12 de janeiro de 2013


O gesto de segunda guarda o corpóreo na lógica do movimento afim como um culminar do processo que aspira à cegueira em frémito das matérias monocórdicas, e o pontilhado lugar, assim sucumbido ao encontro, toma o abissal desdizer das notas, por códigos de estupor, num próprio divagar do processo.

Esgota-me ao acender dos cinzeiros.
O precioso valor dos segundos.
Na intensa sombra esquecida do fim.

E hoje, as janelas acordaram embaciadas, o que talvez fosse sinal, de uma noite de muito frio.

11 de janeiro de 2013


Vou agora saír
para tomar o caminho que leva
Ao sítio da procura

Já nasceu o dia
porém permaneço deitado
À espera do momento.

Um amontoado de cinzas sucumbe esta noite ao cabo iluminado.
Os dedos da mão alcançam aros de bronze na chama adormecida.
Pousam silêncios por sobre as folhas em branco
E os veios da madeira cravam sinais de um outro tempo
Como foram livros permitidos, desassossegadas paredes.
Ao longe, apaga-se o brilho e cerram-se os dentes.
Não chegará ao seu destino o ribombar das artérias, esta noite.
O corpo não cessa forte ao declinar dos azuis
Como um mar de eclipse que avança o torrencial das nuvens
Arremetidas aos clássicos da definida forma vitral
Que, por divagado sonho, faz do pó promessa derramada.
O gesto envolve a sombra do corpo em carícia.
Como se chegara a razão do prazer.

6 de janeiro de 2013


Estou com as unhas dos pés compridas
E tenho de lhes chegar
Pois preciso mesmo de as cortar.

Na fila.

Uma mulher conta na mão o preço indicado pela funcionária de serviço a duas latas de grão, feita a transacção, e enquanto ensaca as duas latas de grão, diz:
- É que Eles agora dizem que temos de beber muita água e de comer muito grão.
A fila esboça um sorriso silenciosamente cúmplice – talvez uma nova descoberta da ciência nutricional, supõem …
Enquanto vai ensacando as duas latas de grão a mulher justifica a (aparente) falta:
- É que por enquanto a água é da torneira, enquanto for permitido, claro.
O silencioso sorriso da fila transforma-se como que em ranger dentífrico, tenso e distenso, simultaneamente.
Já na posse do saco contendo as duas latas de grão despede-se a mulher:
- O que nos consola, é que também Eles morrem.
A fila continua silenciosamente a sorrir, mas este sorriso, que segundos atrás era sóbrio, subtil, surge agora nos lábios da mesma como se fora uma espécie de celebração … digamos assim.

Debaixo da lua brilhante
Regresso a casa na companhia
Da minha sombra.

Yamaguchi Sodô

5 de janeiro de 2013


Cai o gesto em véu no fundo da casa inscrita
Como um silencioso acto exilado ao cair no parcial concerto da terra.
É assim, a frio, como a imperfeição do paradigma.
Uma dirigida força ao outro lado das inglórias insensatas.

Escândalo incorporado. O sentimento de um esqueleto apetecido.

4 de janeiro de 2013


O providencial sentir na terra do estar atónito
Faz as partes a liquefazer os sóis em cada música.
E a manhã do caos aos saltos apetecidos
Caminha aponte ao absurdo o outro da evidência.