8 de abril de 2010

Anónimo

Som de voz desperto,
o destacado risco,
da trama fina,
num salto extenso.

Os híbridos redondéis ressoam reactivas espécies das palavras como por interna sequência daquela sucessão de gestos,
ondulação (cheia)
tomada em apoteose,
aposta classe
edificada do cimento,
lançado ponto de aplicação.
nos rasgos do caos frio,
por lâminas dum retardo insolente,
as vidas, num volteio de cima,
recortes, cume do sol,
os cimos do permanecer,
(lânguido, arvorado, desfeito),
acto duma satisfação,
- entre o estar que sobe e o correr de aspiração táctil -
no odor da cor viva,
em sabor da terra,
e desfeito em plástica,
disposição do contorno
(acertos de efeito)
em estado de distanciamento próprio da razão disforme.

Outras marés do sentido se objectivasse uma afinação do corpo.
A razão do desenlace em geração (ao largo) mineral das alas densas.

Ao fim da floresta,
no caminho em verde,
os estados em passagem,
onde a forma é vaga,
e o aspecto abrasivo,
laboriosamente aspergido,
como num desgaste.

7 de abril de 2010

Um diálogo cultural, algures.

- Ah. A Cultura. O requinte da palavra, a elegância do gesto. Sempre a sinto quase como se fora um natural “afrodisíaco”, percebes, um estar que sabe e sobe em destacada dignidade da imagem, uma elevação dos retiros, as bucólicas efígies da terra ancestral, nossa, todo um mundo das partilhas, dos afectos, dos ensinamentos, da história.
- Costumo pensá-la como um rosto na multidão, uma reconhecida expressão.
- (Rápido olhar em volta, escarninho) – Nasceste na terra, suponho.
- Ora, deixa lá isso, não tens que te sentir assim.
Fonte antiga.

Na base da rocha cerrara-se o animal aos gritos e sinais da vigia. Sobre a nascente caíra a sombra de um poder velho.

o coração persiste,
a mais alta fonte,
no dia selvagem,
caminha sombras,
ramadas da noite,
faz-se ao artifício
da lama e segue,
em silêncio,
ao nascer do dia,
o cair das águas,
(olhos em volta do silêncio),
a semelhança presente,
no antigo lugar,
do apelo entre as rochas,
as ligas fendidas,
da cega memória
dos aterrados dias,
funda ausência,
por muitas eras,

(estilhaços por toda a carne)

e no cego momento
da luz tão perto,
erguido dessa lama,
ao repente da força,
o correr do enlace,
aos lagos torrenciais,
nas paredes de cristal,
a encerrada imagem,
golpe da vida,
em clamor mais fundo,
jorra-lhe a fúria,
no corpo incendiado,
e na margem, exausto,
repousa o peito,
um instante junto,
que fica a respiração,
na funda imagem
dos poços e fontes.

Bocados da carne atirados em valor – cães - tomados por constelações aos cimos da terra antiga. Descansa o seu corpo na imagem, carne e lama, a violência rasgada, assim.

6 de abril de 2010

“... ele fez de si mesmo um mundo inteiro. Porque, como a metafísica reflectida ensina que “homo intelligendo fit omnia”, assim esta metafísica fantasiada demonstra que “homo non intelligendo fit omnia”, e talvez isto seja dito com mais verdade do que aquilo, porque o homem ao entender, abre a sua mente e compreende essas coisas mas, ao não entender, ele faz de si essas coisas e, ao transformar-se nelas, vem a sê-lo...”

G. Vico ; Ciência Nova – Gulbenkian.
Conhece a tua solidão.

A minha mão de glória brinca sobre os fios da virgem
A noite é uma lira melodiosa
A minha música queima a sombra das árvores mortais
A minha música queima de acordo com a água
Trago a minha chama ao coração do gelo
Cristal silencioso da minha solidão
Liberta a minha sombra o meu reflexo morria com as folhagens
Estou só
Junto a um mar de leite onde nadam peixes fraternos
O meu sangue perpétuo conhece a sua profundeza

Para amar é preciso ser dois
O amor é uma grande solidão
Estrela de mar a mulher é água meditativa

Prisioneiro dos lugares das planícies múltiplas
Fugi em mim o mundo
Belo espaço restaurado grandeza, natureza
O mundo lugar comum
Lugar humano
Cada um seu centro íntimo igual a um ou outro
Do semelhante ao mesmo vamos e vimos
Tal como em nós mesmos em fim da demanda
A verdade banha-nos todos nus na nossa nudez radiante
Mil vezes mais só de olhar-se nos olhos
E de reencontrar-se no fundo do poço
Poços de ciência intima

Sou tão vasto de estar só
Crer-me-ia múltiplo

Mulher o teu corpo é uma lua rubra
A tua noite um gelado branco
O teu corpo de todos os dias é uma manhã
Mas tu és todas as chuvas do mar
E por isso te amo
Amando a noite.

Stanislas Rodanski – Anthologie de la poésie française du XX siécle – (tradução livre)
Grito que agarra
se numa porém
sólida tendência
em reflexo tornado
insone e conforme
ao tropel das manifestações ;
ou então espalhado em dia,
como balde de rotunda.
Ô têmpora

acordas de fogo,
num dia chegara,
aos arrancados pedaços,
das vidas em volta,
e uma luz segura,
por toda a terra,
estende o assentar,
dos olhos regresso,
sequer o fogo,
e tal pensar, adeus.

*
Desfalecera em tal terra,
as costas na terra,
desabrigado aos trovões
da luz, as passagens,
das erigidas autoridades em campo.

5 de abril de 2010

No principio era apenas fogo,
rasgava o céu um troar das feras,
curtos movimentos,
o mais circular leve indício.

A observação do calor fora o corpo em anunciações da primavera, técnicas, rodas, expulsões num alongar dos tecidos, a fundo ... o sangue activo.

Numa expansão (do corpo) em espanto a regra das mais notáveis contradições idas, fases e leituras de horizonte, aberto, numa posição.
“ Uma distinção filosófica emerge gradualmente à consciência : não há um momento determinado na história antes do qual ela não é reconhecida e depois do qual surge como algo perfeitamente claro (...) Scoto distingue entre conceber confusamente e conceber o confuso, e como qualquer conceito obscuro inclui necessariamente algo mais do que o seu objecto próprio, naquilo que é obscuramente concebido, há sempre uma concepção de algo confuso ...”

C.S. Peirce (sobre Leibniz/Scoto e a “distinção”) ; Semiótica –Ed. Perspectiva.
Os olhos de intensidade
uníssona circulam
raios do sangue
imaculado solfejo
de todas as manifestações
afim do fazer canto
e acesos murmúrios
no aparente da progressão
da fluída sombra
que persiste o esquecimento.

O aberto mar roda do percurso espalhado em soma nas palavras do acto investido a sentir espaços cair da luz.