14 de fevereiro de 2013


Um dia soltámos palavras de pele.
Contigo fui pelas ruas
Enquanto sorrias ao chão silenciosa.

Vagueámos no lugar das calçadas
Sem dizer palavra
Como ilha silenciosa e sonâmbula.

Percorremos os caminhos todos.
Chegados ao cais de partida
Despedimo-nos num olhar mudo.

13 de fevereiro de 2013


A cidade
Ao acordar a manhã chama
O eclipse
Das sobrepostas entranhas
Que cai
No curto-circuito momento.

12 de fevereiro de 2013


Sim, tudo é efémero.
Um passado instante esvanecido em fumo.

A rara imagem
Da antiga festa do sangue
Regressa ao sol
Da estação propícia
No sangue atirado à terra
Manchada.

Ausente
Empalidece o olhar imóvel
E a multidão
Aguarda o linchamento.

São dias de festa.

11 de fevereiro de 2013


Sentado à lareira que adormece.
Observo os incandescentes restos de carvão
Em derrocada.
Afasto o pensamento
E o corpo aperta sem tomar atenção.

O alento obriga a luz que se vai extinguindo (enquanto divago, aqui onde me encontro) a revelar o que chega ao fim do caminho. Só fica o carvão.

Outrora sonhara
O momento igual nos olhos nascentes.
Desenhado em arabescos
Do sangue em fuga
Ao rumor vago
E doce
Das águas nos regatos
Calmos.

Aqui estou cristais passados.

À sombra da lareira adormecida
Permanece o negro
Na sombra de um outro dia aqui.

10 de fevereiro de 2013


As fontes da forma chegam um dia
Ao meio do caminho que encontra o dizer
Solto nas coisas em partes do pão.

Maços de papel dourado como o sol
Adormecido sem saber donde
Vem de noite tomar um ponto de vista
Em sonho adiantado ao sonho.

Liberto desmanda o porvir
Em férrea animação nos areais que carregam
De dentro a vontade
A que vamos chamar de vez quase tudo.

Tradição do silêncio embriagado.
Tecido em mascarada de uma ópera justa
Ao corpo do barro vermelho
Que torna aos trapézios estendidos abismos.

E as seculares fontes da dúvida
As quais nada levam das águas passadas.
Ao chegar o momento
Existiram somente para ali chegar.

Num instante o mundo todo é feito
Ao luar que sucede
Um passado em sintonia
Das rotas que vão tomar-se outra vez.

9 de fevereiro de 2013


Concluída a ascensão
E enfim proclamada a nova regra
Ficam por interditos os meios
Que galgaram os degraus transpostos.

São castigos, penitências
Imposições de um pedestal implantado
Que lança o véu da sua sombra
Ao espaço imaginado em liberdade.

8 de fevereiro de 2013


Fruto da imaginação fecham-se os quartos da lua
E ficam a ver gerações do mesmo
Rodado em juntas secções
Da concordante matéria cortada
Em tábuas instituídas de uma duvidosa qualidade.

7 de fevereiro de 2013


Perpassa no solo o extermínio civil da terra seca
Que toca o calor imóvel na pele
E afaga as feridas da estranha invisibilidade
Ao imaginar das pedras
E povoadas estrelas doutras vidas
Na funda espécie da impossível gramática
Que ao olhar de perto
Fere o corpo apenas por calor
E faz múltiplas as formas do silêncio pensado
Em corrida através da multidão
Só e arremessada em cegueira às vitrinas.
A noite funda o regresso
Ao convívio das mentes soletradas.
(Sonâmbulas, maquinais).
Chegado ao particular pensar de tal coisa
Não tarda o fechar do corpo
Estendido à noite que acorda esquecida da palavra.

Claro o mar que desafoga
Um país de fumo sem fogo
Legisla ao sabor de menos
O charco a seguir da cheia.

6 de fevereiro de 2013


Um fio de historicidade escapa do próprio contado a como imagem da falta comum na eternidade, as récitas da fuga, os abolidos momentos, as tábuas velhas, ecoam o fulgor do tempo inexistente, basta ver no instante o permanecer do absurdo … nesse tempo …