31 de março de 2010

Dissemelhança.

Um rosto – "sósia".

Uma porta que se abre,
um movimento,
os suspensos olhos num
segundo, o outro lado
do olhar, a surpresa atenção
mantém do rosto, os fixos
olhos nesse instante.

Suspensa continuação do movimento maquinal. O efeito é tido no contratempo que deixa-se ficar balanceado (simultaneamente) na continuação. Daí o efeito de tensão muscular. Representa o contraponto.

O baixar de pálpebras,
a comissura, levemente.

A significação da memória encontra o seu fim aberto no movimento suspenso da semelhança extraordinária. Esta produção da memória inicial, assim sobreposta, é racionalização da “liberdade”, da imagem, como um “afinar das causas”. É como afecto da sobreposta imagem que liberta do afecto e da imagem, numa sobreposição.

E não é que esta distância esteja propriamente no tempo mas antes na produção e vivência do desdobramento da imagem, na sua repetição, no momento, na suspensão.

Já não é memória, mas criação de memória.

- Peço desculpa, estava distraído.
- Olá. Recordo-me. Confesso-me curiosa.
- Sim, é de facto uma semelhança extraordinária, um conhecimento vago no entanto, não distante ou longínquo, apenas vago.
- De qualquer forma.
- Sim, não.
- (Sorriso).

29 de março de 2010

As ruas descidas,
as rodas num preparado,
o fazer retardado,
em sangue da carnificina,
num rápido reflexo,
do mundo em ocultação,
(este gesto do convir vertical
em horizontal campo de dor preenchido),
num prazer da soterrada,
(arte) inquieta sobre o vulcão,
a figura, ideal,
do dado num gesto,
(estudado),
a visto e rápido,
em marcar do mundo,
numa cruzada voz,
da reacção em mascarada,

*

baluartes num murmúrio
ao atingir da sombra
em claro/escuro,
cinzelados, golpes,
sincopadamente,
um movimento da memória,
cega e confiante,
o magnético ondular,
da fermentação animal,
e as cores circuladas,
como o sentir
que de todo constrange
em primeiro e flui,
nuvem estacionada,
na maturação
dum assentamento da forma,
um fluir assim,
que a deslocação das vidas
esquecem, adiantam.
suspendera em delícia,
o distraído instante surpreso,
- o corpo está nesse instante –
que esquece por muito tempo,
as passagens do campo em baixo ;

e cai todo um corpo
nas animadas silhuetas
de como um suave e carnal
desassossego nas esquecidas manhãs,
do lento movimento
aos olhos numa visão
dos secretos corpos deixados
(fora/dentro a luz que quase toca)
do corpo rugido (fulvo)
que consagra o absoluto silêncio
e toca e liquefaz a pele
ao estar a franja duma luz suave
que fica o saciado contacto
num estar, numa dimensão de estar
“Extravagante efeito esse que proveio daquela miséria da mente humana, ..., a qual, permanecendo imersa e sepultada no corpo, é naturalmente inclinada a sentir as coisas do corpo e deve usar demasiado esforço e fadiga para se compreender a si mesma, como o olho corporal que vê todos os objectos fora de si e necessita do espelho para se ver a si próprio ... “

G. Vico ; Ciência Nova – Gulbenkian.
“Só chego ao ponto de poder indicar a direcção de onde vem um som, porque um afecta as minhas orelhas diferentemente do outro, mas isso não o oiço.”

L. Wittgenstein ; Últimos escritos sobre a filosofia da psicologia – Gulbenkian.
Baqueio Barco.
Branqueio Baco.
Recaio Lago.
Alago Barco.
Baco … e cerceio.
No centro duma posição prá©tica
contagem do tem dito amálgama
em aquecimento da volátil rotação
dos critérios da calcinação em rasto
do fundamento ocidental a triagem
na maneira do aspergir constituídos
os voláteis ritos do vazio olhar a via.

A cabo do som,
nos traços traçado,
que desce aos olhos
no lábil canto
que estende o friso do corpo em vibração localizada,
um fluxo transposto,
dos olhos cerrados,
num despertar
em mais de azul
disperso
da volta rápida,
(digamos assim),
num sentido segundo,
num, das alegorias das ditas qualidades do verde,
(prazenteiro verde),
por solução de esmeralda
e cintilante
em afundo residual
da faixa do grito
em apelo das multidões,
(“olha para aqui agora”)
a parte oriental,
dos arcos e rastos,
dos riscos e pedras,
em ressalto na matéria,
das malas em vão,
e numa contraintraversão.
A Noite Vertical.

Que eu seja – a bola de oiro lançada no sol levante.
Que eu seja – O pêndulo que retorna ao ponto morto procurar a vertical nocturna do verbo.
Que eu seja – um e o outro prato da balança, o fiel. O período compreendido entre os dois extremos da sacada universal que é o batimento de coração segundo o qual podemos duvidar do possível e tudo esperar do seu ansioso “rien ne va plus”.

Lanço ao possível este desafio : Que eu seja a bala no salto de um instante de liberdade.
Lanço este grito – Que eu seja a bala do seu silêncio.

A minha partida chama-se sempre, todos os dias, todos os instantes do grande dia. O meu regresso a nunca, eterna vertical nocturna, ponto morto, igual a ele mesmo, que o outro franqueia – sempre.

Que sou eu ?
Sempre o mesmo retorno, o que retorna a dizer ainda um outro.

Stanislas Rodanski – Anthologie de la poésie française du XX siécle – (tradução livre)
Como variável nos modos do amor soubera :
- olhai que passam barcos acima dos montes, em delírio –
vide,
os dilúvios da visceral vontade,
as composições,
o sangue do meu sangue,
a pútrida voz,
os caldos de galinha ...
e quanto mais palavras, não será hora de as reconhecer.

28 de março de 2010

Suspendem-se as palavras sem fim,
Falta o interlúdio, fio dessas causas,
Suspendem-se as imagens sem fim,
Apenas ocorres, o fim destas causas.