2 de janeiro de 2010

Seco, rasto, oculto.

A petrificada carne imóvel,
o vento e as mãos,
na terra das máscaras,
(um sobre olhar intenso),
vibra a noite,
em oração de apelo
ao fim do dia castanho.

O feito animal reverbera qual lapso a luz, imagem, claros e sombra à passagem
na hora dos cães.

O contornos dos ossos,
no corpo tangível,
a cada voz melancólica,
traçados nós e rugas,
(as disposições dos objectos),
na cor e composição,
das linhas do movimento,
ao acaso dispostas.

Até que a extensão chega a fronteira do esvair após desse interlúdio, fica o olhar que digita, por entre a luz - a marca do anjo deixa um traçado fundo, cerebral.

No peito aberto e o olhar baixo,
trepidante circula o instante passado,
em plano das órbitas e mapas suspensos,
ficam pólos do jogo sem fim, imóvel, ruidoso.

E percorre a sincopada pele exausta,
um sopro calor, recanto das memórias,
(gelam-te os corpos no regresso),
no lapidar, os lugares de mudança,
permanece a pele em travessia.

Só não tomara jogos e o parecer,
que evitara esse ocaso a funda visão,
(haviam já partido os corpos nessa hora),
e deixava em tempo mesmo desse lugar,
o começar crú da cerebral cadência.

Inóspito esvai e prevalece (a imagem dos corpos em volta) nas imposições sonoras, sim e não, das madrugadas do pensamento físico.

oblíqua,
sombra,
solar,
surge,
a fera,
deste olhar fixo em linha de fronte algo esse dia,
que não,
que fique,
fica.

Os corações ao alto, o mar alto, um ressalto.
Preenche o tempo,
a sucessão deste olhar,
qual negro instante,
do rápido mundo,
signo doutra noite,
a chegar regresso,
ao fim duma voz,
do corpo e os olhos,
calmos poisos,
da veste em azul,
igual no peito,
em assinaturas do tacto,
doce, olhar silêncio,
feito e suspenso,
oração do beijo,
e a voz junto, a noite
cai, seja o sonho.

29 de dezembro de 2009

A marca dos lábios,
encanto liba tormento,
e nada diz, sei,
que pensa não saber,
as memórias escritas
do rosto que sente
o encontro a um dia
escuro e tão perto,
longe fica na chuva
e acorda sentidos,
sombras no regaço
das últimas tentações,
condição de não ter,
o amargo distante
por fim no dia fugaz
tomara do impropério,
ficar os assentos
em cor na matéria
mais que nova, via,
não guarda das palavras,
aberto ainda a pairar
d’outono e os navios
a passar não fica
mais sangue e cor
de oceano, espuma
a maré vazia,
fico o sal, nuvens
da borrasca, lado
a lado ao corpo
esse olhar lembrara
fundo ao dia, chega
o instante, (quem te)
imagem oscila
entre a manhã
e a tarde afasta
desde toca, chamado
estas figuras, e tu,
corpos cegos, repete
essa voz quando
a vida consente,
o teu, por vezes,
sombras qualquer fim
da manhã logo
é frio, aceso e cala,
ruínas de cada faz
a sombra, líquido,
traço do corpo
a corpo enquanto
conquista, a liberdade
e o carrega, no peito
em fogo, a tarde
não estava tempo
(ou era eu),
correra o sangue
a protesto das palavras,
na boca o sabor
dos mundos fazia,
nada o é, ouve,
por vez sopra
do rumor, sente,
o instante fere
à queima, das palavras,
no mais livre
outros céus, abertos
cimos da terra,
a liberdade ao longe,
e os pântanos do dia
em perto é feito
o acaso, a noite,
canto ao fim do dia,
mais se liga,
mais avança, basta.

Como o fazer lacónico ao grande alvorecer da guarda sombras ao amanhecer, véus, o tecer das sílabas, de composição de dentro, o nome, as línguas, o fogo, os cantos da voz, o grito aceso, outra vez o dia, alto. de que é feita a matéria (?) quando voltas à terra.

Do mais ocaso até vindo em rápida sucessão, do qualquer fim.

27 de dezembro de 2009

O gesto num minuto
sentira a presença
ao cair aberto chama
de olhar a fundo,
e não pensa em voz
a soar sobre a folha
por restos da matéria
a cada palavra,
mais próximo, termos
que faz e toma
do que é simples
a ritmos dum verbo
que a forma é dizer,
rios dum prazer,
que corre o petrificado
momento, e não pensar,
corrido, manifesto ponto
cedo a noite cai
numa fisionomia, fechada,
não tanto a chuva
mas passos na pedra
em récitas do som
perto, a raiada promessa
vão, lentamente, desfolhar
livros na noite em voz
soltas as sensações
da luz ida, nomes
e palavras ao acaso
não fica mais,
desse encanto, os corpos
e os dias assim,
maneiras da profusão
lançada, mantos
na curvatura da pele
e as ondas a desvanecer
a música quase perto,
o silêncio em terra firme,
tecido desse rumor
a passo imóvel,
por todos, mundos e luas
mais vivo as ondas
leve, a vista agitada,
as folhas caídas,
nas margens da espera,
onde as tantas palavras
queira a manhã
não tarde a mais cantos
do manifesto e palavras
loucas, rastos
do mal tirado à sombra
em qualquer lugar,
nu, raios e a cor
dessas terras pisadas,
o ar das noites, corre
e toma de mais o canto
que alcança, braços
do rubor, a face da pele,
a saber das mãos
em parecer do som
nas palavras, do fulgor
em cada sítios ao acaso,
o gesto elegante,
como cordas a soluçar
as curvaturas da lava,
as lavras da terra,
e o principio de tudo.

13 de novembro de 2009

Abelardoimóvelavidamentesretalhadoassim.*
Cainadoridamaneiraotrabalhoeconventaodia.
Elaboradoaosgritosemcomendassólidasecruz.
Quemvilapródigacorrentempressaslavraodiz.

*diz-se que marx “embirrava” o “assim místico” d’hegel (creio que o acharia “preguiçoso”, ou “enganoso”, veja-se lá), eu, por mim, que não sou dado ao uso do vernacular, escrito pelo menos, digamos que me estou um pouco “nas tintas”.

12 de novembro de 2009

(Sem mais de momento ...)

O trabalhador e o utensílio.

Duma maneira geral, o mundo das coisas é sentido como uma “queda”. Gera a alienação daquele que o criou. É um principio fundamental : subordinar não é unicamente modificar o elemento subordinado mas ser – propriamente – modificado. O utensílio muda ao mesmo tempo a natureza e o homem : sujeita a natureza ao homem que o fabrica e utiliza mas liga o homem à natureza sujeita. A natureza torna-se propriedade do homem mas cessa de lhe ser imanente. É sua na condição de lhe estar fechada. Se ele coloca o mundo sob o seu poder é na medida em que esquece que é ele – propriamente – o mundo : nega o mundo mas é ele mesmo que é negado. Tudo o que está em meu poder anuncia que reduzi o que me é semelhante a não mais existir para o seu próprio fim mas para uma finalidade que lhe é estranha. A finalidade de uma charrua é estranha à realidade que a constitui e com mais razão ainda, a finalidade de um grão de cevada ou de um bezerro. Se eu comesse a cevada ou o bezerro de uma forma animal estes seriam igualmente desviados do seu próprio fim mas seriam subitamente destruídos como cevada e como bezerro. Não seriam, a cevada e o bezerro, em qualquer momento, as “coisas” que são desde o princípio. O grão de centeio é unidade de produção agrícola e o “boi” é uma cabeça da manada, e aquele que cultiva o centeio é um lavrador e aquele que cria o boi é um criador de gado. Ora, no momento em que cultiva, a finalidade do lavrador não é, realmente, a sua própria finalidade ; no momento em que cria, a finalidade do criador de gado não é, realmente, a sua própria finalidade. O produto agrícola, a manada, são “coisas”, e o lavrador ou o criador de gado, no momento em que trabalham, são também coisas. Tudo isto é estranho à imensidão imanente onde não existem separação nem limites. Na medida em que é imensidão imanente, em que é ser, em que é “do” mundo, o homem é um estranho a si mesmo. O lavrador não é um homem : é a charrua daquele que come o pão. No limite, o acto daquele que come é já o trabalho dos campos ao qual fornece a energia.

Georges Bataille – Théorie de la Religion.

Este “culminar” do esboço “Batailliano” do tema do útil utensílio faz me lembrar, não sei porquê, a história do malandro do caím e do pobre do abel que, segundo li recentemente numa curta história de contracapa que não conhecia, continuaria, por tudo quanto é lado a sua cantoria. Não me espanta, no entanto, pois é sabido, desde tempos imemoriais, que quanto mais decomposto – ou descomposto conforme a “sensibilidade” semi-o-lógica de cada um – o nome mais assobia, melodia.
Por vez o acaso deixa-me assim tão perto, boquiaberto, e do que sinto eu sempre aceito não, que neste acaso libertasse, e é verdade que sinto, e permanece neste instante,
em que o acaso mal que fizera soubesse, deste acaso.

(Pois entendo a distância. O nem saber. Sempre entendi o silêncio.)

No coração do respeito por vez o acaso deixa-me assim na face um sabor ferido.

(O jogo não é deste meu acaso).

E não considero razões, também não cego, não digo.

Nunca me tinha a certeza chegado e o que sinto é forte, assim o disse, e o resto, que passa ao acaso e agride é como punhal que rasgasse ...

(mas o meu corpo é forte - decerto porque é deste acaso, este acaso perplexo.)

Sincero (em respeito) sempre ao mundo (que solicitado) o disse em vez do acaso a sós e deixa-me assim, mudo ; e é tudo - respeito, amizade, um bem querer e carinho e terno e tudo numa palavra mais - que disse.

Não considero, repito, e em silêncio retiro.

Por vez o acaso deixa-me assim ... obrigado, não por vontade, ou orgulho, nem por nada deste mundo ... apenas porque o que disse, assim sinto.

10 de novembro de 2009

Dos termos, efeitos.

Dos termos diria* – mais ou menos como o houvera feito um genial humorista ou então sugeriria, estou convencido, Peirce – que são como os efeitos da manipulação dos interruptores. Ou seja : quando postos p’ra cima far-se-ia luz e um, quando trocados p’ra baixo então escuro e zero. Ou vice versa conforme a polarização dos ditos interruptores. Ou tudo e nada, num instante, ou como se queira, instantaneamente. É que no fundo, no fundo seria sempre o “mesmo”. Aqui estar. E seria, talvez, no desenvolver de um tal semelhante “raciocínio” que um certo hipotético e famoso matemático diria que um é – igual ou semelhante ou o mesmo que - zero. Não sei. Mas, e quanto ao “meio” ? Bom, o “meio” seria, neste caso, o próprio interruptor, digo eu. Obviamente que “falta”, nesta “história”, qualquer “coisa” que discerne, paradoxalmente, mas isso, isto, seria uma outra “história”, paradoxal.

*Como olhara, embevecido, o funcionamento de um quadro eléctrico.

30 de outubro de 2009

“As corporações são o materialismo da burocracia e a burocracia é o espiritualismo das corporações. A corporação é a burocracia da sociedade civil ; a burocracia é a corporação do Estado. Assim, opõe se na realidade, como “sociedade civil do Estado” ao “Estado da sociedade civil”, isto é, as corporações. Onde a “burocracia” for o novo principio, o interesse genérico do Estado começa a converter se num interesse “à parte” e, por conseguinte, num interesse “real” que luta contra as corporações do mesmo modo que toda a consequência luta contra a existência dos seus pressupostos. Por outro lado, quando desperta a vida real do Estado e a sociedade civil se liberta das corporações levada por um instinto natural próprio, a burocracia tenta restabelecê-las, pois se se dissolve o “Estado da sociedade civil” cai igualmente a “sociedade civil do Estado”. O espiritualismo desaparece com o seu contrário, o materialismo. A consequência luta pela existência dos seus pressupostos quando um novo principio luta não contra a existência mas sim contra o principio dessa existência. Logo, quando é atacado o espírito da corporação, também o é o espírito da burocracia ; e se esta combatia anteriormente a existência das corporações a fim de efectivar a sua própria existência, procura agora salvaguardar tenazmente a existência das corporações para salvar o espírito corporativo, o seu próprio espírito.”

K. Marx ; Crítica da Filosofia do Direito de Hegel – Presença.
T. – uma comoção da imagem.

Precipitara se
a temperatura em frémito,
insinua a jovem noite,
ainda uma brisa
por dentro das casas
as atenções do dia
desvaneceram em frenesim.

E corro em visita dos sinais.

As cursivas - imagem
dum contraponto
a sincopar dos momentos
em panorâmica vista
na volta do apreender,
que não seja um dia,
outro e a vida
a cada instante, velo
do movimento,
olhares, engalanados
sons do sincopar
a maquinal-regra
de um mural citadino.

Não se ocupara do conformar do planalto o olhar de uma figura sem forma.

Os poços negros, passagens
(ao) suspenso coração da imagem,
lapidam em contraponto o corpo,
ficado nessa noite em fazer dia,

Na escolha diz alocar as resistências em acto que importa.

Da queda em dispersões,
as saídas chegado,
o silêncio das palavras,
seus intervalos matriciais,

E o instante é logo que o fogo começa e deixa se como considerar a entrada, o descanso, e o engano elege se frente aos olhos em rendição e tudo, como as últimas disposições da consciência, em salto, o por fim dum distender - copiosamente - arvorado às multidões do rumor, novamente o vazio.

Profundo dos olhos e os ossos
silenciosos fundos da terra
em contraponto às chamadas
do vale a um cimo destas encostas,

fogueiras do calor e da terra e a noite
em esguios socalcos estendidos
sobe este percurso abaixo a encosta
e o faz correr a face funda,

como para lá dos olhos em sonho
a uma moldura sobre as manhãs
em mais real dos ocidentais exilados
instante em comoção das imagens.

A funda mente e perdida
por detrás dos abismos
passava a realidade
que agarra me o murmurar
(o olhar sente)
os esquecidos segredos
a que chamam sonho,
(no sítio onde pára a poesia).

E o dizer apela o dizer do rumor em lugar dos ossos separados, vale-imagem
de todos dias,
correra muros,
a saudade,
os olhos baixo.

E nesta ideia escrita das figuras em pedra a fundos véu só continua a vista junto (?) que faz o rio à volta.

Por fim o coração atira me
como pode o chegar
ou não esta escolha “antiga”,
este olhar das encostas
de novo em partida, outro lugar.

E não mais, tira se o perfazer das palavras qual desmagnética “figura escrita, sem, ou quais, véus que tomaram se em mar assim.