13 de março de 2013
Esta vida pertence a uma outra face, e mostra, na progressão do detalhe, um brilho que espanta e desencadeia o pensar as vinhas de uma certa cor, agora, ao balcão de um mosaico imaculado.
Máscara ou espelho o eu da face escondida ganha um olhar sem fim laminado em fazer, em ser, em vontade, em massa da cor da terra que acentua a vogal como quem esconde, como fora um segundo a mais, sentido, ao despertar dos cadafalsos.
É costume dizer-se que os olhos também comem, e será, talvez, por causa disso, que não será aconselhável aos consumidores “gourmet” assistirem à matança dos ingredientes. Poder-se-á tirar daqui uma relação directa entre o sentido da visão e a sensibilidade do estômago? E será que uma tal relação de palavras fará algum sentido?
8 de março de 2013
Desertaram as esvanecidas miragens em formato de plásticas garrafais, situação que, revelada em velados de marca, é um mal concebido escaparate, sobeja no bolso dessa atenção garrafal.
São pequenas as letras e a conversão dos instantes urdidos segundo a lógica do tempo vulgar que vão, transposto o véu e o correspondente momento, apresentar-se, por fim, perante uma audiência que boceja, esquecida da passageira beleza, no rótulo de uma reciclada embalagem.
Naquele tempo, um manto híbrido envolvia a voz por teias lançadas, imaginavam-se imagens, a miséria sincopava a fome que tudo devastava à sua passagem, e, entretanto, o mundo girava como se fosse um todo.
O escrutínio, por silenciosas sílabas do pensamento em face, chega, imenso como a construção dos anos, e escrevinha o vazio em teorias do imediato.
6 de março de 2013
Desolado. E também lamento o reforço industrial do léxico. Nem toda a convulsão é assim tão intensa assim como nem todas as elocuções padecem dessa intenção. Esse fátuo das máscaras. É ambíguo o deixar cair das falas inaudíveis. E são tantas as maneiras das setas da velha discórdia, da lava que escorre. Ignora ao que vem como quem se vaga das decadências, como quem tira o seu proveito. Impera, mas nem lhe passa o paradoxo.
5 de março de 2013
4 de março de 2013
3 de março de 2013
2 de março de 2013
16 de fevereiro de 2013
Terra, irás colher o trevo à sombra das latadas. O que será feito das casas, do cheiro das folhas, das madeiras à noite a ranger sob a cautelosa passada. Onde ficas e em qual das telhas vês o pretenso atingir do chão, o acordar, a erosão, os lanços de pedra à volta como as velhas moscas em confraria, de uma certa maneira. O horizonte eleva a gritaria ao céu das vilas despovoadas. O sentimento surge ao bater dos sinos na gélida manhã petrificada em imagem de peso. Branco é o gelo habitado a sós contigo ó condição. As ondas, agitadas neste campo de onde sigo as janelas plantadas dos passageiros aromas, assentam as suas tendas junto apenas por momentos, e os ossos, no centro da montanha, queixam-se ao primeiro rebento de um sol que não termina na pele.
15 de fevereiro de 2013
“A sorte favorece os audazes” em dois actos.
1) Os audazes morrem na praia ponto. Por seu turno, enquanto os audazes falecem na praia, o personagem que exortara os mesmos foge, apressadamente, justificado, obviamente, à providencial maneira do recorrente artifício da pena utilizada em semelhante situação épica.
2) O personagem que exortara os audazes encontra-se, por fim, e depois de muito correr, ajoelhado perante a sorte a suplicar pela vida em vão e é trespassado, terminado às mãos do desfavor da sorte e da pena madrasta.
A duração responde por si e lavra o metal diverso nos rios tão calmos como o suceder das inércias (chega-me essa situação, obrigado monumento) descompassadas em parcelas do peso a simular ventanias chegadas a um opaco objecto. Resolve-me essa linguagem suspeita da palavra feita à medida da inclinação referida nas forjas a liquefazer os agitados punhos da (sua) preciosa qualidade.
14 de fevereiro de 2013
13 de fevereiro de 2013
12 de fevereiro de 2013
11 de fevereiro de 2013
Sentado à lareira que adormece.
Observo os incandescentes restos de carvão
Em derrocada.
Afasto o pensamento
E o corpo aperta sem tomar atenção.
O alento obriga a luz que se vai extinguindo (enquanto divago, aqui onde me encontro) a revelar o que chega ao fim do caminho. Só fica o carvão.
Outrora sonhara
O momento igual nos olhos nascentes.
Desenhado em arabescos
Do sangue em fuga
Ao rumor vago
E doce
Das águas nos regatos
Calmos.
Aqui estou cristais passados.
À sombra da lareira adormecida
Permanece o negro
Na sombra de um outro dia aqui.
10 de fevereiro de 2013
As fontes da forma chegam um dia
Ao meio do caminho que encontra o dizer
Solto nas coisas em partes do pão.
Maços de papel dourado como o sol
Adormecido sem saber donde
Vem de noite tomar um ponto de vista
Em sonho adiantado ao sonho.
Liberto desmanda o porvir
Em férrea animação nos areais que carregam
De dentro a vontade
A que vamos chamar de vez quase tudo.
Tradição do silêncio embriagado.
Tecido em mascarada de uma ópera justa
Ao corpo do barro vermelho
Que torna aos trapézios estendidos abismos.
E as seculares fontes da dúvida
As quais nada levam das águas passadas.
Ao chegar o momento
Existiram somente para ali chegar.
Num instante o mundo todo é feito
Ao luar que sucede
Um passado em sintonia
Das rotas que vão tomar-se outra vez.
9 de fevereiro de 2013
8 de fevereiro de 2013
7 de fevereiro de 2013
Perpassa no solo o extermínio civil da terra seca
Que toca o calor imóvel na pele
E afaga as feridas da estranha invisibilidade
Ao imaginar das pedras
E povoadas estrelas doutras vidas
Na funda espécie da impossível gramática
Que ao olhar de perto
Fere o corpo apenas por calor
E faz múltiplas as formas do silêncio pensado
Em corrida através da multidão
Só e arremessada em cegueira às vitrinas.
A noite funda o regresso
Ao convívio das mentes soletradas.
(Sonâmbulas, maquinais).
Chegado ao particular pensar de tal coisa
Não tarda o fechar do corpo
Estendido à noite que acorda esquecida da palavra.
6 de fevereiro de 2013
5 de fevereiro de 2013
O acto, em pré preparação do mesmo, estende, observa e evita, por sumas da ração, a indicação do olhar induzido: manifesto sentido que não é do sentido, antes sentido, ao redor da prossecução da ideia.
E a noite sombra ao atravessar a imposta dor (tal paróquia dos segundos, providente entidade) que, por liras e saturnais, (tal sombra devida), faz outra miragem da via amorosa como os agitados caudais do rio ou o sonho da carne em vida que sorri num estranho dizer, labiríntico, literalmente.
E pois, já não se pensa o sedimento que fica escrito em palavra no fundo eco da passagem, a vertical do silêncio chama a providencial maneira da linguagem do silêncio entendido, obviamente, como a umbilical promessa da realização na terra de uma espécie da primordial caligrafia que, no segundo da ilusão, faz memória do que corre em representação natural da imagem marcada ao subterrâneo acontecer, um remanescente expandido em temporal qualidade, absurdo critério, no âmago da desfiguração.
31 de janeiro de 2013
28 de janeiro de 2013
O sentido da linguagem é como tirar o fantasma do ritmo em qualidade abissal, clarão elementar, (como a carne e o resto), atirado ao âmago da irradiação das vinhas num fulgurante descolorir.
A noção disso é um segredo e um fardo, um inexplicável que liga ao coração da ideia a forma afectiva do pensamento, esquecido sim.
23 de janeiro de 2013
O objecto deixa uma impressão opaca, a lente, pela qual é observado, aumenta-lhe a opacidade.
Os repetidos ritos de papel entendem-se do súbito representar das mímicas e arrastam consigo o acto saciado. Outrora sincopava o terror, desconhecido, sentido, aos cabos, de partida, chegavam sucessivos presentes, a saber, nada do que importa chega realmente a ser dito.
13 de janeiro de 2013
À janela pende a carne em tentação (como o natal, por exemplo).
A pose, composta do bem tecido azul
Passa e faz solene o subtil esgar contido à vista do vulgar
Como um descabido papel de embrulho
Onde se viera ao mundo sem precisar sequer do gesto.
É uma imagem silenciosa, sem nada de novo, nem nada de cenas.
12 de janeiro de 2013
11 de janeiro de 2013
Um amontoado de cinzas sucumbe esta noite ao cabo iluminado.
Os dedos da mão alcançam aros de bronze na chama adormecida.
Pousam silêncios por sobre as folhas em branco
E os veios da madeira cravam sinais de um outro tempo
Como foram livros permitidos, desassossegadas paredes.
Ao longe, apaga-se o brilho e cerram-se os dentes.
Não chegará ao seu destino o ribombar das artérias, esta noite.
O corpo não cessa forte ao declinar dos azuis
Como um mar de eclipse que avança o torrencial das nuvens
Arremetidas aos clássicos da definida forma vitral
Que, por divagado sonho, faz do pó promessa derramada.
O gesto envolve a sombra do corpo em carícia.
Como se chegara a razão do prazer.
6 de janeiro de 2013
Na fila.
Uma mulher conta na mão o preço indicado pela funcionária de serviço a duas latas de grão, feita a transacção, e enquanto ensaca as duas latas de grão, diz:
- É que Eles agora dizem que temos de beber muita água e de comer muito grão.
A fila esboça um sorriso silenciosamente cúmplice – talvez uma nova descoberta da ciência nutricional, supõem …
Enquanto vai ensacando as duas latas de grão a mulher justifica a (aparente) falta:
- É que por enquanto a água é da torneira, enquanto for permitido, claro.
O silencioso sorriso da fila transforma-se como que em ranger dentífrico, tenso e distenso, simultaneamente.
Já na posse do saco contendo as duas latas de grão despede-se a mulher:
- O que nos consola, é que também Eles morrem.
A fila continua silenciosamente a sorrir, mas este sorriso, que segundos atrás era sóbrio, subtil, surge agora nos lábios da mesma como se fora uma espécie de celebração … digamos assim.
5 de janeiro de 2013
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