23 de março de 2019


anoitece a meio
e em resultado disso
a cada interpretação
a chama não
por imitação transparece
da carne em alimento
ao que de si
se adivinha mesmo
marcado em acto no tempo

22 de março de 2019


o olhar retirado
e a coberto de uma qualquer
outra coisa
ressente a imagem
naquele sabor longínquo
qual recordação
que deixaste por exemplo

21 de março de 2019


o tempo de manhã
desperta do lado da paisagem
um contraste em respiração
que parado por dentro
cintura nas janelas as suspensas
tonalidades algumas
figuras a cada linha de uma dor
antiga e sombra
num calor seco
o instante em desnudados
cinzentos poros
que quais abertos passam



20 de março de 2019


sucedido ao limiar
de uma clareira em claridade
uma presença de perto
escala em torvelinho nascente
o mesmo hesitante azul
que na língua de cada gesto
em volta pausa a canção
da manhã num outro lugar

19 de março de 2019


ferido de atenção
o peso das formas
de um qual desejo
se vai crescendo
em grito tecido
nas silenciosas figuras
que aí se chegam

18 de março de 2019


num vago de leve aroma
e a ligeira brisa
em musicalidade largada
de nascença respira
a cada nota
o que se faz sentido

16 de março de 2019


sucedido de perto
e uma outra maneira
como que recorda
das coisas o semblante
oscilante e casual
do peso que prazer
uma vez cintura
que por ali passava

15 de março de 2019


o demorado momento
onde o odor começa das simples
coisas a cada carne
um corpo recorda persiste
a traço de esquecer
e cada segundo que preenche
o horizonte a distância
o segredo o grito
uma noite em silêncio a voz

14 de março de 2019


consolado de engano
um momento se faz regresso
próprio da condição
qual atravessa o sentimento
das cinzas sentidas
como se chegasse a cada um

13 de março de 2019


chama espaço
o apelo de uma atenção
imediatamente
em tempo duplo sentido
afecto a um ponto de vista