6 de outubro de 2010

Fundos de alguma coisa,
no que cedo se diz destina,
a uma educação do tempo,
circular das respirações,
nos olhos caídos dentro,
dum salto às ilimitadas
quantidades de saída,
em observação da percussão,
da memória,
dos ambientes tensos,
num sacudir lento,
da tinta do som,
das gemas preciosas,
das águas progressivas,
dos enviados distantes.

O significado das combinações ao pormenor da gradação.
Os diversos malabarismos da extensão multiforme.
Os invisíveis muros do aventar de todas as hipóteses.
As magnânimas sombras das novas suspensões culturais.
O momento da dirigida atenção dos últimos apóstolos da fenda.
Uma qualquer elevação da voz circunscrita. O contacto.

Além dos cabos enfurecidos,
meios ao assalto,
da aleatória disposição,
(n)os pés,
das estranhas passadas do abismo,
a sombra e a luz,
novamente,
em filamentos coléricos,
do magno assimilar
dos instantes,
numa das últimas razões
da voz,
mais curta linha cortada,
em todas as direcções do desastre,
magnéticos exercícios,
da invocação das palavras,
conotadas aos silos,
nas repetições do olhar,
e da frase curta,
vazio,
extrair, das pretéritas conjunções,
sua transformação,
nas melodias de sempre,
como o olhar moral,
das fontes rochosas,
caucasianos cantos,
do vertical apelo.

As couves,
os elásticos golpes de cintura,
a uva mijona,
as cavalariças do azeite e o altar dos fundos,
a chama,
as monumentais pedras vazias,
a efectividade do prego,
uma das últimas movimentações do cardume,
as tardes,
o pequeno almoço,
o movimento dos ponteiros do relógio,
o súbito bater do enfarte,
a carica,
toda uma envolvência dos perfumes selvagens, os olhos numa expectativa da voz,
uma certa musicalidade,
a tua falta,
todas as iluminadas avenidas e o plano das imagens sobrepostas, um bom filme, no entanto,
as abelhas,
a condição humana,
o pêssego,
a vox populi, a vitória ao rubro, toda uma corrupção dos costumes,
os grelos e as rabanadas,
os sismos na escala de richter,
o néon, a passiva inalação do fumo dos cigarros, as palavras,
as hortas, o seu cultivo, a decisão do sentido no momento da escolha que põe-se,
dois passarinhos, a digitalização das imagens,
o contrapasso da sugestão amigável e o indizível que precede o instante,
o pêssego, do instante,
a face do abismo,
(a luz),
os vestidos de verão,
o subtil arquear das sobrancelhas,
o sétimo dia,
a meditação transcendental,
et caetera,
as massas e o esparguete à bolonhesa,
outra vez a face do abismo, a revelação e o arquétipo norte,
a etiquetagem, as maçãs reinetas, a parte pelo todo e a queda dos jardins suspensos, os golfos, as sumárias migrações das silabagens,
o “cava-me a morada”,
as originais condições após da direcção maior e o regresso ínfimo, as entradas dos sótãos, os buracos das agulhas,
a matéria negra e a dupla direcção espaço temporal das partículas,
a sandes de fiambre com manteiga,
quanto baste,
a elegância do traço,
e outra vez o instante da escolha,
fiat,
a separação das águas,
aquele indivíduo,
potlatch,
é vocemessê,
qual troca de ideias, na volta do correio,
abacate assim,
a vagabundagem nas costas da cilícia e a celebração das grutas em toda uma mediterrânica movimentação da volátil incorporação dos sistemas, os nascimentos,
o estômago, a liquidação dos juros,
aqui, quando regressares, volta-me, devagar, na insistente face do abismo, (d)o duplo sentido, os gansos de lorenz e as revelações mosaicas, açorda, não,
o totem,
as cores e as estacas,
a postura,
o acenar da festa,
o salto, (o quanta de custo)
o totem de novo,
sim, sim, claro, como numa noite de luar intenso, que se tenha em boa conta, lúcido, como a pescada de rabo na boca, passa-me esse, com cuidado, mas conta-me tudo, ao mais ínfimo cataclismo solar, lembra-te, mais vale um copo cheio que duas frutas amassadas, sendo que, até ao lavar dos cestos sempre se comove, ou não, contanto que se coloquem todas as sugeridas vicissitudes da pastilha, do nervo, nada disso, todo um sistema das palavras.

2 de outubro de 2010

Subitamente vasto.

Instantes da corporal
movimentação
da procura, dos ambientes
da forma, das memórias
da condição substituta,
dos sistemas da tradição molecular, num atiramento das entrecortadas palavras logo pela manhã, activado aos filamentos da voz, e num trabalho dos olhos, pela primeira vez aqui,
em ensaios dos verbos,
como a fibra dos olhos leves,
ou os centos da correria,
ao coroar das soberbas culturas, por súbitos do mesmo desvelar constante, o acabado exemplo dum funcionamento mecânico, (n)um contentamento das espécies, tudo, como um grande amor,
o absurdo das vivências da imagem,
as ictiformes adorações da movimentação servil,
as arbóreas escaladas da imagem fixa,
os curto circuitos da caracterização carregada,
em repetição de todas as máscaras,
na festa da queda dos corpos,
na calada dos cultos do mais longo avesso,
ao som do acaso,
e das sóbrias conclusões colheitas,
no altar do vago renome das heráldicas, em agraciações das alturas do gelo à conquista dos firmamentos, uma insinuação das polémicas situações, agentes, dum certo tipo de mentes retiradas,
dos céus em desvario,
das multidões roucas,
da extensão dos lugares múltiplos,
das miríades,
noites da luz desperta … depois, era como quando se encontrasse alguém na junta muralha das praias edificadas, junto aos situados planaltos do silêncio, no cabo frio de todos os percursos da retracção.

Urgência dos outros horizontes que soltam-se das cortadas qualidades das palavras ao preencher daquela tonalidade que deixa a sugestiva, assente, abertura da memória. Equilíbrio ténue por sobre o fio da reflexão dos comportamentos à vista, um exercício em posse da distância da comoção que deixa, assim, o lugar da prosa aberto à entrada, uma novidade da implantação, dos espaços. A sugestão desta movimentação da vivência - a repetição, o indicar, o afundamento, o dissimular, as descortinas da violência, todo o irromper das marcações das palavras, suas significações de superfície – é como que a confirmação de uma primeira ideia, um estar o sentido no meio do labirinto das vozes, das subtilezas, quer dizer, pesa, sucede, deixa o desvanecer ensaio duma alteração do ritmo e manifesta-se após em movimento de transformação a qualquer coisa de angústia, um desprendimento, um sentimento do tempo. Esta inacessibilidade fica na vontade como as tais realidades perdidas e a primeira descoberta dessas extensões é o ânimo, uma entrada nos mistérios da distância que marca, corrige, as antigas direcções da imagem como se foram tais palavras uma vida e a matéria fosse o próprio tempo das proposições, as partes duma transformação temporal onde todo o efeito se apresenta como escolha, do ritmo, da sua significação real. Como o entrecortado da inscrição do horror e da queda nas imobilidades ou o fluir interno dos ritmos dos objectos desvelados nesta apreensão das realidades físicas, perenes, como o estacar ou o fluir dos rios magníficos em cabalísticas manifestações da serenidade e da impaciência, em cultos da criação. Trata-se, de facto, dum surgir da verdade e da dissimulação o que tem todo um alcance neste emergir da impaciência já que distancia o peso do sentido em vida e não se reveste, afinal, da maior ou menor importância, qualquer dos juízos que daí se possam exprimir acerca das necessárias tomadas de posição da frase e dos seus mecanismos de ignição ao fluir em linha longa, trata-se, apenas e sempre, no fundo, de um combate e de uma queda, de um caracterizado recomeçar mas de um recomeçar, que não é um qualquer anteprojecto da transformação métrica mas apenas o imediato da imagem como conquista, quer dizer, como fruto a colher, efectivamente ; uma necessária futilidade de toda a ascensão que condiciona, assim, mais do que uma qualquer rotação ou sentido, o sacrifício efectivo da exaustão e da abertura. A dois tempos. E não será concerteza por mais de uma condição dos elementos da religação que toda a consideração surge assim, não formalizada, em escorreito fluir da extensão, num exercício previamente necessário de invisível tacteamento contínuo que – neste estádio impaciente dos corpos, em que o desejo chega a uma definição de imagem e torna-se movimento – apenas significa, por si, um retrocesso no caos da condição obscura.

Pois de toda esta reflexão surge a repulsa de toda a reflexão e esta não é mais do que o necessário preceder do próprio da manifestação que descreve-se como combate, como aniquilação, o momento físico do transporte, sua manifestação segunda, prévia, da desordenada decisão lançada, aqui, nas tomadas do desprendimento da voz que solta-se em linha dos encerrados fundos da permanência obscura. De qualquer forma é apenas um dia, esclareça-se, um certo tipo de movimento que toma, da sua própria manifestação, o signo de uma insuflação profunda, uma marca de repente, um toque do calor, súbito.

Apresentava-se a tarde desértica
E os regatos corriam frescos
Escureciam-se em vaga presença
Os sulcos da terra sedentos.

Nada no entanto ao cair da noite ascender de todos os costumes,
a retirada das palavras,
o calor das alterações,
a indicação dos sentidos,
os mundos à deriva, o subitamente vasto da luz em momentos do toque irrepreensível que fica, dos suspensos planos da magnitude em flor, (sim, também as flores, os amores, as outras dores que se alcançam, o apelo dos campos verdes, o sumo das idades que cantam), numa qual tarefa das naturezas longínquas, subitamente vasto de todos os percursos,
das ruas,
das cantigas do bem estar,
nos sólidos acessos
interditos, inexistentes ; pois bastariam digo (e a conclusão é das palavras que se distanciam, desconfiam, que por fim não são mais e retiram), as veladas partículas de toda uma produção das segundas naturezas,
nos sonhos de uma multidão cega,
pelos corredores da cantata,
ao sinalizar das pontuais carícias,
em curiosidade das manobras,
e na contracção dos envolvimentos,
das serenidades simples,
em imposição dos desafios válidos,
da ágil desenvoltura dos arquétipos nus, que como cai-se em sensação de desperdício à satisfação da descoberta,
os mais atentados da manifestação arcaica,
lançados num volteio largo,
em palavra final dos mundos,
repartícula de todos os sentimentos acabados,
recaídos nos corpos,
duma aparência putriforme,
qual mais,
passagem dos corpos violentos,
nos restos do vazio,
roda,
das normais resoluções ; como um tudo vago, sonorizado, solto, quase que agradecido e sumamente afeito às condições naturais, sereno, condicional, tomado em convulsões duma observação dos elencos, em retirada das cenas,
nas partes de uma parte,
de um apurado rubro ao acaso,
por maneiras da matéria,
que revela-se nas palavras, do dia e da noite em linguagens do que tem-se na junta observação dos asilos, os manifestos do além e uma circulação do ar quente, sombra e luz, aqui e ali,
as fontes em cadência,
as condições abruptas, dos totalizados pontos precisos em manifesta convulsão dos arquétipos como as sondas ou as perfurações do solo ultimadas às preparações do engano,
em favor das hostes,
sugerido a toda a palavra, em conjunção dos simples das manifestações oníricas como num sonho da palavra expandida ou um qualquer coisa que sistematicamente se oculta, subitamente vasto.

27 de setembro de 2010

Os espelhos assassinados.

Um fio
dos corpos,
oculta,
urgência,
(que)
cresce,
apoteótica,
flor,

nos sonoros actos duma abertura ampla,
dos corações tomados à chama do peito fixo,
em jogos do sentir os actos do suspiro baixo,
(monocórdicos monólogos da oração),

à maneira das encerradas almas morais num raio de luz em chama, oito, os prisioneiros da maré solta,

nos sulcos da terra,
no sincopar dos asilos,
nos passeios da pedra,
na direcção do pó,
do contacto,
em passo lento,
ao olhar em volta,
a voz, das resplandecentes visões da carne,
nos raios da terra,
da disposta pele do desejo,
ao sol da terra batida,
e na luz baixo,
em opostos da celebração,
por fixação dos contornos da delícia,
cantos da informação triste,
os castelos duma encenação crua,

saímos, pois,

de braço ao sol da manhã em saudações da melancolia
como os rios dum fluir vazio na voz do silêncio
acordado aos acordes das quimeras e nos passos em parada
das (quentes) linhas das momentâneas manifestações da suspensão,

o tecido da brisa sobe aos recantos da movimentação cuidada,
arestas dos tectos da luz distante nos assentos do vazio,
a um tornar do passo cai-se a atenção do movimento profundo
e a tracejada pele disposta em contraste ao olhar da arte da posição
faz rios dum clarão branco, perto isso, num mais uníssono
da carne em fogo ao tecer da direcção do desejo,

condição das eiras,
dos círculos da implantação,
dos dentes do centeio,
um outro que fica como as vozes em desafio,
à sombra do percurso
dos rios,
das alas frondosas,
dos recantos da terra fresca,
dos outroras,
das óptimas saudações do enclave,
dos maneirismos da cor,
das últimas sensações,
das degustadas violências na madeira,
veios, do corpo ascético,

surtos do ar solto e fundos fumos das espirais em subida, ficas, como a dor nos cravos da terra seca, sim, em traços da cortesia, sim, em restos da permanência, sim,

como a coloração das águas híbridas,
ou o seco sincopar dos interlúdios,
positivamente fito da luz plástica,
num assalto à matéria do mar,
nos cabelos da chama,
nas direitas frontes,
na suave e férrea condição do amor,

(pão do pão,
ritos da perdição,
no vão escuro,
do significado culto,
das lágrimas,
em retorno),

às secretas ausências laminais da pedra que são facas em sinfonias altas do pensamento obscuro, quer dizer, as sabáticas permanências do caos, estas signo vazio, das subidas de um ar, leve, traço, dos cantos duma génese perdida,

os
círculos
do
(valor em)
fogo,
das povoações ribeiras,
do sal,
todas as suas notas,
a viagem,
os salgados mares,
a última das significações,

em explosão de todos os engalanados afectos nas mais provas do amor assim, nas palavras da paixão, sim, nas derivas do circular contorno que fica como o som dos tempos que correm, preposição dos ambientes.

(Um primeiro momento.)

Os sedimentos, as silenciosas montanhas,
os interstícios condensados dos sulcos da matéria em formação,
as subidas de uma transformação lenta,
aos caudais da irrupção magnífica, límpida, por fim.

Mais como o prazer
sonoro, mais
a noite e um seu estar,
as falas do riso tépido,
no colo claro dos sítios do silêncio,
em solução fria,
na distensão de todos os sorrisos,
qual feito da mais sofisticada tradição dos ídolos em escaparate,
ouça, como qualquer assim num rasgo frio, as tais qualidades do fazer maldito.

E o porquê, não, como a forma do que, sincopado, fora uma linguagem soturna, a qualquer onde, em manifestação de todos os ritmos tropicais, o fogo, a queima, a lua, ruborizada, tudo, isto, atravessado da mais diversa opinião, plástica,

imóvel imagem do horror,
da permanência, dos espelhos,
dos relógios, do súbito olhar,
dos perplexos momentos,
ao encher dos vasos comunicantes,
nos espelhos assassinados.

Por quem, nas magnéticas leituras dos olhos fixos,
já vai nas palavras chegará aqui,
aquando da chamada voz em surdina,
à linhagem das partículas em desordenadas sinfonias ;

ao longe os cadafalsos do condado,
as preparações do mundo em ebulição,
as lógicas da desgraça,
as utilidades,
a extensão e a mobilidade,
o quando em vez da manifestação musical,
o taciturno da incineração volátil,
o chega ali,
dos mantos desvanecidos,
em surtos da longa louca locação,
nos activos fundos mananciais,
do peso solto,
e da chuva que não caísse,
ou um pó seco,
estranhado,
nos momentos súbitos,
do culto atirado ao papel seco,
como uma flor,
nas tintas dum pormenor,
azuis de uma insolação violenta,
e os tédios,
fios da noite vaga,
como o cada de cada um nas faces do aproveitamento das espécies,
o andar,
do sorriso,
pudera ainda antes do pão aberto e das faces incandescentes,
do cartão prensado,
dos sólidos,
do calor de cada dos avanços,
do movimento,
mesmo,
nas rasgadas mãos da imagem,
feitos do sangue,
derramado em foles da mais alta manifestação,
repito ontem,
como hoje,
nos espelhos assassinados,
nos instantes quebrados,
dos caminhos das fontes,
adentro de todos os mecanismos da indução,
uma qualquer coisa,
que por fim solta-se,
instante nos lábios,
em consolação das águas,
e solta-se em ligamentos da alta noite,
nos rasgados véus do pensamento,
ainda não,
num ténue movimento dos corpos subtis,
veículo de todos os sons,
já não,
livremente,
como as cantigas de amor,
ou as missas espalhadas no lugar circunflexo,
numa tarde, sim, por fim, sim.

(Um segundo momento, mlk.)

Pois já tardava então o culto das palavras
ao atingir das ignições do desprender,
como nas clavículas da respiração compassada
em esquissos dos patamares do alcance,

o súbito das monológicas noites da hipnose em ciclos da paixão e nos verbos à queima dos corpos subtis, as vísceras emblemáticas, os fundos da terra viva.

Partes em convulsão dos ogres altivos. As rodas. A borrasca da noite grega. Os outrora sombras da fantasmática geometria. Os antigos horizontes das costas. As castas das retiradas areias. O que fica da prece e dos símbolos, do canto e dos louvores, dos espelhos assassinados.

22 de setembro de 2010

A vertiginosa velocidade do afecto,
as faces do assentar do tempo,
a ignição da memória, quer dizer,
a inconsciente criação da memória,
irascível manifestação das condições,
nas golpeadas, linhas da progressão temporal.

Um quadro.

Onde vou diz-me o instante que se depara.
E o que quero diz-me um certo reconhecer.

Fora do mundo preenchido em tomadas do movimento dito puro, as imprecisões e a cidade em oculta movimentação dos sinais, o estar longe, a manifestação do afecto, o desvio dos objectos e a face da indecisão, da ausência, o cansaço, a continuação. As palavras que não escrevo são (junto ao verbo) como que a manifestação do respeito, primitivo, (mágicos) caudais da repressão, da carne em maresia, os momentos de uma selvagem cordialidade. E a activação de um (tal) movimento simples passa pelo movimento simples, redundante, distraído, em cadência, em cadência … apenas me perdi e já tarda o desfazer dos laços, dessa imagem.

Essa remota mensagem.

Cantos da sublimação
permanecera gratificado
o silêncio na espera
do conteúdo (dos livros) da reencarnação,
a suposição de todas as histórias,
os eventos do sonho,
os comandos do plástico.

Do torpor
nem uma palavra
(em cada que fica),
ao resfolegar das posições físicas,
o cansaço da guerra,
aquilo a que chamam a … ,
o cansaço.

Batem-me o corpo
miserável
as horas e os minutos
deixam
como que cortinas
do torpor
em todas as quedas
no corpo, quente.

Uma mesma situação do vazio à sombra das renascidas cinzas feéricas, uma outra manifestação da sonolência, os liquidados, a saudação, insisto-me então numa impossibilidade do diálogo que muta-se em soluçar do silêncio, espaços à força, pois, cedo se retiraram dos objectos, das palavras.

Curto diálogo.

- Vamos, o regresso, o reconhecer, o cordão, os limites.
– Afim, logo, numa simples constatação da evidência, qual a consideração, sim, qual a mais alta das considerações na vida, enfim.
- Nunca é tarde a tarefa da lenta e cuidadosa proliferação dos objectos, o cuidado.
- Mas o sol e a incineração abrupta do movimento, a curiosidade, o abjecto.
-Todos os lugar-comum, que mais.
- Como dizer o lugar na sua ausência, o apelo do espaço no vazio, sim, quero dizer, as apoteoses da instalação nos edifícios calcinados das fontes, como dizer o permanecer, o ócio.
- Pois que são as posições da permanência que contam, a luz, já dizia.
- A luz dos edifícios batidos e calcinados em dor, sua pele arrancada, bocados de uma velha história dos cheiros e dos diálogos, o atrevimento mais que corrido no asfalto cru, siderado, a busca das palavras ou qualquer coisa, uma chama, uma preposição, a continuada posição do delírio.
Depois.
As posições vazias do espaço,
a impossível tarefa da inscrição das palavras,
seja, como um vogar absurdo,
em continuação do peso destacado,

(n)as ligações do momento,
(n)os satisfeitos corpos do enlace,
a vida como um rodopiar dos corpos soltos,
na matéria, fugazmente,

como quando soltam-se
as palavras em não sentido
da musicalidade, simples
situação do acaso, do costume,

console-se o corpo dessas latitudes
como numa voz que tomasse-se antes do sono
em fugaz presença dos altos,
nos esquecidos escritos do sonho,

da indelével maternidade crua,
eu digo, todas as manifestações,
da crueldade, da generosidade,
da entrega, um sacrifício até, enfim,

nunca me passa a razão
da partilha, até aqui,
retraíra-se o corpo na face, do
mais uma vez as manifestações da imagem fixa,

era, como numa invenção da linguagem,
uma observada concorrência
em corpo de todas as manifestações
da prepotência, do cálculo,

com tudo da leveza que desarma,
dispõe, as matérias mundanas da luz,
feitas do acolher,
na porção dos gestos e do silêncio,

em amálgama dos corpos
fendidos, em terrenos do sol
e mais visões, no enlace do instante revelado,
as torrentes de uma água fresca e fria,

como as mais ternuras do conforto e da entrega no repouso de uma multidão, desértico.

16 de setembro de 2010

Os tempos da inércia travada em sinalizações da constância. O humor. A consolidação das imagens fixas nas costas do tempo que sobrevoa. As mostras da carne. O dizer. O contraponto. O ciclo como que em estado puro da transposta inércia nas costas do tempo. A vontade. O partir das ancestrais movimentações da carne assada. O dito tédio do ciclo, interrompido, diz-se; como a natural composição das naturezas em oscilação,
a teia, o arreganho, a indiferença dos olhos, a velha violência das agressividades naturais como as infâncias dos povos em sobressalto da matéria cega, uma actividade imóvel das grutas, dos altares, à face do tempo, enfim,

a carne é portento,
a carne é fraca.

E as gloriosas manifestações do esplendor carregam os antros das naturezas e o jogo que assim conduz bate fundo na matéria liquefeita por convulsões que tornam constante a dor. E quando lateja a carne ganha-se um movimento de perda, ganha-se digo, uma predisposição nas condições da queda que investe-se em monotonia da consagração,
em derivação do objecto, enfim, como foram as diferenças culturais da projecção, entenda-se, centrífuga, centrípeta, uma extracção ou uma possibilidade.

Por muitas vidas correram as horas da qualidade acelerada, a utilidade das concepções, as manifestações da extensão e a projecção do momento, do instante.

Às entradas no vale justapunha-se o sangue das fogueiras, os tapetes, a cobertura, o recolhido apelo dos corpos que falava a linguagem de todas as eras em dilúvio, mais do que isso até, mais qualquer coisa, como a senda da espécie à sombra dos toldos desfraldados como se foram bandeiras do prazer e dos corpos da espécie do prazer e da dor por corpos incinerados nessas fogueiras em conjunções da matéria ancestral irradiada, a saber, a saber. E quando grita de novo a conquista e a permanência dos corpos na matéria disposta aqui por concêntricas circunvoluções das lutas e sacrifícios a carne em fogo liquidada dos instantes da matéria incandescente renasce em tijolo palavras tectos de toda a manifestação agrícola. Ficava longe, nessas horas, o cativeiro das almas à deriva e o sol descia sobre a terra a produzir as humidades, requintes do libado sangue das ladeiras cobria por completo o chão desses sacrifícios e num sussurro ou num lamento desfolhava ao invés as contas da condição do dilúvio,

(como fora uma maré alta),

badalavam os sinos
então,
agitavam-se os ídolos,
cantavam-se as canções,

e os animais rasgados dispunham todo o povo dessas conquistas no chão desbravado das eiras em concerto, em lavagem, por muito se atingiu a carne no corpo, simples, imediato.

15 de setembro de 2010

Outra vez as palavras e a tensão que fica no emergir das cabeças pensantes, à face. O solipsismo e o ensaio das vozes, a audição. “A longa e ruidosa manifestação de tudo o que percorre”. As subtilezas da palavra, o conclave, a luz do dia. As perturbadas emergências e a luz do dia. As conjecturas na face do vazio a posição e o movimento a qualquer preço. A única visão do acerto e a (perturbada) direcção das reuniões à face ausente, o desvio, a indiferente matriz do sacrifício. O circuito fechado das palavras. O colégio das freiras. A condição das diferenças culturais da posição. A ausência dela, repito. O ribombar. A mais cadavérica noção das pedagógicas. O vazio e as aparências do peso e da circunstância e a calcificação dos convénios. De novo a luz do dia e a dissemelhança no núcleo dos convénios. As posições culturais e a nominação dos claustros, o combate. A configuração dos desvios cardíacos. A mais-valia da posição da imagem fixa dissolvida em nada. A violência. A remissão dos pecados. Ámen.

Logo após o navegar dos mares.
Implacáveis ondas da circunstância.
Os barcos à deriva.
O mais que não se diz.

A ancestralidade do processo da dor. A posse. A agência.

Após as primeira voltas do interlúdio o motivo da dignidade e da elevação em pretensa dança da colocação do protesto como o ciclo rodado que manifesta-se em sonoridade, em cálculo. Não és tu, não é nada. Como todo o ensinamento do fogo que realiza-se em contenção na mais fútil das colocações. Os olhos agudos e a saudade, tua ausência.

Por ti que toca-me a vida
preenchido dos breves segundos,
os olhos em silêncio, baixo.

Reafirmo e recomponho que os horizontes são áridos, metonímico.

14 de setembro de 2010

Um ponto da situação. A manutenção dos corpos físicos. O pulsar das primaveras e a noite e a sua ausência. Tu. A virtual ligação do amor. O afastamento na direcção oposta do ruído. O enfado e todos os olhares. Toda a experiência e manifestação dos corpos. O que fica da noite em pensamento de ausência. Mais real. O excesso de palavras. O alheamento e os movimentos das cidades. As novas avenidas. Os olhares vazios. As contas e o luxo. A estranha luz dos ansiosos cadáveres nas direcções do destino. As ditas direcções do destino. A posição e o movimento da imagem fixa. O duplo movimento da imagem fixa. O que não. O vazio, meio das posições do desgaste. O sol. O vazio das palavras soltas em convulsão fixa. O assinalar das posições e a confusão instalada no duplo movimento da imagem fixa. A reentrada da noite e da ausência. A fuga dos ansiosos cadáveres. O batimento cardíaco. As soluções metonímicas. A salvação como noção das psicológicas rendições. O sofrimento. A maré das vagas cardíacas em cuidado de salvação. O deixar. As pausas da impossibilidade e a experimentação. O desconforto e a hesitação e a face do sentimento. A posição da imagem fixa. As alternâncias comissionadas do embuste e a dupla direcção dos comércios sentimentais. Os recados da noite. A ausência como refúgio dos segundos preenchidos. O tempo. A continuidade dos fluxos da matéria. Os sentimentos da posse e da perda. A contracção dos batimentos cardíacos, o fluir. O alheamento a todas as manifestações e toda a movimentação da fuga, quer dizer, todo o ardil da renúncia.

Depois que florirem os campos,
meu amor, espera por mim
nos canteiros em flor, pela manhã,
em silêncio te abraçarei, enfim,
junto ao ribeiro dos murmúrios,
no tempo dos segundos iluminados.

Os mistérios da linguagem solta em cantos da saudade e apelo. As manifestações da presença simples. A contagem pura do desvio. A notificação do desvio. O quanto. A irreal unidade em conclusão dos inquéritos da imagem fixa. O duplo movimento da conclusão e o diluir de toda a fixidez. O retorno ao vazio como o sítio das conclusões, dos afectos. A insatisfação do vazio e da imagem e o glorioso sol da manhã. A inconsequência do caminho e os sons da cidade. As imagens. A rendição de todos os costumes do silêncio. A presença. A continuação do desgaste à face da imagem fixa contudo. A presença da noite. A presença da ausência. Os segundos preenchidos dela. A lamentável posição das presenças múltiplas. O cuidado e as mostras da perturbação da imagem. O referir da imagens silenciosas. A ausência. A continuidade da ligação e da imagem. Sua antiguidade. A soturnidade da presença da imagem fixa e a constelação de todos os desvios à face ausente. Os prelúdios. Os significados. O duplo movimento em significação da matéria, contraída significação da imagem fixa. A posição e a renúncia. As reuniões da virgem. As invocações da crueldade e da distribuição que por muitos olhos reinara o sol nos sons do trajecto como a imagem do ciclo dos altifalantes. O fechamento e a sua composição em abertura salvífica. A certeza da escolha e a estupefacção do instante. Toda a coloração do desvio. O acerto. As prisões da imagem fixa no desvio. O fechamento distributivo como magneto da imagem fixa. O prelúdio. A inscrição do conforto. O correr do inverso de todas as manifestações físicas da imagem, fixa, a luta. A posição sem imagem. Os tempos. O silêncio e as palavras e o alimento da posição fixa da imagem. A noite. A ausência. A sacrificada matriz da imagem. O regresso que tarda e a noite e o sonho.

12 de setembro de 2010

Outro dia ao amanhecer da liberdade,
(a) original posição da imagem, antiga
história dos fundos da palpitação,
faz-se movimento das prosaicas realidades,
nas artes de uma magia antiga,
antecipadas partes do jogo e da palavra,
promessa real do enleio e todas
as manifestações do valor, da dissolução,
o combate ao fim da noite buscara
os olhos agudos no coração que regula
o entanto da mesma imagem, no momento
em movimento, dos cumes e das rochas,
as fontes altivas fendidas em acto
do batimento cardíaco ao consumo inútil
da matéria e um sorriso ao endurecer
das máscaras, a necessidade, a crueldade.

E (quando) ao dia cantos amenos o fulgor das palavras
renascidas émulo da manifestação fala, um cuidado
e uma leveza da musical semelhança, posição sem imagem
vem, junto aos espaços sem fim da noite, os cantos dum outro
dia lacerado ao atravessar sólidos mantidos do combate,
a contagem do valor, a sombra da utilidade,
o descarácter diluir dos ambientes (destacado)
em dança das imagens nos filamentos da regulada luz,
ordem da impregnada matéria, rios das mundanas manifestações
outra vez edificadas ao ressurgir do unificador lugar,
como os mundos de um céu patrístico nos momentos da recorrência
do ânimo e da vontade (que) força à matéria impregnada
um mergulho nos fundos da terra violenta,
os mundos da canção que ecoa quartos da luz ausente
e baixa o olhar, entrado e destacado, junto ao cerebral do excesso,
como a vontade, quarenta horas por detrás dos jardins escondidos,
sons da condição num contratempo ténue, da matéria
à matéria e nas mãos e nos pedaços da manifestação tardia,
os corredores de máscaras fixas, os corpos da material manifestação
da imagem na face ao fixar dos espelhos em revelação, conta
material do valor, retiros da secreta flor não tanto os corpos
como a viagem da permanência, a estada e o diluir dessa imagem,
(a face e os corpos) ao apostar o calor do contacto
em regresso das materiais manifestações da situação imaginada,
a ausência dela e o seu sentido, o combate, um sentimento,
uma posse, nada, como fora a mais valia dos retiros à sombra
do dia nascente, entre a noite e a manhã dos motivos, da ausência.
Toda a vida.
E ao chegar o vazio.
As posições da imagem.
Completamente.
O olhar.
Nas vias da impiedade.
Diz que nunca será.
Mais e mais.
Um tardar.
No arremesso das vozes em confronto.
E a recordação.
Das palavras ridículas.
Que mais nesta terra dos refúgios queimados.

A entrega. O valor. Novamente.

Livrai-nos do mal que castiga os corpos às avessas.
Muito cedo. Afinal mais vasto que o deserto dos passos em silêncio.
No peito esta terra árida. Canta como a saudade funda a dor dos teus inexistentes braços. E as outras vidas desta terra morta, mortal.
.
E tu.
Última visão.
Primeira.
Mais que tudo.
Os olhos em silêncio.
Marca simples da posição.
E a saudade.
Esse enorme cansaço.

Antes de partir correra mais (n)o encalço
e mais, como é frio, como regressa,
como derrota-se em solitário impulso
a madrugada que penso uma vez,
um instante, a presença, os olhos fundo.

10 de setembro de 2010

O cair. O labirinto.
O sistema da impossibilidade.
O frio.
Os mecanismos das vozes silenciosas.
O deixar preâmbulo da qualquer decisão.

Os corpos ausentes.
A espera em acto e a experimentação do impossível.
O ciclo. A via dolorosa. O apreender.
A busca (dentro) e o circuito do impossível.

A palavra em silêncio.
A noção da troca e do amor.
A inexistência.
A saudade e a inexistência.

O reconhecimento das palavras e dos corpos.
A entrega ou o seu contrário e a rotação do ciclo ao impossível.
Outra vez os corpos em silêncio.
E o vislumbrar da luz.
No ciclo.
Da vida como percurso dum frio a quente.
Ou vice-versa.

E a cultura distributiva da troca e o amor.
E os corpos desnudados à entrada no silêncio.
E a dor. E a melancolia dos corpos atirados.
E a satisfação da luz. E a insatisfação da luz.
E os corpos. A impossível distância dos corpos.

O contacto e a distributiva palavra do conforto.
A face e o desconforto das visões e os corpos chegados.
Ao calor das palavras e ao som da promessa.
Em tentação das palavras e (a troca) o silêncio.

O despertar do movimento
e da palavra
e a dança dos corpos impossíveis.

A espera.

O sincopar e a instalação da distância.
A possibilidade e a impossibilidade.
A tensão e o maquinal movimento do ciclo.

O corte.
E um regresso à luz. Um mesmo.
Na destacada posição do desencanto.
Em qualquer coisa afim.
A todas as recorrências da imagem.

A repetição. Sem qualquer. Ou muitas vezes.

Apenas um olhar fica enquanto o sol queima como que chegado a um cruzamento mundano. Qualquer coisa de alimentício que comporta numa arrumação sintética as palavras em que como que destomado o rumo das vez em conta sobriamente vai liquidado nas convenções do arroz, satisfeito de si, ou numa imagem corroída dos sorrisos, como nada, como nada.



Fatalmente atroz o sangue em colapso a imagem já gasta no atrito das palavras insentidas.

Sol novamente.
Em trabalho da calcinação.
E um outro sentido das nuvens.
No (meio do) céu azul.
E aos ribeiros em murmúrio.

Fresco, bucólico.

Como as outras palavras que tiram-se em defronte ao vazio nas reuniões duma qualquer comenda do convénio. As gildas em flor encrustadas ao caminho do asfalto cru nos rastos queimados do infalível vazio.

Os desapiedados corações.
As linhas. Vidas e os conjuntos.
Os corpos saturados na pele.
Os cães da matéria.
Os acabados atritos do vento.
A solidificação dos enxames.

E à noite, quando sobe o por detrás do silêncio e fica a matéria (fresca) por momentos revela essa face (tua sem ser) de uma nupcialidade negra.

Laje. Carrega.
Dentro. A quantidade.

E as quantidades são que ficam no rosto e nos corpos como a manutenção da pele em peso enfim.

Venha o frio.
Que cale o sol tão quente.
Cadáver (da recoberta imagem).

Já sem si.

Liberta.

Esvanecida ao som desse silêncio.
Por detrás da noite.
Em queda.
Num salto.
Ou uma permanência simples.
Assim.
Como na consistente ligação esperada e fundado em cor da noite.
A essa hora do beijo que sobe em silêncio.
Na dor.
Doutro dia horizonte.
A inatingível dança do mito.
No prolongar inútil das visões sombras do mundo enfático.

A reunião.
O superficial.
As questões culturais da posição.
A ausência.

4 de setembro de 2010

Rios do abandono.
Os raios de sol.
A sucessão dos rostos.
As palavras.
A calcinação pelo sol.
O igual efeito que assim paira.
As estradas.
Outra vez um rosto.
A voz quente.
O pisar das distâncias.
(A experiência do fogo).
O corrido em vias mais que dilaceradas.
De novo o abandono.

E a noção do esquecimento reinava nas vidas como a conclusão do abandono numa utilidade das palavras e em recusa da visceral posição dos afectos fortes, como qualquer coisa, ou alguém, ou o instalar do quê que vem num manancial adentro e utiliza todos os costumes, assim, como que colocando-se junto nas manhãs da necessidade, mundano.

E num instante é o sol.
(Tu, por momentos.).
Descortinas desse fundo que reina.
Como um esquecimento.
Ao tal fugaz sol da manhã.
Nas tardes frescas.
Na conclusão do amor.

Sem que tome-se. Sem que assista. Como essa voz num eco da distância sombra tão perto em turbilhão da diferença. E a saudade do mar azul, do sal.

2 de setembro de 2010

Rastos e sons. Artefactos. O cansaço. Outra vez pátria.
Fria. O mais terrível dos exílios. A inexistência.
Solos da madeira. E junto a um homem de novo o peso.
A importância. Como a sombra que chega.
No canto. O terrível dos olhares.
Por detrás do muito das manifestações.
Em matéria ao avesso. Em mais tarde a luz baixa e triste.
Ao som da maquinaria. No árido da terra sangrenta.
Onde como que solta-se a manhã pisada ao asfalto veloz.
Na imagem surdina de uma hora remota.
Que faz os soltos cultos. Cadáver dessa terra.
E nunca termina o espaço dos rostos.
Que não chegam nessa manhã. Violenta.
Rasgada em sol. E mais atento (que) o pormenor.
Da vida que segue em momentos que suspendem.
E vai-se a ficar. A um caminho direito.

No silêncio. À sombra da tarde cai.
A roda como a dor em cada.
Que sobe e manifesta a inglória terrível, grave.
Onde pára o tempo – solene - nas partes que deslizam.

Os outros tempos não chegam.
A um fulgor do cuidado cinzento.
E a vida em recorrer do pudor e da violência.
Vem como o céu azul em sol. Árido.
Por detrás dos rostos sem amor.
Nessa maleita da imagem, do valor.

Por vezes chega um pôr quente que fica a cruzar os olhares no asfalto.
O pó das bermas veloz da canção e da dança em aterro das dignidades.
O sorriso, como as máscaras em festa de holocausto.

Frio o sangue vai.
Começa em curva ausente.
Em céu deixa-se, frio.
Como o vento imóvel.
Fundado em som.
Nas imagens caídas.

22 de abril de 2010

Cruzara no ventre,
em sinal de atenção,
a palavra impressa,
que tarda em segurar
se na face
como fora o levantar
do véu num instante
apenas, que tomasse,
o peito em excesso,
à beira do desfalecer,

e a maior violência,
é imposição do silêncio,
ao olhar do que vê,
(qual dupla cicatriz no peito),
a palavra que vai tecendo,
os perdidos gestos,
na escolha além do silêncio.

(e é por isso que não pode ser mais que um instante, este olhar, depois esqueçamos,
continuemos)

21 de abril de 2010

Faca e dentes,
um relógio de atenção,
os bandos da saliva
em desagrado
e a morte
em corte ao pormenor
que carrega no olhar
as direcções da curvatura
por pose (digna)
que estabeleça o acordo
em ó de quem
de direito
(em nome familiar),
assiste
aos ânimos do vazio
na promessa
do activo
e dos restos de efeito
em apoteose
da salivar partilha.
Hoje estava cinzento
e já não lembro o sol
que esconde-se nestes dias
em que faz-se a terra vista
no fundo que liga em voz
os dísticos da terra antiga
por clamor do tempo fundo
e suspenso como as palavras
ditas, espoliadas chuvas,
em quais campos levantara
a voz que sucede dos fundos
fios e sulcos da terra amarela.

O olhar em baixo,
em apelo da sementeira,
na terra espoliada
dos fios do sangue fundo.
Passam vultos sem direcção ao fim do dia silencioso.

Desponta o sol,
o copo num gesto,
passados corpos,
torneados ao caminho.

Avanço nesta chegada e cai-me o sonho, passa-me a impressão dos dias corridos.

Faz quente agora,
(corresponde),
levanto o copo,
em gesto de saudação,
e num transporte,
(bate agora o sol de frente),
cerra-se o olhar em semblante
que a vida carrega, afinal.

Mas basta disso. Passam como vultos. Coligidos (ou seja lá o que for) das sombras chegadas numa manifestação arcaica. Lembrava-me, enquanto languescia o copo em convexas atenções da mais aterrada e conveniente insolação das voltas que passam, (desaterradas talvez), quais foram as facécias do que manifesta-se em nada e cruza atreitos ao caminho dourado, como fora a calefacção dos mistérios do dia, ou à maneira dos requintes disso.

Manifestam-se outros anos,
olvidam-se os outros paladares,
e sustenta a razão que passa,
por entre os vultos que chegam.

20 de abril de 2010

Visceralmente irreconhecível o rito suspende e penetra as ideias no vazio. Progride em centrifugação e atira (qual sombra isolada) o que persiste em amálgamas desligadas voltas num (livre) trabalho de esquecimento, numa expulsão do “peso do mundo”.

Observa ;
faltam as palavras,
no correr aberto,
do mar assim,
em peso vazio,
da roda em abertura,
(música, palavra),
que vê o que não pode,
e pensa o que não quer,
no longo percurso,
que tem de sair,
por violência sonora,
indiferente,
e espalhado em desafio,
ao apreender a soma,
das palavras libertas,
no fazer acto,
e consequente sentir,
dos investidos espaços,
ao fazer silêncio,
do cair da luz,
no tomar das entranhas.

Um esquecimento frio.
O olhar aberto.
Nos rostos vazios.
Das linhas transversais.
No fim do porquê. Aligeiro isso.

fugaz a pele,
procura o sol,
no farol circular,
por sobre a encosta,
da bela face,
e o brilho,
do aroma cálido,
cantaria, por montes
e vales, a busca
dos dias sentido
na hora do manancial
da luz que agarra
os decaídos golpes
das suspensas vidas,
(uma morna inquietude),
em lampejo adiante,
nos braços,
dos pátios da desolação.

No passar a colocação do braço precipitara (líquida) a ligeira observação do acenar dos sentidos num mar da rocha que escorre em prelúdio das superfícies banhadas como fora a forçar o encosto (encoste se porventura)

languidamente,
a fragrância carnal,
fazia isto,
como sem saber,
nem porquê, rojo.
O cabelo. O ar cuidado projecto. A pose em compressão. O belo gesto vazio. Largo. A alta voz. Num mágico apelo. Das caídas pálpebras. E os olhos em fugaz enleio da promessa.
Planaltos, escarpas, fundo rosário de entrega.

Sublevado esgar,
desnudado,
acordar nos leitos,
das rosas, os rios,
da literal raia,
que faz-se pelas manhãs,
no esvoaçar da paixão,
liquefeito em excitação,
aos fundos,
duma qualquer gruta solene.

O estar que arde,
na brisa da tarde.

E o vapor na face do vento.

19 de abril de 2010

Sennin Poem by Kahuhaku.

The red and green king fishers
flash between the orchids and clover,
One bird casts its gleam to another

Green vines hang through the high forest,
They weave a whole roof to the mountain,
The lone man sits with shut speech,
He purrs and pats the clear strings.
He throws his heart up through the sky,
He bights through the flower and brings up a fine fountain.
The red-pine-tree god look at him and wonders.
He rides through the purple smoke to visit the sennin,
He takes “Floating Hill” by the sleeve,
He claps his hands on the back of the great white sennin.

But you, you dam’d crowd of gnats,
Can you even tell the age of a turtle ?

E. Pound – “Cathay”.

12 de abril de 2010

Traço o corpo o corpo,
o fogo era mais tarde,
e o tempo,
de tempo a tempo,
correra como espada
as palavras que evitam
se as bocas
dos pássaros verdes
da “sobrevivência”, diz se ;

ainda sinto o sabor desses mundos,
sopra um instante e fere a queima das palavras,
quanto mais livre os céus abertos,
mais longe os pântanos desta terra cinzenta.
O ir longe,
a notável composição das feras,
os animais, o acaso,
todas as cores,
o raio que parta todas as manhãs do lamento,
todas as silenciosas manhãs.

O que salta aos olhos destas palavras fixas,
depois das lembranças,
(entre o vazio e a multidão do movimento daquele lugar),
é uma respiração funda.

...

Em que dias.
Que manhãs.
Quais fins de tarde.
Quais noites em que.

Num dia instante o real de todas as histórias ao anoitecer chega, fica.
Hoje não quero saber. Hoje. Dos passos que assentam nas pedras da rua (como se nem existissem) e continuamente gravitam as maquinais imagens pelas quais insistem o investir do ruído que invade-me a geometria hoje não quero dizer nem ouvir desses momentos. Afinal para que quero eu a geometria. Afinal para que não quero eu a geometria. E o ruído que a invade. E os fabricantes dessas imagens.

Talvez um radical regresso ao cavernoso silêncio da linguagem.

11 de abril de 2010

Hostiae.

Aproximara (estranho) as eiras do refúgio. Ares vermelhos. O sangue em espalhada sementeira. Os escudos ao fundo da terra, em delírio. De fora tudo ameaça, já cresce o rumor da labareda.

Os sons e as danças,
o calor no trigo espalhado,
as vozes e a partilha,
da crescente recordação,
das águas do dia,
em momentos de eleição,
ao rubro, os beijos
em altares da noite.

O sangue da terra queimada. A refeição das últimas hostes estranhas. Os corpos como invisíveis assinaturas do medo rasgam na noite o céu em motivo da festa.

Deitados os corpos,
nas terras da eira,
sempre a noite,
no fogo da lembrança,
apaga os aterros,
do sanguinário fundo,
onde juntam-se em calor,
os eleitos motivos,
das espigas queimadas,
em espirais do fumo,
que sobe e revela,
nos gestos mudos,
o fim da noite em surdina.

Os corpos na terra queimada à espera que chegue o dia.
Dos nubilados cumes,
em cego fascínio,
o olhar vem,
por magnéticos movimentos,
do cerrado principio,
aos dias sonâmbulos,
das cinzas pelas encostas,
onde encerrado o fogo,
do vulcão ateado,
fica o olhar preso,
aos dilacerados restos,
da dor e do prazer,
por sulcos nos caminhos,
das histórias antigas,
do escorrer espesso,
estranhamente distanciado,
em sobrevoo do reconhecer,
a escorrida memória,
dos espessos sulcos traçados,
no decorrido sangue,
da carne ancestral da violência,
em sentida solução,
da condição cega,
dum poder histórico,
numa história mal contada,
(devolvida espelhada),
das imagens do horror,
em sal feito aos pedaços,
de maquinaria corrente,
por refinada história,
das histórias contadas,
aos berços adormecidos,
na espera dum maquinal,
conforto que esquece,
acima aos olhos soltos,
sem nada esquecidos,
numa última parede,
afinal dos olhos sanguíneos,
e já destes sinal absurdo,
no fundo posto revela,
os lados a um seu eixo,
sua mentira em decisão,
da rota tornada termos,
mínimo à matéria,
a sua ínfima pergunta,
por fim.

10 de abril de 2010

De ser a estar.

a dúvida que cresce,
e teima em não sair,
que nasce do interesse,
da semelhança.

Nas letras é um desafio, passa, como num momento de abertura à mais alta razão que vence o corpo estranho pois no olhar que é espelho uma tal (distinta) semelhança nota-se nas palavras escritas ... bom, é todo um suporte delas, marca do seu uso, aquele jogo da dissimulação que suporta (em sinais da inadvertência, por vezes) como que técnicas agarradas aos corpos em movimento a ... simplesmente.

Como no prenúncio da tragédia.
O evidente nas palavras é a vergonha, o impudor das palavras grandes. A violência.

Os sinais duma semelhante distinção,
marcam-se do corpo em transformação,
e numa inconsiderada evidência,
dos corpos em abertura espelhada,
(movimento exterior da tragédia)
chegam numa direcção, vinda do coração,
que é como a mais simples manifestação
do uso em intenção da providência.

São letras que cuidam-se no uso dos suportes em tensão dos corpos desligados. Enquanto existe, a dúvida, é “sinal” de evidência - nas palavras e fora delas – quando não, não.
Ácidos, lânguidos, situados.

O favor convexo,
da jovial representação,
no aluir ribombar,
dos plátanos e artérias,
em ocasião erigida,
da exemplar manhã,
numa lápide ascética,
dos ídolos em locação,
pelas grutas e altares,
sobranceiros,
aos planaltos da pastorícia,
num elenco de repente,
aos ligados voos, ecos
dos sangues em vão
e a rosa, e o gasto
observar, cândido
amanhecer, rocambolesco.
Oscila entre a manhã e a tarde.

Trago doutra dimensão,
a fenda do tempo aberto,
em fuga como demanda perfeita,
(do altissonante delírio),
que comanda a líquida matéria,
e traz-se assim, guardado,
na semente dum deserto bêbedo.

Chamado o tecer desta figura nas sílabas dos corpos cegos - repete a minha voz - onde paira o coração e os dias no âmago dentre o sonho .... longas são as noites, por vezes.
Observações em tempo de crise.

Um escrevia, outro lia,
na passagem,
era como se mortos,
os abertos olhos,
do sentido exterior,
estendido estertor,
dos graves incinerados,
artefactos funcionais,
num transferido cambiante ;

fossem acerto de ensaio intuído que implodisse em marca (e isso vai-se aprendendo)
do único baque a mais a tempo de efeito dessa tanta impressão, afinal.
Outro dia sustente as palavras,
o jogo de olhar interior,
insurgido em cardume e lenha,
(suporte acaso que tomara),
do branco fundo à espera de linha,
tomara, (como em estado absoluto),
o já corpo em sustentação dos acasos;
como utopia sobre a folha branca,
que chegara das fragmentadas palavras
numa tal combinação das quantas
em linha do perfazer molecular primeiro,

cão porém,
carne som,

subentendido nesta linha carece, (e a coisa acontece), em repente irradiado corpo de som que sustenta, inteiro, a folha, a frase; são corpos da latitude, toda uma produção do som que requer uma intensa penetração da palavra, sim, uma certa desintegração das quantas como de mínimo a mínimo o que, no fim de tudo, como que toma-se “especial veículo”, sustenta :

as multidões d’azevio,
os alumínios roucos.
Passara num relâmpago,
(os olhos perdidos),
poderia dizer
que não há razão
mas existe,
em todos os instantes,
em toda a razão recomposta,
chegam dias e havia a fazer,
não custa e apenas quer-se,
porque a vida é assim,
perdido o olhar do rio,
em tantos nomes e voltas,
creio, não me sai, antes ...
Chuva. Rápido corcel a ti chega marcas do rubor nos lábios.
Frios. A cinza em canto ao longe. O pó na estrada liba todos os teus tormentos.
Enquanto penso. Enquanto penso.
Não quero saber das memórias destas escritas.
Sobre o campo o rosto sinto ao encontro um dia escuro.
E o que fica na chuva acorda os sentidos. Afagam. As sombras no teu regaço.
Das últimas tentações em vida mais que condição de não ter.
Como um sono. Enxurradas do dia. Amargo da distância.
Por fim no dia a desconhecer. Fugaz. A única música que tomara tal entrada.
Rios da luz que jorram cintilar gritado ao longe.
Aguardo. O Correr das águas solta os impropérios da luta. Tão longe. Tão perto.

*

Canto os saltos,
em pleno assento da cor,
aos gritos da bruma,
na matéria mais que nova,
e rápido o trovão,
na vida e o peito,
- por mim não guardava tantas palavras -
das abertas espumas,
ficam gotas,
que partem mais da maré vazia e fica o sal, o corpo.

8 de abril de 2010

Anónimo

Som de voz desperto,
o destacado risco,
da trama fina,
num salto extenso.

Os híbridos redondéis ressoam reactivas espécies das palavras como por interna sequência daquela sucessão de gestos,
ondulação (cheia)
tomada em apoteose,
aposta classe
edificada do cimento,
lançado ponto de aplicação.
nos rasgos do caos frio,
por lâminas dum retardo insolente,
as vidas, num volteio de cima,
recortes, cume do sol,
os cimos do permanecer,
(lânguido, arvorado, desfeito),
acto duma satisfação,
- entre o estar que sobe e o correr de aspiração táctil -
no odor da cor viva,
em sabor da terra,
e desfeito em plástica,
disposição do contorno
(acertos de efeito)
em estado de distanciamento próprio da razão disforme.

Outras marés do sentido se objectivasse uma afinação do corpo.
A razão do desenlace em geração (ao largo) mineral das alas densas.

Ao fim da floresta,
no caminho em verde,
os estados em passagem,
onde a forma é vaga,
e o aspecto abrasivo,
laboriosamente aspergido,
como num desgaste.

7 de abril de 2010

Um diálogo cultural, algures.

- Ah. A Cultura. O requinte da palavra, a elegância do gesto. Sempre a sinto quase como se fora um natural “afrodisíaco”, percebes, um estar que sabe e sobe em destacada dignidade da imagem, uma elevação dos retiros, as bucólicas efígies da terra ancestral, nossa, todo um mundo das partilhas, dos afectos, dos ensinamentos, da história.
- Costumo pensá-la como um rosto na multidão, uma reconhecida expressão.
- (Rápido olhar em volta, escarninho) – Nasceste na terra, suponho.
- Ora, deixa lá isso, não tens que te sentir assim.
Fonte antiga.

Na base da rocha cerrara-se o animal aos gritos e sinais da vigia. Sobre a nascente caíra a sombra de um poder velho.

o coração persiste,
a mais alta fonte,
no dia selvagem,
caminha sombras,
ramadas da noite,
faz-se ao artifício
da lama e segue,
em silêncio,
ao nascer do dia,
o cair das águas,
(olhos em volta do silêncio),
a semelhança presente,
no antigo lugar,
do apelo entre as rochas,
as ligas fendidas,
da cega memória
dos aterrados dias,
funda ausência,
por muitas eras,

(estilhaços por toda a carne)

e no cego momento
da luz tão perto,
erguido dessa lama,
ao repente da força,
o correr do enlace,
aos lagos torrenciais,
nas paredes de cristal,
a encerrada imagem,
golpe da vida,
em clamor mais fundo,
jorra-lhe a fúria,
no corpo incendiado,
e na margem, exausto,
repousa o peito,
um instante junto,
que fica a respiração,
na funda imagem
dos poços e fontes.

Bocados da carne atirados em valor – cães - tomados por constelações aos cimos da terra antiga. Descansa o seu corpo na imagem, carne e lama, a violência rasgada, assim.

6 de abril de 2010

“... ele fez de si mesmo um mundo inteiro. Porque, como a metafísica reflectida ensina que “homo intelligendo fit omnia”, assim esta metafísica fantasiada demonstra que “homo non intelligendo fit omnia”, e talvez isto seja dito com mais verdade do que aquilo, porque o homem ao entender, abre a sua mente e compreende essas coisas mas, ao não entender, ele faz de si essas coisas e, ao transformar-se nelas, vem a sê-lo...”

G. Vico ; Ciência Nova – Gulbenkian.
Conhece a tua solidão.

A minha mão de glória brinca sobre os fios da virgem
A noite é uma lira melodiosa
A minha música queima a sombra das árvores mortais
A minha música queima de acordo com a água
Trago a minha chama ao coração do gelo
Cristal silencioso da minha solidão
Liberta a minha sombra o meu reflexo morria com as folhagens
Estou só
Junto a um mar de leite onde nadam peixes fraternos
O meu sangue perpétuo conhece a sua profundeza

Para amar é preciso ser dois
O amor é uma grande solidão
Estrela de mar a mulher é água meditativa

Prisioneiro dos lugares das planícies múltiplas
Fugi em mim o mundo
Belo espaço restaurado grandeza, natureza
O mundo lugar comum
Lugar humano
Cada um seu centro íntimo igual a um ou outro
Do semelhante ao mesmo vamos e vimos
Tal como em nós mesmos em fim da demanda
A verdade banha-nos todos nus na nossa nudez radiante
Mil vezes mais só de olhar-se nos olhos
E de reencontrar-se no fundo do poço
Poços de ciência intima

Sou tão vasto de estar só
Crer-me-ia múltiplo

Mulher o teu corpo é uma lua rubra
A tua noite um gelado branco
O teu corpo de todos os dias é uma manhã
Mas tu és todas as chuvas do mar
E por isso te amo
Amando a noite.

Stanislas Rodanski – Anthologie de la poésie française du XX siécle – (tradução livre)
Grito que agarra
se numa porém
sólida tendência
em reflexo tornado
insone e conforme
ao tropel das manifestações ;
ou então espalhado em dia,
como balde de rotunda.
Ô têmpora

acordas de fogo,
num dia chegara,
aos arrancados pedaços,
das vidas em volta,
e uma luz segura,
por toda a terra,
estende o assentar,
dos olhos regresso,
sequer o fogo,
e tal pensar, adeus.

*
Desfalecera em tal terra,
as costas na terra,
desabrigado aos trovões
da luz, as passagens,
das erigidas autoridades em campo.

5 de abril de 2010

No principio era apenas fogo,
rasgava o céu um troar das feras,
curtos movimentos,
o mais circular leve indício.

A observação do calor fora o corpo em anunciações da primavera, técnicas, rodas, expulsões num alongar dos tecidos, a fundo ... o sangue activo.

Numa expansão (do corpo) em espanto a regra das mais notáveis contradições idas, fases e leituras de horizonte, aberto, numa posição.
“ Uma distinção filosófica emerge gradualmente à consciência : não há um momento determinado na história antes do qual ela não é reconhecida e depois do qual surge como algo perfeitamente claro (...) Scoto distingue entre conceber confusamente e conceber o confuso, e como qualquer conceito obscuro inclui necessariamente algo mais do que o seu objecto próprio, naquilo que é obscuramente concebido, há sempre uma concepção de algo confuso ...”

C.S. Peirce (sobre Leibniz/Scoto e a “distinção”) ; Semiótica –Ed. Perspectiva.
Os olhos de intensidade
uníssona circulam
raios do sangue
imaculado solfejo
de todas as manifestações
afim do fazer canto
e acesos murmúrios
no aparente da progressão
da fluída sombra
que persiste o esquecimento.

O aberto mar roda do percurso espalhado em soma nas palavras do acto investido a sentir espaços cair da luz.

31 de março de 2010

Dissemelhança.

Um rosto – "sósia".

Uma porta que se abre,
um movimento,
os suspensos olhos num
segundo, o outro lado
do olhar, a surpresa atenção
mantém do rosto, os fixos
olhos nesse instante.

Suspensa continuação do movimento maquinal. O efeito é tido no contratempo que deixa-se ficar balanceado (simultaneamente) na continuação. Daí o efeito de tensão muscular. Representa o contraponto.

O baixar de pálpebras,
a comissura, levemente.

A significação da memória encontra o seu fim aberto no movimento suspenso da semelhança extraordinária. Esta produção da memória inicial, assim sobreposta, é racionalização da “liberdade”, da imagem, como um “afinar das causas”. É como afecto da sobreposta imagem que liberta do afecto e da imagem, numa sobreposição.

E não é que esta distância esteja propriamente no tempo mas antes na produção e vivência do desdobramento da imagem, na sua repetição, no momento, na suspensão.

Já não é memória, mas criação de memória.

- Peço desculpa, estava distraído.
- Olá. Recordo-me. Confesso-me curiosa.
- Sim, é de facto uma semelhança extraordinária, um conhecimento vago no entanto, não distante ou longínquo, apenas vago.
- De qualquer forma.
- Sim, não.
- (Sorriso).

29 de março de 2010

As ruas descidas,
as rodas num preparado,
o fazer retardado,
em sangue da carnificina,
num rápido reflexo,
do mundo em ocultação,
(este gesto do convir vertical
em horizontal campo de dor preenchido),
num prazer da soterrada,
(arte) inquieta sobre o vulcão,
a figura, ideal,
do dado num gesto,
(estudado),
a visto e rápido,
em marcar do mundo,
numa cruzada voz,
da reacção em mascarada,

*

baluartes num murmúrio
ao atingir da sombra
em claro/escuro,
cinzelados, golpes,
sincopadamente,
um movimento da memória,
cega e confiante,
o magnético ondular,
da fermentação animal,
e as cores circuladas,
como o sentir
que de todo constrange
em primeiro e flui,
nuvem estacionada,
na maturação
dum assentamento da forma,
um fluir assim,
que a deslocação das vidas
esquecem, adiantam.
suspendera em delícia,
o distraído instante surpreso,
- o corpo está nesse instante –
que esquece por muito tempo,
as passagens do campo em baixo ;

e cai todo um corpo
nas animadas silhuetas
de como um suave e carnal
desassossego nas esquecidas manhãs,
do lento movimento
aos olhos numa visão
dos secretos corpos deixados
(fora/dentro a luz que quase toca)
do corpo rugido (fulvo)
que consagra o absoluto silêncio
e toca e liquefaz a pele
ao estar a franja duma luz suave
que fica o saciado contacto
num estar, numa dimensão de estar
“Extravagante efeito esse que proveio daquela miséria da mente humana, ..., a qual, permanecendo imersa e sepultada no corpo, é naturalmente inclinada a sentir as coisas do corpo e deve usar demasiado esforço e fadiga para se compreender a si mesma, como o olho corporal que vê todos os objectos fora de si e necessita do espelho para se ver a si próprio ... “

G. Vico ; Ciência Nova – Gulbenkian.
“Só chego ao ponto de poder indicar a direcção de onde vem um som, porque um afecta as minhas orelhas diferentemente do outro, mas isso não o oiço.”

L. Wittgenstein ; Últimos escritos sobre a filosofia da psicologia – Gulbenkian.
Baqueio Barco.
Branqueio Baco.
Recaio Lago.
Alago Barco.
Baco … e cerceio.