14 de julho de 2009

Notei uma coisa ...

... bizarra, anormal,
estranha,
que ninguém quis
nem quer reconhecer
pois existem palavras de ordem,
de intransponíveis barreiras,
e formas de essenciais interditos :
somos uma vida de marionetas,
e aqueles que nos guiam e detém os fios do sujo despeito consideram antes de tudo e digo Antes de tudo o inveterado amor próprio dum cada um
que fez por que nada no mundo este um cada um não quisesse
não crer se livre,
e confessar, e reconhecer honesta e sinceramente que o não é.
Somos um mundo de autómatos sem consciência nem liberdades,
somos inconscientes orgânicos grafados sobre corpos, somos corpos grafados sobre nada,
uma espécie de nada sem medida e sem bordo e que não têm meio ou eixo, onde seria este eixo no nada, e o que seria o meio do nada (e de quê seria nada o meio) ? e como formaria o nada centro quando não existe invariável meio,
quando o invariável meio é uma fraude
que desarticula a realidade.


Antonin Artaud ; Autour de la séance au vieux-colombier ; 1947 ; Oeuvres.