26 de outubro de 2017


Mais que reconhecer
O retirar dos rostos
Há que adivinhá-los
Daquilo que de aparente
Têm as palavras
E o silêncio da refinada
Renda que desperta
Ao redor das mãos.

25 de outubro de 2017


O transporte.

Posto por sombra
Aberto a uma luz suspende
Os ecos da suficiência
Duplicado em matinal da forma
Num segundo em reflexo
De agora que trespassa
Os amanhãs do mais-que-perfeito
Sentido, e a cada descida.

Num efeito daquela presença que a cada idade atinge os cânticos das coisas que são da terra e recomeça então dos antigos amontoados por indecifrados momentos que cantam as informadas árias do vazio nas aglutinadas cinzas.

E isto a ponto de uma cegueira que lentamente assenta o sincopar dos corpos inclusos naquela espécie que traz consigo o distante em forma de vento.

18 de outubro de 2017


Particular do instante.

Como escutar o verbo
No oculto círculo dos sorrisos
Em contígua circular
Das letras ao cimo da ventania.

E o soar das mãos
No pouco sombrio da febre
A baixa voz
Num reflexo de jazigo.

Veja-se pois o exemplo
Da língua nosso bem genético
Que fragmentado em grande efeito
Reposta a natureza
Num crescendo de intelecção
Dirigido ao celestial do consenso
Celestial na realidade
Se faz do sentir
Das coisas de outrora
E do bom tempo passado.

16 de outubro de 2017


Cheira bem, a pão acabado de fazer.
A mim, que estou aqui sentado
E quase espesso, confesso -
Este cheiro do pão acabado de fazer
Como que dilui-me da espessura –
Embarcado que me tomo, por momentos –
No cheiro do pão acabado de fazer.

9 de outubro de 2017


Conta-se que um dia o suceder das falas se adornou de ideia na espelhada imagem que justamente dobrada saiu ao fantástico caminho do magma a fazer-se outro da recordação do olhar que ao atingir da hora num marulhar da vontade lhe ocorreu a dois por qualquer coisa do fogo e entrou então no recinto em ato que continuou para em queda se agarrar no digesto que vira adormecida a palpitar dos lábios consagrados que cantam cantou ‘será nuvem será este’ numa metamorfose da maior exigência.

Bom, talvez não seja de supor nessa mesma imagem.

Mas paradoxalmente essa dicção possibilitou-lhe o derradeiro desate da prática de um certo mundo que hoje em dia permanece em silêncio que seja repartido na processão do nosso verbo ao modo evasivo que se espera do sonho.

4 de outubro de 2017


Claro que não, claro que não.
O que faz-se, marca-se mesmo.

Concede este gesto a representação, e ainda a tempo, dos séculos residuais, das desgarradas histórias, dos desmembrados corpos esquecidos.

A partilha.

Nas silenciosas catacumbas jazem as jorradas gargantas na pedra que murmuradas em volta aos corpos soltam-se nas celebradas palavras de sangue e numa imagem que a voz sustenta em solenes e soletrados segredos das memórias dos reminiscentes despojos que ao longo das falésias e das escarpas ficam empilhados em piras de prata terrena nos desolados recantos.

Outras terras e o maior dos cilícios silêncios num ostracizado estertor das sombras e das coisas voláteis.

Hostes do rugir voraz
Nas ossadas ocas vigilantes
Pálpebras e semelhantes fronteiras
No lamento da primeira
Distância aos rapsódicos termos
Do falar demos do lugar
Por grotescos e multiformes traçados
A tez das continuadas fontes
Em promessas de sentido e gestos
De trabalho nos reflexos
Solos cintilados a fundamentais
De imagem e ignições dos tristes minutos.

Sincopados corporais de artifício ascendem como que insinuados ao estranho lugar em esboços de passado e presente que abertos numa palavra aos multifacetados instantes da representação do fogo e de uma esfera mais vasta representam as iniciais incessantes e inertes rajadas dos assinalados silêncios nos breves minutos do acontecer reflexo da locação que fica o antigo nas palavras e maquinalmente o mar-cego de outrora escritas ao fluir de um vento em filamentos sonoros.

Outro verbo o nome envoltos do saciar alado a cada fugaz do regulado canto embutido e dissipado na rebentação das terras e da miragem numa magnética indução do induzido que agrega dessa cisão as distintas magentas do traço por assinalada falha numa qualidade.

Condição de origem
Dos materiais movimentos
Nas acabadas palavras
Dos exaustos ciclos
Esventrados e verbais.

Como replicantemente a parte pelo todo em busca da frase perdida o modular tom dos corpos ao momento inicial numa ideia que por suscitado verso chegam em composição junto ao próprio tema intuitivamente efeito que cruza as maneiras do inicial instante e das formas e dos nomes que escapam de uma anterior existência e uns instantes mais.

E depois o entrar na origem a um tempo rasga de identidade o termo das estações e os alternados temores no espaço da criação dos territórios em cópula noção do face a face e original raiz da semente que chega aos corpos em estado febril e a meio da distância faz o essencial da satisfação.

Na força de um cintilar
A duas mãos da espécie
Por seminal ideia
Ao fundo obsceno do grito
E destes todos ideia.

Que na linguagem por fim se revelam em causa e efeito ao entardecer dos panoramas:

Infinitos como as ondas
Marcam então o olhar fascinado
E perplexo ao percorrer dos cromáticos
Processos da metáfora
Em lúdica marcha de cadências
Pontuais de vontade.

Que de branco se revestem
No vulgar da ocorrência
Em lastro nos interstícios
De um cristal violeta
E todas as terras em estado de grito –
E ventos de vertigem
De temperatura ideal.

De um processual das unidades da composição composta e daqui dizer a ocasião e o quão solenemente das fundações numa língua e de per se.

3 de outubro de 2017

Certo dia já lá vão uns anos estava eu sossegado e num local público a beber um café quando autenticamente do nada uma mulher lindíssima de vestido vermelho justo e sobriamente ousado era verão se aproximou de surpresa e disse:

Então, tudo bem?

Olhei-a surpreso e demoradamente era lindíssima e apesar de ter a certeza de não a conhecer lembrar-me-ia lá fui respondendo:

Sim, tudo bem, mas

Disse eu marcando bem as pausas numa tentativa vã de parecer casual, sofisticado.

Não me vais dizer que não te lembras de mim pois não?

Atirou-me a mulher lindíssima num tom jovial de sorriso aberto e franco que imediatamente desarmou a minha máscara digna e hesitei e tentei disfarçar a crescente impressão não muito acentuada de intranquilidade pois diga-se eu tinha a certeza de não conhecer aquela mulher lindíssima pois que até pelo próprio facto me lembraria dela como já disse mas por outro lado e não mentia ao pensá-lo na realidade fazia-me lembrar algo de muito vago e impreciso e no entanto familiar respondi então:

Bom, realmente, mas não, não estou a ver

Ora, sou eu.

Disse ao mesmo tempo que me dava uma cotovelada cúmplice e confesso que estava cada vez mais intrigado mas como não queria transparecê-lo o que fiz foi acender um cigarro em gestos pausados profundos e levemente meditativos como se estivesse num filme a representar um papel confiante e sofisticado e levemente e deixei passar alguns segundos marcados de um silêncio confiante e enigmático e respondi:

Eu?

A mulher lindíssima não se impressionou rigorosamente nada com a minha arte e de imediato respondeu:

Sim, eu, não precisas de fazer essas cenas, sou eu.

Mal tinha terminado de afirmar estas perturbadoras palavras deu-me uma palmada nas costas mas não daquele género de palmada que os gajos costumam dar quando estão inseguros ou com pressa mas sim uma palmada honesta nas costas e foi aí que comecei a sentir a minha dignidade seriamente ameaçada e afinal de contas até estava num local público e embora as pessoas não tivessem dado mostras de ter notado aquela familiaridade tão efusiva e eu também não tivesse reparado na reacção delas o que é facto é que reagi de uma forma um tanto ou quanto ríspida no limar do inusitado:

Olha lá, disse eu, mas por acaso andei contigo na escola, ou assim?

A mulher lindíssima nem pestanejou e de sorriso directo redarguiu:

Claro. Na escola de manhã, e à tarde à noite, ruelas e avenidas, casas brancas, povoadas de sabor, e a natureza também, brincadeiras.

Dito isto piscou-me o olho esquerdo lindíssimo e deu-me outra cotovelada desta vez mais carinhosa digamos cúmplice e fiquei como que estupefacto sem o estar pois embora por um lado as palavras que esta mulher lindíssima proferira me despertassem algumas imagens por outro despertariam em qualquer pessoa supunha mas a crescente familiaridade e confiança dela começavam a deixar-me desarmado e ela por seu turno talvez notando um indício de confusão em mim continuou:

E as cores vivas, os vermelhos, verdes luxuriantes, e azuis ultramarinos.

Entrevi então quase imediatamente a oportunidade de inverter a tendência quase humilhante do diálogo no instante e expressei-me num diletante ligeiro apertar dos lábios e linhas horizontais de testa:

Hm, estou a ver, e disse pausado, qual gauguin polinésio, ou um kandinski enquanto besta?

A mulher lindíssima nem me deixou continuar e atalhou como que repreendendo-me.

Ora, deixa-te lá dessas merdas que só te ficam é mal e ouve: os momentos desacelerados ao mais ínfimo da composição, as auras nocturnas, numa acutilante atenção, das matérias esvanecidas.

Cala-te, exclamei quase assustado.

De facto era demais e já no limiar do frenesim tentei reflectir em mim o que tais tão esotéricas revelações dispostas perante os meus ouvidos olhos e corpo todo significariam e quem era esta mulher lindíssima e o que a tinha ali trazido e enquanto desta maneira cogitava já quase completamente deposto ela recuou dois passos sempre a olhar-me e a sorrir e terna porém altiva levou a mão ao peito lindíssimo e exclamou:

Uh-Há!

Após a qual exclamação desapareceu como tinha aparecido, misteriosamente.

Fiquei para morrer ou talvez não tanto assim mas fiquei com certeza completamente despojado e não sei quantos mais minutos segundos fiquei para ali naquele local público a reflectir intensamente na significação de tão misterioso episódio o que era indubitável era que primeiro toda a minha distensa pose se tinha eclipsado num segundo e segundo que tinha efectivamente ficado num estado positivamente quase lastimável mas agarrei-me no entanto ou fiz por isso e acendi um cigarro de olhos fitos no horizonte possível daquele espaço público limitado e cheguei então rapidamente à única conclusão lógica e racional possível.

Disse comigo:

Obviamente esta mulher lindíssima de vestido vermelho justo e sobriamente ousado é verão que tão drasticamente neste meio-dia destruiu os meus frágeis alicerces e derrubou-me do periclitante pedestal era o Al Pacino disfarçado de mulher lindíssima etc. mas o que me escapa é a razão pela qual o Al Pacino assim se apresentou ao meio-dia neste local público disfarçado de mulher lindíssima para abalar desta maneira tão radical todas as minhas convicções até aqui adquiridas.

Já passaram muitos anos desde esse singular encontro e a vida bem ou mal continuou os seus turnos mas ainda hoje quando a noite é fria e o tempo lá fora ruge e aterra eu pergunto-me a mim mesmo qual a profunda mensagem que quereria transmitir-me o Al Pacino naquele meio-dia disfarçado de mulher lindíssima de vestido vermelho e justo e sobriamente ousado que era verão .

2 de outubro de 2017


Dizer:

A visão das ilhas
Longínquas dos arquipélagos
Siderais em passeio
Nas avenidas castas de madeira
Velha e maresia
Em sazonais quanto baste.

Das itinerantes memórias dos animais ao mais ínfimo da continuada rotina do dia-a-dia num mais puro e simples do ascetismo empírico e natural e espontâneo pois apesar de tudo será uma boa páscoa interiorizada em quanta cor ou na ausência dela e mais propriamente na próxima visão da primavera mais profunda que fica adiada pois choverá de novo para uma temperatura mais subsequente não tendo o hábito de consultar os registos o que por si já é bastante agradável.

29 de setembro de 2017


Quarenta deliquescências de proveito deixam-me estas vanguardas na garganta qual simples nota dos tempos que corre o silencioso organismo em registo de fogo. Fluem, num sincopar de cadências, e os silêncios deixados num nada murmúrio fazem-se da passageira conquista do momento escrito, e é suficiente.

A eternidade ao alcance de uma linha parou, vista daqui de cima, para um qualquer exercício de terra e cor, que mantém-se, e a vida passa por todos os iludidos instantes nesta imagem sua cor, substância que fica, qual contraluz, ou complemento de terra.

Os sorrisos fazem soar os ciclos e os tambores até que por fim se faça derramar o sangue em silêncio (mais uma vez) e tudo acabe a tomar-se irrefletido nas palavras como simplesmente a memória ou um pensamento tornado inevitável.

Cânticos passados do olhar furtivo em silêncio e quando não…

A notação da serena impassibilidade, ler impossibilidade, em infalibilidade serena, como o recurso à anestesia ou a contrafação do imenso em absoluto, propriamente aquela âncora que se toma firme e presente faz, isto, para além de quaisquer cortinas em espanto ínfimo, e é, afinal, manobra de animal instinto qualquer da mutação loquaz numa sólida imprecisão dessa mesma ausência.

E garrota-me o intestino de aflição até que já nem consigo respirar de pudendos dilatados deste apontamento ao fim das palavras que terminantemente articuladas trazem consigo respectivamente um regalo da e para a vista e o porvir porventura que concerta os mais acérrimos defensores da pradaria naquilo a que se pode chamar a substância de um devir mais em prévia condição de alcance e portanto nesta determinada.

28 de setembro de 2017

O vitríolo

Nunca fez parte
Desta dissertação exterior
Ou dessa interior visita.

Como da glória inacabada e flutuante um dia de maravilha realce o quão sofrivelmente ao pormenor irrompe em tracejar sonoro o dilúvio das palavras num pulsar dos veios que pairam entre as multidões numa espécie de acontecer dos traços de cor visível sim soma do acontecer ínfimo a cada instante em gestos de prelúdio que sucedem nas partes a impressão das coisas feitas daquilo que a impressão das coisas deixa quando nelas não pensamos a cada palavra e a tempo de parar o tempo em sussurros de matéria ou naquela condição que fica ao acordar e ao adormecer também de ser e estar distante uma outra coisa de excesso e sugestão e viva certeza nas linhas corridas de um fluxo a irromper que parece a desordem da própria ordem encerrada ao amanhecer nas insonoras criptas da palavra acima de qualquer pertença ou qualquer coisa.

Ficaria assim justificada uma representação que assegurasse a substância económica das coisas e a dignidade das partes a contado e ainda a posse de uma natureza que será de todos em harmónica representação do contrato que reclama (mais do que assegura) as “sobrevivências” da espécie enquanto comunidade para que finalmente do nada se faça uma virtude em desaceleração como é visível pois oneroso não fosse o negócio de bom grado embarcaríamos dessas delícias numa representação tão profunda quanto a do elixir ou da suave e doce manifestação que convém carnal nos musicais compassos do repente que se calam até que por fim já não interessa se estão longe ou perto o que é o mesmo e um ser que será de todos ao nascer por mais uma combustão de prazer.