6 de janeiro de 2009

“ (...) Em suma, indo directamente ao assunto, parece me ridículo dizer se que fora do céu está o nada, que o céu está em si próprio localizado por acidente e é lugar por acidente, idest com respeito ás suas partes.

E seja como for que se interprete o seu “por acidente”, não se pode fugir a que se faça de um, dois ; porque sempre é uma coisa o continente e outra o conteúdo, e tanto assim é, que para ele próprio o continente é incorpóreo e o conteúdo é corpo, e o continente é imóvel, o conteúdo móvel ; o continente matemático, o conteúdo físico.

Ora, seja essa superfície o que se quiser nunca me cansarei de perguntar : o que é que está para além dela ? Se se responde que está o nada, então direi ser o vácuo, o inane, e um tal vácuo, um tal inane que não têm limite nem qualquer termo ulterior, tendo, porém, limite e fim no lado de cá. É mais difícil imaginar isto que pensar ser o universo infinito e imenso, porque não podemos fugir ao vácuo se queremos admitir o universo finito. (...) “

Giordano Bruno ; Acerca do infinito, do universo e dos mundos ; Gulbenkian.