28 de julho de 2008

A quem...


A posição de uma atitude religiosa que resultaria da clara consciência e que excluiria senão a forma extática da religião pelo menos a sua forma mística difere profundamente das tentativas de fusão que preocupam espíritos preocupados com atribuir à fraqueza posições religiosas dadas no mundo presente.

Aqueles que no mundo religioso se assustam com a discordância de sentimentos, que procuram o vínculo das diferentes disciplinas e querem resolutamente negar o que opõe ao prelado romano o sanyasin, ou ao pastor kirkegaardiano o sufi, acabam por emascular – de ambos os lados – o que já procede de um compromisso da ordem intima com a (ordem) das coisas.

O espírito mais afastado da virilidade necessária para unir a violência e a consciência é o da “síntese”.

O cuidado em fazer a soma do que revelaram possibilidades religiosas separadas e de fazer, do conteúdo que lhes é comum, o principio de uma vida humana elevada à universalidade parece inatacável apesar dos seus resultados sem sabor, mas, para quem a vida humana é uma experiência a levar o mais longe possível, a soma universal é, necessariamente, a da sensibilidade religiosa no tempo.

A síntese é o mais claramente isto que revela a necessidade de ligar decididamente este mundo ao que a sensibilidade religiosa é na sua soma universal no tempo.

Esta clara revelação da decadência de todo o mundo religioso vivo (acusado nestas formas sintéticas que abandonam os limites estritos de uma tradição) não era dado na medida em que as manifestações arcaicas do sentimento religioso nos apareciam independentemente da sua significação, como nos hieróglifos dos quais só a decifração formal foi possível ; mas se esta significação é dada e se, em particular, a conduta do sacrifício, a menos clara mas a mais divina e a mais comum, cessa de nos estar fechada, a totalidade da experiência humana é nos devolvida.

E se nos elevamos pessoalmente aos mais altos graus da consciência clara, já não está mais em nós a coisa subjugada mas o soberano do qual a presença no mundo, dos pés à cabeça, da animalidade à ciência e do utensílio arcaico ao non-sense da poesia, é o da universalidade humana.

Soberania designa o movimento de violência livre e interiormente lancinante que anima a totalidade, resolve se em lágrimas, em êxtase e em eclosões de riso e revela o impossível no riso no êxtase ou nas lágrimas.

Mas o impossível assim revelado não é mais uma posição deslizante, é a soberana consciência de si, que, precisamente, não se desvia mais de si.


A quem a vida humana
é uma experiência a levar
o mais longe possível ...

Não quis exprimir o meu pensamento
mas ajudar-te a resgatar da indistinção
o que pensas de ti mesmo ...

Não diferes de mim mais do que
a tua perna direita da esquerda,
mas o que nos une é
O sono da razão – que produz monstros.

Georges Bataille ; "Théorie de la Religion".