27 de fevereiro de 2019


diz que dizer
em claridade um rubor
aceso se levanta
o silêncio sentiria
e o lugar acrescenta
uma forma ao passar por entre
os corpos de longe
exclamados se escapam
orlado véu
de uma terra presença
e a cada detalhe
um degrau do outro

26 de fevereiro de 2019


o primeiro momento é fundador
que o segundo inversamente justifica

pois tem de ser
assim que sempre assim
foi num terceiro momento
a que chamamos a sombra
envergonhada divide
o momento num mesmo
encadeado nó de mistério

25 de fevereiro de 2019


e à medida que mais profundamente
vamos penetrando na floresta e o olhar
se vai acostumando na penumbra
aí vamos reconhecendo as árvores
e os seus mais isolados
recantos abrem-se qual súbita
clareira depois do denso arvoredo
onde ao som dos açoitados ramos
pelo vento uma velha coruja chirria

23 de fevereiro de 2019


O paradigma da revelação é como que um certo ideal do acto arbitrário que lança por meio de um qualquer ontológico véu o dissimulado e pretenso motivo que assim justifica em fundamento e simultâneamente

de sugerido um outro valor
lhe convinha que assim possuído
como que de uma salvação discreta
assegurasse em tranquilo momento
uma certa condição do dever cumprido
que erigido ao interior na palavra
gesto defronte a um encantado rosto
acertasse em certa medida o contraponto
em limite ao desregrado sentido

22 de fevereiro de 2019


acompanhadas de presença
estendem-se as palavras
silenciosamente despertam
no corpo o sentido
que atravessa de impressão
o devolvido reflexo
em fluido rumor
daquelas imagens distantes

21 de fevereiro de 2019


anterior que passa
num sopro e suspende
a imagem que encontra
aquilo que percorre
em sugestão sonora
uma certa cor atrasada
que esvai-se de entrar
e agora fica em presença

20 de fevereiro de 2019


irrompe em fluir
que atravessa
como que posto
numa coincidência
que refere
em imediata legitimação
por assim dizer

19 de fevereiro de 2019


o despertar
de atenção como que faz
aparecer uma linha
lugar que se põe
numa diversa ideia

18 de fevereiro de 2019


da ciência do contraste
ou a esotérica da expressão da linguagem
por assim dizer

A linguagem humana tem esta característica interessante de uma vez tomada a um ponto de vista intencional funcionar como espécie de um certo critério de verdade mas pela negativa pois há uma diferença entre a expressão (desinteressada por assim dizer) de um fenómeno tal qual se nos apresenta e o tomar dessa mesma expressão como se de uma realidade se tratasse e isto também no que diz respeito ao próprio fenómeno diga-se pois o reconhecer de um tempo enquanto tal medida interior é condição necessária da reflexão linguística digamos assim.