8 de abril de 2010

Anónimo

Som de voz desperto,
o destacado risco,
da trama fina,
num salto extenso.

Os híbridos redondéis ressoam reactivas espécies das palavras como por interna sequência daquela sucessão de gestos,
ondulação (cheia)
tomada em apoteose,
aposta classe
edificada do cimento,
lançado ponto de aplicação.
nos rasgos do caos frio,
por lâminas dum retardo insolente,
as vidas, num volteio de cima,
recortes, cume do sol,
os cimos do permanecer,
(lânguido, arvorado, desfeito),
acto duma satisfação,
- entre o estar que sobe e o correr de aspiração táctil -
no odor da cor viva,
em sabor da terra,
e desfeito em plástica,
disposição do contorno
(acertos de efeito)
em estado de distanciamento próprio da razão disforme.

Outras marés do sentido se objectivasse uma afinação do corpo.
A razão do desenlace em geração (ao largo) mineral das alas densas.

Ao fim da floresta,
no caminho em verde,
os estados em passagem,
onde a forma é vaga,
e o aspecto abrasivo,
laboriosamente aspergido,
como num desgaste.

7 de abril de 2010

Um diálogo cultural, algures.

- Ah. A Cultura. O requinte da palavra, a elegância do gesto. Sempre a sinto quase como se fora um natural “afrodisíaco”, percebes, um estar que sabe e sobe em destacada dignidade da imagem, uma elevação dos retiros, as bucólicas efígies da terra ancestral, nossa, todo um mundo das partilhas, dos afectos, dos ensinamentos, da história.
- Costumo pensá-la como um rosto na multidão, uma reconhecida expressão.
- (Rápido olhar em volta, escarninho) – Nasceste na terra, suponho.
- Ora, deixa lá isso, não tens que te sentir assim.
Fonte antiga.

Na base da rocha cerrara-se o animal aos gritos e sinais da vigia. Sobre a nascente caíra a sombra de um poder velho.

o coração persiste,
a mais alta fonte,
no dia selvagem,
caminha sombras,
ramadas da noite,
faz-se ao artifício
da lama e segue,
em silêncio,
ao nascer do dia,
o cair das águas,
(olhos em volta do silêncio),
a semelhança presente,
no antigo lugar,
do apelo entre as rochas,
as ligas fendidas,
da cega memória
dos aterrados dias,
funda ausência,
por muitas eras,

(estilhaços por toda a carne)

e no cego momento
da luz tão perto,
erguido dessa lama,
ao repente da força,
o correr do enlace,
aos lagos torrenciais,
nas paredes de cristal,
a encerrada imagem,
golpe da vida,
em clamor mais fundo,
jorra-lhe a fúria,
no corpo incendiado,
e na margem, exausto,
repousa o peito,
um instante junto,
que fica a respiração,
na funda imagem
dos poços e fontes.

Bocados da carne atirados em valor – cães - tomados por constelações aos cimos da terra antiga. Descansa o seu corpo na imagem, carne e lama, a violência rasgada, assim.

6 de abril de 2010

“... ele fez de si mesmo um mundo inteiro. Porque, como a metafísica reflectida ensina que “homo intelligendo fit omnia”, assim esta metafísica fantasiada demonstra que “homo non intelligendo fit omnia”, e talvez isto seja dito com mais verdade do que aquilo, porque o homem ao entender, abre a sua mente e compreende essas coisas mas, ao não entender, ele faz de si essas coisas e, ao transformar-se nelas, vem a sê-lo...”

G. Vico ; Ciência Nova – Gulbenkian.
Conhece a tua solidão.

A minha mão de glória brinca sobre os fios da virgem
A noite é uma lira melodiosa
A minha música queima a sombra das árvores mortais
A minha música queima de acordo com a água
Trago a minha chama ao coração do gelo
Cristal silencioso da minha solidão
Liberta a minha sombra o meu reflexo morria com as folhagens
Estou só
Junto a um mar de leite onde nadam peixes fraternos
O meu sangue perpétuo conhece a sua profundeza

Para amar é preciso ser dois
O amor é uma grande solidão
Estrela de mar a mulher é água meditativa

Prisioneiro dos lugares das planícies múltiplas
Fugi em mim o mundo
Belo espaço restaurado grandeza, natureza
O mundo lugar comum
Lugar humano
Cada um seu centro íntimo igual a um ou outro
Do semelhante ao mesmo vamos e vimos
Tal como em nós mesmos em fim da demanda
A verdade banha-nos todos nus na nossa nudez radiante
Mil vezes mais só de olhar-se nos olhos
E de reencontrar-se no fundo do poço
Poços de ciência intima

Sou tão vasto de estar só
Crer-me-ia múltiplo

Mulher o teu corpo é uma lua rubra
A tua noite um gelado branco
O teu corpo de todos os dias é uma manhã
Mas tu és todas as chuvas do mar
E por isso te amo
Amando a noite.

Stanislas Rodanski – Anthologie de la poésie française du XX siécle – (tradução livre)
Grito que agarra
se numa porém
sólida tendência
em reflexo tornado
insone e conforme
ao tropel das manifestações ;
ou então espalhado em dia,
como balde de rotunda.
Ô têmpora

acordas de fogo,
num dia chegara,
aos arrancados pedaços,
das vidas em volta,
e uma luz segura,
por toda a terra,
estende o assentar,
dos olhos regresso,
sequer o fogo,
e tal pensar, adeus.

*
Desfalecera em tal terra,
as costas na terra,
desabrigado aos trovões
da luz, as passagens,
das erigidas autoridades em campo.

5 de abril de 2010

No principio era apenas fogo,
rasgava o céu um troar das feras,
curtos movimentos,
o mais circular leve indício.

A observação do calor fora o corpo em anunciações da primavera, técnicas, rodas, expulsões num alongar dos tecidos, a fundo ... o sangue activo.

Numa expansão (do corpo) em espanto a regra das mais notáveis contradições idas, fases e leituras de horizonte, aberto, numa posição.
“ Uma distinção filosófica emerge gradualmente à consciência : não há um momento determinado na história antes do qual ela não é reconhecida e depois do qual surge como algo perfeitamente claro (...) Scoto distingue entre conceber confusamente e conceber o confuso, e como qualquer conceito obscuro inclui necessariamente algo mais do que o seu objecto próprio, naquilo que é obscuramente concebido, há sempre uma concepção de algo confuso ...”

C.S. Peirce (sobre Leibniz/Scoto e a “distinção”) ; Semiótica –Ed. Perspectiva.
Os olhos de intensidade
uníssona circulam
raios do sangue
imaculado solfejo
de todas as manifestações
afim do fazer canto
e acesos murmúrios
no aparente da progressão
da fluída sombra
que persiste o esquecimento.

O aberto mar roda do percurso espalhado em soma nas palavras do acto investido a sentir espaços cair da luz.

31 de março de 2010

Dissemelhança.

Um rosto – "sósia".

Uma porta que se abre,
um movimento,
os suspensos olhos num
segundo, o outro lado
do olhar, a surpresa atenção
mantém do rosto, os fixos
olhos nesse instante.

Suspensa continuação do movimento maquinal. O efeito é tido no contratempo que deixa-se ficar balanceado (simultaneamente) na continuação. Daí o efeito de tensão muscular. Representa o contraponto.

O baixar de pálpebras,
a comissura, levemente.

A significação da memória encontra o seu fim aberto no movimento suspenso da semelhança extraordinária. Esta produção da memória inicial, assim sobreposta, é racionalização da “liberdade”, da imagem, como um “afinar das causas”. É como afecto da sobreposta imagem que liberta do afecto e da imagem, numa sobreposição.

E não é que esta distância esteja propriamente no tempo mas antes na produção e vivência do desdobramento da imagem, na sua repetição, no momento, na suspensão.

Já não é memória, mas criação de memória.

- Peço desculpa, estava distraído.
- Olá. Recordo-me. Confesso-me curiosa.
- Sim, é de facto uma semelhança extraordinária, um conhecimento vago no entanto, não distante ou longínquo, apenas vago.
- De qualquer forma.
- Sim, não.
- (Sorriso).

29 de março de 2010

As ruas descidas,
as rodas num preparado,
o fazer retardado,
em sangue da carnificina,
num rápido reflexo,
do mundo em ocultação,
(este gesto do convir vertical
em horizontal campo de dor preenchido),
num prazer da soterrada,
(arte) inquieta sobre o vulcão,
a figura, ideal,
do dado num gesto,
(estudado),
a visto e rápido,
em marcar do mundo,
numa cruzada voz,
da reacção em mascarada,

*

baluartes num murmúrio
ao atingir da sombra
em claro/escuro,
cinzelados, golpes,
sincopadamente,
um movimento da memória,
cega e confiante,
o magnético ondular,
da fermentação animal,
e as cores circuladas,
como o sentir
que de todo constrange
em primeiro e flui,
nuvem estacionada,
na maturação
dum assentamento da forma,
um fluir assim,
que a deslocação das vidas
esquecem, adiantam.
suspendera em delícia,
o distraído instante surpreso,
- o corpo está nesse instante –
que esquece por muito tempo,
as passagens do campo em baixo ;

e cai todo um corpo
nas animadas silhuetas
de como um suave e carnal
desassossego nas esquecidas manhãs,
do lento movimento
aos olhos numa visão
dos secretos corpos deixados
(fora/dentro a luz que quase toca)
do corpo rugido (fulvo)
que consagra o absoluto silêncio
e toca e liquefaz a pele
ao estar a franja duma luz suave
que fica o saciado contacto
num estar, numa dimensão de estar
“Extravagante efeito esse que proveio daquela miséria da mente humana, ..., a qual, permanecendo imersa e sepultada no corpo, é naturalmente inclinada a sentir as coisas do corpo e deve usar demasiado esforço e fadiga para se compreender a si mesma, como o olho corporal que vê todos os objectos fora de si e necessita do espelho para se ver a si próprio ... “

G. Vico ; Ciência Nova – Gulbenkian.
“Só chego ao ponto de poder indicar a direcção de onde vem um som, porque um afecta as minhas orelhas diferentemente do outro, mas isso não o oiço.”

L. Wittgenstein ; Últimos escritos sobre a filosofia da psicologia – Gulbenkian.
Baqueio Barco.
Branqueio Baco.
Recaio Lago.
Alago Barco.
Baco … e cerceio.
No centro duma posição prá©tica
contagem do tem dito amálgama
em aquecimento da volátil rotação
dos critérios da calcinação em rasto
do fundamento ocidental a triagem
na maneira do aspergir constituídos
os voláteis ritos do vazio olhar a via.

A cabo do som,
nos traços traçado,
que desce aos olhos
no lábil canto
que estende o friso do corpo em vibração localizada,
um fluxo transposto,
dos olhos cerrados,
num despertar
em mais de azul
disperso
da volta rápida,
(digamos assim),
num sentido segundo,
num, das alegorias das ditas qualidades do verde,
(prazenteiro verde),
por solução de esmeralda
e cintilante
em afundo residual
da faixa do grito
em apelo das multidões,
(“olha para aqui agora”)
a parte oriental,
dos arcos e rastos,
dos riscos e pedras,
em ressalto na matéria,
das malas em vão,
e numa contraintraversão.
A Noite Vertical.

Que eu seja – a bola de oiro lançada no sol levante.
Que eu seja – O pêndulo que retorna ao ponto morto procurar a vertical nocturna do verbo.
Que eu seja – um e o outro prato da balança, o fiel. O período compreendido entre os dois extremos da sacada universal que é o batimento de coração segundo o qual podemos duvidar do possível e tudo esperar do seu ansioso “rien ne va plus”.

Lanço ao possível este desafio : Que eu seja a bala no salto de um instante de liberdade.
Lanço este grito – Que eu seja a bala do seu silêncio.

A minha partida chama-se sempre, todos os dias, todos os instantes do grande dia. O meu regresso a nunca, eterna vertical nocturna, ponto morto, igual a ele mesmo, que o outro franqueia – sempre.

Que sou eu ?
Sempre o mesmo retorno, o que retorna a dizer ainda um outro.

Stanislas Rodanski – Anthologie de la poésie française du XX siécle – (tradução livre)
Como variável nos modos do amor soubera :
- olhai que passam barcos acima dos montes, em delírio –
vide,
os dilúvios da visceral vontade,
as composições,
o sangue do meu sangue,
a pútrida voz,
os caldos de galinha ...
e quanto mais palavras, não será hora de as reconhecer.

28 de março de 2010

Suspendem-se as palavras sem fim,
Falta o interlúdio, fio dessas causas,
Suspendem-se as imagens sem fim,
Apenas ocorres, o fim destas causas.

22 de março de 2010

E agora, o verdadeiro “instante ético/moral”.

“bababadalgharaghtakamminarronnkonnbronntonnerronntuonnthunntrovarrhounawnskawntoohoohoordenenthurnuk!"

J.Joyce – Finnegans Wake.
“Como em muitos homens que atingem uma situação importante, era, a mil léguas de qualquer egoísmo, um amor profundo pelo que poderíamos chamar a utilidade pública e supra pessoal, noutros termos, um honrado respeito por aquilo em que se funda o seu proveito, não porque o funda, mas ao mesmo tempo que o funda, e em harmonia com este facto, quer dizer, em suma, por razões genéricas. Isto é um dado importante : um cão de raça, se procura o seu lugar debaixo da mesa do repasto sem se deixar desviar do seu intento pelos pontapés que recebe, não será de facto por baixeza de cão, não, mas por apego e fidelidade ; e na vida, aqueles mesmos que calculam friamente não têm metade do sucesso que obtém os espíritos bem doseados, capazes de experimentar, pelos seres e relações que lhes dão proveito, sentimentos verdadeiramente profundos.”

R. Musil ; O homem sem qualidades – (da tradução francesa)
Primavera.

Na primavera florescem os marmeleiros
e as romãzeiras, regadas
pelas águas dos rios,
lá onde fica das Virgens o jardim imaculado,
e os gomos das videiras crescem sob os rebentos
umbrosos do pâmpanos: mas a mim o Amor
não me dá estação alguma de descanso:
como o trácio Bóreas, deflagrando
com o trovão, soprando do lado de Cípria,
com loucura devastadora,
tenebroso e sem peias,
sacode de alto a baixo com força
o nosso coração.

Íbico ; hélade – Asa (tradução Maria H. Da Rocha Pereira.)

12 de março de 2010



O lobo e o cordeiro.


Estavam o lobo e o cordeiro a beber junto ao leito do rio. O cordeiro em baixo, o lobo acima. Diz o lobo :

- Não vês que me sujas a água?!
- Como pode ser isso se estás acima e o rio corre na minha direcção?
- Além do insulto ainda me ameaças?
- Como ameaço-te?
- Sim, bem me lembro do que fizeste o ano passado.
- Mas se nem era nascido.
- Basta, está bem assim. A tua maldade não me deixa alternativa.

E precipita-se sobre o cordeiro que devora.

...
Esopo.

24 de fevereiro de 2010

Cérebro, utilidade, desvio.

A necessidade de uma construção.
O aspecto e a reminiscência dos caminhos.
A longa e ruidosa manifestação de tudo o que percorre.
O critério de alcance em (positivo) permanecer da dúvida.
O outro lado da metafórica em maneira
dos actuais compassados processos continuados.
Os autores do coração regulado.

no lugar da espera,
em sinais do nunca mais
nunca, o supor
no entanto à sua falta
em simultâneo dum verdadeiro
e certo lugar
que tudo passa enquanto existe,
existe, duma ou doutra maneira,

na aparente razão,
do campo de acção,

que faz o sentido (em dúvida) e permanece evidência, pólos do mesmo.

20 de fevereiro de 2010

Filigrana em w.

Algo vem como rumor,
no vago sopro, por entre os lagos,
ao rosto em ruga desse sentir,
dois, na direcção do sobreolhar,
chega, como fora um passo em abismo,
(nota de uma certa impertinência),
a escolha à passagem que permanece
imagem, fica, marca, os indecisos,
incertos, versos de uma voz humana.

16 de fevereiro de 2010

O profuso da cor,
os interlúdios secretos,
a música e o silêncio,
a terra firme e o corpo tecido,
a passo imóvel de todos os mundos,
o vento bate nas margens,
as folhas do rio.
Alongo,

a sobrenatural miragem
dos edifícios em decadência,
os horizontes do lugar comum,
uma névoa, nunca vista fronteira
do reflexo mecânico, da cinza liberta,
rumor do verbo cego numa faca aos olhos,
em algo da posição no momento da figura,
diferença distante, imagens do mundo,
um rumor de variação funcional,
o fascínio do latejar instante,
o olhar contínuo fora
da representação
do mundo
em movimento
dos olhos rasgados,
numa inversão aspergida,
em mediado efeito de alcance,
não imediato, caos em arrasto selvagem.

10 de fevereiro de 2010

Estado da representação
dinâmica
além do corpo
(redundante) sinal
às portas do elemento
aberto (oclusivo e desatento)
efeito da corrida
em lábil locução
dos simultâneos vasos
(fixo alongamento elástico)
tomados de fundo
numa produção das pedras ao caminho,
permanente ideia
da clara
coloração mais forte
estado líquido
em primeira situação
de mar e sol
de novo aos lagos da imagem
(ausente em causa de transformação)
nos sinais da manhã
que logo regressam formas
a fazer acto
em contra fundo
da atribuição da vertigem,

(ponto mais das ondulações disforme),

o mar, grita,
sussurros do avistar quente,
e os corpos,
(que permanecem),
a proporção de estar cru.

2 de fevereiro de 2010

Num instante decide-me a espontânea luminosidade do gesto, o instante da voz, a abertura, os sinais do mundo, gosto
absoluto em pele ardente,
investida, raíz da matéria,
no regresso às palavras ;
gritos
turbulentos,
ribaltas
leguminosas
e estreitos convénios
dos cigarros da via
sólida
cinza escorrida
duma vez,
num dia do silêncio das casas,
(outras, notas,
soltas,
do cala-me elevado),
como foram dedos por detrás da carne
que vibra o sangue tecido,
por detrás dos corpos,
na sonora marca,
do curioso olhar,
perpendicular,
sentido, e não destino,

(e voltamos a pé no movimento)

em ocasional beleza,
ousado fragor,
dos espasmos da sombra,
o silêncio lhe perpassa.

30 de janeiro de 2010

mais que o gasto é tudo sagaz,
lúcido, como a pescada em quinto grau
por cima das ondas
lá do convés
nas últimas manifestações das órbitas quase circulares,
arremedo, como numa fila, a ostra
em surrealismo dos trajos duma aparição visionada
e circunscrita
aos sítios do papel ouvido como fora o séquito das provençais
não tão antigas,
assim,
nos solos do adquirir o nome e o verbo com todo o respeito, claro,
como a água cristalina,
logo adianta-se em cada passada duma aparência mas sim
da borrasca em choque
e desejo
qual fora baixa a todo custo da aparência, desilude
o que fazer, surge
entidade e preza tirando os factos
(das lullianas mnemónicas em combinatória dos fogos pequenos)
passa, repito,
as estrelas em colapso e as trevas da luz anunciada
sim duma abertura, opostas
falas e falas
a sós dum qualquer custo se imponha designem
tal vazio, porquê
não mo pergunto, aparentemente.
Silêncio vias
mais que os corpos
do dia
sóis volúveis
véus em cadência de
verso e arco
em cima dos rios,
como as cigarras
em repasto
salva os silêncios,
todos os filamentos da montanha,
(as sombras do rio
que passa,
fugas da labareda azul),
na tarde e a manhã
toda terras
do coração visceral
rasga, por tê,
toda a extensão do corpo mais largo.

26 de janeiro de 2010

Olhos da suspensa, gasta metáfora em prelúdio de inscrição.

E até o gesto se torna estranho,
na hora em espaços do interlúdio,
por voltas do pormenor isola, desce
amena, a criação da melancolia.

A situação do mesmo trabalho,
(rarefacção do ar), na indecisa grafia
(que ainda pensa) o fascínio das voltas
do tempo, (suspenso, interlúdio),

no fazer por fazer ao sol da manhã,
retirado perfume que fica,
por entre as pedras adormecidas,
da rua gritado às ondas do som basta,

a manhã do excesso que passa,
rompante (ao interno olhar), cantos
e silhuetas do corpo, a (ígnea) condição
da noite chegara por detrás da chuva,
cai na pedra em apelo, irrompe.

19 de janeiro de 2010

Chega (tão bom
motivo) em verdade
e falta a palavra,
parte duma ausência,
a densa imagem,
os voos desgarrados.

O potencial da lapidação
verte o som
em contra a natureza
do voo, isso,
convém do ar
e a palavra em redor,
sonoro o ribombar
da voz, colossal,
disposta, novas
combinações da matéria,
rasgado ao fim
do dia, feito pormenor,
o olhar carrega,
esse, andamento
aberto das subidas
e descidas, da palavra,
estado tais
do ceder desvanecido,
insuspeita imagem,
seria, condição
dos jogos densos,
sombra e plástico,
imutável espaço
das vindas, aparente
e multiforme,
densa, inacessível,
imagem sobre imagem.

Eram dias outros
os da manhã,
unificado,
em densidades do negro,
vasto e presente,
em ruga de pensamento,
ora tornado, simetria
que sai do sorriso,
em fronteira do verde,
azul, ora bem ...

12 de janeiro de 2010

Inundação, imagens.

Entoação,
do toque,
uma corda
afim,
da vibração,

desencadeia, movimento,
movimento a movimento,

sombra e sol,
vão, do segredo,
e fica a origem,
caixa selada,
doutra condição,
que cala leve,
intui,
comunica,
certa consciência,
em palavra.

Sempre se procura uma nova forma, até que chegue a forma, como numa dança dos tropos.

O mecanismo da graça,
passa em articulação
do calor e silêncio,
mistério da nota
que vibra à passagem
e deixa o ar de gelo,
chama encerrada,
suspenso o silêncio
em redor do incómodo,
uma única vez basta,
estranho, e não se diz,
o lugar momento,
marca de contratempo,
na esquiva do gesto,
em sóbria atenção,
da máquina doce
momento, ilustre
a condição fria,
q’inunda o sol aberto
em noções da luminosidade
instante, surpresa,
dos incómodos corpos
revelados no chão
que gela à passagem,
fica o relance,
quente e frio,
leve e cerrado,
do natural percurso
descontinua, o gesto,
chama à vista,
ocultação que assinala
a graciosa movimentação
de novo em dia de sol,
inevitável, movimento
plácido por minutos
da distância, perto,
a única sombra da manhã,
extenso perfume,
q’deixa outro olhar,
divergente, esquecimento,
em dias de sol quente,
a mais útil das manifestações,
em verde e sorrio.
Noção de prosa mista, matéria de origem, línguas, o olhar longe.

Sons da última sensação,
sombras imperfeitas,
os ornamentos volúveis,
no semblante oculto,
da distante torre,
consagrado nome,
em figura composto,
q’era o verbo radical
das vontades,
de outros mundos,
antigos, mais
das investiduras som
que tornava útil,
as valentes noções da fama:

Ó longas avenidas, ó campos e campos.
Ó ligeira bruma carícia, ruidoso animal.

As liquefacções do monograma advertem-se à sombra da conveniência ultra corroborada e asséptica em noções de registo escaparate e por cantos elípticos das universais manifestações de um qualquer lugar longe, na uniformidade opinativa da programada leitura, ao pormenor modal e, às portas da madrugada que jorram edificantes escunas da soma das conclusões, do que é expresso.

A uva som de activo alto,
a outra face em calamidade,
os compostos da luz,
a última sensação da mais singular desfeita em volta ... a tendência é directa : cores e mais cores, quanto mais melhor, já dizia; da uniformidade, da contemplação, do vasto olhar, da outra margem, das qualidades, das ligações, do tangencial apuramento das outras, longas, rubras, cores da lançada corrente em luminosidade, dos ensinamentos, dos bagos da terra caída, dos aliterados campos da sinalidade, aí verbal, da distinção, a de cisão, os olhos do som, tantos sentidos.

9 de janeiro de 2010

Era elevação,
a toda entrega,
que a lei confirma,
e a vida grita,
e firma a beleza,
ébria de ser,
em todas razões,
perante ao tempo,
da idade em triunfo,
e entra o amor,
nos olhos cegos,
e é diferente,
a paisagem no olhar,
acolhedora elegia,
as raias do poder,
em admirável passo,
transposto sorriso,
por muitas eras,
dizia uma vez,
dia de águas,
as fontes agora,
chega o tempo,
de todos os meios,
rejubilar,
à entrada do vazio,
maneira de hoje,
afim de processo,
novos outros lados,
indiferente,
espelho marca,
disposto presente,
a terra queimada,
fica desse engano,
opção dos rios,
entrada que não escolhe,
espalhadas,
margens da violência,
não tem fim,
o estranho momento,
deixa o chamar,
da rendição doce,
intenso abandono,
vão da vista,
inexistente,
forma tomada,
concerto à chegada,
e os dias são curtos,
agora o hábito,
da razão deixa,
entregue a fúria
presentes os corpos,
cabelos violeta,
esqueço-me,
os rios passados,
e não há condição,
da primeira elegia,
e as visões do fogo,
reflectem vazio,
preenche o corpo,
o consolo repousa,
interlúdio,
mas nunca o fim,
não há fim,
desta estranheza,
junta o tempo,
inscritas dúvidas,
levanta, alimenta,
joga as perguntas,
razões de ver assim,
considera o fazer,
meu fogo, teu vazio,
tempo que toma,
terror e paixão,
estende o respirar,
fôlego idade,
indiferença,
quanto mais menos,
estranha a vida,
maneiras,
não desses combates,
necessário é,
não dizer o fogo,
apressado,
por dentro chegam,
luzes pálidas,
acondicionadas,
saber estar aqui,
o inatingível,
esfacelados corpos,
esquecem também,
tão estranhamente,
chega e parte,
os incinerados dias,
da reposta idade,
idos os corpos,
amados que ecoam,
rios passados,
apesar das palavras,
não deixa o lugar,
acreditar esse dia,
avassalador,
chama que cresce,
e faz-se estranho,
esse vazio processo.

6 de janeiro de 2010

O principio, outra conclusão, a boa maneira.

A vida veste-se destes percursos longínquos,
do olhar, do som, da parte do toque, do tempo entusiástico,
o critério emudecido atinge o final em silenciosa travessa da melancolia,
no mesmo lugar, suponho, percorre como dependera dessa luta,
o sentir ali, outro, tolhido de tais palavras, compaixão.

Nunca esta vida cala certo o dizer apenas olhar de areia,
mais miragem que levitação faz tarde a hora no movimento,
o efeito, a sua mera aparição, deixa ao acaso entretanto
a noite que disse, basta, tanta vontade, um sentido, a figura,
o estado, as vias da calamidade aqui, como um canto do desdém.

A tenção de um formidável vazio roda como o sentimento longe
o só brio lembra a sua composição, já noite, salta
e vai daí, longamente a criação, o mármore em dia de inverno,
desponta ao prazer na condição necessária, do vento, na face,
brutal liquefeito disse aí, desassombrado, nunca sem saber.

3 de janeiro de 2010

Os olhos abrasivos,
avançam raios do aço,
tomado ao azul,
no céu suspenso,
um minuto, (raptado
ao rumor), vibra
essa presença, perto,
o cair da chuva.

2 de janeiro de 2010

Seco, rasto, oculto.

A petrificada carne imóvel,
o vento e as mãos,
na terra das máscaras,
(um sobre olhar intenso),
vibra a noite,
em oração de apelo
ao fim do dia castanho.

O feito animal reverbera qual lapso a luz, imagem, claros e sombra à passagem
na hora dos cães.

O contornos dos ossos,
no corpo tangível,
a cada voz melancólica,
traçados nós e rugas,
(as disposições dos objectos),
na cor e composição,
das linhas do movimento,
ao acaso dispostas.

Até que a extensão chega a fronteira do esvair após desse interlúdio, fica o olhar que digita, por entre a luz - a marca do anjo deixa um traçado fundo, cerebral.

No peito aberto e o olhar baixo,
trepidante circula o instante passado,
em plano das órbitas e mapas suspensos,
ficam pólos do jogo sem fim, imóvel, ruidoso.

E percorre a sincopada pele exausta,
um sopro calor, recanto das memórias,
(gelam-te os corpos no regresso),
no lapidar, os lugares de mudança,
permanece a pele em travessia.

Só não tomara jogos e o parecer,
que evitara esse ocaso a funda visão,
(haviam já partido os corpos nessa hora),
e deixava em tempo mesmo desse lugar,
o começar crú da cerebral cadência.

Inóspito esvai e prevalece (a imagem dos corpos em volta) nas imposições sonoras, sim e não, das madrugadas do pensamento físico.

oblíqua,
sombra,
solar,
surge,
a fera,
deste olhar fixo em linha de fronte algo esse dia,
que não,
que fique,
fica.

Os corações ao alto, o mar alto, um ressalto.
Preenche o tempo,
a sucessão deste olhar,
qual negro instante,
do rápido mundo,
signo doutra noite,
a chegar regresso,
ao fim duma voz,
do corpo e os olhos,
calmos poisos,
da veste em azul,
igual no peito,
em assinaturas do tacto,
doce, olhar silêncio,
feito e suspenso,
oração do beijo,
e a voz junto, a noite
cai, seja o sonho.

29 de dezembro de 2009

A marca dos lábios,
encanto liba tormento,
e nada diz, sei,
que pensa não saber,
as memórias escritas
do rosto que sente
o encontro a um dia
escuro e tão perto,
longe fica na chuva
e acorda sentidos,
sombras no regaço
das últimas tentações,
condição de não ter,
o amargo distante
por fim no dia fugaz
tomara do impropério,
ficar os assentos
em cor na matéria
mais que nova, via,
não guarda das palavras,
aberto ainda a pairar
d’outono e os navios
a passar não fica
mais sangue e cor
de oceano, espuma
a maré vazia,
fico o sal, nuvens
da borrasca, lado
a lado ao corpo
esse olhar lembrara
fundo ao dia, chega
o instante, (quem te)
imagem oscila
entre a manhã
e a tarde afasta
desde toca, chamado
estas figuras, e tu,
corpos cegos, repete
essa voz quando
a vida consente,
o teu, por vezes,
sombras qualquer fim
da manhã logo
é frio, aceso e cala,
ruínas de cada faz
a sombra, líquido,
traço do corpo
a corpo enquanto
conquista, a liberdade
e o carrega, no peito
em fogo, a tarde
não estava tempo
(ou era eu),
correra o sangue
a protesto das palavras,
na boca o sabor
dos mundos fazia,
nada o é, ouve,
por vez sopra
do rumor, sente,
o instante fere
à queima, das palavras,
no mais livre
outros céus, abertos
cimos da terra,
a liberdade ao longe,
e os pântanos do dia
em perto é feito
o acaso, a noite,
canto ao fim do dia,
mais se liga,
mais avança, basta.

Como o fazer lacónico ao grande alvorecer da guarda sombras ao amanhecer, véus, o tecer das sílabas, de composição de dentro, o nome, as línguas, o fogo, os cantos da voz, o grito aceso, outra vez o dia, alto. de que é feita a matéria (?) quando voltas à terra.

Do mais ocaso até vindo em rápida sucessão, do qualquer fim.

27 de dezembro de 2009

O gesto num minuto
sentira a presença
ao cair aberto chama
de olhar a fundo,
e não pensa em voz
a soar sobre a folha
por restos da matéria
a cada palavra,
mais próximo, termos
que faz e toma
do que é simples
a ritmos dum verbo
que a forma é dizer,
rios dum prazer,
que corre o petrificado
momento, e não pensar,
corrido, manifesto ponto
cedo a noite cai
numa fisionomia, fechada,
não tanto a chuva
mas passos na pedra
em récitas do som
perto, a raiada promessa
vão, lentamente, desfolhar
livros na noite em voz
soltas as sensações
da luz ida, nomes
e palavras ao acaso
não fica mais,
desse encanto, os corpos
e os dias assim,
maneiras da profusão
lançada, mantos
na curvatura da pele
e as ondas a desvanecer
a música quase perto,
o silêncio em terra firme,
tecido desse rumor
a passo imóvel,
por todos, mundos e luas
mais vivo as ondas
leve, a vista agitada,
as folhas caídas,
nas margens da espera,
onde as tantas palavras
queira a manhã
não tarde a mais cantos
do manifesto e palavras
loucas, rastos
do mal tirado à sombra
em qualquer lugar,
nu, raios e a cor
dessas terras pisadas,
o ar das noites, corre
e toma de mais o canto
que alcança, braços
do rubor, a face da pele,
a saber das mãos
em parecer do som
nas palavras, do fulgor
em cada sítios ao acaso,
o gesto elegante,
como cordas a soluçar
as curvaturas da lava,
as lavras da terra,
e o principio de tudo.

13 de novembro de 2009

Abelardoimóvelavidamentesretalhadoassim.*
Cainadoridamaneiraotrabalhoeconventaodia.
Elaboradoaosgritosemcomendassólidasecruz.
Quemvilapródigacorrentempressaslavraodiz.

*diz-se que marx “embirrava” o “assim místico” d’hegel (creio que o acharia “preguiçoso”, ou “enganoso”, veja-se lá), eu, por mim, que não sou dado ao uso do vernacular, escrito pelo menos, digamos que me estou um pouco “nas tintas”.

12 de novembro de 2009

(Sem mais de momento ...)

O trabalhador e o utensílio.

Duma maneira geral, o mundo das coisas é sentido como uma “queda”. Gera a alienação daquele que o criou. É um principio fundamental : subordinar não é unicamente modificar o elemento subordinado mas ser – propriamente – modificado. O utensílio muda ao mesmo tempo a natureza e o homem : sujeita a natureza ao homem que o fabrica e utiliza mas liga o homem à natureza sujeita. A natureza torna-se propriedade do homem mas cessa de lhe ser imanente. É sua na condição de lhe estar fechada. Se ele coloca o mundo sob o seu poder é na medida em que esquece que é ele – propriamente – o mundo : nega o mundo mas é ele mesmo que é negado. Tudo o que está em meu poder anuncia que reduzi o que me é semelhante a não mais existir para o seu próprio fim mas para uma finalidade que lhe é estranha. A finalidade de uma charrua é estranha à realidade que a constitui e com mais razão ainda, a finalidade de um grão de cevada ou de um bezerro. Se eu comesse a cevada ou o bezerro de uma forma animal estes seriam igualmente desviados do seu próprio fim mas seriam subitamente destruídos como cevada e como bezerro. Não seriam, a cevada e o bezerro, em qualquer momento, as “coisas” que são desde o princípio. O grão de centeio é unidade de produção agrícola e o “boi” é uma cabeça da manada, e aquele que cultiva o centeio é um lavrador e aquele que cria o boi é um criador de gado. Ora, no momento em que cultiva, a finalidade do lavrador não é, realmente, a sua própria finalidade ; no momento em que cria, a finalidade do criador de gado não é, realmente, a sua própria finalidade. O produto agrícola, a manada, são “coisas”, e o lavrador ou o criador de gado, no momento em que trabalham, são também coisas. Tudo isto é estranho à imensidão imanente onde não existem separação nem limites. Na medida em que é imensidão imanente, em que é ser, em que é “do” mundo, o homem é um estranho a si mesmo. O lavrador não é um homem : é a charrua daquele que come o pão. No limite, o acto daquele que come é já o trabalho dos campos ao qual fornece a energia.

Georges Bataille – Théorie de la Religion.

Este “culminar” do esboço “Batailliano” do tema do útil utensílio faz me lembrar, não sei porquê, a história do malandro do caím e do pobre do abel que, segundo li recentemente numa curta história de contracapa que não conhecia, continuaria, por tudo quanto é lado a sua cantoria. Não me espanta, no entanto, pois é sabido, desde tempos imemoriais, que quanto mais decomposto – ou descomposto conforme a “sensibilidade” semi-o-lógica de cada um – o nome mais assobia, melodia.
Por vez o acaso deixa-me assim tão perto, boquiaberto, e do que sinto eu sempre aceito não, que neste acaso libertasse, e é verdade que sinto, e permanece neste instante,
em que o acaso mal que fizera soubesse, deste acaso.

(Pois entendo a distância. O nem saber. Sempre entendi o silêncio.)

No coração do respeito por vez o acaso deixa-me assim na face um sabor ferido.

(O jogo não é deste meu acaso).

E não considero razões, também não cego, não digo.

Nunca me tinha a certeza chegado e o que sinto é forte, assim o disse, e o resto, que passa ao acaso e agride é como punhal que rasgasse ...

(mas o meu corpo é forte - decerto porque é deste acaso, este acaso perplexo.)

Sincero (em respeito) sempre ao mundo (que solicitado) o disse em vez do acaso a sós e deixa-me assim, mudo ; e é tudo - respeito, amizade, um bem querer e carinho e terno e tudo numa palavra mais - que disse.

Não considero, repito, e em silêncio retiro.

Por vez o acaso deixa-me assim ... obrigado, não por vontade, ou orgulho, nem por nada deste mundo ... apenas porque o que disse, assim sinto.

10 de novembro de 2009

Dos termos, efeitos.

Dos termos diria* – mais ou menos como o houvera feito um genial humorista ou então sugeriria, estou convencido, Peirce – que são como os efeitos da manipulação dos interruptores. Ou seja : quando postos p’ra cima far-se-ia luz e um, quando trocados p’ra baixo então escuro e zero. Ou vice versa conforme a polarização dos ditos interruptores. Ou tudo e nada, num instante, ou como se queira, instantaneamente. É que no fundo, no fundo seria sempre o “mesmo”. Aqui estar. E seria, talvez, no desenvolver de um tal semelhante “raciocínio” que um certo hipotético e famoso matemático diria que um é – igual ou semelhante ou o mesmo que - zero. Não sei. Mas, e quanto ao “meio” ? Bom, o “meio” seria, neste caso, o próprio interruptor, digo eu. Obviamente que “falta”, nesta “história”, qualquer “coisa” que discerne, paradoxalmente, mas isso, isto, seria uma outra “história”, paradoxal.

*Como olhara, embevecido, o funcionamento de um quadro eléctrico.

30 de outubro de 2009

“As corporações são o materialismo da burocracia e a burocracia é o espiritualismo das corporações. A corporação é a burocracia da sociedade civil ; a burocracia é a corporação do Estado. Assim, opõe se na realidade, como “sociedade civil do Estado” ao “Estado da sociedade civil”, isto é, as corporações. Onde a “burocracia” for o novo principio, o interesse genérico do Estado começa a converter se num interesse “à parte” e, por conseguinte, num interesse “real” que luta contra as corporações do mesmo modo que toda a consequência luta contra a existência dos seus pressupostos. Por outro lado, quando desperta a vida real do Estado e a sociedade civil se liberta das corporações levada por um instinto natural próprio, a burocracia tenta restabelecê-las, pois se se dissolve o “Estado da sociedade civil” cai igualmente a “sociedade civil do Estado”. O espiritualismo desaparece com o seu contrário, o materialismo. A consequência luta pela existência dos seus pressupostos quando um novo principio luta não contra a existência mas sim contra o principio dessa existência. Logo, quando é atacado o espírito da corporação, também o é o espírito da burocracia ; e se esta combatia anteriormente a existência das corporações a fim de efectivar a sua própria existência, procura agora salvaguardar tenazmente a existência das corporações para salvar o espírito corporativo, o seu próprio espírito.”

K. Marx ; Crítica da Filosofia do Direito de Hegel – Presença.
T. – uma comoção da imagem.

Precipitara se
a temperatura em frémito,
insinua a jovem noite,
ainda uma brisa
por dentro das casas
as atenções do dia
desvaneceram em frenesim.

E corro em visita dos sinais.

As cursivas - imagem
dum contraponto
a sincopar dos momentos
em panorâmica vista
na volta do apreender,
que não seja um dia,
outro e a vida
a cada instante, velo
do movimento,
olhares, engalanados
sons do sincopar
a maquinal-regra
de um mural citadino.

Não se ocupara do conformar do planalto o olhar de uma figura sem forma.

Os poços negros, passagens
(ao) suspenso coração da imagem,
lapidam em contraponto o corpo,
ficado nessa noite em fazer dia,

Na escolha diz alocar as resistências em acto que importa.

Da queda em dispersões,
as saídas chegado,
o silêncio das palavras,
seus intervalos matriciais,

E o instante é logo que o fogo começa e deixa se como considerar a entrada, o descanso, e o engano elege se frente aos olhos em rendição e tudo, como as últimas disposições da consciência, em salto, o por fim dum distender - copiosamente - arvorado às multidões do rumor, novamente o vazio.

Profundo dos olhos e os ossos
silenciosos fundos da terra
em contraponto às chamadas
do vale a um cimo destas encostas,

fogueiras do calor e da terra e a noite
em esguios socalcos estendidos
sobe este percurso abaixo a encosta
e o faz correr a face funda,

como para lá dos olhos em sonho
a uma moldura sobre as manhãs
em mais real dos ocidentais exilados
instante em comoção das imagens.

A funda mente e perdida
por detrás dos abismos
passava a realidade
que agarra me o murmurar
(o olhar sente)
os esquecidos segredos
a que chamam sonho,
(no sítio onde pára a poesia).

E o dizer apela o dizer do rumor em lugar dos ossos separados, vale-imagem
de todos dias,
correra muros,
a saudade,
os olhos baixo.

E nesta ideia escrita das figuras em pedra a fundos véu só continua a vista junto (?) que faz o rio à volta.

Por fim o coração atira me
como pode o chegar
ou não esta escolha “antiga”,
este olhar das encostas
de novo em partida, outro lugar.

E não mais, tira se o perfazer das palavras qual desmagnética “figura escrita, sem, ou quais, véus que tomaram se em mar assim.

28 de setembro de 2009

Visual digressão em genitivo.

Deixado após fundo,
o sedimento é que fica,
nos ecos desse apelo,
que passa ao fim,
dum natural regresso,
à vertical fugaz,
da primeira leitura,
qual talismã da reposição,
nos olhos silenciosos,
espaços da caçada,
a providencial maneira,
da silenciosa linguagem,
nas coras do acolher,
a organizada imagem,
dum esquecimento,
em representação,
da potência acto,
do motivo depois,
da caçada estendido,
em umbilical promessa,
da realização da terra,
na primordial caligrafia,
da realizada memória,
da incineração, a flecha.

A oculta chama,
dos olhares em festa,
na extinta direcção,
d’outrora a fluência,
paira qual estranhar,
natural da representação,
o imperativo acerto,
tempo, qual remanescer,
dos ilustres instantes,
expandido, denso, critério.