22 de maio de 2012

Sucede igualmente essa aparência dourada do perfil que já não serve para nada uma vez que nunca torna estatutária da noite e nem sequer é do bom canibalesco gosto ao fim do linear vómito que enche-lhe em fogo o natural atributo quando chega a hora do ajuntamento.E, pronto a seguir nessa direcção, não há dia em que são todo, convém esclarecer, se não tome da condição da mais-valia, do bem-estar, num certo facial controlo acrescido em temida contenção verbal, autorizada da razão que se diz, num gesto pensado ao fundo do ser comedido da motivação, e, em qualquer que seja o agir assim.
Estar esse instante mesmo tornado em palavra num gatilho intempestivo. Colocado à maneira que chegue e vá pois lhe seja leve o dia à beira-mar passado a ver os peixes ou o raio que os parta. Melancólico azevinho a muita multidão como um tanto arremetido ao controverso em linear da satisfação. Como que um concordante azulejo das outras utilidades, aquilo que satisfaz, faz a mais, a mostra.

Outra direcção debaixo do sol. O rio calmo desta vez. Basta dizer onde o lugar. Pois não é o acordar da tensão que o afirma e voga como afinal inteiro, verdadeiramente. É que por mais que cante o chão não sei das pegadas do sol. Tomai-lhe as mãos e o corpo e morrerei no meu sangue inebriado como dispersa espuma ao sabor da direcção conhecida. Mais ou menos meia dúzia de palavras vivas deve ser. Como uma implantação razoável do dito fado das almas que não é mais que o acto oracular, e não se diz.

21 de maio de 2012

Esse olhar qualquer coisa que por entre a multidão perdida irrompe outra vida para nos contar, como a via do véu, num oculto lamento, leva o rio do sangue, ao altar do planalto em festa.
Como seria se desabassem as pontes,
na ultima manhã do mundo,
e das ruínas se edificassem de novo,
os monumentos da velha implantação.

Acenda o caudal e dê-me o troco por favor.
Permita-me esta partida antes que de todo se consuma.

O que seria um notável progresso diga-se.

20 de maio de 2012

W.Benjamin - Fragmento Teológico-Político

Unicamente o próprio Messias cumpre o devir histórico no sentido em que apenas ele resgata, completa, cria a relação deste devir com o próprio elemento messiânico. Eis porque nenhuma realidade histórica pode, por si mesma, querer relacionar-se no plano messiânico. Eis porque o reino de deus não é o telos da dunamis histórica pois não pode ser posto como fim. Historicamente não é um fim é um termo. Eis porque a ordem do profano não pode ser tecida sobre a ideia do reino de deus e eis porque a teocracia não tem um sentido político mas unicamente um sentido religioso. O maior mérito do Espírito da Utopia de E. Bloch é o ter recusado vigorosamente qualquer significação política à teocracia.
A ordem do profano deve edificar-se na ideia de felicidade. A relação desta ordem com o elemento messiânico é um dos ensinamentos essenciais da filosofia da história. Esta relação condiciona, com efeito, uma concepção mística da história cujo problema se pode expor numa imagem. Se representarmos por uma seta o fim na direcção do qual se exerce a direcção da dunamis do profano e noutra seta a direcção da intensidade messiânica, com toda a certeza que a demanda pela felicidade da humanidade livre tende a descartar-se desta orientação messiânica, mas da mesma maneira que uma força pode, na sua trajectória, favorecer a acção de uma outra força em trajectória oposta, também a ordem profana do profano pode favorecer o advento do reino messiânico. Se o profano não é, portanto, uma categoria deste reino, é, no entanto, uma categoria, e das mais pertinentes, por força da sua imperceptível movimentação nesse sentido. Pois na felicidade tudo o que é terrestre aspira à sua anulação mas é unicamente na felicidade que esta anulação lhe é prometida. E isto mesmo que seja verdade que a intensidade messiânica imediata do coração em cada indivíduo no seu ser interior se adquira pela infelicidade no sentido do sofrimento. Ao movimento espiritual da restituio in integrum que conduz à imortalidade corresponde uma restituio secular que conduz à eternidade de uma anulação, e o ritmo desta realidade secular eternamente evanescente, evanescente na sua totalidade, evanescente na sua totalidade espacial, mas também temporal, o ritmo desta natureza messiânica é a felicidade. Pois messiânica é a natureza na sua total e eterna evanescência.
Procurar exaustivamente esta evanescência, mesmo a estes níveis do homem que são natureza, tal é a tarefa da política mundial cujo método se deve chamar nihilismo.

W. Benjamin – Fragmento Teológico-Político - (tradução livre da tradução francesa)
Há mantimentos que cheguem. Queira-se assim.
Basta o frugal pronome numa adverbial sopa da variação do sabor.
Os arrebatados lábios vão do reflexo ao outro em labilidade.
Até que a morte os separe. E chegue a música do prazer.

Dos socalcos montanhosos
Desce a multicolorida flor
Num desassossegado delírio
Em tentação estendida
Do borbulhar soberbo
Numa manta de retalhos perfeitos.

O tempo erigido oliveira diversa colagem pois se vê.
O que tem o verbo junto ao malmequer reflexo do canto assombrado.
Não padece mas cansa porém: as mesmas palavras, os mesmos gestos, a mesma observação cirúrgica, o mesmo lugar-comum - é como fora um peso que faz por colar-se à pele, uma espécie de “nanoimplantação”.

19 de maio de 2012

Vela. Corpo.
Petrificada estátua.
O olhar glacial.

Ao inverso esse que fala à memória o sentir que marca o acerto, por vezes, também por aí passou, e ao afagar a terra, territorialmente em silêncio, fez a mal colocada palavra, no mundo em ponto ao contraponto.

18 de maio de 2012

Único. A peremptória afirmação crítica é como a cereja, come-se, ou não, consoante o apetite do momento, ou a sua nutritiva utilidade. Nesse único, ao habitar a atenção dirigida, dispersa em direcção aparente, como se dizia da peremptória afirmação crítica, revela-se o circular circuito, da momentânea utilidade singular, logo única, e portanto nesse sentido único, ou único circular circuito.

16 de maio de 2012

Bem, sim, vai, ainda não é certo, mas creio que sim, que assim será. Em segundo lugar, e mesmo nesse caso, claro, sem dúvida que esse é, e o outro, que à partida seria, já depois de passada a distância, era. Pois no que diz respeito ao interesse que tem, ou teria, respectivamente, nunca seria, ou será, nessa hipotética forma, pois isso não é, exactamente, nenhuma brincadeira. É, não ficaria portanto nessa norma e não admiraria que, eventualmente, isso viesse a acontecer. Digo-te então pá, à laia de conclusão, que por aí vamos, por entre a multidão, numa atitude assim, como que barroca, quando ao refulgir das ondas bate o sol a verde encantamento que passara-se ao tímbalar sobressalto, caído ao renascer dum bafo quente, exalado a fruto na lenta movimentação corpuscular crepitante do brilho da maresia tórrida, porém. Como fora forma, porém sem ser.