6 de janeiro de 2013
Na fila.
Uma mulher conta na mão o preço indicado pela funcionária de serviço a duas latas de grão, feita a transacção, e enquanto ensaca as duas latas de grão, diz:
- É que Eles agora dizem que temos de beber muita água e de comer muito grão.
A fila esboça um sorriso silenciosamente cúmplice – talvez uma nova descoberta da ciência nutricional, supõem …
Enquanto vai ensacando as duas latas de grão a mulher justifica a (aparente) falta:
- É que por enquanto a água é da torneira, enquanto for permitido, claro.
O silencioso sorriso da fila transforma-se como que em ranger dentífrico, tenso e distenso, simultaneamente.
Já na posse do saco contendo as duas latas de grão despede-se a mulher:
- O que nos consola, é que também Eles morrem.
A fila continua silenciosamente a sorrir, mas este sorriso, que segundos atrás era sóbrio, subtil, surge agora nos lábios da mesma como se fora uma espécie de celebração … digamos assim.