17 de dezembro de 2008

A propósito de Borges e de uma "corrente" a guardar o acesso aos "Palácios da Cultura".

Hoje em dia, dir se ia, que (alguns) dos "guardiãos do segredo" atingiram um tal estado de "umbiguismo" que já não fazem a mínima ideia daquilo que estão a guardar, continuam a guardar, no entanto.

E o mais irónico no meio de toda esta "situação" insólita é que aqueles que ficam do lado de fora da "corrente", assim impedidos de entrar, são aqueles a quem se destinava o "Palácio" aquando da sua "construção" que, entretanto, cá fora, nas covas, vão tentando conversar com os "trogloditas" que, como se sabe e alguém disse, foram, afinal, os "construtores" dos ditos "palácios".

É caso para dizer, parafraseando um outro alguém, que " hoje em dia apenas os mortos detém o conhecimento (simbólico).

16 de dezembro de 2008

Urso e Sorriso.

Um dia, Sorriso encontra Urso e pergunta lhe se o seu nome não é “Kak”. Fica logo encolerizado o Urso e apresta se a bater em Sorriso que se esconde por detrás das suas costas e, aqui, aproveita para lhe inflamar o tosão.

Incapaz de extinguir o fogo Urso promete a Sorriso entregar lhe quatro encantamentos mágicos se ela o socorrer.

Desde então basta alguém munir se de alguns pelos do seu velo para nada ter a temer do Urso.

C.Levi-Strauss ; La pensée sauvage ( navajo)


Urso e Sorriso na Pós Modernidade.

Um dia Sorriso encontra Urso e pergunta lhe se o seu nome não é “Kak”. O Urso, que vinha dali profundamente impressionado a pensar na “famosa disjunção” que o Lobo lhe tinha ensinado e que é vulgarmente conhecida pelo nome do dito animal, ao ouvir o som emitido por Sorriso não pôde deixar de pensar que aquele som se adequava bastante bem ao que “via” naquele instante. Num sorriso olhou Sorriso e achou lhe grácia.

15 de dezembro de 2008

Verbo de colorir, selvagem.

Passo de corrido o canto e perto
tirado no desenrolar do mundo assim ;
como nos caminhos descalços, nus.

Em lato atingir desta hora, tardia,
a vontade ocorre em motivo de assomo,
num pensamento que basta se ; dois,
o rumor além da memória,
num satisfeito rebordo do sangue salpicado.

10 de dezembro de 2008

Tamat - o logaritmo.

Como técnica de colagem, entrecortada, a escolha, das operações, de depuração, do vómito num relato circunstancial, pneumática analogia que reservo, atento, num exercício que escutasse/recordasse o patinhar do arranque.

Os tambores, no início,
do respirar, o acto directo,
e certo, assunto de notas,
e encontros, musicados,
num aleatório da dissemelhança ;
num luxo das palavras.

E o durar numa inspiração de onda curta ao tomar do ar ou então o fazer isso que é auto, gerado, no relatar disto que chama se a palavra após palavra como

agregado, oculto, do sopro,
e do som, e na duração
do encontro, desta unidade,
e dos termos, numa mesma
laringe, de figura ; arquefacto
grotesco, mistificado, assente,
em proveito e risco, e no através,
do latejar, a congregação assim

posto, em nome de qualquer pretérito que extende e distende as paredes que buscassem uma aderência, ou um resquício, coincidente, sim, uma lente*.

E na arte, da produção,
de tal encontro, e nas palavras,
aderentes, desta passagem,
respiram se, logo, os encontros
a cada mais, que ligeiro
figurasse essas paredes,
como na parábola ; polido
numa travessa à espera da lua,
cheia, e continuado, a visto,
das traqueias absolvidas,
circuladas ; como num encontro,
que fora, afastado, enfim,
num respirar fundo, numa palavra.

Convenhamos então nas declarações do proceder como de um fundo, tirado, um desenho, deixado, aos restos, pelas paredes, aderidos, devagar, numa preparação, ou num salto dissoluto, que concede, e por vezes, como que num encontro que eleva, esquece e por fim nessa capacidade de entrar, de impregnar se.

9 de dezembro de 2008

Efeito. Composição.

Vêm da noite, detrás dos olhos,
traçado, em vigília, o sol, do ocidente,
chegado, neste encontro, oriente.

E tirado aos lados, em vazio,
faz se, antigo à vista, modulado,
feroz, num momento ocidental ;

- de novo o nascer antigo
ou verso estende se desta paisagem
como que num fim de verde

e límpidos os correm os ramos
e os rumos num véu plácido
da dança por cada dos aromas,

num mover, no cheiro, de instante
concordo, o oriente, do som
e da terra ; negro o cabelo da rosa.

Antes do sol da estepe sem nome o corre a origem de um conto,
de canto oriente, que chega, o sol negro, qual, num movimento.

24 de novembro de 2008

A.Artaud.

O que é a motilidade ?

É o poder de fazer se
si mesmo corpo
em função

de uma vontade
de rapacidade,
de bestialidade,
de brutalidade,
de força,
de contenção,
de dignidade,
de honra,
de desonestidade,
de arbitrário,
de intensidade,
de obscuridade,
de apagamento,
de reserva,
de abstenção
de contracção,
de privação,
de cupidez,
de afastamento,
de desinteresse
e de dor,

a qual
vêm da rotação vertical de um corpo desde sempre constituído e que num estado além não cessa de se endurecer e sobrecarregar pela opacidade da sua espessura e da sua massa.

O critério é o chumbo inerte da contracção plena de um puro estado de desapego, de desinteresse feroz
que permite nada sentir de qualquer ideia, sentimento, noção, percepção.

Antonin Artaud ; Textes écrits en 1947 ; Oeuvres.

21 de novembro de 2008

L. Wittgenstein.

Numa corrida, o touro é o herói de uma tragédia.
Primeiro é feito louco de dor. Conhece, de seguida, uma longa e terrível morte.
Um herói olha a morte de frente, a morte real, não simplesmente uma imagem da morte.

Agarrar se durante uma crise não quer dizer ser se capaz de desempenhar bem este papel de herói - como num teatro - quer dizer ; ser capaz de olhar a morte, ela mesma, nos olhos.

Pois o actor pode desempenhar uma quantidade de papéis mas no fim é preciso que morra, ele mesmo, enquanto homem.

20 de novembro de 2008

Plácido o dia a tempo
seco o sol quente,
outonal ;

de reposta memória numa coloração,
de domingo o próximo odor, atento
o desdobrar do alcance ao mundo assim,
como que nos caminhos descalços, nus

num vago alinhamento,
do correr adormecido,
que vê se em tempestade
... lá mais para a tarde.
Rumor na hora da cidade.

Após da noite o passar febril
e vêm gélido ao clamor do sol novo
o correr largado ao dia a continuar,
do sono, numa sua cegueira,
e a via larga a vida ao fervilhar
claro, e a esta hora do rumor.

Sempre a cidade acorda qual véu lançado numa intensa idade do feito,
aqui, num correr que atingida é da miragem mecânica e surda, sensual,
desfeita em dia da pele e das cores, dos expressos, do excesso da vida,
e dos corpos, do sangue a como num fugaz palpitante pôr plácido dos olhos,
solícitos, e feitos, a um ganho ou num arfar e forte o desta hora, que desperta,
como que num animal que se desse, solícito, afecto.

17 de novembro de 2008

O rio.

O reflexo fasto, a esbatida luz,
o crescendo aquático cintilar que voga,
o pré disposto tornar, desperto,
o tempo, apossado de insinuante abertura.

O corpo a ficar, o olhar perto.

Como numa aceleração da temperatura ao descalabro ou o mundo a quente numa transformação, solúvel.