22 de março de 2010

E agora, o verdadeiro “instante ético/moral”.

“bababadalgharaghtakamminarronnkonnbronntonnerronntuonnthunntrovarrhounawnskawntoohoohoordenenthurnuk!"

J.Joyce – Finnegans Wake.
“Como em muitos homens que atingem uma situação importante, era, a mil léguas de qualquer egoísmo, um amor profundo pelo que poderíamos chamar a utilidade pública e supra pessoal, noutros termos, um honrado respeito por aquilo em que se funda o seu proveito, não porque o funda, mas ao mesmo tempo que o funda, e em harmonia com este facto, quer dizer, em suma, por razões genéricas. Isto é um dado importante : um cão de raça, se procura o seu lugar debaixo da mesa do repasto sem se deixar desviar do seu intento pelos pontapés que recebe, não será de facto por baixeza de cão, não, mas por apego e fidelidade ; e na vida, aqueles mesmos que calculam friamente não têm metade do sucesso que obtém os espíritos bem doseados, capazes de experimentar, pelos seres e relações que lhes dão proveito, sentimentos verdadeiramente profundos.”

R. Musil ; O homem sem qualidades – (da tradução francesa)
Primavera.

Na primavera florescem os marmeleiros
e as romãzeiras, regadas
pelas águas dos rios,
lá onde fica das Virgens o jardim imaculado,
e os gomos das videiras crescem sob os rebentos
umbrosos do pâmpanos: mas a mim o Amor
não me dá estação alguma de descanso:
como o trácio Bóreas, deflagrando
com o trovão, soprando do lado de Cípria,
com loucura devastadora,
tenebroso e sem peias,
sacode de alto a baixo com força
o nosso coração.

Íbico ; hélade – Asa (tradução Maria H. Da Rocha Pereira.)

12 de março de 2010



O lobo e o cordeiro.


Estavam o lobo e o cordeiro a beber junto ao leito do rio. O cordeiro em baixo, o lobo acima. Diz o lobo :

- Não vês que me sujas a água?!
- Como pode ser isso se estás acima e o rio corre na minha direcção?
- Além do insulto ainda me ameaças?
- Como ameaço-te?
- Sim, bem me lembro do que fizeste o ano passado.
- Mas se nem era nascido.
- Basta, está bem assim. A tua maldade não me deixa alternativa.

E precipita-se sobre o cordeiro que devora.

...
Esopo.

24 de fevereiro de 2010

Cérebro, utilidade, desvio.

A necessidade de uma construção.
O aspecto e a reminiscência dos caminhos.
A longa e ruidosa manifestação de tudo o que percorre.
O critério de alcance em (positivo) permanecer da dúvida.
O outro lado da metafórica em maneira
dos actuais compassados processos continuados.
Os autores do coração regulado.

no lugar da espera,
em sinais do nunca mais
nunca, o supor
no entanto à sua falta
em simultâneo dum verdadeiro
e certo lugar
que tudo passa enquanto existe,
existe, duma ou doutra maneira,

na aparente razão,
do campo de acção,

que faz o sentido (em dúvida) e permanece evidência, pólos do mesmo.

20 de fevereiro de 2010

Filigrana em w.

Algo vem como rumor,
no vago sopro, por entre os lagos,
ao rosto em ruga desse sentir,
dois, na direcção do sobreolhar,
chega, como fora um passo em abismo,
(nota de uma certa impertinência),
a escolha à passagem que permanece
imagem, fica, marca, os indecisos,
incertos, versos de uma voz humana.

16 de fevereiro de 2010

O profuso da cor,
os interlúdios secretos,
a música e o silêncio,
a terra firme e o corpo tecido,
a passo imóvel de todos os mundos,
o vento bate nas margens,
as folhas do rio.
Alongo,

a sobrenatural miragem
dos edifícios em decadência,
os horizontes do lugar comum,
uma névoa, nunca vista fronteira
do reflexo mecânico, da cinza liberta,
rumor do verbo cego numa faca aos olhos,
em algo da posição no momento da figura,
diferença distante, imagens do mundo,
um rumor de variação funcional,
o fascínio do latejar instante,
o olhar contínuo fora
da representação
do mundo
em movimento
dos olhos rasgados,
numa inversão aspergida,
em mediado efeito de alcance,
não imediato, caos em arrasto selvagem.

10 de fevereiro de 2010

Estado da representação
dinâmica
além do corpo
(redundante) sinal
às portas do elemento
aberto (oclusivo e desatento)
efeito da corrida
em lábil locução
dos simultâneos vasos
(fixo alongamento elástico)
tomados de fundo
numa produção das pedras ao caminho,
permanente ideia
da clara
coloração mais forte
estado líquido
em primeira situação
de mar e sol
de novo aos lagos da imagem
(ausente em causa de transformação)
nos sinais da manhã
que logo regressam formas
a fazer acto
em contra fundo
da atribuição da vertigem,

(ponto mais das ondulações disforme),

o mar, grita,
sussurros do avistar quente,
e os corpos,
(que permanecem),
a proporção de estar cru.

2 de fevereiro de 2010

Num instante decide-me a espontânea luminosidade do gesto, o instante da voz, a abertura, os sinais do mundo, gosto
absoluto em pele ardente,
investida, raíz da matéria,
no regresso às palavras ;
gritos
turbulentos,
ribaltas
leguminosas
e estreitos convénios
dos cigarros da via
sólida
cinza escorrida
duma vez,
num dia do silêncio das casas,
(outras, notas,
soltas,
do cala-me elevado),
como foram dedos por detrás da carne
que vibra o sangue tecido,
por detrás dos corpos,
na sonora marca,
do curioso olhar,
perpendicular,
sentido, e não destino,

(e voltamos a pé no movimento)

em ocasional beleza,
ousado fragor,
dos espasmos da sombra,
o silêncio lhe perpassa.