10 de abril de 2010

De ser a estar.

a dúvida que cresce,
e teima em não sair,
que nasce do interesse,
da semelhança.

Nas letras é um desafio, passa, como num momento de abertura à mais alta razão que vence o corpo estranho pois no olhar que é espelho uma tal (distinta) semelhança nota-se nas palavras escritas ... bom, é todo um suporte delas, marca do seu uso, aquele jogo da dissimulação que suporta (em sinais da inadvertência, por vezes) como que técnicas agarradas aos corpos em movimento a ... simplesmente.

Como no prenúncio da tragédia.
O evidente nas palavras é a vergonha, o impudor das palavras grandes. A violência.

Os sinais duma semelhante distinção,
marcam-se do corpo em transformação,
e numa inconsiderada evidência,
dos corpos em abertura espelhada,
(movimento exterior da tragédia)
chegam numa direcção, vinda do coração,
que é como a mais simples manifestação
do uso em intenção da providência.

São letras que cuidam-se no uso dos suportes em tensão dos corpos desligados. Enquanto existe, a dúvida, é “sinal” de evidência - nas palavras e fora delas – quando não, não.
Ácidos, lânguidos, situados.

O favor convexo,
da jovial representação,
no aluir ribombar,
dos plátanos e artérias,
em ocasião erigida,
da exemplar manhã,
numa lápide ascética,
dos ídolos em locação,
pelas grutas e altares,
sobranceiros,
aos planaltos da pastorícia,
num elenco de repente,
aos ligados voos, ecos
dos sangues em vão
e a rosa, e o gasto
observar, cândido
amanhecer, rocambolesco.
Oscila entre a manhã e a tarde.

Trago doutra dimensão,
a fenda do tempo aberto,
em fuga como demanda perfeita,
(do altissonante delírio),
que comanda a líquida matéria,
e traz-se assim, guardado,
na semente dum deserto bêbedo.

Chamado o tecer desta figura nas sílabas dos corpos cegos - repete a minha voz - onde paira o coração e os dias no âmago dentre o sonho .... longas são as noites, por vezes.
Observações em tempo de crise.

Um escrevia, outro lia,
na passagem,
era como se mortos,
os abertos olhos,
do sentido exterior,
estendido estertor,
dos graves incinerados,
artefactos funcionais,
num transferido cambiante ;

fossem acerto de ensaio intuído que implodisse em marca (e isso vai-se aprendendo)
do único baque a mais a tempo de efeito dessa tanta impressão, afinal.
Outro dia sustente as palavras,
o jogo de olhar interior,
insurgido em cardume e lenha,
(suporte acaso que tomara),
do branco fundo à espera de linha,
tomara, (como em estado absoluto),
o já corpo em sustentação dos acasos;
como utopia sobre a folha branca,
que chegara das fragmentadas palavras
numa tal combinação das quantas
em linha do perfazer molecular primeiro,

cão porém,
carne som,

subentendido nesta linha carece, (e a coisa acontece), em repente irradiado corpo de som que sustenta, inteiro, a folha, a frase; são corpos da latitude, toda uma produção do som que requer uma intensa penetração da palavra, sim, uma certa desintegração das quantas como de mínimo a mínimo o que, no fim de tudo, como que toma-se “especial veículo”, sustenta :

as multidões d’azevio,
os alumínios roucos.
Passara num relâmpago,
(os olhos perdidos),
poderia dizer
que não há razão
mas existe,
em todos os instantes,
em toda a razão recomposta,
chegam dias e havia a fazer,
não custa e apenas quer-se,
porque a vida é assim,
perdido o olhar do rio,
em tantos nomes e voltas,
creio, não me sai, antes ...
Chuva. Rápido corcel a ti chega marcas do rubor nos lábios.
Frios. A cinza em canto ao longe. O pó na estrada liba todos os teus tormentos.
Enquanto penso. Enquanto penso.
Não quero saber das memórias destas escritas.
Sobre o campo o rosto sinto ao encontro um dia escuro.
E o que fica na chuva acorda os sentidos. Afagam. As sombras no teu regaço.
Das últimas tentações em vida mais que condição de não ter.
Como um sono. Enxurradas do dia. Amargo da distância.
Por fim no dia a desconhecer. Fugaz. A única música que tomara tal entrada.
Rios da luz que jorram cintilar gritado ao longe.
Aguardo. O Correr das águas solta os impropérios da luta. Tão longe. Tão perto.

*

Canto os saltos,
em pleno assento da cor,
aos gritos da bruma,
na matéria mais que nova,
e rápido o trovão,
na vida e o peito,
- por mim não guardava tantas palavras -
das abertas espumas,
ficam gotas,
que partem mais da maré vazia e fica o sal, o corpo.

8 de abril de 2010

Anónimo

Som de voz desperto,
o destacado risco,
da trama fina,
num salto extenso.

Os híbridos redondéis ressoam reactivas espécies das palavras como por interna sequência daquela sucessão de gestos,
ondulação (cheia)
tomada em apoteose,
aposta classe
edificada do cimento,
lançado ponto de aplicação.
nos rasgos do caos frio,
por lâminas dum retardo insolente,
as vidas, num volteio de cima,
recortes, cume do sol,
os cimos do permanecer,
(lânguido, arvorado, desfeito),
acto duma satisfação,
- entre o estar que sobe e o correr de aspiração táctil -
no odor da cor viva,
em sabor da terra,
e desfeito em plástica,
disposição do contorno
(acertos de efeito)
em estado de distanciamento próprio da razão disforme.

Outras marés do sentido se objectivasse uma afinação do corpo.
A razão do desenlace em geração (ao largo) mineral das alas densas.

Ao fim da floresta,
no caminho em verde,
os estados em passagem,
onde a forma é vaga,
e o aspecto abrasivo,
laboriosamente aspergido,
como num desgaste.

7 de abril de 2010

Um diálogo cultural, algures.

- Ah. A Cultura. O requinte da palavra, a elegância do gesto. Sempre a sinto quase como se fora um natural “afrodisíaco”, percebes, um estar que sabe e sobe em destacada dignidade da imagem, uma elevação dos retiros, as bucólicas efígies da terra ancestral, nossa, todo um mundo das partilhas, dos afectos, dos ensinamentos, da história.
- Costumo pensá-la como um rosto na multidão, uma reconhecida expressão.
- (Rápido olhar em volta, escarninho) – Nasceste na terra, suponho.
- Ora, deixa lá isso, não tens que te sentir assim.
Fonte antiga.

Na base da rocha cerrara-se o animal aos gritos e sinais da vigia. Sobre a nascente caíra a sombra de um poder velho.

o coração persiste,
a mais alta fonte,
no dia selvagem,
caminha sombras,
ramadas da noite,
faz-se ao artifício
da lama e segue,
em silêncio,
ao nascer do dia,
o cair das águas,
(olhos em volta do silêncio),
a semelhança presente,
no antigo lugar,
do apelo entre as rochas,
as ligas fendidas,
da cega memória
dos aterrados dias,
funda ausência,
por muitas eras,

(estilhaços por toda a carne)

e no cego momento
da luz tão perto,
erguido dessa lama,
ao repente da força,
o correr do enlace,
aos lagos torrenciais,
nas paredes de cristal,
a encerrada imagem,
golpe da vida,
em clamor mais fundo,
jorra-lhe a fúria,
no corpo incendiado,
e na margem, exausto,
repousa o peito,
um instante junto,
que fica a respiração,
na funda imagem
dos poços e fontes.

Bocados da carne atirados em valor – cães - tomados por constelações aos cimos da terra antiga. Descansa o seu corpo na imagem, carne e lama, a violência rasgada, assim.