14 de janeiro de 2009

Rápido, acto, o tirar outra coisa
é quando diz se deste pensar
e do seu pensar de aorta escorrida
num fundo de humidade, encerrado,
entre terra e água, exalante, a toda
largura num rasgo - do movimento -
como identidade esfíngica.

Fuga por mínimo numa interrupção
de corrente inscrita da história
e das formas, dos rios, suturados
em matéria deste crivo e numa pedra
riscada, rugosa, das lutas a tempo
numa imposição recorrente.

12 de janeiro de 2009

L.Wittgenstein.

“ Um milagre é por assim dizer um “gesto” de Deus. Como um homem que tranquilamente sentado faz de repente um gesto espectacular. Deus deixa o mundo seguir pacificamente a sua via e de repente acompanha as palavras de um santo com um gesto simbólico, um gesto da natureza. Exemplo seria que após um santo ter falado as árvores à sua volta se inclinariam como por reverência. – Dito isto, será que creio que tal coisa se produza ? Não. A única coisa que me faria crer no milagre assim compreendido seria que eu fosse “impressionado” por um acontecimento que se produziria desta forma particular. De tal forma que diria, por exemplo : “Seria impossível ver estas árvores sem ter o sentimento de que respondem às palavras deste santo.” Como diria : “ É impossível ver a face deste cão sem ver também que está alerta e segue atentamente tudo o que faz o seu mestre.” E imagino facilmente que a simples récita das “palavras” da vida de um santo pudessem levar qualquer um a crer igualmente na história das árvores que se inclinam, embora, eu, não seja impressionável dessa maneira.

L.Wittgenstein.

6 de janeiro de 2009

... corta o peso da travessia suspensa
em calamidade na terra desenvolta,
de caída cor no cimento, rodado
em qual momento duma mesma fuga
o espaço de música e letra, espalhada
num tal gesto de unidade, véu perfeito.
“ (...) Em suma, indo directamente ao assunto, parece me ridículo dizer se que fora do céu está o nada, que o céu está em si próprio localizado por acidente e é lugar por acidente, idest com respeito ás suas partes.

E seja como for que se interprete o seu “por acidente”, não se pode fugir a que se faça de um, dois ; porque sempre é uma coisa o continente e outra o conteúdo, e tanto assim é, que para ele próprio o continente é incorpóreo e o conteúdo é corpo, e o continente é imóvel, o conteúdo móvel ; o continente matemático, o conteúdo físico.

Ora, seja essa superfície o que se quiser nunca me cansarei de perguntar : o que é que está para além dela ? Se se responde que está o nada, então direi ser o vácuo, o inane, e um tal vácuo, um tal inane que não têm limite nem qualquer termo ulterior, tendo, porém, limite e fim no lado de cá. É mais difícil imaginar isto que pensar ser o universo infinito e imenso, porque não podemos fugir ao vácuo se queremos admitir o universo finito. (...) “

Giordano Bruno ; Acerca do infinito, do universo e dos mundos ; Gulbenkian.

2 de janeiro de 2009

Modal do sal.

Um dia, a ave, ao novamente descender no mar infernal em mergulho necessário de sobrevivência cruza se à linha de água - como que numa cintilação - com o peixe que, vindo do seu tédio de curso, no mesmo instante arriscara um salto de ascensão possível ao céu.

Cruzaram se, então, ali, à linha de água, e daquele momento trocado algo aconteceu que ecoou numa certa comunicação, de uma certa impossibilidade ; e diz se, pelos tempos, que os ecos, a terra, chegaram e ali se fizeram como o sal das possíveis ficções, da terra, do peixe e da ave, da sua impossibilidade.

Os peixes, dizia se em tempos, não são sal da terra mas são com certeza ouvintes pacientes, seja ; os peixes no mar, as aves no céu, os outros animais na terra e o homem em circuito de audiência fechada numa festa das canas e do recolher figurado, plástico numa gargalh(i)ada contígua.

e dali assobiou o nome ;
- que no principio era o verbo, dizia se ;

e que não era insensato
que num dia composto de paradoxo ... e depois o vento, dali.

17 de dezembro de 2008

A propósito de Borges e de uma "corrente" a guardar o acesso aos "Palácios da Cultura".

Hoje em dia, dir se ia, que (alguns) dos "guardiãos do segredo" atingiram um tal estado de "umbiguismo" que já não fazem a mínima ideia daquilo que estão a guardar, continuam a guardar, no entanto.

E o mais irónico no meio de toda esta "situação" insólita é que aqueles que ficam do lado de fora da "corrente", assim impedidos de entrar, são aqueles a quem se destinava o "Palácio" aquando da sua "construção" que, entretanto, cá fora, nas covas, vão tentando conversar com os "trogloditas" que, como se sabe e alguém disse, foram, afinal, os "construtores" dos ditos "palácios".

É caso para dizer, parafraseando um outro alguém, que " hoje em dia apenas os mortos detém o conhecimento (simbólico).

16 de dezembro de 2008

Urso e Sorriso.

Um dia, Sorriso encontra Urso e pergunta lhe se o seu nome não é “Kak”. Fica logo encolerizado o Urso e apresta se a bater em Sorriso que se esconde por detrás das suas costas e, aqui, aproveita para lhe inflamar o tosão.

Incapaz de extinguir o fogo Urso promete a Sorriso entregar lhe quatro encantamentos mágicos se ela o socorrer.

Desde então basta alguém munir se de alguns pelos do seu velo para nada ter a temer do Urso.

C.Levi-Strauss ; La pensée sauvage ( navajo)


Urso e Sorriso na Pós Modernidade.

Um dia Sorriso encontra Urso e pergunta lhe se o seu nome não é “Kak”. O Urso, que vinha dali profundamente impressionado a pensar na “famosa disjunção” que o Lobo lhe tinha ensinado e que é vulgarmente conhecida pelo nome do dito animal, ao ouvir o som emitido por Sorriso não pôde deixar de pensar que aquele som se adequava bastante bem ao que “via” naquele instante. Num sorriso olhou Sorriso e achou lhe grácia.

15 de dezembro de 2008

Verbo de colorir, selvagem.

Passo de corrido o canto e perto
tirado no desenrolar do mundo assim ;
como nos caminhos descalços, nus.

Em lato atingir desta hora, tardia,
a vontade ocorre em motivo de assomo,
num pensamento que basta se ; dois,
o rumor além da memória,
num satisfeito rebordo do sangue salpicado.

10 de dezembro de 2008

Tamat - o logaritmo.

Como técnica de colagem, entrecortada, a escolha, das operações, de depuração, do vómito num relato circunstancial, pneumática analogia que reservo, atento, num exercício que escutasse/recordasse o patinhar do arranque.

Os tambores, no início,
do respirar, o acto directo,
e certo, assunto de notas,
e encontros, musicados,
num aleatório da dissemelhança ;
num luxo das palavras.

E o durar numa inspiração de onda curta ao tomar do ar ou então o fazer isso que é auto, gerado, no relatar disto que chama se a palavra após palavra como

agregado, oculto, do sopro,
e do som, e na duração
do encontro, desta unidade,
e dos termos, numa mesma
laringe, de figura ; arquefacto
grotesco, mistificado, assente,
em proveito e risco, e no através,
do latejar, a congregação assim

posto, em nome de qualquer pretérito que extende e distende as paredes que buscassem uma aderência, ou um resquício, coincidente, sim, uma lente*.

E na arte, da produção,
de tal encontro, e nas palavras,
aderentes, desta passagem,
respiram se, logo, os encontros
a cada mais, que ligeiro
figurasse essas paredes,
como na parábola ; polido
numa travessa à espera da lua,
cheia, e continuado, a visto,
das traqueias absolvidas,
circuladas ; como num encontro,
que fora, afastado, enfim,
num respirar fundo, numa palavra.

Convenhamos então nas declarações do proceder como de um fundo, tirado, um desenho, deixado, aos restos, pelas paredes, aderidos, devagar, numa preparação, ou num salto dissoluto, que concede, e por vezes, como que num encontro que eleva, esquece e por fim nessa capacidade de entrar, de impregnar se.

9 de dezembro de 2008

Efeito. Composição.

Vêm da noite, detrás dos olhos,
traçado, em vigília, o sol, do ocidente,
chegado, neste encontro, oriente.

E tirado aos lados, em vazio,
faz se, antigo à vista, modulado,
feroz, num momento ocidental ;

- de novo o nascer antigo
ou verso estende se desta paisagem
como que num fim de verde

e límpidos os correm os ramos
e os rumos num véu plácido
da dança por cada dos aromas,

num mover, no cheiro, de instante
concordo, o oriente, do som
e da terra ; negro o cabelo da rosa.

Antes do sol da estepe sem nome o corre a origem de um conto,
de canto oriente, que chega, o sol negro, qual, num movimento.