15 de dezembro de 2010

Outra tentativa.
Todas as tentativas.
Os percursos de uma posição móvel.
Uma isenção, antiga regra alquímica.
Nada, nada, um chegar da natural matéria.
Qualquer coisa.
Qualquer pensamento, destacado.
Aquelas antigas elevações das fontes ocidentais.
Graves. O suceder dá que pensar.
Talvez possa começar.
Fica uma certa arrogância.
Todas as entrecruzadas condições,
Causas desse atingido sentido.
Todas as vidas passadas e fica o momento.
Passam dias, horas, eu, já não dou conta.
Está frio aqui. Já não digo “um dia”.
Percorre-me todas as fibras o abandono da razão, dos percursos.
Não conto os encontros, não conto nada.
Por vezes, é certo, chega-me essa memória intrusa.
Como lhe responde o vazio.
Nada guardo.
Sinto o olhar perdido, bem sei, fica-me, como fora nesse lugar em que todas as palavras perdem-se, onde os actos nunca chegam.
Afasto os sonhos.
Perto, apenas essa miragem.
Estátuas.
Já nada é estranho.
Os olhos que te percorrem não eras tu.
Recomeço por fim, (é sempre recomeçar), no fim dessa imagem qualquer coisa de nada … e o que resta?
Continuar? Concerteza.

13 de dezembro de 2010

Uma (incipiente) tentativa de progressão na espécie.

(Atempo)

Como se se desse o caso de um tal pensamento e muito possivelmente não regressaria naquele lugar, era, como se lentamente abrisse os olhos e suspendera-se, instantes, na recortada figura da paisagem grandiosa, não trazia o prolongar das noites, qualquer ligação do rumor distendia-se ao passar do momento e lançava-se em turbilhão como se foram abismos de uma certa conclusão que repartia - estranha aquietação – a figura de uma forma vaga da intuição do ritmo, que punha-se, sem imediato sentido, como fora o coligir da frase em perfuração - um inútil assim - que fazia por esquecer “um qualquer coisa” que soltava-se na repetição das palavras deixadas ao acaso, única ideia, eram, todos os rumos deixados a fazer linha de um pensamento.

Apenas um sincopar, uma grafia.
O apelo de uma fonte que atingisse a progressão da ideia.
Como não tomara à partida um passo adquirido ou surpreendera um instante em trabalho.

O atirar dos olhos.
Repente que toma, na passada, os novos corpos que flutuam, passageiros, no rasto deixado de um movimento veloz.
Apenas um vazio.
Segundos que passavam.
Tempos do movimento insistido,

Buscava dentro as futuras combinações de uma paleta que colorisse a posição de um vaso em “perfeito” vazio e, num instante, como se diluísse um excesso de peso e transitasse as transformações da sintaxe; uma “certa forma”; era, como se chamara um vento aos seus ardis ou veículos que tomassem vida na exaustão de todos os circuitos das frases em cadeia. Marcações de um recipiente futuro, um simultâneo do fazer.

Como fora, o protagonismo da forma que insinuara as outras avenidas fáceis em partidas de um ponto tomado nas “résteas” do pensamento adquirido, (uma diferença fundamental), como o agarrar-se na passada e levar, consigo, as emergidas superfícies de um pensamento revelado no concurso da notação, deixado numa certa grafia.

Rotações de um percurso elementar, esquecido, ao adiantar, (consigo), os tempos da marcação que põe-se em qual matéria.
Num acerto.
Numa luz no movimento.
Na súbita coincidência das fontes reconhecidas.
Calcorreadas.
Como fora, o continuar das façanhas vazias nos mais apagados pretéritos em solução das partes que, corridas, surgissem da composição de um movimento futuro. Uma partida na sombra. O mais dos caminhos, (ao acaso), que fundara-se, por vezes, na razão dos sulcos de uma matéria esquecida. Os abandonados espaços do antigamente. O móvel circunstanciar das tomadas de forma. O ritmado recesso das recipientes invocações.

O alongar das recorrentes passagens deixava como que a sombra de uma forma, afigurava-se a presença de um discurso, um iminente agarrar de atenção, a descida de um pensamento vago que suspendia qualquer determinação - o abandonar-se a um movimento é acto da concentração, funda, autenticamente, a decisão do instante que segue, antes de qualquer coisa.

Isso.

(Espaço)

A mais elevada forma do acto.

Espera, a súbita fuga,
na tentativa do agarrar,
o peso das cadeias,
em súbito divergir,
a uma aproximação limiar,
em geometrias da força sucessiva,
numa curva larga,
ao berço das dinâmicas em transporte,
no corpo carnal que fizera-se,
da vectorial marcação das linhas dispostas,
ao chegar do limite,
e na prévia consideração das órbitas elementares,
(imagem chave pensou); uma visualização da massa que rodopiara, colorida, por danças de um sistemático e regulado conjunto; como fora o ensaio da transposição interna em prévias considerações da trajectória e no divergir da linha limite, uma aceleração luminosa.

Dinâmicas considerações do acto dinâmico.
Algo que dispõe-se, “confuso”, no interior que aparece.
Um esboço de significado a um veicular sugerido.
O apontar de uma finalidade, um significado.

Visual sugestão das dinâmicas do acto do movimento da fuga, como fora uma aproximação, mas de dentro, não a relação de conjunto elementar, mas sim, a indicação das linhas do movimento.
Condensava o peso de uma passagem.
Um agarrar dessa “força”.
Apresentava-se como que talhado a golpes de machado.
Corte rude, uma primeira posse à força.

Não sentia, no entanto, o interno constranger que sempre provoca o movimento condicionado, a precipitação, isso, havia de querer dizer alguma coisa, pensou, como se aquela posição atingida estivesse fora de alcance, e, como não considerava um afastamento desse tipo, apenas surgia uma chegada no próprio desses núcleos.

Era o começo das imagens.
A (proposta) linha limiar de chegada.
Fazia por ver a sua volta,

Adiantava a condição do tempo (que surgia) como direcção curva que lentamente se chegava em limite, como fora a preparação duma entrada, uma desaceleração, uma primeira manobra, faziam-se precisas as linhas da relação, numa certa elegância, nas precisões do movimento, nesse plano, em leis da condução da trajectória, (da razão pensou), uma não alinhada trajectória que adquiria as leis de uma certa possibilidade espacial, que dali se regulava.

(Tempo)

“… passa para a segunda transição e desta para o seu vizinho …”.

Uma introdução. A imagem.

O sinal de fundo tomado num certo fechamento da figura.
Coincidira a forma, (terceira dimensão acabada), e acendera um olhar, nos gestos por detrás de uma cortina em chamas.
A progressão das sombras que emergiam.
As danças vagas, os gritos mudos.
O fogo solto nas imagens que nasciam.
Vago pormenor que sentira.
No ponto de um pensamento tomado.
Dirigira uma atenção.
Ao vago sugerir das histórias.
E nas voltas dessa fogueira.
As sombras à sua volta.
Pensou: era como se o surgir dessa cortina em chamas fosse o irromper do tempo desencadeado nos ápices do fogo. Numa relação.
Chegara: o tempo era um rio atingido.

(A “ultrapassagem” dessa (anteriormente) considerada linha limite no espaço surgia-lhe agora de uma forma lúcida).

Faziam-se as palavras.
O entrar das danças, do fogo.
Por detrás dessas sombras.
Ao fazer entrar os rios, as florestas.
Chegavam as cautelosas passadas por entre os gigantes à volta.
E os raios de sol por entre as ramadas densas.
Ao avistar da carne em silêncio.
O entrar das arestas em ferida.
Que jorra em vermelho.
Nas mãos que se banham na partilha.
Febre saciada,
E os olhares que fazem-se.
Interrogam-se.
No profundo do retiro ao fim do dia.
Ao cair de todas as estranhas colorações.
Apelos próximo.
Um cair frio, escuro.

11 de dezembro de 2010

Os pretéritos.
A instalação das fugas.
O discernir dos objectos.
A interna regulação das convulsões.
De uma qualquer maneira.
Na mostra da face.
E das vidas reguladas.
Em sofrível conta das derrotas.
Que acertava como que na prudência do acerto.
Aqueles rostos antigos.
Dos olhares em volta fechada.
Nos estábulos.
Em manifesto de toda a consideração.
Nos rastos da noite.
No lugar.
Apenas num ensaio.
Das rupturas a fazer perto.
As conquistas de um novo mundo.
Em tomada das posições móveis.
Numa manutenção leve.
Do caminho.
Traços de um.
Deslizar das falas.

O desejo diverge em saltos de uma não permanência da imagem, em espaço “preenchido”.
Todas as primeiras vozes.
Aquele prolongamento da noite.
O encorpado fogo urgente.
Permanecera o sol.
Em qualquer impossível.
Forjado das certas condições.
E nas linhas insistentes.
Dir-se-ia povoado das imensas multiplicidades, distendera-se e, como continuara, cruzou, tentou pelo menos, incomodava a direcção, pensou:

não iria pensar,
todo o dia passara,
e aí regressaria,
em tempo,
e como era difícil,
e no entanto,
estava,
e porque não,
a primeira coisa que lhe não ocorria era nada,
passara como um vulto,
quem sabe,
estado,
em movimento,
em rotação,
algumas funções elementares,
a posição dos olhos,
agora não,
uma certa naturalidade,
os corporais solfejos,
dos primeiros indícios,
do movimento explosivo,
(as fibras e não sei quê),
esquecido,
de uma certa maneira,
nos pontos de apoio,
do movimento encadeado,
como se fizera,
o que fazer,
na próxima manhã,
ou um dia,
uma coisa sabia,
sabia-o,
e apresentava-se assim
- havia de não ler, pensou.

Discutia-se então a eterna questão dos universais indeterminados e como isso lhe aparecia tão profundamente indiferente. Como os mesmos afinal. Pensou então: apesar de tudo estes existem mesmo e independentemente de tudo o que se possa dizer.

- Parece-me um pouco arrogante da tua parte, diga-se.

Mas não, repara, toma como exemplo, simbólico claro, a “zona mesopotâmica”, qualquer animal que a veja, ou sinta se lhe amplificarmos o significado, reage de um modo que é universal entre os animais, logo, a sua existência, a da “zona mesopotâmica”, neste sentido abrangente claro, não depende de qualquer habilidade ou distinção feita pelo animal que lhe reage, até porque é incapaz de o fazer, mas o que é um facto é que reage e quer seja à vista, quer seja, inclusivamente, (e isto é importante), à própria sugestão da “zona mesopotâmica”, reage e pronto, logo existe, a zona, quero dizer.

Bom, bom, mas que feitio, apesar de tudo parece-me um “raciocínio” bastante “coxo”.

Que o é, sem dúvida. Mas faço-te a inversão da prova. Imagina: és um animal, não pensas, não pensas, logo, não existes, se não existes também as coisas que vês não existem, para ti, pois não possuis a habilidade de assim as considerar, reages, no entanto, à presença ou à própria sugestão da “zona mesopotâmica”, logo, e assim que te recolocares no lugar que te pertence, o de “homem hábil”, tens de considerar que, se estes elementos a que chamas universais, sejam eles aqui indeterminados ou não, têm, desse teu ponto de vista, “existência”, e, seja essa existência, que dessa tua posição não podes deixar de atribuir, nas coisas ou fora delas ou ainda existência distinta ou não nas ou das coisas, tens que considerar, dizia, ao observares o comportamento do dito animal, que, diga-se, está-se positivamente nas tintas para tudo isso, tens que considerar que, dizia, que, apesar do dito animal não ter o discernimento que possuis nessa tua qualidade, o que é um facto inquestionável, tens de considerar dizia, que, é um facto que este, animal bem entendido, reage, de facto, em função daquilo, ou de “alguma coisa”, a que tu chamas, e bem, um universal, seja este, como já disse, qualificado e situado como bem entenderes, e, dado que o animal, que desconhece, reage, às coisas, é porque algo está nas coisas, “isso” de que falamos, caso contrário, o animal, que não faz a mínima ideia do que é “isso”, não o faria, reagiria quero dizer, às coisas - caso contrário terás que considerar, pelo menos, a existência de singularidades universais na “mente” do animal, pois se não é às coisas que o animal reage algo teria que estar, nessa forma, na sua mente.

Julgava-te um pragmático, de qualquer forma, admiro a profundidade, mas parece-me coxo na mesma, embora tenha melhorado.

Hm, nasci em campo de ourique se ajuda, mas podes considerar um cheiro, um som, um simples olhar, são igualmente marcas elementares; e um cheiro é um cheiro, nas, das coisas.

Parece-me melhor.

Sim, afinal os animais não têm “zona mesopotâmica”, pelo menos que me lembre ou saiba, talvez o porco que é assim rosadinho, não sei, onde queria chegar, meu caro, é que esses universais, de que se fala, esse tipo especial de universais, bem entendido, são os elementos (e)feitos do jogo, da composição, e, como bem sabes, embora estejam ligados aos corpos que os vão carregando, ou nestes surjam, e apenas aí o possam fazer, têm, porém, uma existência universal, aqui e ali, dentro e fora da série, embora seja dentro desta, na minha opinião, que estão como peixe na água.

A ver, e quanto ao problema do acto acidental ou contingente?

Bom, brincas com coisas sérias, responder-te-ei como o posso fazer neste momento: fomentado na série - sem mais adiantar – tendo o seu ocasional corolário no desencadear-se que sai fora do tempo e da série, mas sabes, toda esta questão da “zona mesopotâmica” resolveu-se rapidamente em espirais de fumo azul que volteiam, distendidas, numa lenta ascensão rumo ao vazio, digamos apenas que, nesse sentido, do acto acidental, bem entendido, teriam sido dois dias e duas noites naquele lugar que, assim, se teriam resolvido sem resultados desse movimento maior, enfim, talvez na próxima.

Não percebo nada, é muito hermético.

É, bem sei.
“Alguma natureza é móvel ou mutável, porque pode carecer de alguma perfeição que lhe possa pertencer; logo, o termo do movimento pode começar e, desse modo, ser feito … “

D. Scoto ; Tratado do Princípio Primeiro – ed. 70 (trad. Mário Santiago Carvalho).

10 de dezembro de 2010

Um “contacto” à flor da pele.

Chega-nos uma angústia na face física da impossibilidade. O “encontro” do corpo de razão, físico, com o corpo de sentimento, imaterial, vice-versa; seja qual for o objecto o paradoxo mantém-se da própria divisão. Daí toda a irracionalidade, e os jogos, e a dança, a tragédia, o drama, enfim, a matéria do que nos apela, nós, o outro, (tu afinal). Este “combate” entre a materialidade do corpo e a imaterialidade do sentimento é a necessária condição de limitação da matéria, é própria produção da matéria, mais, é a própria matéria que, limitada, flui – é, realmente, o instante da impossibilidade das palavras, qualquer coisa que nos move à novidade, à dor, ao progresso das construções fechadas, o mais acabado dos mecanismos culturais dos diques e dos labirintos, das condutas, um oriente no ocidente. Este “reencontro” em corpo de luz é a imagem das delícias do regresso a uma “linguagem” sem observador onde todos os olhos se retiram. Esta utopia do amor suspende-se na impossibilidade que tira, dos seus rubores, a marca do progresso, da inovação. Um sonho do corpo implantado em doce recordação da luminosa reunião, vislumbre do momento da matéria, primordial implantação do instante da memória que vivemos, (como que de trás para a frente, ou vice versa), reflectido em angústia e como fora uma primeira pedra que é o instante da “separação” fundado como veículo da imagem, a imaginação. Sublimado momento da “violência”, uma saudade de nada. Bem real (no entanto) na sua força, civilizacional até. Inventamo-nos à razão dos corpos o excedente signo do mais poderoso dos mecanismos, afinal, como poderíamos viver sem amor, sem esta pluralidade. Todo o encontro assim carrega o nome de nós, seja um salto, um transporte, um combate … e um encontro assim é o poderoso íman que fundamenta todas as revoluções e avanços desta pluralidade que atinge as suas mais violentas convulsões da “arte” da decisão particular acabada, completa. No fundo é sempre esta busca, o encontrar-nos no segredo da noite, dos corpos da luz, em silêncio.
Como tardasse a uniforme adjectivação
Do peso
De qualquer coisa
Num dinamitado processo
Ao acaso da manhã
Nas sombras donde pudesse nascer
Um rio, semente dos acasos,
Das ligeiras maneiras
(prenúncio das marés vivas)
Das multidões desarvoradas
Que correm
Num esmagamento infalível
Aos ferros cruzados
Em queda,
Cantos do pormenor.
Dissera:
O adquirir da posse caminhara os lassos recantos do dia.
Subira o clamor das hostes.
Retirara-se. Surgisse.
Como morrera o amor.
E como pesa esta carne.
Como queima.
Como sobem as palavras.
Os represados rios duma vida.
E ainda é noite.
Como aprendi a despertá-la.
Ao activo das manhãs.
Que distribui uma certa lucidez.
(E não cai).
E esta vida dos muros.
E aquela inquietação…