24 de outubro de 2018


demais diverso
frenesim cegamente
avesso flutua
perdizer das alturas
amanhecer pluviosas
manhãs de romaria

23 de outubro de 2018


horas estas a que leite
jorra os seus apetecidos mananciais
de delícia aos habitantes
das terras que desjejuam sentados
nas mesas quais iluminuras
de simplicidade e bonomia
aquela natureza agora desperta

22 de outubro de 2018


cedo

ainda ligeiramente adormecida
dado o extremo matinal da hora
a manhã pouco a pouco estende
os seus róseos dedos num cálido
calor daquela luz que vivifica
e preenche a terra de aconchego

20 de outubro de 2018


por fim tudo acaba
naquela sobrenatural imagem
das tessituras investidas
mundaneidades passadas
em alimento e vegetação

19 de outubro de 2018


esotérica da linguagem: fica entre a memória daquilo que se ouviu e o agora que se vê

na plácida visão
dos lagos em melancolia
azul tonalidade
acerca das violetas
cai derramada de calmaria
consigo mesma

18 de outubro de 2018


passara o tempo demorado
em cada sombra de subir estas encostas
depressa me cansaria de dizer
o mesmo em volta aos acolhidos sorrisos

17 de outubro de 2018


De passagem qualquer
do lado da mesma terra mas não
como se fosse um outro
em caloroso momento das coisas com vontade
das coisas invoca
desperta um horizonte
ao plástico pormenor
daquela imagem que não se diz

16 de outubro de 2018


Breve considerando de escrita

Daqui se retiram os considerandos da expressão que em si encerra aquelas pequeníssimas partículas do que se quer sentido ou notado
Daquilo que se quer e pretende notado da copiosa expressão e da lentidão avassaladora da mesma.

A expressão copiosa tem o senão de produzir uma quantidade quase insuportável de lixo e é difícil escolher nessas circunstâncias
pois conquanto em si cada palavra encerre as sementes da verdade
essa abundância das palavras tem o inconveniente de poder tornar o trabalho de decantação demasiado exaustivo
ou mesmo inútil se a esse mesmo trabalho se não se conceder uma certa e devida atenção mais morosa por assim dizer
Ou seja a expressão copiosa corre o risco maior de extenuar ou exaurir aquele estado de intuição que se quer vigilante durante todo o longo processo de decantação das palavras
por muito paradoxal que possa parecer este raciocínio aqui aplicado a um conceito já de si tão volátil como o da intuição das palavras a notar.

Dito isto considerar-se-ia que a expressão lenta tem a vantagem da prudência por assim dizer
consideração essa que não seria de todo apressada diga-se
mas por muito que este tipo de expressão lenta e quase acabada elucide por vezes de uma satisfação imediata
padece no seu âmago do pecado original da reflexão
e pode portanto e por vezes
toldar ou mesmo paralisar o trabalho de composição de sentido
como quando tarda o reconhecimento daquela ansiada e misteriosa expressão de equilíbrio
que completa digamos assim
e a disposta matéria seja por falta de discernimento ou mesmo cansaço é então cortada fora de tempo e de lugar
e assim torna os trabalhados resquícios em matéria mais ou menos desconsiderada ou mesmo irrelevante diga-se
Em matéria demasiado pesada ou mesmo demasiado leve por assim dizer.

É portanto a lapidação o momento crucial do sentido da ligação neste sentido das palavras sejam elas lentas ou apressadas o que implica que qualquer decisão precipitada ou mesmo atrasada corre o risco de deitar a perder todo um trabalho de produção das mesmas digamos assim.

No entanto quando uma linha chega de imediato se reconhece e isso é espontaneidade ou aquele encontrado equilíbrio que dissecado a meio da musical seleção e nesses momentos se toma de uma certa magia que encostada ao tom e nessa mesma nota daí se prolonga de memória ao coração encantados ambos mas isso já seriam outras cantigas.

Diga-se por fim que embora o ser musical não baste para chegar ao fundo abissal do abismo que corta aos abundantes cumes vivificadores da palavra encantada preza-se no entanto e é bom reconhecer que a cada sucessão de palavras se executam alguns automatismos de primeira e de segunda extracção por assim dizer.

15 de outubro de 2018


espelhado da recordação
das águas invisível assinatura
um corpo assentado
nas pedras ao fim da noite
espera mas sem qualquer imagem