20 de dezembro de 2010

Todos os tempos do momento executados num movimento perfeito. Completo. Estava perplexo. Todas as tonalidades numa escala perfeita.

E o que é uma escala perfeita? Como reconhecê-la? – E digo reconhecer, não conhecer, de um modo imediato, sem pensar, não há, aqui, e de facto, qualquer tipo de intervenção da consciência -. E o que é uma escala perfeita? Como avalio, neste sentido, da perfeição de uma escala? Reconheço-a. Poderei dizer que a reconheço em função de um efeito atingido? Creio que não. Trata-se de uma impressão remota. Uma remota impressão. Estética.
Nada em vivências do instante.
Suspenso qual viajante do tempo.
O olhar de surpresa. Nada nessa imagem, de novo. Apenas ficara e ligeiramente tocado (que o tempo não é de excessos muito obrigado) atrasam-me essas cadências de vida como um tempo que sempre já passou. (Como as conjecturas do cordial assentimento). Sigo. Não houvera (muito) mais a dizer. Este horizonte a perder de vista não é o mundo, és tu, e faço de cada vez o gesto preciso que parece no gesto (o) que o mundo espera do gesto, (são derivas que lhe ecoam, com certeza, ensurdecedoras na minha voz). Momento após momento, instante após instante, sucedem-se essas imagens e a mim, que nasci imóvel … perturba-me essa perturbação. Assim era o jogo dessa morte alegre. Sucedem-se os ritmos e a direcção é uma. Nada fica dos corpos tecidos. Um apelo do quê, afinal?
O aparentar. O desvio.
O rio em correntes que deslizam nas linhas de um correr magnético.
E um todos os dias sol ao culminar dos elementos.
(A cólera talvez).
Nas conjugadas cores que perfilam.
(Os mundos ao mesmo, e mesmo assim).

19 de dezembro de 2010

Corpo desperto a todo o exterior. O olhar que apre(e)ndia. A progressão. Uma saciedade que o movia. Faltava um contacto. O vago sentir da finalidade atravessava a densidade da paisagem. Em espaço aberto. Estendiam-se as multidões de formas, a perder de vista. Passou num instante. Considerava. Nada que olhasse o movia e deixou-se ficar, instantes, nas franjas daquela planície. Estranhava. Manifestava-se um primeiro apontar e entrou, vagarosamente. Uma diversidade, ramos e conduções da cor, as rugosas peles magníficas, as esguias delicadezas do matiz da beleza, um pó da terra seca, os recortes sombrios da pedra distante, a magnífica presença do verde, as estranhas luminosidades dos declives batidos, continuaria, ignorava, (então), a presença de um certo tipo de movimento mecânico. Buscava um certo sentido.

18 de dezembro de 2010

A pele activada.
O despertar da atenção.
A circulação quente.
O silêncio por atingir.

E de novo o dia, um dia. O sentir de uma imensidão estranha. Os olhos cortados de uma luminosidade nascente, apenas distante. Dos cimos de uma qualquer rocha, cresce o olhar agitado, a imediata busca de um movimento. Deixara correr assim as primeiras manifestações do efeito, da imagem. Ensaiara. Descera então essas escarpas, passos cautelosos, banhado em suor. Tivera deixado a noite atingir os baixos daquela cor e por todo o lado as sinfonias de um novo acordar. Faltava o gesto. Os espaços dessa vez. Seu tempo.

17 de dezembro de 2010

Perfilara o abandono
Num deixar súbito
Que sustentara o olhar.
Num reencontro:
- A vida é estranha.
- Tem os seus momentos.
Uma raiz prenhe de malabarismos, Cada palavra. Os reinos do signo. Uma voz. “Davar”. Inadvertidamente o verbo. Trespassado o tempo, suspenso, uma interrupção. As múltiplas colorações. Escalas de uma transformação como foram as várias tonalidades de uma paleta, da composição.
“Compreenderam que a razão só entende aquilo que produz segundo os seus próprios planos, que ela tem que tomar a dianteira com princípios, que determinam os seus juízos segundo leis constantes e deve forçar a natureza a responder às suas interrogações em vez de se deixar guiar por estas (…). De onde provém que a natureza pôs na nossa razão o impulso inalcançável de procurar esse caminho como um dos seus mais importantes desígnios?

E. Kant ; (prefácio da segunda edição de a “Crítica da Razão Pura”) – Gulbenkian.

O “caminho da providência”. Da “posse”. Da saciedade. Da “razão” enfim. Como fora o “indício” do mais primitivo dos instintos.
Como pensava este rio.
Os seus ondulantes reflexos.
As janelas desta melancolia, desta cidade.
As melancólicas tonalidades desta cidade.
Como foram reflexos do sol batidos no ondular das águas deste rio melancólico.
Este rio das melancolias passadas.