27 de janeiro de 2009

( ... ) o facto de que a oposição negativa se transformou em oposição positiva faz bem aparecer o problema (...) . Na medida em que estão ligados à realidade dada, o pensamento e o comportamento exprimem uma falsa consciência, contribuem para manter uma ordem de factos que é falsa. E esta falsa consciência é expressa num aparelho técnico preponderante que, por seu turno, o renova.

Vivemos e morremos sob o signo da racionalidade e da produção. Sabemos que o aniquilamento é o tributo do progresso assim como a morte é o tributo da vida, sabemos que a destruição e o trabalho são necessários à partida para obter a satisfação e a alegria, sabemos que os negócios devem prosperar, sabemos que visar outras escolhas é Utopia. Esta ideologia é a do aparelho social estabelecido ; para poder continuar a funcionar ele precisa desta ideologia, ela faz parte da sua racionalidade.

No entanto o aparelho põe em cheque o seu projecto se o seu projecto é criar o acontecimento de uma existência humana numa natureza humanizada. E se tal é o seu propósito, a sua racionalidade não é mais que suspeita.

Ao mesmo tempo ela é mais lógica pois que desde o início o negativo está no positivo, o inumano na humanização, a escravatura na libertação. Esta dinâmica não é a do espírito, é a da realidade. Uma realidade para a constituição da qual o espírito científico desempenha um grande papel ao associar a razão teórica à razão práctica. (...)

H. Marcuse ; L’Homme Unidimensionnel.