19 de setembro de 2017

Terra, o parecer de uma caligrafia simétrica.

Confortavelmente acedemos aos túneis. A meio do caminho, a sugestão de uma linha, de um sincopar passível. Um qual não sentido que fica qual: cílio, âncora, rebento e safira. Sim, o substantivo é, por vezes, como que um estado de interlúdio musical, uma adjectivada mistura das belas condições, um tomar da tessitura cravejada, flamejante.

De ver os campos de amarelo
Antigo e janelas com fios de chuva
Tomados na passagem do reflexo
Em fontes de cintilações elétricas.

Qual matéria de fundo
Aos corpos assombrados
De uma espécie de proveito raro
E centelha de sombra chega
Aos umbrais recortados
De uma tinta branca –
Traços de tempo em sonoras.

O limite marca a semelhança a traço de falta e um aspecto profundo. Isso, num traço invisível. Depois, algo de inominável surge assim, significativo e raramente, e a cada contacto produz, os pedaços de movimento da matéria.

Fluidos, fruídos a cada volta nos corpos arrancados da intriga os rios nas suas margens sedimentadas. Informadas de sugestão e promessa. Fazem, os despedaçados corpos da comunhão, do acto canibal da conquista.

A ‘felicidade’ é este contínuo produzir de panoramas. Os actos numa direcção da festa, um sentido. Não é impunemente que se tocam os fundamentos da carne mas é em vão que se atiram os momentos esfacelados do silêncio e do fundo, emerge a tragédia, o absurdo de qualquer justificação. Como se da saciedade se soltasse, continuamente, o grito da violência, da selvajaria, numa representação que deixa o olhar em volta, sequioso de uma razão, de um sinal.

É por isso a comédia a mais natural das ligações ao espírito do canibalismo. O gesto de Baubo agarra e cessa, recomeça o vazio num verdadeiro ritual de verticalidade. O mundo é o que fica nos pomares e nos gestos replicados, e incomoda-nos pois a razão, que o absurdo da violência nos preenche de terror a passagem. E exigimos uma resposta, a parte, o sedimento, o depósito.

Mas esta construção não é possível afinal - derruba-se. Qual essência de um pensamento a essência de uma prática contínua povoada de detritos e renovada dos detritos em sementeiras de inovação e sorrisos muito antigos.

Um trabalho de representação e de produção de detritos.

Corpos empilhados de calor e soslaio ligam-se em vazio nos cortados gestos da antiga sagração na carne, quais amontoadas marcas deste mundo, infinitamente em solução dos silêncios guardados, em partilha do sacrifício.

Esta representação do sacrifício é a muralha e a mesma palavra que concede, um dia, no auge da batalha, a condição dos corpos e a exaltação do território. A calcinada terra numa incontrolável visão das partes erigidas, em carne silenciosa.

A civilização é esta obra e o motivo ajustados em renovação da chacina.

O silêncio ajusta um grito ao absurdo a que chamamos: as memórias inventadas do destino e chamamos e por todo o lado nos fazemos da expressão ruidosa. Nunca para o trabalho nas regiões conquistadas.

O sono do canibal saciado é feito destas carcaças ocas de calor na carne a preço de silêncio o fogo ao olhar adentra devorado de motivo e condição de alimento. Jaz derramado na pedra por acto do olhar fixo, silencioso.

E os sorrisos na terra rasgada, segundos de torres e muralhas, concertadas, urdidas.

Este caminho para a fábula é feito de palavras e de deixá-las suspensas, húmidas. Dissimulam, procedem do que fica. Qual espessa aprendizagem, qual objeto afinal, que absurdo.

Entenda-se por isto que as palavras cortam e que são cortadas, disto. Não mais do que um espirro de sangue ou de temperatura ideal, de cozedura. A fábula é utensílio de corte. A fábula é o que é cortado.

E é por isso que a dissimulação não tem fim e que o exercício do silêncio tanto pode ser uma coisa como a outra e ainda, que nunca existiu, em toda a história das palavras, uma que enganasse, pois como poderia?

Estava um dia o lobo a dessedentar-se junto ao rio quando chegou o cordeiro, etc.

Mais ainda. Conta-se que por alturas da grande enchente alguém apontou o estado da hora numa língua estranha e, fora de qualquer tempo, gesticulou. Dali partiu para regiões desconhecidas. Todos nos lembramos da comoção do êxodo e das ondas de impacto e das sucessivas réplicas que subsistem, silenciosas, na já esquecida memória. Sagrados recantos dessa nova condição.

Moral da história. A superfície dos vivos é a instalada forma do confortável indício. Recorta o activo do sangue em desejo, nas sanguíneas veias, em regresso à (estranha) língua da desolação.

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