13 de março de 2009

“ ... não dissera Platão que nunca publicaria nada sobre os princípios supremos ? ... O que eram estas agrapha dogmata ? A única possibilidade de as identificar é apenas uma lição “Sobre o Bem” que Platão deu a um público desiludido que veio para ouvir falar de felicidade e onde em vez disso se tratou de matemática, geometria e astronomia ... a ela assistiram Aristóteles e outros membros da Academia que tiraram as suas notas ... “

F.E.Peters ; Termos Filosóficos Gregos – Gulbenkian.


Pergunto me se a razão pela qual Platão teria esta atitude de pudor em relação à notação dos “princípios supremos” não seria similar à que é atribuída a grandes vultos da literatura como Kafka, Sade* e outros que teriam, estes, manifestado o desejo de que a sua obra lhes não sobrevivesse ?

Dir-se-ia, dada a proliferação estatística deste tipo de casos, que o tal raciocínio da fogueira surgiria naturalmente ao pensamento de um grande pensador, ou escritor, num certo estádio de desenvolvimento e eu, pessoalmente, creio tratar se de um “raciocínio” perfeitamente plausível, neste mesmo sentido, o atribuir se a um grande escritor, ou pensador, este tipo de pudor, desejo, ou intenção pelo menos.

E digo isto pois suponho que no decorrer desse processo dinâmico** a tal “própria verdade” desses princípios” tomar se á*** como representação instantânea**** das operações da regra do jogo assim produzido na imagem, que “terá”, desse único instante aleatório de “fundo” o seu “valor substante” e ilusório como que por passe de mágica, assim, desmistificado.

Isto, obviamente, deixará aberto o campo do efeito, da inscrição tomada aqui/ali no campo como modelo congelado na figura, como dado adquirido, espalhado, neste campo que se fecha, ridículo.

Daqui talvez o tal pudor***** referido por força das circunstâncias das operações debitadas dos referidos senhores. O poder ? Não se sabe. Quem sabe ?

Claro que esta história assim tomada, quero dizer, o “atingir” desta história e dita como foi dito poderá tomar se como uma das tais “figuras dinâmicas” em jogo e, como tal, matéria de história contada, do que diz se, e cuja “notação”, já se sabe, é a da “violência” – olha, e não é que afinal digo mesmo.


*diga se a propósito destes dois, kafka e sade, que fará até tanto mais sentido - tomadas as devidas nuances de contexto e “matriz” - o seu sentido radical da fogueira podendo, obviamente, este seu desejo ser tomado de um ponto de vista “humanista” ou não embora que por razões não tanto assim diversas.

**dos/nos próprios processos físicos do pensamento e da escrita e sua notação por meio e fim das figuras assim num momento “descritas” ; em suma.

***na imagem desse instante “sacrificado”.

**** ”... a apreensão imediata e simultânea destes dois movimentos incompatíveis é qualquer coisa de irracional, é impossível ao pensamento discursivo concebê-los ao mesmo tempo.”

V.Jankélévitch – ( prefácio a “A tragédia da Cultura” de G. Simmel)

*****Ainda acerca do pudor de Platão diria que Aristóteles na história acima descrita não partilharia totalmente do sentimento do seu mestre ; que Hegel advertiria para os perigos da dialéctica às cegas, neste sentido ; que Joyce – e que ousadia a de Joyce e da sua arquitectura processual****** - não teria quaisquer pruridos desta espécie embora isto não seja provavelmente assim e que Freud “deveria” ostentar um sinal luminoso de advertência******* em cada parte da sua obra o que, com toda a certeza, teria um efeito contrário ao pretendido, até pelas “razões” acima “expostas”.

******O próprio diabo ! Como diria Italo Calvino.

*******Talvez um sincretismo do género : Tudo é eros/tudo é vaidade.