20 de abril de 2010

Visceralmente irreconhecível o rito suspende e penetra as ideias no vazio. Progride em centrifugação e atira (qual sombra isolada) o que persiste em amálgamas desligadas voltas num (livre) trabalho de esquecimento, numa expulsão do “peso do mundo”.

Observa ;
faltam as palavras,
no correr aberto,
do mar assim,
em peso vazio,
da roda em abertura,
(música, palavra),
que vê o que não pode,
e pensa o que não quer,
no longo percurso,
que tem de sair,
por violência sonora,
indiferente,
e espalhado em desafio,
ao apreender a soma,
das palavras libertas,
no fazer acto,
e consequente sentir,
dos investidos espaços,
ao fazer silêncio,
do cair da luz,
no tomar das entranhas.

Um esquecimento frio.
O olhar aberto.
Nos rostos vazios.
Das linhas transversais.
No fim do porquê. Aligeiro isso.

fugaz a pele,
procura o sol,
no farol circular,
por sobre a encosta,
da bela face,
e o brilho,
do aroma cálido,
cantaria, por montes
e vales, a busca
dos dias sentido
na hora do manancial
da luz que agarra
os decaídos golpes
das suspensas vidas,
(uma morna inquietude),
em lampejo adiante,
nos braços,
dos pátios da desolação.

No passar a colocação do braço precipitara (líquida) a ligeira observação do acenar dos sentidos num mar da rocha que escorre em prelúdio das superfícies banhadas como fora a forçar o encosto (encoste se porventura)

languidamente,
a fragrância carnal,
fazia isto,
como sem saber,
nem porquê, rojo.
O cabelo. O ar cuidado projecto. A pose em compressão. O belo gesto vazio. Largo. A alta voz. Num mágico apelo. Das caídas pálpebras. E os olhos em fugaz enleio da promessa.
Planaltos, escarpas, fundo rosário de entrega.

Sublevado esgar,
desnudado,
acordar nos leitos,
das rosas, os rios,
da literal raia,
que faz-se pelas manhãs,
no esvoaçar da paixão,
liquefeito em excitação,
aos fundos,
duma qualquer gruta solene.

O estar que arde,
na brisa da tarde.

E o vapor na face do vento.

19 de abril de 2010

Sennin Poem by Kahuhaku.

The red and green king fishers
flash between the orchids and clover,
One bird casts its gleam to another

Green vines hang through the high forest,
They weave a whole roof to the mountain,
The lone man sits with shut speech,
He purrs and pats the clear strings.
He throws his heart up through the sky,
He bights through the flower and brings up a fine fountain.
The red-pine-tree god look at him and wonders.
He rides through the purple smoke to visit the sennin,
He takes “Floating Hill” by the sleeve,
He claps his hands on the back of the great white sennin.

But you, you dam’d crowd of gnats,
Can you even tell the age of a turtle ?

E. Pound – “Cathay”.

12 de abril de 2010

Traço o corpo o corpo,
o fogo era mais tarde,
e o tempo,
de tempo a tempo,
correra como espada
as palavras que evitam
se as bocas
dos pássaros verdes
da “sobrevivência”, diz se ;

ainda sinto o sabor desses mundos,
sopra um instante e fere a queima das palavras,
quanto mais livre os céus abertos,
mais longe os pântanos desta terra cinzenta.
O ir longe,
a notável composição das feras,
os animais, o acaso,
todas as cores,
o raio que parta todas as manhãs do lamento,
todas as silenciosas manhãs.

O que salta aos olhos destas palavras fixas,
depois das lembranças,
(entre o vazio e a multidão do movimento daquele lugar),
é uma respiração funda.

...

Em que dias.
Que manhãs.
Quais fins de tarde.
Quais noites em que.

Num dia instante o real de todas as histórias ao anoitecer chega, fica.
Hoje não quero saber. Hoje. Dos passos que assentam nas pedras da rua (como se nem existissem) e continuamente gravitam as maquinais imagens pelas quais insistem o investir do ruído que invade-me a geometria hoje não quero dizer nem ouvir desses momentos. Afinal para que quero eu a geometria. Afinal para que não quero eu a geometria. E o ruído que a invade. E os fabricantes dessas imagens.

Talvez um radical regresso ao cavernoso silêncio da linguagem.

11 de abril de 2010

Hostiae.

Aproximara (estranho) as eiras do refúgio. Ares vermelhos. O sangue em espalhada sementeira. Os escudos ao fundo da terra, em delírio. De fora tudo ameaça, já cresce o rumor da labareda.

Os sons e as danças,
o calor no trigo espalhado,
as vozes e a partilha,
da crescente recordação,
das águas do dia,
em momentos de eleição,
ao rubro, os beijos
em altares da noite.

O sangue da terra queimada. A refeição das últimas hostes estranhas. Os corpos como invisíveis assinaturas do medo rasgam na noite o céu em motivo da festa.

Deitados os corpos,
nas terras da eira,
sempre a noite,
no fogo da lembrança,
apaga os aterros,
do sanguinário fundo,
onde juntam-se em calor,
os eleitos motivos,
das espigas queimadas,
em espirais do fumo,
que sobe e revela,
nos gestos mudos,
o fim da noite em surdina.

Os corpos na terra queimada à espera que chegue o dia.
Dos nubilados cumes,
em cego fascínio,
o olhar vem,
por magnéticos movimentos,
do cerrado principio,
aos dias sonâmbulos,
das cinzas pelas encostas,
onde encerrado o fogo,
do vulcão ateado,
fica o olhar preso,
aos dilacerados restos,
da dor e do prazer,
por sulcos nos caminhos,
das histórias antigas,
do escorrer espesso,
estranhamente distanciado,
em sobrevoo do reconhecer,
a escorrida memória,
dos espessos sulcos traçados,
no decorrido sangue,
da carne ancestral da violência,
em sentida solução,
da condição cega,
dum poder histórico,
numa história mal contada,
(devolvida espelhada),
das imagens do horror,
em sal feito aos pedaços,
de maquinaria corrente,
por refinada história,
das histórias contadas,
aos berços adormecidos,
na espera dum maquinal,
conforto que esquece,
acima aos olhos soltos,
sem nada esquecidos,
numa última parede,
afinal dos olhos sanguíneos,
e já destes sinal absurdo,
no fundo posto revela,
os lados a um seu eixo,
sua mentira em decisão,
da rota tornada termos,
mínimo à matéria,
a sua ínfima pergunta,
por fim.