caudal
em conjugada regra
de todos
dizer devagar
que doutrora mais
se deixando o dizer das dissipadas
cadências de somenos
chegaria a dizer-lhe
ainda que
de correia à cintura
seguisse em bela figura

27 de outubro de 2018


do gesto representado
o pormenor da posição discreta
as mais diversas tradições do ritmo e da indumentária
momento de lazer este seguido de uma pausa
e celebra nesses quais ornamentos
o nascente vislumbre do radiante celeste

e de cada simetria encontrada
o raro e absolutamente descabido em papel velado

26 de outubro de 2018


e dessa rarefeita circunstância
das altitudes (agora cobertas de humidade
e neblina qual espécie
de metáfora da vegetação cerrada)
paira junto
às margens do rio
a qualquer momento naquela
brumosa e silenciosa cadência
das misteriosas colorações

25 de outubro de 2018


Concertinas Tamboris
junto ao bizarro anoitecer dos interstícios lentamente verbos
de vacuidade insinuados
dizem do perdido sentido ao fulgor do primeiro instante mas apresentam-se aqui e ali
numa cor de papel antigo que não pensado porém conta

O indivíduo
Ao chegar na terra
Bate os pés empoeirados
No asfalto ainda quente
Pois ao final da tarde
Qualquer imagem convém
Distraidamente passeia
O inventário dos transeuntes
Considerados estes
No sentido poente
Relativo ao ponto de partida

De perto o olhar de uma mulher mentalmente o precipita ao factício acontecimento de uma chuva miudinha
cinzentas cinzas estas que refere em condição de indivíduo:

Incomoda
Por vezes esta maneira
De estar
Plantado na terra
Dos homens
E das mulheres também
Que são belas

Sem que disso se dê verdadeiramente conta quase ao passar das em volta ruelas o final da tarde em situação quase inanimada
e acaba por exclamar que debaixo da bassa luz de um candeeiro consigo:

De passar estas vielas
Que tantas são e o aroma
Das tais agora chega
E recomenda um apetite

Sugestionado desses ditos e requintados sentiu-se dos aromas como que condicionado ao bater do estômago em condição de falta
e o agora chamava
e o assim transportou àquelas sugestões nasais que lhe vinham:

Carne alentejana
De porco ao anoitecer
Hora do vazio
E o ventre já qualquer coisinha
Comia - cheirou consigo

E foi-se adentro de si dos concorridos letreiros daquelas esquinas apelavam enchidos de cozedura junto ao jorrar do vinho e da batata abundantemente cortados em sumarentos bolbos
que sentiu-se em deglutição de tais apuradas delicias estas que podem enlouquecer o mais paciente dos indivíduos:

Musa pausa aqui
De novo neste prato
E dispensa-me
O bom proveito
De saciar em prazer
O sabor desta hora

Depois do acontecer indolentemente breve do lugar enganador chega o indivíduo àquela perspetiva de conjunto de quem disfruta apaziguadas paisagens:

De repouso
E mais uma nota
De som se faz
Uma matéria ainda
Não totalmente
Digerida destas figuras
E destas carnes

Em esotérica consideração
Da uma individual digestão

Esta aprendizagem da matéria como um todo e não apenas nas suas modalidades que não são mais do que outras tantas posições morais ou sensoriais do reflexo dos aparelhos naturalmente adquiridos
prolonga-se necessariamente em estado caótico
e desta ou daquela maneira atravessa as mais diversas camadas da disposição do movimento em processo de figuração da carne e dos ossos
tornados inertes das determinadas do momento
o que significa um certo ao redor do fundamento
daquilo que captado e recolhido se apresenta por qualquer forma de um vácuo e que
pese o paradoxo
daí atinge as metafísicas formas da imobilidade.