21 de agosto de 2018


enigma quanto

nessa noite sucumbiam dedos por entre os veios da madeira e as azuis formas de uma suava envolvida carícia

nada do que importa
alguma vez chegou a ser dito
em nenhuma palavra
de historicidade e falta comum

basta ver que nesse tempo
e isto não deixa de surpreender
o silêncio das palavras
supunha-se chegaria no mistério
das elevadas notas
de dentro e de perto
à impossível raiz das gramáticas
através da noite quais partes
sem saber de sonho adiantadas
em sintonia de uma nova regra
(de um outro espaço)
em derrocada se extinguiam
e só ficava o sangue
nos descompassados ecos da linguagem
feita à medida do lugar
na pele por aromas interpretados
da convulsão dos antigos
escritos nasceram
aquelas negras sílabas
qual mais valia da exultação
da palavra que fica das letras
a descodificar de beleza
o eu pormenor da vogal acentuada
num esquecido segundo
ao redor dos olhos mas não
dos lábios como é mais usual
e que pois refere e (se) refere

20 de agosto de 2018


chegar nunca
será dessa dor
das outras vidas
tu antes de partir
de madrugada

o que conta na expressão é a descrição clara e precisa da intuição elementar pois as intuições elementares do pensamento são as intuições elementares da linguagem

linha

por momentos vacila
mas depois não seria assim que caminhavam
as máscaras
a iluminar a inicial da primavera
numa voz (eram poucas as palavras)
da paragem das horas
e os céus caiam em luminosidades terríveis

18 de agosto de 2018


esotérica das ideias: clarões de coincidência, de semelhança

Na fábula o consumar do acto está sempre suspenso de uma última palavra de réplica, como se desta lhe chegasse o motivo do desenlace, e daí se sublimasse, numa exterioridade sentida por assim dizer

Elea nunca se entre olham
para não se revelarem
e o campo vai-se povoando
dos seus gritos e murmúrios
e quando por fim tudo acaba
cobrem-se emudecidos
de reprodução e lamento

17 de agosto de 2018


esotérica da palavra: o dizer pela máscara, ou pela palavra, aquilo que não deve ser dito, é como que a estratégica expressão do eufemismo na fala, ou na escrita.

por sucessivas camadas
do ar da palavra
distende a respiração
num tu e eu evasivo
a sincopar as letras
- distraído -
do ponto de vista
das pneumáticas analogias

da hesitação

algo eu de não estar
em cada pedaço de uma despedaçada nuvem
e outro ao passar do tempo
sublinha em algumas linhas
de diferença
o hesitantemente agora chegar da rosa de olhar perdido
desce
aos joviais labirintos
das soberbas ofegantes metonímias
de origem
numa alterada respiração de amarelo carnal