26 de dezembro de 2010

No dia seguinte estava cinzento como fora um rescaldo, um abandono, ou os que perdem-se, os que procuram ainda, enfim, as raras aves nunca poisam, apenas pairam e vão circulando como que para dissipar a névoa de uma qualquer presença nas pontes perdidas do tempo onde estará, é uma interrogação que fica, o universo é como amálgama de detritos voláteis embutidos na superfície dos corpos revirados a apodrecer em cada dia, luzes na luz do dia seguinte, e nós, que apenas queria ficar i-móvel.

24 de dezembro de 2010

Impassível, dizia o olhar, im-passível. No lugar perdido, (como esse), ergue-se o tempo às altas torres, aos castelos abandonados – e o vento tomava-te os cabelos que diziam (o) olhar (do) que passa - como sempre, levou consigo o (ruidoso) silêncio da noite.
O pontilhar da bruma no fundo.
Uma antiga voz que chama.
Qualquer coisa.
Levanta-se o corpo e fica por detrás dos olhos.
Uma imagem, (quase sempre começa numa imagem). Voz muda - os sincopados corpos a deixar à noite o som todo e a afundar, no seu silêncio, um subir das entranhas na luz difusa. Era essa a imagem muda da voz que corre em qualquer coisa, num espaço do mundo, das palavras, depois retira.

23 de dezembro de 2010

Espera-me a canção nos olhos que fogem.
Envolta em cada palavra rompe ao grito dessa luz sem fim.
(São pedaços dessa imagem).
E olhas-te então como qualquer coisa.
Chega-te. Vês. Na sombra. Os pedaços do teu desejo.
Últimas ondas.
Os fios de um enigma.
O espaço em passo terrível
como que chega
em sobressalto ao ventre
dos metais em festa.
Singular como as coisas, assim.

22 de dezembro de 2010

Ao Espelho.

Fica perante o espelho e vê a sua própria cegueira. As franjas dos seus olhos estão pesadas, como esculpidas no aço. A sua pupila é cinzenta como a névoa suspensa da ideia universal. E o espelho no qual observa está completamente cego, vê a sua própria cegueira. Fica perante o espelho e olha tão claramente, com tanta acuidade, não pode, no entanto, transgredir do olhar a sua própria cegueira – ela está tão longe, ilimitada!

Moshe Nadir ; “Anthologie de la poésie yiddish” – Gallimard - (trad. livre).
Inerte ao vazio da direcção,
(esgotados postos pontos),
não se reflecte a distância,
da inicial explosão do fim,
nos crivados cantos dum sopro
cinza em rajadas de cor aos seus retiros.
Ao tornar sonho em cada lugar,
cintilante por detrás dos olhos,
(súbito nas superfícies do brilho),
fica a noite o dia, lugar sincopado,
nas gargantas abertas, sabor ausente.

20 de dezembro de 2010

E de novo as mesmas observações. Como avalio da completude do movimento? Posso talvez falar de um fim, de uma intenção subjacente, o movimento, uma memória do processo. Mais interessante seria qualificar este “tipo” de intenção, pois, não existindo premeditação, quer dizer, sendo o movimento executado de uma forma absolutamente intuitiva, também não existiria uma reflexão prévia da intenção. Seria, talvez, uma “tensão”, um “tensionado” movimento na direcção do objecto. Sujeito?
A razão é o “método” de transposição do campo “em direcção”. A “imagem” da razão é: o reflexo das linhas de força do campo … e iria dizer que se trata de uma “imagem invertida" dessas linhas de força mas não tem necessáriamente que ser assim, antes, não o é, de todo, assim. A “razão” é: a consideração do método de transposição das linhas de força instauradas em campo e em função do objecto desejado. “Ali” instaurado. Estas “linhas” dão-se em função do objecto, do sujeito, é por isso que o “objecto” é condição do campo, antes, esta “relação da posse”.
Todos os tempos do momento executados num movimento perfeito. Completo. Estava perplexo. Todas as tonalidades numa escala perfeita.

E o que é uma escala perfeita? Como reconhecê-la? – E digo reconhecer, não conhecer, de um modo imediato, sem pensar, não há, aqui, e de facto, qualquer tipo de intervenção da consciência -. E o que é uma escala perfeita? Como avalio, neste sentido, da perfeição de uma escala? Reconheço-a. Poderei dizer que a reconheço em função de um efeito atingido? Creio que não. Trata-se de uma impressão remota. Uma remota impressão. Estética.
Nada em vivências do instante.
Suspenso qual viajante do tempo.
O olhar de surpresa. Nada nessa imagem, de novo. Apenas ficara e ligeiramente tocado (que o tempo não é de excessos muito obrigado) atrasam-me essas cadências de vida como um tempo que sempre já passou. (Como as conjecturas do cordial assentimento). Sigo. Não houvera (muito) mais a dizer. Este horizonte a perder de vista não é o mundo, és tu, e faço de cada vez o gesto preciso que parece no gesto (o) que o mundo espera do gesto, (são derivas que lhe ecoam, com certeza, ensurdecedoras na minha voz). Momento após momento, instante após instante, sucedem-se essas imagens e a mim, que nasci imóvel … perturba-me essa perturbação. Assim era o jogo dessa morte alegre. Sucedem-se os ritmos e a direcção é uma. Nada fica dos corpos tecidos. Um apelo do quê, afinal?
O aparentar. O desvio.
O rio em correntes que deslizam nas linhas de um correr magnético.
E um todos os dias sol ao culminar dos elementos.
(A cólera talvez).
Nas conjugadas cores que perfilam.
(Os mundos ao mesmo, e mesmo assim).

19 de dezembro de 2010

Corpo desperto a todo o exterior. O olhar que apre(e)ndia. A progressão. Uma saciedade que o movia. Faltava um contacto. O vago sentir da finalidade atravessava a densidade da paisagem. Em espaço aberto. Estendiam-se as multidões de formas, a perder de vista. Passou num instante. Considerava. Nada que olhasse o movia e deixou-se ficar, instantes, nas franjas daquela planície. Estranhava. Manifestava-se um primeiro apontar e entrou, vagarosamente. Uma diversidade, ramos e conduções da cor, as rugosas peles magníficas, as esguias delicadezas do matiz da beleza, um pó da terra seca, os recortes sombrios da pedra distante, a magnífica presença do verde, as estranhas luminosidades dos declives batidos, continuaria, ignorava, (então), a presença de um certo tipo de movimento mecânico. Buscava um certo sentido.

18 de dezembro de 2010

A pele activada.
O despertar da atenção.
A circulação quente.
O silêncio por atingir.

E de novo o dia, um dia. O sentir de uma imensidão estranha. Os olhos cortados de uma luminosidade nascente, apenas distante. Dos cimos de uma qualquer rocha, cresce o olhar agitado, a imediata busca de um movimento. Deixara correr assim as primeiras manifestações do efeito, da imagem. Ensaiara. Descera então essas escarpas, passos cautelosos, banhado em suor. Tivera deixado a noite atingir os baixos daquela cor e por todo o lado as sinfonias de um novo acordar. Faltava o gesto. Os espaços dessa vez. Seu tempo.

17 de dezembro de 2010

Perfilara o abandono
Num deixar súbito
Que sustentara o olhar.
Num reencontro:
- A vida é estranha.
- Tem os seus momentos.
Uma raiz prenhe de malabarismos, Cada palavra. Os reinos do signo. Uma voz. “Davar”. Inadvertidamente o verbo. Trespassado o tempo, suspenso, uma interrupção. As múltiplas colorações. Escalas de uma transformação como foram as várias tonalidades de uma paleta, da composição.
“Compreenderam que a razão só entende aquilo que produz segundo os seus próprios planos, que ela tem que tomar a dianteira com princípios, que determinam os seus juízos segundo leis constantes e deve forçar a natureza a responder às suas interrogações em vez de se deixar guiar por estas (…). De onde provém que a natureza pôs na nossa razão o impulso inalcançável de procurar esse caminho como um dos seus mais importantes desígnios?

E. Kant ; (prefácio da segunda edição de a “Crítica da Razão Pura”) – Gulbenkian.

O “caminho da providência”. Da “posse”. Da saciedade. Da “razão” enfim. Como fora o “indício” do mais primitivo dos instintos.
Como pensava este rio.
Os seus ondulantes reflexos.
As janelas desta melancolia, desta cidade.
As melancólicas tonalidades desta cidade.
Como foram reflexos do sol batidos no ondular das águas deste rio melancólico.
Este rio das melancolias passadas.

16 de dezembro de 2010


Palcos de fundo de uma justificação, subtil. A acção. O “estado indeterminado” ‘e a própria composição. O estado dela, seu momento. Poderá o quadro estar acabado em qualquer momento dado, estado? Sem dúvida, é sempre um quadro acabado. O quadro que, no seu “momento”, coincida com o “Zeitgeist”, é o quadro “perfeito”. O quadro em que a tensão exclusiva do artista coincide com a conveniência do tempo, com a intenção do tempo, é o quadro onde tudo fica claro.

J. Vermeer - "A Arte da Pintura".

15 de dezembro de 2010

Um diagrama preenchido é incompatível com qualquer tipo de leveza.
Apenas nada e o calor. Árido, ávido, efeito.
Atentado de um poço de ar cardíaco.
Os momentos do terror sanguíneo, (como se o excesso da passagem deixasse um turbilhar no pensamento), são pensamento da terra, dos corpos.
Naturezas da relação.
Ruas brancas, ávidas.
Desertos. A sede.
Uma aparente facilidade.
Como se as observações se tornassem mínimas.
Na voz. Na vociferação.
Como se no culminar dos jogos se aproximasse o momento da in(di)versão … valeria a pena?
Outra tentativa.
Todas as tentativas.
Os percursos de uma posição móvel.
Uma isenção, antiga regra alquímica.
Nada, nada, um chegar da natural matéria.
Qualquer coisa.
Qualquer pensamento, destacado.
Aquelas antigas elevações das fontes ocidentais.
Graves. O suceder dá que pensar.
Talvez possa começar.
Fica uma certa arrogância.
Todas as entrecruzadas condições,
Causas desse atingido sentido.
Todas as vidas passadas e fica o momento.
Passam dias, horas, eu, já não dou conta.
Está frio aqui. Já não digo “um dia”.
Percorre-me todas as fibras o abandono da razão, dos percursos.
Não conto os encontros, não conto nada.
Por vezes, é certo, chega-me essa memória intrusa.
Como lhe responde o vazio.
Nada guardo.
Sinto o olhar perdido, bem sei, fica-me, como fora nesse lugar em que todas as palavras perdem-se, onde os actos nunca chegam.
Afasto os sonhos.
Perto, apenas essa miragem.
Estátuas.
Já nada é estranho.
Os olhos que te percorrem não eras tu.
Recomeço por fim, (é sempre recomeçar), no fim dessa imagem qualquer coisa de nada … e o que resta?
Continuar? Concerteza.

13 de dezembro de 2010

Uma (incipiente) tentativa de progressão na espécie.

(Atempo)

Como se se desse o caso de um tal pensamento e muito possivelmente não regressaria naquele lugar, era, como se lentamente abrisse os olhos e suspendera-se, instantes, na recortada figura da paisagem grandiosa, não trazia o prolongar das noites, qualquer ligação do rumor distendia-se ao passar do momento e lançava-se em turbilhão como se foram abismos de uma certa conclusão que repartia - estranha aquietação – a figura de uma forma vaga da intuição do ritmo, que punha-se, sem imediato sentido, como fora o coligir da frase em perfuração - um inútil assim - que fazia por esquecer “um qualquer coisa” que soltava-se na repetição das palavras deixadas ao acaso, única ideia, eram, todos os rumos deixados a fazer linha de um pensamento.

Apenas um sincopar, uma grafia.
O apelo de uma fonte que atingisse a progressão da ideia.
Como não tomara à partida um passo adquirido ou surpreendera um instante em trabalho.

O atirar dos olhos.
Repente que toma, na passada, os novos corpos que flutuam, passageiros, no rasto deixado de um movimento veloz.
Apenas um vazio.
Segundos que passavam.
Tempos do movimento insistido,

Buscava dentro as futuras combinações de uma paleta que colorisse a posição de um vaso em “perfeito” vazio e, num instante, como se diluísse um excesso de peso e transitasse as transformações da sintaxe; uma “certa forma”; era, como se chamara um vento aos seus ardis ou veículos que tomassem vida na exaustão de todos os circuitos das frases em cadeia. Marcações de um recipiente futuro, um simultâneo do fazer.

Como fora, o protagonismo da forma que insinuara as outras avenidas fáceis em partidas de um ponto tomado nas “résteas” do pensamento adquirido, (uma diferença fundamental), como o agarrar-se na passada e levar, consigo, as emergidas superfícies de um pensamento revelado no concurso da notação, deixado numa certa grafia.

Rotações de um percurso elementar, esquecido, ao adiantar, (consigo), os tempos da marcação que põe-se em qual matéria.
Num acerto.
Numa luz no movimento.
Na súbita coincidência das fontes reconhecidas.
Calcorreadas.
Como fora, o continuar das façanhas vazias nos mais apagados pretéritos em solução das partes que, corridas, surgissem da composição de um movimento futuro. Uma partida na sombra. O mais dos caminhos, (ao acaso), que fundara-se, por vezes, na razão dos sulcos de uma matéria esquecida. Os abandonados espaços do antigamente. O móvel circunstanciar das tomadas de forma. O ritmado recesso das recipientes invocações.

O alongar das recorrentes passagens deixava como que a sombra de uma forma, afigurava-se a presença de um discurso, um iminente agarrar de atenção, a descida de um pensamento vago que suspendia qualquer determinação - o abandonar-se a um movimento é acto da concentração, funda, autenticamente, a decisão do instante que segue, antes de qualquer coisa.

Isso.

(Espaço)

A mais elevada forma do acto.

Espera, a súbita fuga,
na tentativa do agarrar,
o peso das cadeias,
em súbito divergir,
a uma aproximação limiar,
em geometrias da força sucessiva,
numa curva larga,
ao berço das dinâmicas em transporte,
no corpo carnal que fizera-se,
da vectorial marcação das linhas dispostas,
ao chegar do limite,
e na prévia consideração das órbitas elementares,
(imagem chave pensou); uma visualização da massa que rodopiara, colorida, por danças de um sistemático e regulado conjunto; como fora o ensaio da transposição interna em prévias considerações da trajectória e no divergir da linha limite, uma aceleração luminosa.

Dinâmicas considerações do acto dinâmico.
Algo que dispõe-se, “confuso”, no interior que aparece.
Um esboço de significado a um veicular sugerido.
O apontar de uma finalidade, um significado.

Visual sugestão das dinâmicas do acto do movimento da fuga, como fora uma aproximação, mas de dentro, não a relação de conjunto elementar, mas sim, a indicação das linhas do movimento.
Condensava o peso de uma passagem.
Um agarrar dessa “força”.
Apresentava-se como que talhado a golpes de machado.
Corte rude, uma primeira posse à força.

Não sentia, no entanto, o interno constranger que sempre provoca o movimento condicionado, a precipitação, isso, havia de querer dizer alguma coisa, pensou, como se aquela posição atingida estivesse fora de alcance, e, como não considerava um afastamento desse tipo, apenas surgia uma chegada no próprio desses núcleos.

Era o começo das imagens.
A (proposta) linha limiar de chegada.
Fazia por ver a sua volta,

Adiantava a condição do tempo (que surgia) como direcção curva que lentamente se chegava em limite, como fora a preparação duma entrada, uma desaceleração, uma primeira manobra, faziam-se precisas as linhas da relação, numa certa elegância, nas precisões do movimento, nesse plano, em leis da condução da trajectória, (da razão pensou), uma não alinhada trajectória que adquiria as leis de uma certa possibilidade espacial, que dali se regulava.

(Tempo)

“… passa para a segunda transição e desta para o seu vizinho …”.

Uma introdução. A imagem.

O sinal de fundo tomado num certo fechamento da figura.
Coincidira a forma, (terceira dimensão acabada), e acendera um olhar, nos gestos por detrás de uma cortina em chamas.
A progressão das sombras que emergiam.
As danças vagas, os gritos mudos.
O fogo solto nas imagens que nasciam.
Vago pormenor que sentira.
No ponto de um pensamento tomado.
Dirigira uma atenção.
Ao vago sugerir das histórias.
E nas voltas dessa fogueira.
As sombras à sua volta.
Pensou: era como se o surgir dessa cortina em chamas fosse o irromper do tempo desencadeado nos ápices do fogo. Numa relação.
Chegara: o tempo era um rio atingido.

(A “ultrapassagem” dessa (anteriormente) considerada linha limite no espaço surgia-lhe agora de uma forma lúcida).

Faziam-se as palavras.
O entrar das danças, do fogo.
Por detrás dessas sombras.
Ao fazer entrar os rios, as florestas.
Chegavam as cautelosas passadas por entre os gigantes à volta.
E os raios de sol por entre as ramadas densas.
Ao avistar da carne em silêncio.
O entrar das arestas em ferida.
Que jorra em vermelho.
Nas mãos que se banham na partilha.
Febre saciada,
E os olhares que fazem-se.
Interrogam-se.
No profundo do retiro ao fim do dia.
Ao cair de todas as estranhas colorações.
Apelos próximo.
Um cair frio, escuro.

11 de dezembro de 2010

Os pretéritos.
A instalação das fugas.
O discernir dos objectos.
A interna regulação das convulsões.
De uma qualquer maneira.
Na mostra da face.
E das vidas reguladas.
Em sofrível conta das derrotas.
Que acertava como que na prudência do acerto.
Aqueles rostos antigos.
Dos olhares em volta fechada.
Nos estábulos.
Em manifesto de toda a consideração.
Nos rastos da noite.
No lugar.
Apenas num ensaio.
Das rupturas a fazer perto.
As conquistas de um novo mundo.
Em tomada das posições móveis.
Numa manutenção leve.
Do caminho.
Traços de um.
Deslizar das falas.

O desejo diverge em saltos de uma não permanência da imagem, em espaço “preenchido”.
Todas as primeiras vozes.
Aquele prolongamento da noite.
O encorpado fogo urgente.
Permanecera o sol.
Em qualquer impossível.
Forjado das certas condições.
E nas linhas insistentes.
Dir-se-ia povoado das imensas multiplicidades, distendera-se e, como continuara, cruzou, tentou pelo menos, incomodava a direcção, pensou:

não iria pensar,
todo o dia passara,
e aí regressaria,
em tempo,
e como era difícil,
e no entanto,
estava,
e porque não,
a primeira coisa que lhe não ocorria era nada,
passara como um vulto,
quem sabe,
estado,
em movimento,
em rotação,
algumas funções elementares,
a posição dos olhos,
agora não,
uma certa naturalidade,
os corporais solfejos,
dos primeiros indícios,
do movimento explosivo,
(as fibras e não sei quê),
esquecido,
de uma certa maneira,
nos pontos de apoio,
do movimento encadeado,
como se fizera,
o que fazer,
na próxima manhã,
ou um dia,
uma coisa sabia,
sabia-o,
e apresentava-se assim
- havia de não ler, pensou.

Discutia-se então a eterna questão dos universais indeterminados e como isso lhe aparecia tão profundamente indiferente. Como os mesmos afinal. Pensou então: apesar de tudo estes existem mesmo e independentemente de tudo o que se possa dizer.

- Parece-me um pouco arrogante da tua parte, diga-se.

Mas não, repara, toma como exemplo, simbólico claro, a “zona mesopotâmica”, qualquer animal que a veja, ou sinta se lhe amplificarmos o significado, reage de um modo que é universal entre os animais, logo, a sua existência, a da “zona mesopotâmica”, neste sentido abrangente claro, não depende de qualquer habilidade ou distinção feita pelo animal que lhe reage, até porque é incapaz de o fazer, mas o que é um facto é que reage e quer seja à vista, quer seja, inclusivamente, (e isto é importante), à própria sugestão da “zona mesopotâmica”, reage e pronto, logo existe, a zona, quero dizer.

Bom, bom, mas que feitio, apesar de tudo parece-me um “raciocínio” bastante “coxo”.

Que o é, sem dúvida. Mas faço-te a inversão da prova. Imagina: és um animal, não pensas, não pensas, logo, não existes, se não existes também as coisas que vês não existem, para ti, pois não possuis a habilidade de assim as considerar, reages, no entanto, à presença ou à própria sugestão da “zona mesopotâmica”, logo, e assim que te recolocares no lugar que te pertence, o de “homem hábil”, tens de considerar que, se estes elementos a que chamas universais, sejam eles aqui indeterminados ou não, têm, desse teu ponto de vista, “existência”, e, seja essa existência, que dessa tua posição não podes deixar de atribuir, nas coisas ou fora delas ou ainda existência distinta ou não nas ou das coisas, tens que considerar, dizia, ao observares o comportamento do dito animal, que, diga-se, está-se positivamente nas tintas para tudo isso, tens que considerar que, dizia, que, apesar do dito animal não ter o discernimento que possuis nessa tua qualidade, o que é um facto inquestionável, tens de considerar dizia, que, é um facto que este, animal bem entendido, reage, de facto, em função daquilo, ou de “alguma coisa”, a que tu chamas, e bem, um universal, seja este, como já disse, qualificado e situado como bem entenderes, e, dado que o animal, que desconhece, reage, às coisas, é porque algo está nas coisas, “isso” de que falamos, caso contrário, o animal, que não faz a mínima ideia do que é “isso”, não o faria, reagiria quero dizer, às coisas - caso contrário terás que considerar, pelo menos, a existência de singularidades universais na “mente” do animal, pois se não é às coisas que o animal reage algo teria que estar, nessa forma, na sua mente.

Julgava-te um pragmático, de qualquer forma, admiro a profundidade, mas parece-me coxo na mesma, embora tenha melhorado.

Hm, nasci em campo de ourique se ajuda, mas podes considerar um cheiro, um som, um simples olhar, são igualmente marcas elementares; e um cheiro é um cheiro, nas, das coisas.

Parece-me melhor.

Sim, afinal os animais não têm “zona mesopotâmica”, pelo menos que me lembre ou saiba, talvez o porco que é assim rosadinho, não sei, onde queria chegar, meu caro, é que esses universais, de que se fala, esse tipo especial de universais, bem entendido, são os elementos (e)feitos do jogo, da composição, e, como bem sabes, embora estejam ligados aos corpos que os vão carregando, ou nestes surjam, e apenas aí o possam fazer, têm, porém, uma existência universal, aqui e ali, dentro e fora da série, embora seja dentro desta, na minha opinião, que estão como peixe na água.

A ver, e quanto ao problema do acto acidental ou contingente?

Bom, brincas com coisas sérias, responder-te-ei como o posso fazer neste momento: fomentado na série - sem mais adiantar – tendo o seu ocasional corolário no desencadear-se que sai fora do tempo e da série, mas sabes, toda esta questão da “zona mesopotâmica” resolveu-se rapidamente em espirais de fumo azul que volteiam, distendidas, numa lenta ascensão rumo ao vazio, digamos apenas que, nesse sentido, do acto acidental, bem entendido, teriam sido dois dias e duas noites naquele lugar que, assim, se teriam resolvido sem resultados desse movimento maior, enfim, talvez na próxima.

Não percebo nada, é muito hermético.

É, bem sei.
“Alguma natureza é móvel ou mutável, porque pode carecer de alguma perfeição que lhe possa pertencer; logo, o termo do movimento pode começar e, desse modo, ser feito … “

D. Scoto ; Tratado do Princípio Primeiro – ed. 70 (trad. Mário Santiago Carvalho).

10 de dezembro de 2010

Um “contacto” à flor da pele.

Chega-nos uma angústia na face física da impossibilidade. O “encontro” do corpo de razão, físico, com o corpo de sentimento, imaterial, vice-versa; seja qual for o objecto o paradoxo mantém-se da própria divisão. Daí toda a irracionalidade, e os jogos, e a dança, a tragédia, o drama, enfim, a matéria do que nos apela, nós, o outro, (tu afinal). Este “combate” entre a materialidade do corpo e a imaterialidade do sentimento é a necessária condição de limitação da matéria, é própria produção da matéria, mais, é a própria matéria que, limitada, flui – é, realmente, o instante da impossibilidade das palavras, qualquer coisa que nos move à novidade, à dor, ao progresso das construções fechadas, o mais acabado dos mecanismos culturais dos diques e dos labirintos, das condutas, um oriente no ocidente. Este “reencontro” em corpo de luz é a imagem das delícias do regresso a uma “linguagem” sem observador onde todos os olhos se retiram. Esta utopia do amor suspende-se na impossibilidade que tira, dos seus rubores, a marca do progresso, da inovação. Um sonho do corpo implantado em doce recordação da luminosa reunião, vislumbre do momento da matéria, primordial implantação do instante da memória que vivemos, (como que de trás para a frente, ou vice versa), reflectido em angústia e como fora uma primeira pedra que é o instante da “separação” fundado como veículo da imagem, a imaginação. Sublimado momento da “violência”, uma saudade de nada. Bem real (no entanto) na sua força, civilizacional até. Inventamo-nos à razão dos corpos o excedente signo do mais poderoso dos mecanismos, afinal, como poderíamos viver sem amor, sem esta pluralidade. Todo o encontro assim carrega o nome de nós, seja um salto, um transporte, um combate … e um encontro assim é o poderoso íman que fundamenta todas as revoluções e avanços desta pluralidade que atinge as suas mais violentas convulsões da “arte” da decisão particular acabada, completa. No fundo é sempre esta busca, o encontrar-nos no segredo da noite, dos corpos da luz, em silêncio.
Como tardasse a uniforme adjectivação
Do peso
De qualquer coisa
Num dinamitado processo
Ao acaso da manhã
Nas sombras donde pudesse nascer
Um rio, semente dos acasos,
Das ligeiras maneiras
(prenúncio das marés vivas)
Das multidões desarvoradas
Que correm
Num esmagamento infalível
Aos ferros cruzados
Em queda,
Cantos do pormenor.
Dissera:
O adquirir da posse caminhara os lassos recantos do dia.
Subira o clamor das hostes.
Retirara-se. Surgisse.
Como morrera o amor.
E como pesa esta carne.
Como queima.
Como sobem as palavras.
Os represados rios duma vida.
E ainda é noite.
Como aprendi a despertá-la.
Ao activo das manhãs.
Que distribui uma certa lucidez.
(E não cai).
E esta vida dos muros.
E aquela inquietação…
Arde a fronteira
E nunca pára o território
Nas voltas em chama
Da noite ao preencher
De um novo vazio
Ao olhar sobre as casas.
Quem participa das abandonadas luzes.
Das linguagens duma exaltação das chamas.
Da súbita ausência, do permanecer.
Como vira o olhar do animal trespassado
Grito calado, em chama.
“Ah! A razão, a gravidade, o domínio das paixões, toda esta maquinação infernal que se chama reflexão, todos os privilégios pomposos do homem, quão caro custaram!”

F. Nietzsche: A Genealogia da Moral – Guimarães ed.
A cadência do desastre
E o tempo das plantações
Sejam os mesmos lugares
Os mesmos caminhos
As mesmas gastas vozes
Da silenciosa resposta
E como é doce
(Como sabiam os antigos).
Tudo igual à chegada.
Estas palavras, os olhos, teus que me agarram.
E de um extremo ao outro o mesmo frémito.
As cadências de uma multidão no encalço do relevo, dos novos lugares.
Como fora um reencontro dos lugares.
Nos espelhos de uma superfície fria.
Tudo igual à chegada, os olhos, teus que me agarram.
De um a outro o mesmo, grato.
Como toda a presença mecânica.
A fixação, a delicadeza.
Mais sombras, nunca satisfeito.
Sempre a mesma paisagem
Transportes de um mesmo espaço
O percorrer de um olhar fechado
(Como se perfilara de um certo espaço)
No espaço de um mesmo afecto.
Como fora uma barreira de matéria.
Revelara-se em tempo
De rompante
A ágil consolação
Do cair de todos os cultos
Em útil manifestação de alegria.
O colorir das vias
As suculentas mãos
O sangue em relevo
A nossa presença
Os vastos campos
A miséria de um mar frio.

9 de dezembro de 2010

“O tempo em pedaços no tempo”*.

(Uma imobilidade que trespassa).

Um após outro os objectos abrem-se e fecham-se ao atirar dos indícios do combate.
O reconhecimento significa uma elevação. O início. A exclusiva instauração do campo de batalha. Os “corpos” atiram-se apenas num instante suspenso em momentânea anulação do campo e o imediato recair constrange o “movimento” inicial.
É como acordar após o momento da paixão irreflectida e olhar em volta, ou um rosto altivo que fecha-se em linha escrita na face a marcar as dispostas combinações da matéria. É o momento da consciência. A intrusão do “campo grave” que é condição da consideração extensa, o marcar de uma direcção, a imposição de um jogo.
A consideração metódica do atingir da figura inscrita em campo, da posse, é o mecanismo da partição e o primeiro seccionar desta direcção possibilita a contagem. A quantidade. É como a marcação da dança em necessário preâmbulo do apontar sólido.
Isto implica uma mutação no “objecto”, um deslocamento do objecto, sua qualificação, uma instauração do sentido, da justificação, a função das genéticas condições da gravitação, da força. O tempo, que sentido em suspenso num instante se anulara, refundara, é, agora, “reconsiderado” num seccionado percurso na direcção do objecto e em função do oposto campo grave da queda, do sentido. Já não se trata, aqui, do tempo original suspenso, ou do seu momento, mas do tempo grave, que faz a sua aparição como que a acenar as bandeiras do desafio. A “direcção” inicial do “instante” é deslocada na direcção do desafio, da posse do objecto que é, assim, qualificado, transformado. O próprio campo. É um desejo (transmutado) de inscrição em campo, um reconhecimento pela posse. Este reconhecimento é a transformação do campo em função do sucesso, ou não, no desafio que é proposto da imagem transposta em campo no objecto, ou seja, já não na figura mas por meio desta. O instante do “desejo puro” que suspende-se em marcação tem como resultado, neste processo, neste após seccionado, a fixação condicionante do sujeito e do objecto. Função desta força maior que é a do campo grave, do reconhecimento. Poucos lhe resistem para criar novos mundos.

*Título de um dos capítulos de “O homem sem qualidades” de R. Musil.
Os corpos, perfilados firmamentos das imagens fixas dos recifes, marcam-se do olhar que ressente a estranheza da posição, manifestam-se. Um dia regressarei a casa, (seja lá isso onde for).
Quantas mais fúrias
Na soleira das casas
Saio na dor de um olhar
Retirado num desejo
Em "vitórias" da razão.
Caíra a manhã em pedaços
sobre a pedra dividida,
um recomeçar dos passeios,
a imagem velha,
um qualquer lugar,
as promessas de um dia passado
por entre as lentas multidões
e quase tudo o que conta
do ar rarefeito,
nada fica
sobre a pedra dividida,
depois, um recomeçar da imagem,
um qualquer lugar passado,
nada fica,
guarda-se apenas.

8 de dezembro de 2010

A ligeira indicação do ouvido
Escutara um potencial
De aproveitamento acústico
À passagem de uma seda viva
Busca do mais leve indício na imagem
Entre o olhar e o som
(Órgão da condição estética)
Um relevo do ar
Em espaço da respiração
Por séries de uma presença ímpar
E colunas de porcelana
Na cor perto
Da soma de um par de mãos frio.
(Occipital) a vi, no crânio de uma liga em pedaços, de som.

4 de dezembro de 2010

“Solidão: os crentes disputam com Deus, os descrentes, então, aprendem por fim a conhecê-lo. Não há por detrás disto nenhuma necessidade. Este mundo não é mais do que um ensaio entre muitos. Deus oferece soluções parciais, são os homens criadores, contradizem-se, o mundo constitui a partir daí um total relativo que não corresponde a nenhuma solução.”

R. Musil ; O homem sem qualidades – (da tradução francesa)

16 de novembro de 2010

Algumas (breves) considerações da espécie.

Apresentava-se, tal causa, como uma remota memória do processo, inconveniente, inconsciente, selectiva, dirigia, (esse processo), como fora uma implantação deixada, algo de mais complexo do que simples prazer, (uma primeira configuração sugeriria que este (princípio do) prazer estaria estreitamente ligado à reprodução da espécie, como fora a cenoura da reprodução da espécie, nada disto é novo), pensou, assim, consideraria um outro tipo reprodução que não a da espécie e aqui começava a configurar-se um outro género de fim, que seria o mesmo, pensou de novo; “o tempo do sentido é reflexo do tempo sentido, o tempo do sentido é “egoísta”; assim sendo, procuraria as razões daquela “inconsciência” na “economia do processo”, perguntava-se, poderia o completo despertar de uma tal consciência económica do processo pôr em risco a continuidade da espécie? Sem dúvida disse-se, poderia fazer essa observação, por exemplo, no índice de natalidade dos ditos países mais desenvolvidos, noutra certa auto-regulação do “egoísmo”, e essa seria uma forma de chegar a tal complexidade do prazer pois tratar-se-ia, aí no “conforto”, de uma continuação do mesmo, prazer em conforto, poderia então definir esta “transição” como um sinal da progressiva consciencialização da causa final no processo? Sim, sem dúvida, numa primeira abordagem pelo menos, pensava, esta inconsciência da memória terá, com toda a certeza, um sentido mais fundo do que o que acima foi posto, convenhamos; o fim é; disse-se, e talvez esta tomada de consciência que transita de um a outro em transformação do mesmo não atinja, não possa atingir, o fundo “inconsciente” da memória que se busca, (pois como poderia o corpo fazer-se consciente na sua “totalidade” afinal, sendo que, consciência é, essencialmente, um fenómeno “parcial”), pensou, enfim, poderia então talvez falar de uma gradual tomada de consciência, “biológica”, digamos assim, do fim, ou da razão? Sim, com certeza, e assim sendo, uma completa tomada de consciência desse tipo seria o fim da espécie, uma espécie de vitória sobre a morte, paradoxal vitória de um certo instinto de sobrevivência que, ao triunfar sobre a morte, culminaria em morte, em fim.

De todas as maneiras que dirigisse apenas lhe surgia um mesmo grande sono, um mesmo fim, e diga-se, apenas considerava esses exercícios de eternidade como se fossem a forma do desvelar das naturezas possíveis, antes, um parto de luz que, esgotados os pontos de vista, apenas deixara a certeza de uma razão, de um fim pensou, era esta a não imagem do desvelar, clara e distinta, o considerar na partida de todas as revelações cromáticas, quer dizer, assentes os pés, avançaria seguro em todos os mistérios da cor considerou, tudo o que era sentido partia de uma falta e recobria-se a cada passada de uma inacabada composição fictícia, como fora a matriz de um modelo que infinitamente se revelasse em possibilidade do reencontro, um paradoxal funcionamento que sempre se regressava no seu lugar, no paradoxo; o modelo “desculpa-se” com um fim para sucessivamente se revelar em contratempo desse fim, e isto é importante; pensou, observara-o repetidamente, (suspensa chamada, continuar descontínuo, permanecer distinto), como fora o canto do apelo da reunião que perfura em potência na direcção de um fim enquanto em acto sempre torna a revelar-se em separação, em fim, digamos assim, numa produção descontínua, extensa, a cultura tinha encontrado grandes palavras para esse processo do paradoxo, ancestral carne que dita a intuição das fontes que jorram, a vida a cada instante, em sonho do reencontro, nesta terra dos corpos, a impressão funda, de um espaço aberto na carne, por revelada máscara, doce, ao encontrar-nos no segredo da noite, e os corpos apenas de luz, em silêncio.

Era a isso que chamava uma grande palavra, âmago, condição que chamava, tentava explicar-se, seria, esse “estado”, como que a condição de todos os estados, e o instante seria, então, como a “identidade de todos os estados”, (e que duraria esse instante apenas, pois a continuação desse “estado” dos estados é o fim), como fossem os corpos tomados fora numa única condição indistinta, pensou, existia uma direcção por querer, extensa, importava fazer uma entrada, ao apagar dessa distância suceder-se-ia o próprio desse sentir, dessa separação, toda a questão lhe fazia o sentido assim, janelas para fora do mundo, um ficar na face da semelhança, da distinção, como se dessa entrada se esgotassem as distâncias e apenas ficasse o “mistério” em face de si, respirou-se, suspendia-se a presença, ficava, assim, como o próprio da imagem, o mesmo da semelhança, era, o momento onde se tomam “corpos” na imobilidade e se faz luz nos mundos que assim se iluminam, todo o (verdadeiro) canto nasce desse estado “onírico” que decide a busca, apela, encontra, reconhece, um silêncio nessa face, grandes as palavras que lhe chegam, que lhe fazem por chegar.

Nunca se tratara de querer, apenas uma urgência, não havia uma escolha, antes, uma certa “fatalidade”, o estar “fora”, nessa face onde faz-se luz, é grande palavra, e o fazer-se nos olhos, num corpo, são instantes radicais do mundo que rejubila de transformação, afirmou, não haveria mais respostas nesse segundo, o abraço da semelhança apenas deixa o silêncio, concluiu.

Fez-se em linha desse lugar,
o maior dos movimentos da fuga,
pois quando no peito apenas fica,
o que é certeza e avança,
solta-se o acidental dizer,
em acto de acerto,
às circunvoluções dos mundos,
e nesse instante,
acorda o torpor dos tempos adormecidos,
pois quantas vezes,
da vertical direcção desse acto,
atinge-se o coração do movimento,
que inicia todas as revoluções elementares,
nas partes desse mundo,
e em direcção que alcança,
nessa fronteira,
estendida num instante,
as suspensas terras do sonho,
acordado, ao cimento das unidades breves.

23 de outubro de 2010

Alguns devaneios da espécie.

(…)

Era a questão. Obviamente sabia do que se tratava mas, estranhamente, o seu pudor chegava ao extremo de nem sequer o escrever, chamava-lhe pudor nesses tempos.
E era no entanto, e de facto, um “objecto” dividido. Seriam então duas questões? Já por aí tinha ido - os “pontos de vista da matéria” - e diga-se, nem sequer pensava muito nisso, todo esse assunto lhe aparecia bastante esvanecido, apreendido, quer dizer, era apenas um - seja o que for um ponto vista, ou um objecto. O que sempre surgia era, então, um último movimento, cada vez mais distante, próximo, era nesses momentos que perguntava pelo tempo, talvez fosse significativo, pensou, esse aparecer das intransponíveis distâncias às portas do movimento final, como se a presença do limite lhe franqueasse as vastidões do vazio e a ocasional linha de perfuração contada, por mais que uma vez tinha pensado nessa aproximação que culminava em afastamento, ou vice-versa, tinha chegado ao mesmo lugar de sempre, os magnetizados termos do objecto, o paradoxo, claro. O tal objecto dividido, ou não, dos pontos de vista. Concluiu: tratar-se-á então, apenas, de uma efectiva desaprendizagem, uma posição sem imagem - se é que se pode assim falar da posição fundamental - quer dizer, sempre ao primeiro momento se precipita um movimento inverso, um funcionamento (de facto) que tem, como invariável resultado, uma cada vez maior definição dessa “não imagem”. O facto é que lhe não discernia o fundamento profundo, dissimulava, não lhe suspeitava um fim, antes, toda a racionalidade repugnava-se dessas conclusões e talvez daí o predomínio da frase curta, irreflectida, como se, encerrado em tal racionalidade, tivesse que forçar a passagem, o seu aparecer, mesmo que fosse assim, irreconhecível. Assim, era um estado de contínua inferência, todas as tentativas do vazio que perdiam-se sem chegar a ganhar “forma”, significação, uma direcção contrária dos mundos que perpetuava os instantes suspensos na face da agonia, daí os cíclicos vómitos das palavras, pensou, como levar os dedos à garganta e forçar uma leitura das entranhas, uma adivinhação, alguns breves instantes de definição de imagem que consumia-se em manifestações de segunda ordem, seria? Nada do que era mundo notava, como se tivera caminhado uma longa linha estreita e adivinhasse o ponto do combate. Sabia com toda a certeza do que se tratava. Interrogou-se então: o que era afinal um semelhante? Tinha avistado alguns nesse percurso e nunca se perdera em considerações de um conhecimento efectivo, talvez ali se não tratasse de conhecimento mas sim de reconhecimento, determinou - como poderia conhecer o que quer que fosse, pensou sorridente. Um estender do tempo ao “infinito”, isto, nada tinha de metafísico ou transcendental, observara, os corridos olhares do mundo em busca das aderências perdidas. Lançara-se desenfreado, tardava, talvez tivesse chegado, enfim, talvez fosse assim, talvez nada.

Surtos da matéria
em busca dos vasos receptores,
de todas as circunstâncias,
de um movimento a decidir,
no lugar,
das cisternas de alta pressão,
em desencadear de qualquer coisa,
já mais distante das palavras,
e da figura,
mas ainda um corpo,
a rebater as invasões da matéria,
como nas asas de um descontrolado voo que caísse em piques a fundo encerrado,
em todas as formas da separação,
nas grandes e coloridas palavras,
de um fogo dentro, inesgotável,
e uma chuva fresca,
que caísse o corpo incandescente,
apaziguava o consumo eléctrico num sentimento estendido que perdia os seus traços de imediata presença, distenso, metódico, refrigerado em palavras, escapava todas as alavancas: o sentido, o combate, o desejo, a extensão, a queda … todas as entradas apenas pretendiam, se alguma coisa pretendiam, uma exaustão,
todas as presenças do vazio,
nas indistintas multidões da luz,
faziam-se presentes,
como num traço melódico,
que subitamente surgisse,
na curta frase,
ao trespassar do vazio,
por certas musicadas linhas,
que ficam,
como as suspensas frases,
de um mecanismo sonâmbulo,
e era uma disposição externa agora, as curvas de uma entoação melódica que alternadamente insinua os acréscimos da (pesada) necessidade, motivos de um movimento, fácil, subtil, desnudar de uma observação, palavras, música e silêncio, em alternância do apelo simples que continua a necessária e permanente guerra, como que pensasse uma subtracção dos movimentos do embalo,
num silencioso correr,
na marca de todos os limites,
as vozes e o silêncio,
em chamadas do choque falaz,
como foram recipientes do acto que reage, vocifera, os contornos do real, as fontes de um movimento perpétuo,
não deixaria espaço,
a razão, o desígnio,
a toda uma função preenchida,
nos incógnitos viajantes,
que deixam traços de sombra,
vasos de amor e ódio,
(a passagem dessas sombras seria uma qualquer suposta visibilidade estranha),
apenas uma questão,
ficava urgente,
por acabar,
nos compassos do vazio,
que continha,
as frases soltas do desvelar.

13 de outubro de 2010

A entrada do instante,
em conjugada observação,
dos simples significados,
a curta distância,
do corpo imediato,
(e no anterior pensamento)
que deixa uma coloração pesada.

(alguns momentos matinais da espécie.)

Desagradava, era, ficava incompreensível, tomasse de vez a via das formas e essa natural queda dos olhos deixaria de comunicar-se da informal sensação que antes corria numa fácil liberdade, de qualquer maneira ainda não tinham surgido os sorrisos nesta imobilidade inicial, nesta instituição do momento, valia por si o ensaio (da extracção) de tais significados, que, assim alterados, se não apresentavam evidentes, antes, buscavam uma recordação, o deixar-se um fio, uma posição, era, como se ao deslumbramento se sucedesse o esforço ou ao recaído contacto desses pensamentos se seguissem as reinvestidas dos corpos físicos, como se nessa fronteira apenas se sobrevivesse à força e a custo de uma desconexa insistência, física até, decidira-se logo que apercebera as modalidades em jogo, era, um exaurir ao fim desse combate entre sombra e luz nos conglomerados de resíduos que flutuavam como que colocando-se ao alcance de uma qualquer chave que os libertasse, pesava, o que instantes antes fluía, e ao cair no choque da vigília ficava, assim, em cor do peso ao olhar interior, era, como o sentido da permanência que se misturasse às decisões do dia, este processo, em tudo mais que uma razão, talvez uma razão obscura, muito mais que um mecanismo, a sombra de uma face, a figura dos mecanismos da permanência em estranho resfolegar das posições imóveis, a esta mudança, chamemos-lhe assim, e agora que timidamente por si passavam as primeiras luzes, não podia furtar-se a tensão que desses momentos ficara em matéria pesada, como que num quadro que, chegara formalizar-se, funcionara decerto o olhar das mais obscuras correntes, que passavam e, pela primeira vez, fazia-se dentro e fora esta espécie, com e sem, efectivo significado, talvez tudo se perdesse em breve sem que se definisse pensava enquanto todas as fibras desse pensar latejavam reunidas num único local, era, assim presente, como um estado unilateral do corpo, uma resistência de primeira ordem que exercia a sua ditadura ali desvelada em compasso, em controlada repetição, era, o tempo feito corpo inexplicável numa absurda urgência da inexistente explicação, agora, aproximava-se um contacto, uma distensão, a marcação do lugar, o pensamento do combate, não era concerteza o tempo das construções e tão pouco das reuniões, pensava de novo, este ensaio da tempestade apenas deixara uma observação eficaz, uma recusa, já não recordava, tudo surgia numa perda.

Que horas serão, disse, está um dia bonito.

6 de outubro de 2010

Fundos de alguma coisa,
no que cedo se diz destina,
a uma educação do tempo,
circular das respirações,
nos olhos caídos dentro,
dum salto às ilimitadas
quantidades de saída,
em observação da percussão,
da memória,
dos ambientes tensos,
num sacudir lento,
da tinta do som,
das gemas preciosas,
das águas progressivas,
dos enviados distantes.

O significado das combinações ao pormenor da gradação.
Os diversos malabarismos da extensão multiforme.
Os invisíveis muros do aventar de todas as hipóteses.
As magnânimas sombras das novas suspensões culturais.
O momento da dirigida atenção dos últimos apóstolos da fenda.
Uma qualquer elevação da voz circunscrita. O contacto.

Além dos cabos enfurecidos,
meios ao assalto,
da aleatória disposição,
(n)os pés,
das estranhas passadas do abismo,
a sombra e a luz,
novamente,
em filamentos coléricos,
do magno assimilar
dos instantes,
numa das últimas razões
da voz,
mais curta linha cortada,
em todas as direcções do desastre,
magnéticos exercícios,
da invocação das palavras,
conotadas aos silos,
nas repetições do olhar,
e da frase curta,
vazio,
extrair, das pretéritas conjunções,
sua transformação,
nas melodias de sempre,
como o olhar moral,
das fontes rochosas,
caucasianos cantos,
do vertical apelo.

As couves,
os elásticos golpes de cintura,
a uva mijona,
as cavalariças do azeite e o altar dos fundos,
a chama,
as monumentais pedras vazias,
a efectividade do prego,
uma das últimas movimentações do cardume,
as tardes,
o pequeno almoço,
o movimento dos ponteiros do relógio,
o súbito bater do enfarte,
a carica,
toda uma envolvência dos perfumes selvagens, os olhos numa expectativa da voz,
uma certa musicalidade,
a tua falta,
todas as iluminadas avenidas e o plano das imagens sobrepostas, um bom filme, no entanto,
as abelhas,
a condição humana,
o pêssego,
a vox populi, a vitória ao rubro, toda uma corrupção dos costumes,
os grelos e as rabanadas,
os sismos na escala de richter,
o néon, a passiva inalação do fumo dos cigarros, as palavras,
as hortas, o seu cultivo, a decisão do sentido no momento da escolha que põe-se,
dois passarinhos, a digitalização das imagens,
o contrapasso da sugestão amigável e o indizível que precede o instante,
o pêssego, do instante,
a face do abismo,
(a luz),
os vestidos de verão,
o subtil arquear das sobrancelhas,
o sétimo dia,
a meditação transcendental,
et caetera,
as massas e o esparguete à bolonhesa,
outra vez a face do abismo, a revelação e o arquétipo norte,
a etiquetagem, as maçãs reinetas, a parte pelo todo e a queda dos jardins suspensos, os golfos, as sumárias migrações das silabagens,
o “cava-me a morada”,
as originais condições após da direcção maior e o regresso ínfimo, as entradas dos sótãos, os buracos das agulhas,
a matéria negra e a dupla direcção espaço temporal das partículas,
a sandes de fiambre com manteiga,
quanto baste,
a elegância do traço,
e outra vez o instante da escolha,
fiat,
a separação das águas,
aquele indivíduo,
potlatch,
é vocemessê,
qual troca de ideias, na volta do correio,
abacate assim,
a vagabundagem nas costas da cilícia e a celebração das grutas em toda uma mediterrânica movimentação da volátil incorporação dos sistemas, os nascimentos,
o estômago, a liquidação dos juros,
aqui, quando regressares, volta-me, devagar, na insistente face do abismo, (d)o duplo sentido, os gansos de lorenz e as revelações mosaicas, açorda, não,
o totem,
as cores e as estacas,
a postura,
o acenar da festa,
o salto, (o quanta de custo)
o totem de novo,
sim, sim, claro, como numa noite de luar intenso, que se tenha em boa conta, lúcido, como a pescada de rabo na boca, passa-me esse, com cuidado, mas conta-me tudo, ao mais ínfimo cataclismo solar, lembra-te, mais vale um copo cheio que duas frutas amassadas, sendo que, até ao lavar dos cestos sempre se comove, ou não, contanto que se coloquem todas as sugeridas vicissitudes da pastilha, do nervo, nada disso, todo um sistema das palavras.

2 de outubro de 2010

Subitamente vasto.

Instantes da corporal
movimentação
da procura, dos ambientes
da forma, das memórias
da condição substituta,
dos sistemas da tradição molecular, num atiramento das entrecortadas palavras logo pela manhã, activado aos filamentos da voz, e num trabalho dos olhos, pela primeira vez aqui,
em ensaios dos verbos,
como a fibra dos olhos leves,
ou os centos da correria,
ao coroar das soberbas culturas, por súbitos do mesmo desvelar constante, o acabado exemplo dum funcionamento mecânico, (n)um contentamento das espécies, tudo, como um grande amor,
o absurdo das vivências da imagem,
as ictiformes adorações da movimentação servil,
as arbóreas escaladas da imagem fixa,
os curto circuitos da caracterização carregada,
em repetição de todas as máscaras,
na festa da queda dos corpos,
na calada dos cultos do mais longo avesso,
ao som do acaso,
e das sóbrias conclusões colheitas,
no altar do vago renome das heráldicas, em agraciações das alturas do gelo à conquista dos firmamentos, uma insinuação das polémicas situações, agentes, dum certo tipo de mentes retiradas,
dos céus em desvario,
das multidões roucas,
da extensão dos lugares múltiplos,
das miríades,
noites da luz desperta … depois, era como quando se encontrasse alguém na junta muralha das praias edificadas, junto aos situados planaltos do silêncio, no cabo frio de todos os percursos da retracção.

Urgência dos outros horizontes que soltam-se das cortadas qualidades das palavras ao preencher daquela tonalidade que deixa a sugestiva, assente, abertura da memória. Equilíbrio ténue por sobre o fio da reflexão dos comportamentos à vista, um exercício em posse da distância da comoção que deixa, assim, o lugar da prosa aberto à entrada, uma novidade da implantação, dos espaços. A sugestão desta movimentação da vivência - a repetição, o indicar, o afundamento, o dissimular, as descortinas da violência, todo o irromper das marcações das palavras, suas significações de superfície – é como que a confirmação de uma primeira ideia, um estar o sentido no meio do labirinto das vozes, das subtilezas, quer dizer, pesa, sucede, deixa o desvanecer ensaio duma alteração do ritmo e manifesta-se após em movimento de transformação a qualquer coisa de angústia, um desprendimento, um sentimento do tempo. Esta inacessibilidade fica na vontade como as tais realidades perdidas e a primeira descoberta dessas extensões é o ânimo, uma entrada nos mistérios da distância que marca, corrige, as antigas direcções da imagem como se foram tais palavras uma vida e a matéria fosse o próprio tempo das proposições, as partes duma transformação temporal onde todo o efeito se apresenta como escolha, do ritmo, da sua significação real. Como o entrecortado da inscrição do horror e da queda nas imobilidades ou o fluir interno dos ritmos dos objectos desvelados nesta apreensão das realidades físicas, perenes, como o estacar ou o fluir dos rios magníficos em cabalísticas manifestações da serenidade e da impaciência, em cultos da criação. Trata-se, de facto, dum surgir da verdade e da dissimulação o que tem todo um alcance neste emergir da impaciência já que distancia o peso do sentido em vida e não se reveste, afinal, da maior ou menor importância, qualquer dos juízos que daí se possam exprimir acerca das necessárias tomadas de posição da frase e dos seus mecanismos de ignição ao fluir em linha longa, trata-se, apenas e sempre, no fundo, de um combate e de uma queda, de um caracterizado recomeçar mas de um recomeçar, que não é um qualquer anteprojecto da transformação métrica mas apenas o imediato da imagem como conquista, quer dizer, como fruto a colher, efectivamente ; uma necessária futilidade de toda a ascensão que condiciona, assim, mais do que uma qualquer rotação ou sentido, o sacrifício efectivo da exaustão e da abertura. A dois tempos. E não será concerteza por mais de uma condição dos elementos da religação que toda a consideração surge assim, não formalizada, em escorreito fluir da extensão, num exercício previamente necessário de invisível tacteamento contínuo que – neste estádio impaciente dos corpos, em que o desejo chega a uma definição de imagem e torna-se movimento – apenas significa, por si, um retrocesso no caos da condição obscura.

Pois de toda esta reflexão surge a repulsa de toda a reflexão e esta não é mais do que o necessário preceder do próprio da manifestação que descreve-se como combate, como aniquilação, o momento físico do transporte, sua manifestação segunda, prévia, da desordenada decisão lançada, aqui, nas tomadas do desprendimento da voz que solta-se em linha dos encerrados fundos da permanência obscura. De qualquer forma é apenas um dia, esclareça-se, um certo tipo de movimento que toma, da sua própria manifestação, o signo de uma insuflação profunda, uma marca de repente, um toque do calor, súbito.

Apresentava-se a tarde desértica
E os regatos corriam frescos
Escureciam-se em vaga presença
Os sulcos da terra sedentos.

Nada no entanto ao cair da noite ascender de todos os costumes,
a retirada das palavras,
o calor das alterações,
a indicação dos sentidos,
os mundos à deriva, o subitamente vasto da luz em momentos do toque irrepreensível que fica, dos suspensos planos da magnitude em flor, (sim, também as flores, os amores, as outras dores que se alcançam, o apelo dos campos verdes, o sumo das idades que cantam), numa qual tarefa das naturezas longínquas, subitamente vasto de todos os percursos,
das ruas,
das cantigas do bem estar,
nos sólidos acessos
interditos, inexistentes ; pois bastariam digo (e a conclusão é das palavras que se distanciam, desconfiam, que por fim não são mais e retiram), as veladas partículas de toda uma produção das segundas naturezas,
nos sonhos de uma multidão cega,
pelos corredores da cantata,
ao sinalizar das pontuais carícias,
em curiosidade das manobras,
e na contracção dos envolvimentos,
das serenidades simples,
em imposição dos desafios válidos,
da ágil desenvoltura dos arquétipos nus, que como cai-se em sensação de desperdício à satisfação da descoberta,
os mais atentados da manifestação arcaica,
lançados num volteio largo,
em palavra final dos mundos,
repartícula de todos os sentimentos acabados,
recaídos nos corpos,
duma aparência putriforme,
qual mais,
passagem dos corpos violentos,
nos restos do vazio,
roda,
das normais resoluções ; como um tudo vago, sonorizado, solto, quase que agradecido e sumamente afeito às condições naturais, sereno, condicional, tomado em convulsões duma observação dos elencos, em retirada das cenas,
nas partes de uma parte,
de um apurado rubro ao acaso,
por maneiras da matéria,
que revela-se nas palavras, do dia e da noite em linguagens do que tem-se na junta observação dos asilos, os manifestos do além e uma circulação do ar quente, sombra e luz, aqui e ali,
as fontes em cadência,
as condições abruptas, dos totalizados pontos precisos em manifesta convulsão dos arquétipos como as sondas ou as perfurações do solo ultimadas às preparações do engano,
em favor das hostes,
sugerido a toda a palavra, em conjunção dos simples das manifestações oníricas como num sonho da palavra expandida ou um qualquer coisa que sistematicamente se oculta, subitamente vasto.

27 de setembro de 2010

Os espelhos assassinados.

Um fio
dos corpos,
oculta,
urgência,
(que)
cresce,
apoteótica,
flor,

nos sonoros actos duma abertura ampla,
dos corações tomados à chama do peito fixo,
em jogos do sentir os actos do suspiro baixo,
(monocórdicos monólogos da oração),

à maneira das encerradas almas morais num raio de luz em chama, oito, os prisioneiros da maré solta,

nos sulcos da terra,
no sincopar dos asilos,
nos passeios da pedra,
na direcção do pó,
do contacto,
em passo lento,
ao olhar em volta,
a voz, das resplandecentes visões da carne,
nos raios da terra,
da disposta pele do desejo,
ao sol da terra batida,
e na luz baixo,
em opostos da celebração,
por fixação dos contornos da delícia,
cantos da informação triste,
os castelos duma encenação crua,

saímos, pois,

de braço ao sol da manhã em saudações da melancolia
como os rios dum fluir vazio na voz do silêncio
acordado aos acordes das quimeras e nos passos em parada
das (quentes) linhas das momentâneas manifestações da suspensão,

o tecido da brisa sobe aos recantos da movimentação cuidada,
arestas dos tectos da luz distante nos assentos do vazio,
a um tornar do passo cai-se a atenção do movimento profundo
e a tracejada pele disposta em contraste ao olhar da arte da posição
faz rios dum clarão branco, perto isso, num mais uníssono
da carne em fogo ao tecer da direcção do desejo,

condição das eiras,
dos círculos da implantação,
dos dentes do centeio,
um outro que fica como as vozes em desafio,
à sombra do percurso
dos rios,
das alas frondosas,
dos recantos da terra fresca,
dos outroras,
das óptimas saudações do enclave,
dos maneirismos da cor,
das últimas sensações,
das degustadas violências na madeira,
veios, do corpo ascético,

surtos do ar solto e fundos fumos das espirais em subida, ficas, como a dor nos cravos da terra seca, sim, em traços da cortesia, sim, em restos da permanência, sim,

como a coloração das águas híbridas,
ou o seco sincopar dos interlúdios,
positivamente fito da luz plástica,
num assalto à matéria do mar,
nos cabelos da chama,
nas direitas frontes,
na suave e férrea condição do amor,

(pão do pão,
ritos da perdição,
no vão escuro,
do significado culto,
das lágrimas,
em retorno),

às secretas ausências laminais da pedra que são facas em sinfonias altas do pensamento obscuro, quer dizer, as sabáticas permanências do caos, estas signo vazio, das subidas de um ar, leve, traço, dos cantos duma génese perdida,

os
círculos
do
(valor em)
fogo,
das povoações ribeiras,
do sal,
todas as suas notas,
a viagem,
os salgados mares,
a última das significações,

em explosão de todos os engalanados afectos nas mais provas do amor assim, nas palavras da paixão, sim, nas derivas do circular contorno que fica como o som dos tempos que correm, preposição dos ambientes.

(Um primeiro momento.)

Os sedimentos, as silenciosas montanhas,
os interstícios condensados dos sulcos da matéria em formação,
as subidas de uma transformação lenta,
aos caudais da irrupção magnífica, límpida, por fim.

Mais como o prazer
sonoro, mais
a noite e um seu estar,
as falas do riso tépido,
no colo claro dos sítios do silêncio,
em solução fria,
na distensão de todos os sorrisos,
qual feito da mais sofisticada tradição dos ídolos em escaparate,
ouça, como qualquer assim num rasgo frio, as tais qualidades do fazer maldito.

E o porquê, não, como a forma do que, sincopado, fora uma linguagem soturna, a qualquer onde, em manifestação de todos os ritmos tropicais, o fogo, a queima, a lua, ruborizada, tudo, isto, atravessado da mais diversa opinião, plástica,

imóvel imagem do horror,
da permanência, dos espelhos,
dos relógios, do súbito olhar,
dos perplexos momentos,
ao encher dos vasos comunicantes,
nos espelhos assassinados.

Por quem, nas magnéticas leituras dos olhos fixos,
já vai nas palavras chegará aqui,
aquando da chamada voz em surdina,
à linhagem das partículas em desordenadas sinfonias ;

ao longe os cadafalsos do condado,
as preparações do mundo em ebulição,
as lógicas da desgraça,
as utilidades,
a extensão e a mobilidade,
o quando em vez da manifestação musical,
o taciturno da incineração volátil,
o chega ali,
dos mantos desvanecidos,
em surtos da longa louca locação,
nos activos fundos mananciais,
do peso solto,
e da chuva que não caísse,
ou um pó seco,
estranhado,
nos momentos súbitos,
do culto atirado ao papel seco,
como uma flor,
nas tintas dum pormenor,
azuis de uma insolação violenta,
e os tédios,
fios da noite vaga,
como o cada de cada um nas faces do aproveitamento das espécies,
o andar,
do sorriso,
pudera ainda antes do pão aberto e das faces incandescentes,
do cartão prensado,
dos sólidos,
do calor de cada dos avanços,
do movimento,
mesmo,
nas rasgadas mãos da imagem,
feitos do sangue,
derramado em foles da mais alta manifestação,
repito ontem,
como hoje,
nos espelhos assassinados,
nos instantes quebrados,
dos caminhos das fontes,
adentro de todos os mecanismos da indução,
uma qualquer coisa,
que por fim solta-se,
instante nos lábios,
em consolação das águas,
e solta-se em ligamentos da alta noite,
nos rasgados véus do pensamento,
ainda não,
num ténue movimento dos corpos subtis,
veículo de todos os sons,
já não,
livremente,
como as cantigas de amor,
ou as missas espalhadas no lugar circunflexo,
numa tarde, sim, por fim, sim.

(Um segundo momento, mlk.)

Pois já tardava então o culto das palavras
ao atingir das ignições do desprender,
como nas clavículas da respiração compassada
em esquissos dos patamares do alcance,

o súbito das monológicas noites da hipnose em ciclos da paixão e nos verbos à queima dos corpos subtis, as vísceras emblemáticas, os fundos da terra viva.

Partes em convulsão dos ogres altivos. As rodas. A borrasca da noite grega. Os outrora sombras da fantasmática geometria. Os antigos horizontes das costas. As castas das retiradas areias. O que fica da prece e dos símbolos, do canto e dos louvores, dos espelhos assassinados.

22 de setembro de 2010

A vertiginosa velocidade do afecto,
as faces do assentar do tempo,
a ignição da memória, quer dizer,
a inconsciente criação da memória,
irascível manifestação das condições,
nas golpeadas, linhas da progressão temporal.

Um quadro.

Onde vou diz-me o instante que se depara.
E o que quero diz-me um certo reconhecer.

Fora do mundo preenchido em tomadas do movimento dito puro, as imprecisões e a cidade em oculta movimentação dos sinais, o estar longe, a manifestação do afecto, o desvio dos objectos e a face da indecisão, da ausência, o cansaço, a continuação. As palavras que não escrevo são (junto ao verbo) como que a manifestação do respeito, primitivo, (mágicos) caudais da repressão, da carne em maresia, os momentos de uma selvagem cordialidade. E a activação de um (tal) movimento simples passa pelo movimento simples, redundante, distraído, em cadência, em cadência … apenas me perdi e já tarda o desfazer dos laços, dessa imagem.

Essa remota mensagem.

Cantos da sublimação
permanecera gratificado
o silêncio na espera
do conteúdo (dos livros) da reencarnação,
a suposição de todas as histórias,
os eventos do sonho,
os comandos do plástico.

Do torpor
nem uma palavra
(em cada que fica),
ao resfolegar das posições físicas,
o cansaço da guerra,
aquilo a que chamam a … ,
o cansaço.

Batem-me o corpo
miserável
as horas e os minutos
deixam
como que cortinas
do torpor
em todas as quedas
no corpo, quente.

Uma mesma situação do vazio à sombra das renascidas cinzas feéricas, uma outra manifestação da sonolência, os liquidados, a saudação, insisto-me então numa impossibilidade do diálogo que muta-se em soluçar do silêncio, espaços à força, pois, cedo se retiraram dos objectos, das palavras.

Curto diálogo.

- Vamos, o regresso, o reconhecer, o cordão, os limites.
– Afim, logo, numa simples constatação da evidência, qual a consideração, sim, qual a mais alta das considerações na vida, enfim.
- Nunca é tarde a tarefa da lenta e cuidadosa proliferação dos objectos, o cuidado.
- Mas o sol e a incineração abrupta do movimento, a curiosidade, o abjecto.
-Todos os lugar-comum, que mais.
- Como dizer o lugar na sua ausência, o apelo do espaço no vazio, sim, quero dizer, as apoteoses da instalação nos edifícios calcinados das fontes, como dizer o permanecer, o ócio.
- Pois que são as posições da permanência que contam, a luz, já dizia.
- A luz dos edifícios batidos e calcinados em dor, sua pele arrancada, bocados de uma velha história dos cheiros e dos diálogos, o atrevimento mais que corrido no asfalto cru, siderado, a busca das palavras ou qualquer coisa, uma chama, uma preposição, a continuada posição do delírio.
Depois.
As posições vazias do espaço,
a impossível tarefa da inscrição das palavras,
seja, como um vogar absurdo,
em continuação do peso destacado,

(n)as ligações do momento,
(n)os satisfeitos corpos do enlace,
a vida como um rodopiar dos corpos soltos,
na matéria, fugazmente,

como quando soltam-se
as palavras em não sentido
da musicalidade, simples
situação do acaso, do costume,

console-se o corpo dessas latitudes
como numa voz que tomasse-se antes do sono
em fugaz presença dos altos,
nos esquecidos escritos do sonho,

da indelével maternidade crua,
eu digo, todas as manifestações,
da crueldade, da generosidade,
da entrega, um sacrifício até, enfim,

nunca me passa a razão
da partilha, até aqui,
retraíra-se o corpo na face, do
mais uma vez as manifestações da imagem fixa,

era, como numa invenção da linguagem,
uma observada concorrência
em corpo de todas as manifestações
da prepotência, do cálculo,

com tudo da leveza que desarma,
dispõe, as matérias mundanas da luz,
feitas do acolher,
na porção dos gestos e do silêncio,

em amálgama dos corpos
fendidos, em terrenos do sol
e mais visões, no enlace do instante revelado,
as torrentes de uma água fresca e fria,

como as mais ternuras do conforto e da entrega no repouso de uma multidão, desértico.

16 de setembro de 2010

Os tempos da inércia travada em sinalizações da constância. O humor. A consolidação das imagens fixas nas costas do tempo que sobrevoa. As mostras da carne. O dizer. O contraponto. O ciclo como que em estado puro da transposta inércia nas costas do tempo. A vontade. O partir das ancestrais movimentações da carne assada. O dito tédio do ciclo, interrompido, diz-se; como a natural composição das naturezas em oscilação,
a teia, o arreganho, a indiferença dos olhos, a velha violência das agressividades naturais como as infâncias dos povos em sobressalto da matéria cega, uma actividade imóvel das grutas, dos altares, à face do tempo, enfim,

a carne é portento,
a carne é fraca.

E as gloriosas manifestações do esplendor carregam os antros das naturezas e o jogo que assim conduz bate fundo na matéria liquefeita por convulsões que tornam constante a dor. E quando lateja a carne ganha-se um movimento de perda, ganha-se digo, uma predisposição nas condições da queda que investe-se em monotonia da consagração,
em derivação do objecto, enfim, como foram as diferenças culturais da projecção, entenda-se, centrífuga, centrípeta, uma extracção ou uma possibilidade.

Por muitas vidas correram as horas da qualidade acelerada, a utilidade das concepções, as manifestações da extensão e a projecção do momento, do instante.

Às entradas no vale justapunha-se o sangue das fogueiras, os tapetes, a cobertura, o recolhido apelo dos corpos que falava a linguagem de todas as eras em dilúvio, mais do que isso até, mais qualquer coisa, como a senda da espécie à sombra dos toldos desfraldados como se foram bandeiras do prazer e dos corpos da espécie do prazer e da dor por corpos incinerados nessas fogueiras em conjunções da matéria ancestral irradiada, a saber, a saber. E quando grita de novo a conquista e a permanência dos corpos na matéria disposta aqui por concêntricas circunvoluções das lutas e sacrifícios a carne em fogo liquidada dos instantes da matéria incandescente renasce em tijolo palavras tectos de toda a manifestação agrícola. Ficava longe, nessas horas, o cativeiro das almas à deriva e o sol descia sobre a terra a produzir as humidades, requintes do libado sangue das ladeiras cobria por completo o chão desses sacrifícios e num sussurro ou num lamento desfolhava ao invés as contas da condição do dilúvio,

(como fora uma maré alta),

badalavam os sinos
então,
agitavam-se os ídolos,
cantavam-se as canções,

e os animais rasgados dispunham todo o povo dessas conquistas no chão desbravado das eiras em concerto, em lavagem, por muito se atingiu a carne no corpo, simples, imediato.

15 de setembro de 2010

Outra vez as palavras e a tensão que fica no emergir das cabeças pensantes, à face. O solipsismo e o ensaio das vozes, a audição. “A longa e ruidosa manifestação de tudo o que percorre”. As subtilezas da palavra, o conclave, a luz do dia. As perturbadas emergências e a luz do dia. As conjecturas na face do vazio a posição e o movimento a qualquer preço. A única visão do acerto e a (perturbada) direcção das reuniões à face ausente, o desvio, a indiferente matriz do sacrifício. O circuito fechado das palavras. O colégio das freiras. A condição das diferenças culturais da posição. A ausência dela, repito. O ribombar. A mais cadavérica noção das pedagógicas. O vazio e as aparências do peso e da circunstância e a calcificação dos convénios. De novo a luz do dia e a dissemelhança no núcleo dos convénios. As posições culturais e a nominação dos claustros, o combate. A configuração dos desvios cardíacos. A mais-valia da posição da imagem fixa dissolvida em nada. A violência. A remissão dos pecados. Ámen.

Logo após o navegar dos mares.
Implacáveis ondas da circunstância.
Os barcos à deriva.
O mais que não se diz.

A ancestralidade do processo da dor. A posse. A agência.

Após as primeira voltas do interlúdio o motivo da dignidade e da elevação em pretensa dança da colocação do protesto como o ciclo rodado que manifesta-se em sonoridade, em cálculo. Não és tu, não é nada. Como todo o ensinamento do fogo que realiza-se em contenção na mais fútil das colocações. Os olhos agudos e a saudade, tua ausência.

Por ti que toca-me a vida
preenchido dos breves segundos,
os olhos em silêncio, baixo.

Reafirmo e recomponho que os horizontes são áridos, metonímico.

14 de setembro de 2010

Um ponto da situação. A manutenção dos corpos físicos. O pulsar das primaveras e a noite e a sua ausência. Tu. A virtual ligação do amor. O afastamento na direcção oposta do ruído. O enfado e todos os olhares. Toda a experiência e manifestação dos corpos. O que fica da noite em pensamento de ausência. Mais real. O excesso de palavras. O alheamento e os movimentos das cidades. As novas avenidas. Os olhares vazios. As contas e o luxo. A estranha luz dos ansiosos cadáveres nas direcções do destino. As ditas direcções do destino. A posição e o movimento da imagem fixa. O duplo movimento da imagem fixa. O que não. O vazio, meio das posições do desgaste. O sol. O vazio das palavras soltas em convulsão fixa. O assinalar das posições e a confusão instalada no duplo movimento da imagem fixa. A reentrada da noite e da ausência. A fuga dos ansiosos cadáveres. O batimento cardíaco. As soluções metonímicas. A salvação como noção das psicológicas rendições. O sofrimento. A maré das vagas cardíacas em cuidado de salvação. O deixar. As pausas da impossibilidade e a experimentação. O desconforto e a hesitação e a face do sentimento. A posição da imagem fixa. As alternâncias comissionadas do embuste e a dupla direcção dos comércios sentimentais. Os recados da noite. A ausência como refúgio dos segundos preenchidos. O tempo. A continuidade dos fluxos da matéria. Os sentimentos da posse e da perda. A contracção dos batimentos cardíacos, o fluir. O alheamento a todas as manifestações e toda a movimentação da fuga, quer dizer, todo o ardil da renúncia.

Depois que florirem os campos,
meu amor, espera por mim
nos canteiros em flor, pela manhã,
em silêncio te abraçarei, enfim,
junto ao ribeiro dos murmúrios,
no tempo dos segundos iluminados.

Os mistérios da linguagem solta em cantos da saudade e apelo. As manifestações da presença simples. A contagem pura do desvio. A notificação do desvio. O quanto. A irreal unidade em conclusão dos inquéritos da imagem fixa. O duplo movimento da conclusão e o diluir de toda a fixidez. O retorno ao vazio como o sítio das conclusões, dos afectos. A insatisfação do vazio e da imagem e o glorioso sol da manhã. A inconsequência do caminho e os sons da cidade. As imagens. A rendição de todos os costumes do silêncio. A presença. A continuação do desgaste à face da imagem fixa contudo. A presença da noite. A presença da ausência. Os segundos preenchidos dela. A lamentável posição das presenças múltiplas. O cuidado e as mostras da perturbação da imagem. O referir da imagens silenciosas. A ausência. A continuidade da ligação e da imagem. Sua antiguidade. A soturnidade da presença da imagem fixa e a constelação de todos os desvios à face ausente. Os prelúdios. Os significados. O duplo movimento em significação da matéria, contraída significação da imagem fixa. A posição e a renúncia. As reuniões da virgem. As invocações da crueldade e da distribuição que por muitos olhos reinara o sol nos sons do trajecto como a imagem do ciclo dos altifalantes. O fechamento e a sua composição em abertura salvífica. A certeza da escolha e a estupefacção do instante. Toda a coloração do desvio. O acerto. As prisões da imagem fixa no desvio. O fechamento distributivo como magneto da imagem fixa. O prelúdio. A inscrição do conforto. O correr do inverso de todas as manifestações físicas da imagem, fixa, a luta. A posição sem imagem. Os tempos. O silêncio e as palavras e o alimento da posição fixa da imagem. A noite. A ausência. A sacrificada matriz da imagem. O regresso que tarda e a noite e o sonho.

12 de setembro de 2010

Outro dia ao amanhecer da liberdade,
(a) original posição da imagem, antiga
história dos fundos da palpitação,
faz-se movimento das prosaicas realidades,
nas artes de uma magia antiga,
antecipadas partes do jogo e da palavra,
promessa real do enleio e todas
as manifestações do valor, da dissolução,
o combate ao fim da noite buscara
os olhos agudos no coração que regula
o entanto da mesma imagem, no momento
em movimento, dos cumes e das rochas,
as fontes altivas fendidas em acto
do batimento cardíaco ao consumo inútil
da matéria e um sorriso ao endurecer
das máscaras, a necessidade, a crueldade.

E (quando) ao dia cantos amenos o fulgor das palavras
renascidas émulo da manifestação fala, um cuidado
e uma leveza da musical semelhança, posição sem imagem
vem, junto aos espaços sem fim da noite, os cantos dum outro
dia lacerado ao atravessar sólidos mantidos do combate,
a contagem do valor, a sombra da utilidade,
o descarácter diluir dos ambientes (destacado)
em dança das imagens nos filamentos da regulada luz,
ordem da impregnada matéria, rios das mundanas manifestações
outra vez edificadas ao ressurgir do unificador lugar,
como os mundos de um céu patrístico nos momentos da recorrência
do ânimo e da vontade (que) força à matéria impregnada
um mergulho nos fundos da terra violenta,
os mundos da canção que ecoa quartos da luz ausente
e baixa o olhar, entrado e destacado, junto ao cerebral do excesso,
como a vontade, quarenta horas por detrás dos jardins escondidos,
sons da condição num contratempo ténue, da matéria
à matéria e nas mãos e nos pedaços da manifestação tardia,
os corredores de máscaras fixas, os corpos da material manifestação
da imagem na face ao fixar dos espelhos em revelação, conta
material do valor, retiros da secreta flor não tanto os corpos
como a viagem da permanência, a estada e o diluir dessa imagem,
(a face e os corpos) ao apostar o calor do contacto
em regresso das materiais manifestações da situação imaginada,
a ausência dela e o seu sentido, o combate, um sentimento,
uma posse, nada, como fora a mais valia dos retiros à sombra
do dia nascente, entre a noite e a manhã dos motivos, da ausência.
Toda a vida.
E ao chegar o vazio.
As posições da imagem.
Completamente.
O olhar.
Nas vias da impiedade.
Diz que nunca será.
Mais e mais.
Um tardar.
No arremesso das vozes em confronto.
E a recordação.
Das palavras ridículas.
Que mais nesta terra dos refúgios queimados.

A entrega. O valor. Novamente.

Livrai-nos do mal que castiga os corpos às avessas.
Muito cedo. Afinal mais vasto que o deserto dos passos em silêncio.
No peito esta terra árida. Canta como a saudade funda a dor dos teus inexistentes braços. E as outras vidas desta terra morta, mortal.
.
E tu.
Última visão.
Primeira.
Mais que tudo.
Os olhos em silêncio.
Marca simples da posição.
E a saudade.
Esse enorme cansaço.

Antes de partir correra mais (n)o encalço
e mais, como é frio, como regressa,
como derrota-se em solitário impulso
a madrugada que penso uma vez,
um instante, a presença, os olhos fundo.

10 de setembro de 2010

O cair. O labirinto.
O sistema da impossibilidade.
O frio.
Os mecanismos das vozes silenciosas.
O deixar preâmbulo da qualquer decisão.

Os corpos ausentes.
A espera em acto e a experimentação do impossível.
O ciclo. A via dolorosa. O apreender.
A busca (dentro) e o circuito do impossível.

A palavra em silêncio.
A noção da troca e do amor.
A inexistência.
A saudade e a inexistência.

O reconhecimento das palavras e dos corpos.
A entrega ou o seu contrário e a rotação do ciclo ao impossível.
Outra vez os corpos em silêncio.
E o vislumbrar da luz.
No ciclo.
Da vida como percurso dum frio a quente.
Ou vice-versa.

E a cultura distributiva da troca e o amor.
E os corpos desnudados à entrada no silêncio.
E a dor. E a melancolia dos corpos atirados.
E a satisfação da luz. E a insatisfação da luz.
E os corpos. A impossível distância dos corpos.

O contacto e a distributiva palavra do conforto.
A face e o desconforto das visões e os corpos chegados.
Ao calor das palavras e ao som da promessa.
Em tentação das palavras e (a troca) o silêncio.

O despertar do movimento
e da palavra
e a dança dos corpos impossíveis.

A espera.

O sincopar e a instalação da distância.
A possibilidade e a impossibilidade.
A tensão e o maquinal movimento do ciclo.

O corte.
E um regresso à luz. Um mesmo.
Na destacada posição do desencanto.
Em qualquer coisa afim.
A todas as recorrências da imagem.

A repetição. Sem qualquer. Ou muitas vezes.

Apenas um olhar fica enquanto o sol queima como que chegado a um cruzamento mundano. Qualquer coisa de alimentício que comporta numa arrumação sintética as palavras em que como que destomado o rumo das vez em conta sobriamente vai liquidado nas convenções do arroz, satisfeito de si, ou numa imagem corroída dos sorrisos, como nada, como nada.



Fatalmente atroz o sangue em colapso a imagem já gasta no atrito das palavras insentidas.

Sol novamente.
Em trabalho da calcinação.
E um outro sentido das nuvens.
No (meio do) céu azul.
E aos ribeiros em murmúrio.

Fresco, bucólico.

Como as outras palavras que tiram-se em defronte ao vazio nas reuniões duma qualquer comenda do convénio. As gildas em flor encrustadas ao caminho do asfalto cru nos rastos queimados do infalível vazio.

Os desapiedados corações.
As linhas. Vidas e os conjuntos.
Os corpos saturados na pele.
Os cães da matéria.
Os acabados atritos do vento.
A solidificação dos enxames.

E à noite, quando sobe o por detrás do silêncio e fica a matéria (fresca) por momentos revela essa face (tua sem ser) de uma nupcialidade negra.

Laje. Carrega.
Dentro. A quantidade.

E as quantidades são que ficam no rosto e nos corpos como a manutenção da pele em peso enfim.

Venha o frio.
Que cale o sol tão quente.
Cadáver (da recoberta imagem).

Já sem si.

Liberta.

Esvanecida ao som desse silêncio.
Por detrás da noite.
Em queda.
Num salto.
Ou uma permanência simples.
Assim.
Como na consistente ligação esperada e fundado em cor da noite.
A essa hora do beijo que sobe em silêncio.
Na dor.
Doutro dia horizonte.
A inatingível dança do mito.
No prolongar inútil das visões sombras do mundo enfático.

A reunião.
O superficial.
As questões culturais da posição.
A ausência.

4 de setembro de 2010

Rios do abandono.
Os raios de sol.
A sucessão dos rostos.
As palavras.
A calcinação pelo sol.
O igual efeito que assim paira.
As estradas.
Outra vez um rosto.
A voz quente.
O pisar das distâncias.
(A experiência do fogo).
O corrido em vias mais que dilaceradas.
De novo o abandono.

E a noção do esquecimento reinava nas vidas como a conclusão do abandono numa utilidade das palavras e em recusa da visceral posição dos afectos fortes, como qualquer coisa, ou alguém, ou o instalar do quê que vem num manancial adentro e utiliza todos os costumes, assim, como que colocando-se junto nas manhãs da necessidade, mundano.

E num instante é o sol.
(Tu, por momentos.).
Descortinas desse fundo que reina.
Como um esquecimento.
Ao tal fugaz sol da manhã.
Nas tardes frescas.
Na conclusão do amor.

Sem que tome-se. Sem que assista. Como essa voz num eco da distância sombra tão perto em turbilhão da diferença. E a saudade do mar azul, do sal.

2 de setembro de 2010

Rastos e sons. Artefactos. O cansaço. Outra vez pátria.
Fria. O mais terrível dos exílios. A inexistência.
Solos da madeira. E junto a um homem de novo o peso.
A importância. Como a sombra que chega.
No canto. O terrível dos olhares.
Por detrás do muito das manifestações.
Em matéria ao avesso. Em mais tarde a luz baixa e triste.
Ao som da maquinaria. No árido da terra sangrenta.
Onde como que solta-se a manhã pisada ao asfalto veloz.
Na imagem surdina de uma hora remota.
Que faz os soltos cultos. Cadáver dessa terra.
E nunca termina o espaço dos rostos.
Que não chegam nessa manhã. Violenta.
Rasgada em sol. E mais atento (que) o pormenor.
Da vida que segue em momentos que suspendem.
E vai-se a ficar. A um caminho direito.

No silêncio. À sombra da tarde cai.
A roda como a dor em cada.
Que sobe e manifesta a inglória terrível, grave.
Onde pára o tempo – solene - nas partes que deslizam.

Os outros tempos não chegam.
A um fulgor do cuidado cinzento.
E a vida em recorrer do pudor e da violência.
Vem como o céu azul em sol. Árido.
Por detrás dos rostos sem amor.
Nessa maleita da imagem, do valor.

Por vezes chega um pôr quente que fica a cruzar os olhares no asfalto.
O pó das bermas veloz da canção e da dança em aterro das dignidades.
O sorriso, como as máscaras em festa de holocausto.

Frio o sangue vai.
Começa em curva ausente.
Em céu deixa-se, frio.
Como o vento imóvel.
Fundado em som.
Nas imagens caídas.

22 de abril de 2010

Cruzara no ventre,
em sinal de atenção,
a palavra impressa,
que tarda em segurar
se na face
como fora o levantar
do véu num instante
apenas, que tomasse,
o peito em excesso,
à beira do desfalecer,

e a maior violência,
é imposição do silêncio,
ao olhar do que vê,
(qual dupla cicatriz no peito),
a palavra que vai tecendo,
os perdidos gestos,
na escolha além do silêncio.

(e é por isso que não pode ser mais que um instante, este olhar, depois esqueçamos,
continuemos)

21 de abril de 2010

Faca e dentes,
um relógio de atenção,
os bandos da saliva
em desagrado
e a morte
em corte ao pormenor
que carrega no olhar
as direcções da curvatura
por pose (digna)
que estabeleça o acordo
em ó de quem
de direito
(em nome familiar),
assiste
aos ânimos do vazio
na promessa
do activo
e dos restos de efeito
em apoteose
da salivar partilha.
Hoje estava cinzento
e já não lembro o sol
que esconde-se nestes dias
em que faz-se a terra vista
no fundo que liga em voz
os dísticos da terra antiga
por clamor do tempo fundo
e suspenso como as palavras
ditas, espoliadas chuvas,
em quais campos levantara
a voz que sucede dos fundos
fios e sulcos da terra amarela.

O olhar em baixo,
em apelo da sementeira,
na terra espoliada
dos fios do sangue fundo.
Passam vultos sem direcção ao fim do dia silencioso.

Desponta o sol,
o copo num gesto,
passados corpos,
torneados ao caminho.

Avanço nesta chegada e cai-me o sonho, passa-me a impressão dos dias corridos.

Faz quente agora,
(corresponde),
levanto o copo,
em gesto de saudação,
e num transporte,
(bate agora o sol de frente),
cerra-se o olhar em semblante
que a vida carrega, afinal.

Mas basta disso. Passam como vultos. Coligidos (ou seja lá o que for) das sombras chegadas numa manifestação arcaica. Lembrava-me, enquanto languescia o copo em convexas atenções da mais aterrada e conveniente insolação das voltas que passam, (desaterradas talvez), quais foram as facécias do que manifesta-se em nada e cruza atreitos ao caminho dourado, como fora a calefacção dos mistérios do dia, ou à maneira dos requintes disso.

Manifestam-se outros anos,
olvidam-se os outros paladares,
e sustenta a razão que passa,
por entre os vultos que chegam.

20 de abril de 2010

Visceralmente irreconhecível o rito suspende e penetra as ideias no vazio. Progride em centrifugação e atira (qual sombra isolada) o que persiste em amálgamas desligadas voltas num (livre) trabalho de esquecimento, numa expulsão do “peso do mundo”.

Observa ;
faltam as palavras,
no correr aberto,
do mar assim,
em peso vazio,
da roda em abertura,
(música, palavra),
que vê o que não pode,
e pensa o que não quer,
no longo percurso,
que tem de sair,
por violência sonora,
indiferente,
e espalhado em desafio,
ao apreender a soma,
das palavras libertas,
no fazer acto,
e consequente sentir,
dos investidos espaços,
ao fazer silêncio,
do cair da luz,
no tomar das entranhas.

Um esquecimento frio.
O olhar aberto.
Nos rostos vazios.
Das linhas transversais.
No fim do porquê. Aligeiro isso.

fugaz a pele,
procura o sol,
no farol circular,
por sobre a encosta,
da bela face,
e o brilho,
do aroma cálido,
cantaria, por montes
e vales, a busca
dos dias sentido
na hora do manancial
da luz que agarra
os decaídos golpes
das suspensas vidas,
(uma morna inquietude),
em lampejo adiante,
nos braços,
dos pátios da desolação.

No passar a colocação do braço precipitara (líquida) a ligeira observação do acenar dos sentidos num mar da rocha que escorre em prelúdio das superfícies banhadas como fora a forçar o encosto (encoste se porventura)

languidamente,
a fragrância carnal,
fazia isto,
como sem saber,
nem porquê, rojo.
O cabelo. O ar cuidado projecto. A pose em compressão. O belo gesto vazio. Largo. A alta voz. Num mágico apelo. Das caídas pálpebras. E os olhos em fugaz enleio da promessa.
Planaltos, escarpas, fundo rosário de entrega.

Sublevado esgar,
desnudado,
acordar nos leitos,
das rosas, os rios,
da literal raia,
que faz-se pelas manhãs,
no esvoaçar da paixão,
liquefeito em excitação,
aos fundos,
duma qualquer gruta solene.

O estar que arde,
na brisa da tarde.

E o vapor na face do vento.

19 de abril de 2010

Sennin Poem by Kahuhaku.

The red and green king fishers
flash between the orchids and clover,
One bird casts its gleam to another

Green vines hang through the high forest,
They weave a whole roof to the mountain,
The lone man sits with shut speech,
He purrs and pats the clear strings.
He throws his heart up through the sky,
He bights through the flower and brings up a fine fountain.
The red-pine-tree god look at him and wonders.
He rides through the purple smoke to visit the sennin,
He takes “Floating Hill” by the sleeve,
He claps his hands on the back of the great white sennin.

But you, you dam’d crowd of gnats,
Can you even tell the age of a turtle ?

E. Pound – “Cathay”.

12 de abril de 2010

Traço o corpo o corpo,
o fogo era mais tarde,
e o tempo,
de tempo a tempo,
correra como espada
as palavras que evitam
se as bocas
dos pássaros verdes
da “sobrevivência”, diz se ;

ainda sinto o sabor desses mundos,
sopra um instante e fere a queima das palavras,
quanto mais livre os céus abertos,
mais longe os pântanos desta terra cinzenta.
O ir longe,
a notável composição das feras,
os animais, o acaso,
todas as cores,
o raio que parta todas as manhãs do lamento,
todas as silenciosas manhãs.

O que salta aos olhos destas palavras fixas,
depois das lembranças,
(entre o vazio e a multidão do movimento daquele lugar),
é uma respiração funda.

...

Em que dias.
Que manhãs.
Quais fins de tarde.
Quais noites em que.

Num dia instante o real de todas as histórias ao anoitecer chega, fica.
Hoje não quero saber. Hoje. Dos passos que assentam nas pedras da rua (como se nem existissem) e continuamente gravitam as maquinais imagens pelas quais insistem o investir do ruído que invade-me a geometria hoje não quero dizer nem ouvir desses momentos. Afinal para que quero eu a geometria. Afinal para que não quero eu a geometria. E o ruído que a invade. E os fabricantes dessas imagens.

Talvez um radical regresso ao cavernoso silêncio da linguagem.

11 de abril de 2010

Hostiae.

Aproximara (estranho) as eiras do refúgio. Ares vermelhos. O sangue em espalhada sementeira. Os escudos ao fundo da terra, em delírio. De fora tudo ameaça, já cresce o rumor da labareda.

Os sons e as danças,
o calor no trigo espalhado,
as vozes e a partilha,
da crescente recordação,
das águas do dia,
em momentos de eleição,
ao rubro, os beijos
em altares da noite.

O sangue da terra queimada. A refeição das últimas hostes estranhas. Os corpos como invisíveis assinaturas do medo rasgam na noite o céu em motivo da festa.

Deitados os corpos,
nas terras da eira,
sempre a noite,
no fogo da lembrança,
apaga os aterros,
do sanguinário fundo,
onde juntam-se em calor,
os eleitos motivos,
das espigas queimadas,
em espirais do fumo,
que sobe e revela,
nos gestos mudos,
o fim da noite em surdina.

Os corpos na terra queimada à espera que chegue o dia.
Dos nubilados cumes,
em cego fascínio,
o olhar vem,
por magnéticos movimentos,
do cerrado principio,
aos dias sonâmbulos,
das cinzas pelas encostas,
onde encerrado o fogo,
do vulcão ateado,
fica o olhar preso,
aos dilacerados restos,
da dor e do prazer,
por sulcos nos caminhos,
das histórias antigas,
do escorrer espesso,
estranhamente distanciado,
em sobrevoo do reconhecer,
a escorrida memória,
dos espessos sulcos traçados,
no decorrido sangue,
da carne ancestral da violência,
em sentida solução,
da condição cega,
dum poder histórico,
numa história mal contada,
(devolvida espelhada),
das imagens do horror,
em sal feito aos pedaços,
de maquinaria corrente,
por refinada história,
das histórias contadas,
aos berços adormecidos,
na espera dum maquinal,
conforto que esquece,
acima aos olhos soltos,
sem nada esquecidos,
numa última parede,
afinal dos olhos sanguíneos,
e já destes sinal absurdo,
no fundo posto revela,
os lados a um seu eixo,
sua mentira em decisão,
da rota tornada termos,
mínimo à matéria,
a sua ínfima pergunta,
por fim.