31 de julho de 2019
30 de julho de 2019
Do outro
chegar-te em silêncio
que fazes versos
preenchido num salto
de cor adentro
as idades num gesto
adiadas a cada minuto
nas ruas em silêncio choram
seguir-te-ia recentemente
mas apenas até um certo ponto da palavra
que de fronte se apresenta
canto que não seria motivo para tanto
e não quer dizer o mesmo
que lançado das palavras se conceda
naquela voz em que a sorrir te partes
não sei de que peso te leve em lacerado ritmo
eu cá por mim esperava mais pela noitinha
que perto chegasse e então acompanhar-te-ia
em silêncio a noite parece um rumor
que a cada dia em promessa chega renovado
e caminhas no entanto esquecido
por entre as máscaras que em volta te habitam
enquanto passas no teu passo
que parece lento o acompanhar-te envolto
não sei de quê cansou-me
de estar num gesto a presença das coisas
que assoladas soam
nos recomeçados restos de uma luz ao longe
a chuva nos teus passos pisava
e regressaria em presença ao trepidante leve
sinal em que caminhas
cada gesto da silente agonia que passava
nos teus olhos como um respirar
daquele não sentido a um pensamento contigo
29 de julho de 2019
Da mão que lava a outra
Lavaria as mãos devagar
Pensara num momento ir lavar as mãos devagar mas antes notado ao momento seguinte desse mesmo impulso que não concretizado do ir lavar as mãos devagar como que sublimara num outro sentido
pois impulso não é decisão
que todas as decisões são devagar
e levam o seu tempo
caso contrário não seriam decisões
notara das mãos devagar que as mãos notaria apenas e se se tivesse concretizado devagar esse primeiro impulso
o que não quer dizer que as tivesse efectivamente lavado
mas antes que em liberdade notou que assim sentiu de imediato
e assim se estabeleceu numa diferença esta entre o dizer que fazer e o fazer propriamente dito
que não pretendendo no entanto com isso demonstrar-se do que quer que fosse
ter-se-ia então limitado a deixar que esse facto aparentemente inútil de escrever que lavraria as mãos devagar
se fizesse notar numa folha de papel outrora branco
e a distinção que aí se lhe faz
já dentro a noite das horas
se é que se pode considerar a noite
a das horas ao pensá-lo
se distinguia numa outra noite
o que fica muito claro
sem contudo se pensar muito nisso
pois aquele instante
em que se pensa e repensa
separado muito rapidamente
por momentos suspende
o que sem pensar se escrevera
numa folha de papel
de regresso ao instante
em que a notação se parara
depois estendido
num outro que diferente
poder-se-ia considerar
uma observação de ‘mim’
ou do que sem pensar
se fora escrevendo
do que se vai pensando
do que vai escrevendo
em qual cor se vai pensando
que se vai escrevendo
e por aí fora numa outra direcção
estendido em volta
do que tornava desse mesmo
ponto se parou
fora do tempo verbal
e adiante observou
que separado ao momento
em que já não escreve
sem pensar apenas espera
que lhe fale o que escrevia
e assim sem pensar se manifeste
por qualquer maneira
o que parou de escrever sem pensar
(por muito que esta linha
possa parecer forçada
foi escrita sem pensar)
pois então já não era
o mesmo que separado
lhe disse adeus
e agradeceu o ímpeto
por assim dizer
e mesmo assim não
ficou no mesmo
que então escrevia
porque parou para pensar
saído para dentro das palavras
que como que estendidas
às avessas desse ‘mim’
pensado se tornara
a escrever da curiosa
experiência de estender-se
num espelho branco
para aí se ler e pensar
observou de repente
que num outro
um mesmo se espera
suspenso de chegar
a um não sei quê
que assim se pense
e embora tenha uma certa experiência destas coisas sempre acabaria por me surpreender acrescentaria pois embora de todo esse não fosse o tema suscitado
uma brusca paragem
e a sua posterior observação
suscitada de uma não decisão
e o deixar sair-se mesmo assim
nesse impulso de escrever
a fictícia decisão de ir lavar
as mãos devagar
e o acrescentar-se daí reflectido
o reconduzira sem dúvida
agora e de novo à decisão
de escrever que notara
que lavaria as mãos devagar
a pensar que o escreveria
mas nesse sentido
era já muito tarde
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