26 de dezembro de 2010

No dia seguinte estava cinzento como fora um rescaldo, um abandono, ou os que perdem-se, os que procuram ainda, enfim, as raras aves nunca poisam, apenas pairam e vão circulando como que para dissipar a névoa de uma qualquer presença nas pontes perdidas do tempo onde estará, é uma interrogação que fica, o universo é como amálgama de detritos voláteis embutidos na superfície dos corpos revirados a apodrecer em cada dia, luzes na luz do dia seguinte, e nós, que apenas queria ficar i-móvel.

24 de dezembro de 2010

Impassível, dizia o olhar, im-passível. No lugar perdido, (como esse), ergue-se o tempo às altas torres, aos castelos abandonados – e o vento tomava-te os cabelos que diziam (o) olhar (do) que passa - como sempre, levou consigo o (ruidoso) silêncio da noite.
O pontilhar da bruma no fundo.
Uma antiga voz que chama.
Qualquer coisa.
Levanta-se o corpo e fica por detrás dos olhos.
Uma imagem, (quase sempre começa numa imagem). Voz muda - os sincopados corpos a deixar à noite o som todo e a afundar, no seu silêncio, um subir das entranhas na luz difusa. Era essa a imagem muda da voz que corre em qualquer coisa, num espaço do mundo, das palavras, depois retira.

23 de dezembro de 2010

Espera-me a canção nos olhos que fogem.
Envolta em cada palavra rompe ao grito dessa luz sem fim.
(São pedaços dessa imagem).
E olhas-te então como qualquer coisa.
Chega-te. Vês. Na sombra. Os pedaços do teu desejo.
Últimas ondas.
Os fios de um enigma.
O espaço em passo terrível
como que chega
em sobressalto ao ventre
dos metais em festa.
Singular como as coisas, assim.

22 de dezembro de 2010

Ao Espelho.

Fica perante o espelho e vê a sua própria cegueira. As franjas dos seus olhos estão pesadas, como esculpidas no aço. A sua pupila é cinzenta como a névoa suspensa da ideia universal. E o espelho no qual observa está completamente cego, vê a sua própria cegueira. Fica perante o espelho e olha tão claramente, com tanta acuidade, não pode, no entanto, transgredir do olhar a sua própria cegueira – ela está tão longe, ilimitada!

Moshe Nadir ; “Anthologie de la poésie yiddish” – Gallimard - (trad. livre).
Inerte ao vazio da direcção,
(esgotados postos pontos),
não se reflecte a distância,
da inicial explosão do fim,
nos crivados cantos dum sopro
cinza em rajadas de cor aos seus retiros.
Ao tornar sonho em cada lugar,
cintilante por detrás dos olhos,
(súbito nas superfícies do brilho),
fica a noite o dia, lugar sincopado,
nas gargantas abertas, sabor ausente.

20 de dezembro de 2010

E de novo as mesmas observações. Como avalio da completude do movimento? Posso talvez falar de um fim, de uma intenção subjacente, o movimento, uma memória do processo. Mais interessante seria qualificar este “tipo” de intenção, pois, não existindo premeditação, quer dizer, sendo o movimento executado de uma forma absolutamente intuitiva, também não existiria uma reflexão prévia da intenção. Seria, talvez, uma “tensão”, um “tensionado” movimento na direcção do objecto. Sujeito?